Capítulo 01 - Mistério

**Capítulo 01 - Mistério**

A lua é tão linda, especialmente quando brilha cheia no céu. Observar seu brilho me faz sentir menos sozinha. Talvez essa grande e misteriosa lua converse comigo, ou, quem sabe, seja apenas coisa da minha cabeça. No meu lar atual, nunca, absolutamente nunca me senti bem. Então, fugi para cá, para este milharal, onde cada noite me oferece a maravilhosa sensação de finalmente estar "feliz".

Prefiro não atender o celular sempre que alguém me liga quando estou aqui. Deve ser minha mãe, furiosa por eu não estar em casa para o jantar. Venho sempre a este lugar e, mesmo à noite, às vezes me sinto quente, como se estivesse usando um casaco. A maldita caminhonete que roubei do meu padrasto, que vive vazando óleo, não tem ar-condicionado, e a natureza não tem nem um pouco de compaixão por mim. Dizem que a lua vermelha significa o início do fim. Eu não costumo acreditar nessas coisas.

Já faz semanas que venho aqui, e é estranho ver a lua continuar avermelhada. E por que continua quente? Isso é normal? Hoje estou de bom humor, vou atender a ligação da minha mãe.

— Alô?

— Brenda? Filha? Aonde você está? Já faz semanas que estou te procurando.

— Do que você está falando, mãe? Eu acabei de sair de casa.

— Brenda! Brenda!

Às vezes, acho que minha mãe é louca. As porradas que ela leva do meu padrasto devem afetar o psicológico dela, só pode. Não faço nada de errado há muito tempo. Fugir para um milharal na madrugada com uma caminhonete que teoricamente é minha não é crime. Além do mais, já atendi minha mãe, mas ela não se importa muito comigo.

Eu acho que o inverno chegou, mas por que continua tão quente? Talvez seja o cigarro; esqueci de mencionar que às vezes fumo para esfriar a cabeça. Às vezes, tenho a sensação de que nem a lua gosta de mim. Será que ela enjoou da minha presença?

Minha mãe continua me ligando. Acabei de sair de casa, cacete! Ou foi... mês passado?

— Alô?

— Parabéns, sua vadia de merda! Eu sabia que você não estava dentro da minha caminhonete, vai comprar outra, caralho!

— Do que você está falando?

— A sua mãe cometeu suicídio!

Como? Se eu acabei de vê-la, acabei de sair de casa. Queria uma resposta para tudo, mas acho que só a lua pode me responder, não é?

— Alô?

— Filha, aguenta mais um pouco, estou indo te buscar!

Às vezes, eu só queria ter alguém para desabafar, mas estou cansada de ficar em cima dessa caminhonete velha eternamente. Queria que alguém chegasse para apagar as chamas do milharal. Queria ter evitado a explosão. Talvez, se esse fogo não estivesse tomando conta de mim, a lua não estaria vermelha.

Abri os olhos assustada, percebendo que estava no milharal, deitada sobre a caminhonete. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e, ao olhar para cima, a lua estava clara e azul. O frio me envolveu. Cocei os olhos, respirando fundo, nervosa e agoniada.

— Foi tudo um sonho?

Entrei na caminhonete, seguindo em direção à saída do milharal, e recebi uma mensagem da minha mãe.

— Brenda, onde você está? Faz um mês que você desapareceu! Eu ainda tenho esperanças de que você esteja viva!

Sem entender, pensei ser novamente um sonho e tapeei o próprio rosto. Então, vi uma borboleta vermelha pousada na janela da caminhonete, piscando os olhos, e percebi que tudo estava escuro. Logo em seguida, uma onda de calor me envolveu, e ouvi apenas choros e o barulho de sirenes.

— Que porra está acontecendo? Eu... morri?

Em segundos, estava sentada à mesa de casa, arrumada para sair, com uma vontade absoluta de ver a lua no milharal. Mas por quê?

— Eu só queria estar viva.

— Eu só queria morrer.

— Eu só queria entender.

— Por que isso aconteceu?