CHAPTER 29. christmas eve
29. VÉSPERA DE NATAL
A minha motivação para achar um emprego estava acabando. Quando a chuva começou a cair, me alojei no hall de um apartamento, já que o porteiro muito bonzinho havia me ajudado. A pasta que continha os meus currículos já estava encharcada, assim como o meu cabelo. Eu me tremia de frio por conta da água gelada.
Meu celular começou vibrar no bolso da minha última camada de roupas e percebi mamãe piscando no ecrã.
— Tô bem e vivíssima. — Prontifiquei-me rapidamente, antes que ela falasse qualquer coisa.
— Eu sei que está. Entra no carro, estou te esperando aqui fora.
Olhei para rua confusa e logo identifiquei o Audi preto de minha mãe. Ela estava focada em seu celular quando entrei no carro.
— Como sabia que eu estava aqui?
— O porteiro é marido de uma das minhas funcionárias e te reconheceu. — Explicou, curiosamente vaga.
Desde ontem minha mãe estava quieta e pensativa, e hoje não foi diferente. Ela estava tão concentrada na estrada que não me olhava. Ou, pelo menos, evitava olhar para mim. Não ousei perguntar o motivo do seu silêncio, sabia que se fosse para eu saber não precisaria questionar nada.
— Tome um banho. Precisamos conversar. — Avisou e saiu do carro, como se o que ela falou não tivesse tido impacto nenhum em mim.
Tentei ir atrás dela para perguntar o motivo, mas ela foi muito mais rápida e se trancou no seu quarto. Dada por vencida, peguei uma roupa quentinha em meu guarda roupa e fui em direção ao banheiro, colocando a água no modo "tão quente que em poucos minutos os ossos do seu corpo aparecerão".
A curiosidade estava me matando, mas a sensação da água fervente caindo sobre o meu corpo era tão relaxante que, em poucos minutos, esqueci a conversa que eu teria com minha mãe.
Só me dei conta da minha demora quando o banheiro estava tomado pelo vapor, fazendo com que eu enxergasse poucas coisas.
Desliguei o chuveiro desanimada e me sequei rapidamente. Assim que coloquei minha roupa e escovei meus fios escuros, fui em direção ao quarto da minha mãe.
Minha mão ficou parada na maçaneta por poucos segundos, até eu girá-la e perceber que já estava destrancada. Dava para ver só a sombra de minha mãe na varanda. Sua mão estava segurando uma taça de vinho e ao seu lado estava outra taça, depositada em cima da mesinha.
— Mãe?
Ela não me olhou, apenas apontou para a poltrona do outro lado da mesa.
— O que você quer falar comigo? Aliás, porque você está agindo tão estranha?
— Perguntas de apenas uma resposta. — Suas palavras me deixavam confusa. Eu odiava o jeito que ela tentava filosofar em tudo o que dizia quando estava na tpm. Só não sabia se esse era o caso. — Não tem como te falar isso.
— Começa olhando nos meus olhos. — Reclamei e ela suspirou, soltando a taça e virando-se para mim.
— Por qual motivo tem outra taça de vinho aqui?
— Para você. Te garanto que irá precisar. — Então pensamentos paranóicos começaram a rondar minha mente.
Ela estava com câncer? A empresa faliu? Alguém havia morrido? Eu era adotada?
— Deixa eu te contar uma história? — Pediu e eu concordei, tomando um pequeno gole do vinho. — Sua falecida vó odiava Jeremih. Ela achava ele muito sonso e instável.
— Era a cara dela achar esse tipo de coisa.
— Mas ela adorava Trey e os amigos dele. — Riu, com suas próprias lembranças. — Ela convidava Trey e Liz para passar alguns feriados no Texas conosco, só para ter a desculpa de chamar um amigo de Trey que ela adorava de paixão.
— Meu pai.
— Seu pai, sim. — Fez sua típica pausa dramática. — Jeremih e Raymond brigavam pela minha atenção e pela atenção da minha mãe. Era constrangedor e muito engraçado.
— Mas e o vovô?
— O vovô não ligava para nenhum dos dois. — Gargalhou. — E então Raymond foi para Inglaterra. Eu fiquei triste, mas a sua vó ficou muito mais. Ele era o filho homem que ela nunca teve.
— O que essa história tem a ver, mãe? O que realmente está acontecendo?
— Estou te contando para te mostrar quem seu pai é. Que ele sempre foi bem vindo por todos em nossa família e é de muito bom caráter. — Explicou. — Estou te falando isso para você se sentir segura quando conhecê-lo.
Havia um ponto de interrogação enorme em meu rosto.
— Eu não estou compreendendo.
— Seu pai voltou para os Estados Unidos, querida. — Disse carinhosa. — Você irá vê-lo amanhã.
Meu coração havia se enchido de alegria e meus olhos encheram de lágrimas. Todo o conteúdo da taça eu havia tomado em um só gole. Eu não sabia como reagir e nem o que falar. Eu só sabia sentir.
— Seu nome é Raymond Scorpio. — Sussurrou. — O ex boxeador e atual professor de boxe, Ray Scorpio.
Meu coração parou de bater naquele instante. É claro! Como eu não juntei os pontos antes? Minha lerdeza havia chegado ao nível extremo.
Todas às vezes que ele falava da minha mãe e da sua história com Jeremih. Seu sobrenome, sua profissão. Estava tão na cara e eu nunca havia me dado conta.
— Ele é realmente o meu pai?
— Desculpa por ter escondido a identidade dele por tanto tempo, querida.
Senti meu coração se apertar com a culpa que minha mãe estava sentindo. Abracei com toda minha força, demonstrando que nada daquilo havia sido culpa dela.
— Você fez o que achou melhor, mamãe. — Deitei em seu ombro. — Você me pegou no colo todos esses anos... Um erro nunca irá me fazer duvidar do seu amor ou lealdade por mim.
Aurora fungou e limpou suas lágrimas na minha camiseta branca. Olhou para o céu e deu o último gole de vinho da noite.
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