99 - DECISÃO
Eu sinto muito ter te magoado
É algo com que devo conviver todos os dias
E toda a dor que eu te fiz passar
Eu gostaria de poder retirá-la completamente
E ser aquele que apanha todas as suas lágrimas
É por isso que eu preciso que você escute
Hoobastank - The Reason
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– Onde está a Lissa? – Senka perguntou ao ver Zyon chegando no cabaré – Não a vejo faz horas.
Zyon olhou para todos ali sentados, novamente reunidos e pensou em como era estranho ele ter se apegado tanto a simples seres humanos. Tenko tinha razão, existia pessoas pelas quais valia a pena lutar. No início ele usou dessas palavras apenas para convencê-la e agora ele podia sentir como ele mesmo havia cavado aquela armadilha perfeita para si mesmo.
– Lissa está no mastro do navio e não irá sair de lá até que cumpra algo.
– Cumpra o quê? – Lucy perguntou curiosa.
– Algo que ela me pediu para ensinar. Não posso ensinar uma coisa que ela precisa aprender sozinha, eu só mostrei para ela o como fazer isso. Ela não sairá de lá em hipótese nenhuma até conseguir.
– Nem se chover? – Lucy de repente parecia animada ao conversar com Zyon e ele sentiu um certo desconforto com isso, mas tentou não demonstrar.
Lucy e ele haviam trabalhado muito juntos, mas ela nunca havia sido de fato amigável com ele e aquela mudança era no mínimo estranha.
– Nem se cair um raio na cabeça dela – ele sorriu e os olhos da moça brilharam. Ela jamais tinha olhado para ele daquela maneira e obviamente isso se devia a que todos agora sabia quem ele era realmente.
– Zyon, posso ver?
– Ver o quê, Lucy?
– Te ver, de verdade – ela o olhou com os olhos bem abertos e um sorriso estampado.
Ele suspirou, passou a mão na cabeça e tentou buscar refúgio em alguém da mesa, mas foi em vão. Havia sido bom enquanto ele era somente o Zyon, subordinado da Niely, agora ele notava como todos o tratavam diferente. Ele não imaginou que pudesse ser tão irritante voltar a ser ele naquele meio, por outro lado, a liberdade de fazer o que quisesse era também tentadora.
– Fazer o que – ele deixou os ombros caírem e pouco a pouco voltou a sua aparência normal.
– Alguém já te falou o quanto você é lindo? – Maia falou de maneira natural, como se estivesse apenas falando algo sem importância – Deveria ficar nessa forma, assim poderíamos te admirar mais vezes. Afinal... quantos anos você tem?
– Nossa... – Zyon colocou as mãos na cintura e abaixou um pouco a cabeça tentando se decidir se saía dali ou deixava que eles matassem a curiosidade – Sinceramente Maia... acho que já perdi as contas de quantos anos tenho. Acho que uns 2.500 anos humanos? Nem sei mais.
– Você tem mais de 2 mil anos? – Layla se engasgou ao perguntar isso mostrando o quanto estava surpresa com aquilo.
– Tenho sim, Layla – era oficial, ele queria sair dali, mas por algum motivo suas pernas simplesmente se recusaram.
– Caramba, quero esses produtos que você usa – ela falou ao conseguir parar de tossir e todos acabaram rindo do comentário.
– E quantos filhos você tem? – Niely perguntou para a surpresa de todos e foi a única pergunta que arrancou um sorriso dos lábios de Zyon.
– E por que a pergunta Niely? Quer fazer um comigo?
– Eu, de fato, não me importaria – Niely falou sem olhar para ele e esse simples comentário fez com que fosse a vez de Senka e Aylin praticamente cuspirem as bebidas.
– O quê? – Aylin arregalou os olhos ao olhar para a assassina do grupo – Eu acho que agora sim estou com medo de morrer. O mundo enlouqueceu de vez. Nunca esperei escutar isso da Niely.
