12
O mercenário que desceu para pegar o corpo da rainha não voltou a ver o dia. A turba de escravos gritava como se estivessem vivendo e passando por um misto de terror e euforia.
O capitão-mor brada para seus homens se organizarem para entrar no porão. O barulho vindo lá de baixo era ensurdecedor. A tripulação do navio já estava vendo a terra firme, e nunca poderiam atracar tendo um motim acontecendo. A fama deles iriam por água abaixo.
Os homens pegam suas armas de fogo ou brancas para descerem e colocar ordem no porão.
As tábuas rangem com as botinas passando por cima delas. São dezenas de pernas agrupadas por dois pares descendo para a escuridão.
Num último momento, o capitão-mor manda 12 homens, seis de cada lado, puxarem o que parece uma grande escotilha, abrindo assim um imenso buraco no meio do navio, chegando luz do sol no porão, onde poderão atacar com força total por cima.
Os homens escravizados estão sentados, para surpresa de todos. Mesmo assim, os mercenários se posicionam armados de frente para eles e por cima. O que eles não entendem é porque estão quietos e submissos, se até horas antes estavam aos gritos.
Independente de quão quietos estejam nesse momento, alguns daqueles escravos terão que servir de exemplo para todos. A ordem é decapitar uns cinco escravos e colocar suas cabeças na proa... bem a vista de todos e para quem ver o navio negreiro chegando, entenda que o motim naquela embarcação é tratado com pena de morte.
Os primeiros escravos que estão presos nas fileiras da frente, estampam o terror nos olhos. Aquele terror que petrifica. Trava o corpo, deixando a vítima paralisada.
O líder dos mercenários que encontra-se no porão, grita para o capitão-mor que tem algo na escuridão. E grita novamente para informar que os "negros estão acorrentados" e "de cabeças abaixadas".
As escotilhas, como um passe de mágica, são fechadas sozinhas. Como se um vento do leste tivesse entrado no porão e arrastado as pesadas comportas para baixo, lacrando todos a mercê de um animal voraz.
Algo terrível começa acontecer no porão. O capitão-mor reconhece as vozes dos seus homens sendo brutalizadas pelos engasgos da morte.
Os homens que estão no salão de cima tentam abrir novamente os alçapões, para tentar ajudar os que estão morrendo no porão, mas é inútil. Os alçapões estão travados por dentro.
O sangue começa a espirrar para fora dos buracos das escotilhas e o capitão-mor presencia seu assoalho transitando da cor marrom para a vermelha.
O silêncio precedido do choro é escutado. A lamúria é quase ínfima. Os pedidos por clemência não são atendidos. Algo muito maligno tomou conta do porão. Uma coisa vil que não aceita pedido de perdão, dinheiro ou famílias usadas como justificativas para se manterem vivos.
Nada é negociável.
Da escada que sai do porão subindo até o salão do navio, onde está o capitão-mor com o restante dos seus homens, alguém joga a primeira lá de baixo.
Depois a segunda e a terceira.
Logo vem mais numa sequência funesta. O capitão-mor desespera-se ao presenciar horrorizado as cabeças sendo arremessadas para fora do porão... uma após outra.
E para a cena ficar ainda mais grotesca, todas as 50 cabeças caem olhando para o restante da tripulação do capitão-mor, como se delimitasse a área entre eles e o porão.
Eles avistam a terra seca, mas, o sol já está descendo o horizonte. A noite vem chegando com toda sua mortalidade.
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