Eu tentei ser outra pessoa
Mas nada pareceu mudar, eu sei agora
Esse é quem eu realmente sou por dentro
Finalmente me encontrei
Lutando por uma chance, eu sei agora
Esse é quem eu realmente sou
Venha me destruir
Enterre-me, enterre-me
Thirty Seconds To Mars - The Kill (Bury Me)

꧁⸻⸻⸻𝓚𝓜⸻⸻⸻꧂

– Lissa, controla a raiva – Zyon chamou a atenção de Lissa pela milésima vez – O que está acontecendo com você afinal?

– Nada – ela falou sentindo a dor voltar com a pergunta de Zyon.

– Com esses olhos e não é nada? Desse jeito o treinamento vai virar a destruição do navio. Não é difícil, você só precisa se controlar.

– Eu estou tentando, ta legal? – ela gritou – eu estou tentando!

Zyon parou de tentar se defender dos ataques desajeitados de Lissa e suspirou.

– Acho que tem algo que você deveria aprender antes. Vem, vamos lá fora.

– O quê? – Lissa abriu um pouco mais os olhos – por quê?

– É o magnetismo, não é? – ele perguntou suspirando – vamos, vou tentar te ensinar a controlar isso.

Lissa o olhou incrédula e apenas acenou com a cabeça. Zyon começou a andar em direção a parte de fora do navio, viu o céu estrelado e sentiu o vento gelado batendo no corpo. Olhou para um canto e viu Carlos parado, olhando para o nada. Ele nem parecia notá-los ali. Lissa desviou o olhar do rapaz e o manteve fixo no chão.

– Controlar isso não é algo realmente complicado, você só precisa encontrar a maneira certa de fazer isso. Existe algo que está sempre "ligado" em você por assim dizer. É como se fosse um pequeno frio na barriga, bem pequeno. Isso que você sente não é normal, não deveria estar sempre ativado. Quando despertamos o magnetismo, o despertamos como meio de conseguir o que queremos, isso é algo normal para muitos seres de Himura, mas ativá-lo ou não passa a ser algo natural para nós pelo simples fato de que sabemos o que é. No seu caso não foi assim, porque esse foi o seu meio natural de conseguir as coisas até agora, então seu corpo passou a entender que isso era necessário sempre. É como se acostumar com o banho quente, seu corpo não precisa realmente de banhos quentes, mas nos acostumamos a isso por ser mais fácil. Agora, fecha os olhos e busca, próximo a sua barriga algo que chamamos de ruah, é como uma pequena sensação quente perto do estômago.

Lissa fechou os olhos e se concentrou, de fato não era algo difícil de encontrar, era algo inclusive gostoso de sentir. Lissa abriu os olhos e sorriu.

– Foi rápido – Zyon sorriu – Agora que você encontrou, vem a parte mais difícil. Cada ruah é único, cada ruah tem particularidades específicas. Apesar de termos os mesmos dons, esses dons não são ativados da mesma maneira. Dentro desse pequeno centro quente, você precisa encontrar as diversas energias que fluem por ele e precisa descobrir qual delas é a do magnetismo. Alguns, ao tentar buscar isso dizem que se encontram em um jardim, onde conhecem a verdadeira forma do nosso ruah. Outros dizem que apenas sentem como se fossem vários pontos diferentes. Eu apenas vejo cores, sei que cada cor é um dos meus dons, mas como eu disse, esse tipo de coisa é algo natural para nós, não sei nem como eu aprendi, mas usarei uma técnica antiga com você. Vamos usar a meditação... está vendo o mastro do navio? Você irá subir lá e vai tentar prestar atenção nesse único ponto, qualquer distração irá te tirar do foco e terá que começar de novo. Você vai ficar ali até de fato fazer parte desse navio, até que você enxergue o seu ruah.

– Mas nós vamos atracar em breve, acha que eu consigo até lá?

– Não – Zyon deu de ombros – Mas vai ser melhor atrasarmos do que você matar todo mundo durante a invasão. Sabe uma coisa curiosa sobre as linhas? Quase nenhum ser pode rompê-las, mas você é um dos que podem. Somos incompatíveis Lissa, um rompe a linha do outro e as chances da linha se romper no meio da missão são imensas, eu diria que quase certeiras. Qualquer coisa que você fizer, pode ser o fim da linha que você escolheu. Então garanta que isso irá dar certo mesmo quando a linha romper. Suba no mastro e só saia de lá quando você e seu ruah forem de fato, amigos.

– Amigos? – Lissa estranhou.

– Sim, Lissa. Nosso ruah tem personalidades próprias. Alguns os chamam de servos particulares apesar de eles claramente fazerem parte de nós. Apesar de eu nunca ter visto o meu, todos eles possuem uma aparência própria e nomes próprios, poucos descobrem o nome do próprio ruah..., mas isso será uma explicação para outra hora. Você agora irá subir no mastro e fazer o que eu te falei. Não é para descer de lá para dormir, comer, usar o banheiro ou nada do tipo, entendeu?

– Eu pensei que eu fosse a capitã aqui – Lissa riu – Obriga Zyon, por me ajudar.

– Eu faria qualquer coisa por você – Zyon falou baixo, mas Lissa o ouviu e por um momento ela sentiu como era ser amada de verdade, não por magnetismos ou necessidades, ela sentiu como o ser a sua frente realmente a amava com loucura e isso de certa maneira aqueceu o coração da capitã.

Assim que Lissa se afastou dele, Zyon olhou para a paisagem a sua frente e murmurou para o vento "Rainha Carmesim, me ajude".