– Não vejo motivos para a surpresa – Niely pareceu não se imutar – ele é bonito, divertido, inteligente... e pensa na experiência fantástica que deve ser se deitar com um demônio – Niely olhou para Zyon pela primeira vez desde que havia começado a falar e um sorriso travesso atravessou os lábios do rapaz, mas ele preferiu não falar mais nada.
– Não vai se sentar Zyon? Ou nós já não somos dignos da sua companhia? – Roy perguntou se encostando na cadeira.
– Agradeço o convite, Roy – Zyon deu de ombros – mas acho que preciso voltar lá para fora. A tarefa que eu passei não é nada fácil e acho bom alguém ficar de olho na Lissa. Carlos, será que eu posso falar com você um minuto?
– Eu não tenho nada para falar com você – Carlos falou de maneira cortante a afiada, o que surpreendeu praticamente todos da mesa.
– Mas eu tenho algo para falar para você.
– Então fale – Carlos não se dignou nem a olhar para Zyon – não tenho intenção de sair daqui.
– Af – Zyon revirou os olhos e resmungou – seres humanos são tão frágeis.
Agora que Zyon havia voltado a ser o Príncipe Corvo, ele havia constatado o como era mais fácil somente manipular as pessoas realmente. Ninguém ali conseguia enxergar que a escolha dele havia salvado a vida de cada um ali? Que nenhum deles estariam vivos se não fosse por ele? Ele não queria agradecimentos nem nada, ele só queria conversar com o Carlos, e realmente só queria fazer isso pela Lissa. Os dois se amavam, mas Carlos tinha que saber que a Lissa precisava aprender sobre essas coisas e ele não estava disposto a escutar a birra de um jovem que achava que conhecia tudo. Claro que Zyon não queria forçar, ninguém força um relacionamento, mas ele sabia que Carlos a queria e não precisava nem invadir a cabeça dele para saber o quanto ele também estava sofrendo.
– Ah – Carlos gritou e se encolheu um pouco – Que inferno! Que merda você está fazendo?
– Vamos lá, Carlos – Zyon sorriu ao falar isso e forçou um pouco mais o magnetismo – Eu só quero trocar umas palavras com você.
– Para com isso! Que droga, isso chega a ser dolorido – Carlos continuava se encolhendo na tentativa de deixar de sentir todo o corpo reclamando por Zyon.
– Ah – Zyon riu – entendi, você nunca sentiu nenhum desejo por um homem antes, é isso?
– Eu já mandei parar com isso – Carlos gritou novamente – Eu falo com você, tá legal? Só faz essa merda parar.
Nem um segundo a mais depois disso Carlos relaxou o corpo e abaixou a cabeça.
– Que droga foi essa? – ele virou um copo e se levantou para falar com Zyon e antes que chegasse um pouco mais próximo ele o advertiu – Nunca mais faça isso. Eu meto uma bala na sua cabeça da próxima.
– Não que isso vá me matar – Zyon deu de ombros – Eu só quero falar com você. Vamos lá para fora.
Carlos o seguiu irritado, Zyon parou próximo a borda do navio e virou o rosto para o mastro onde estava Lissa. Ela parecia uma estátua, uma escultura que fazia parte do próprio navio.
– O que você quer? – o mau humor de Carlos era tão nítido que momentaneamente deu pena em Zyon.
– O que aconteceu entre vocês? – Zyon perguntou como se não quisesse nada.
– É sobre a minha relação com a Lissa que você quer falar? Você até pouco tempo atrás era só um subordinado dela e agora você está querendo dar uma de pai e saber o porquê eu e ela brigamos? Nossa – Carlos passou a mão pela cabeça bagunçando ainda mais os cabelos – Você está perdendo o seu tempo, não tenho a intenção de me justificar com você.
