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3:30



Acordo no meio da noite. 

Por entre a vista turva fito o relógio digital que está sobre a mesa de cabeceira. 

Os números em vermelho vibrante marcam 3:30 da manhã. 

"Por que tenho que ficar com sede a essa hora?".... Frustrado pelo bom sono interrompido, sento à beira da cama para alcançar a garrafa d'água que estava logo ao lado do relógio. Dou um gole longo, fecho a garrafa novamente, e a coloco de volta na mesa. Saciado, já me preparava para voltar para debaixo das cobertas, quando percebo a estranha luz que iluminava o quarto vinda do corredor. Ao olhar para outra extremidade do quarto, percebo que a porta estava aberta. Estranho... Tenho certeza de tê-la fechado... 

Calço as sandálias e me preparo para levantar. Então, eu a vejo. Ali, parada bem ao lado da cômoda abaixo da televisão suspensa. A fraca luz não me deixa ver com clareza, mas tenho certeza de que é uma mulher. Aperto os olhos na tentativa de enxergá-la melhor, mas ao notar que olhava para ela, a figura sombria caminha lentamente em minha direção. Agora sob a luz da porta entreaberta, posso vê-la melhor. É uma mulher alta, pálida, com longos cabelos negros esvoaçantes, usando um vestido branco esfarrapado, olhando para mim com olhos vazios. Quem diabos é ela? Como ela entrou na minha casa? Perguntas sufocadas pela surpresa e o medo.

Quando meus lábios enfim descolam e estou preste a indagar sobre a presença daquela mulher, ela simplesmente sorri. Um sorriso largo, mostrando todos os dentes, que se tornou cada vez mais longo, e longo, e longo....

Os cantos de seus lábios alcançam as orelhas, seus olhos se tornam vermelhos, e sua cabeça se contorce para trás quando a enorme boca se abre, soltando um grito alto e aterrador. Antes que eu pudesse ter qualquer reação, o monstro avança contra mim, saltando sobre a cama. Tento me defender com o braço direito, mas ela o morde, cravando seus dentes longos e finos como agulhas em minha carne, sentindo-os alcançarem meus ossos. Meu grito de dor ecoa pelo quarto. Com uma força animalesca, a coisa me puxa pelo braço, arrancando quase toda a pele sobre ele, e me joga sobre a cama já banhada pelo sangue que escorria de sua boca. 

Após largar meu braço dilacerado, longas unhas surgiram em suas mãos, e como se fossem pás, elas as usou para começar a cavar meu abdômen. São como dez longas facas rasgando minha carne. Sinto a mordida sobre minhas costelas e as escuto rachar. Em um ato de desespero, e usando a pouca força que ainda me resta, agarro os longos cabelos da criatura com minha mão esquerda. No entanto, os fios se enrolam em meu braço e penetram em minha pele, como se buscassem minhas veias sedentos por sangue fresco. 

Sinto um gosto sanguinolento na boca. Minhas cordas vocais parecem ter se rompido.

A dor começa a desaparecer, e minha visão começa a escurecer. 

Ergo a cabeça com o pouco de força que ainda me resta a tempo de ver a criatura triturar a última de minhas costelas em seus dentes. Posso ouvir o som dos ossos sendo mastigados antes dela abocanhar meu intestino exposto, o puxando ainda mais para fora enquanto se banhava com o sangue que jorrava. Do peito aberto, posso ouvir meu coração bater cada vez mais devagar. Até que num último urro da criatura, meus olhos se fecham, e tudo se silencia... 

Apavorado, abro meus olhos e me levanto rapidamente, jogando as cobertas e me sentando na cama. Estou coberto de suor, com minha respiração ofegante, e meu corpo treme sem parar. 

Olho ao meu redor, e tudo está como sempre esteve. O quarto escuro, de porta fechada, iluminado pifiamente pela luz vermelha do relógio digital em minha mesa de cabeceira, que marcava 3:29 da manhã. 

Tudo não passou de um pesadelo... Talvez o mais real que já tive em toda minha vida, mas ainda assim, um mero pesadelo. Me jogo sobre o travesseiro, levo as mãos ao rosto para secar o suor, e passado o susto, começo a gargalhar sozinho de toda àquela situação. Um simples pesadelo... Hahahaha!

Estendo a mão para alcançar o controle do ar condicionado para aumentar sua intensidade. Ainda rindo, puxo as cobertas de volta e me coloco sob elas. 

Deito-me confortavelmente, afofando o travesseiro, e fecho meus olhos para voltar a dormir no momento em que meu relógio passa a marcar 3:30 da manhã.

A porta do meu quarto se abre lentamente...

    


  

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