– Não – Zyon deu de ombros – perguntei por curiosidade. Gosto de vocês, só isso. A sua relação com ela não me diz respeito. Só queria te dizer que ela está ali para dominar o magnetismo, ela quer quebrar isso a todo custo e algo me diz que a sua briga com ela tem tudo a ver com isso. Sabe qual o problema de viver com algo assim? É que passamos a acreditar que só conseguiremos as coisas dessa maneira. Foi assim que ela teve o que queria até agora, então acho comum que ela siga usando isso mesmo agora que não precisa. Ela só precisa aprender a se valer por si mesma. Não pense que vocês não têm isso, Carlos. O fato de vocês terem menos não os deixa isentos. Eu ofereci isso para que vocês conseguissem o que queriam, mas o que vocês têm não é o suficiente para prejudicar outras pessoas e nem a vocês mesmos se vocês não quiserem, porque eu não poderia dar mais do que vocês suportam, não é algo natural para um ser humano. Em contrapartida, Lissa nasceu com isso. Ela não é ruim do jeito que você pensa, ela sabe que fere as pessoas, ela sabe que isso machuca, ela sabe que deveria ficar longe e é por isso que ela decidiu ir embora depois disso tudo. Eu irei levar ela para Himura comigo quando isso tudo acabar. Achei que talvez você devesse saber disso já que ela não pretende falar isso para ninguém.
De repente Carlos engoliu em seco e precisou piscar algumas vezes para ter certeza do que tinha ouvido.
– Ela irá embora? Irá deixar as Kitsunes? – ele por um momento deixou transparecer sua surpresa.
– Não – Zyon falou olhando para o mar – ela não irá só deixar as Kitsunes, ela irá deixar esse mundo.
– Do que você está falando? – Carlos se praguejou por não conseguir controlar o que começou a sentir após essa frase – Ela vai fazer o quê? Morrer?
– Também não – Zyon suspirou – Carlos, só achei que você deveria saber. Ela não irá morrer, mas vocês nunca mais a verão e nem saberão dela, então no fim não faz diferença realmente para vocês.
– Quem mais sabe disso? – Carlos forçou o maxilar e sentiu os olhos arderem.
– No momento somente você, eu e ela. Logo uma amiga minha também saberá. Eu a chamei para ajudar a Lissa – Zyon se virou novamente para Carlos e olhou seu rosto pálido, ele era realmente um jovem extremamente bonito – Você quer que ela fique?
– Eu... – Carlos se praguejou novamente por demonstrar fraqueza novamente, apesar dele ter tecnicamente "rompido" com Lissa, ele não queria perde-la de vista, isso estava claro – eu não quero que ela vá – ele admitiu por fim.
– Sabe que ela não irá te ouvir, certo? – Zyon falou ainda estudando a reação do rapaz – ela acha que ir é a melhor opção e eu estou inclinado a acreditar nela. Ela te ama, te ama muito. Sei que ela é difícil, que ela ainda usa esse magnetismo com os outros e isso não está certo aos seus olhos, mas ela não faz isso na intenção de machucar quem ela gosta, ela quer melhorar, ela quer ser melhor por você e por todos os outros. Posso ajudar nessa parte, posso ajudar ela a controlar esse gênio que ela tem e posso ajudá-la a ver que ela pode conseguir as coisas sem isso, mas não posso convencê-la a ficar e você também não irá conseguir.
– Então por que merda você está me falando isso? Se não vai adiantar nada, por que você está me falando essas coisas?
– Disse que você não vai conseguir convencê-la a ficar, mas não disse que você não possa buscá-la depois.
– E como eu faria isso? – Carlos perguntou e Zyon sorriu, no fim eles realmente tinham nascido um para o outro assim como a maioria das linhas indicavam para ele.
– Alguém vai te trazer algo, não é uma coisa muito impressionante, mas aceite – Zyon falou ainda com um sorriso estampado.
– E quem é essa pessoa?
– Pessoa? – Zyon sem conseguir se conter deixou o brilho transparecer em seus olhos – Eu não disse que era uma pessoa. A chamamos apenas de "Rainha Carmesim".
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