86 - AJUDA
Faça uma oração por mim
Me ajude a sentir a força que eu sentia
Minha identidade foi levada
Meu coração está se partindo em mim
Todos os meus planos caíram das minhas mãos
Eles caíram das minhas mãos em mim
Todos os meus sonhos de repente parecem
De repente parecem vazios
The Cranberries - Zombie
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Quando a janta acabou Aylin resolveu sair para fumar, não é que ela se sentisse exatamente triste ou tivesse ficado melancólica com tudo aquilo. Claro que tudo isso era um peso grande na vida dela e claro que os traumas sempre existiriam, mas ela preferia não ficar pensando nessas coisas.
Assim que ela acendeu o primeiro cigarro, Yugo apareceu.
– Veio farejando a fumaça? – ela riu ao perguntar, mas sem se virar para ele.
– Você não acha que já tem problemas demais para fumar? – ele perguntou, mas não havia tom de acusação e nem de bronca na voz dele.
– Para a minha sorte, meus dois pulmões continuam no lugar – ela deu de ombros – sabe de uma coisa que eu estranhei quando vim para cá e conheci Lissa?
– O quê? – ele parou ao seu lado e acendeu um cigarro também.
– É muito difícil ficar sozinha – ela riu um pouco e viu ele soltando a fumaça.
– Quer que eu vá embora? – ele perguntou colocando uma das mãos no bolso.
– Não – ela sorriu ao dizer isso e pela primeira vez resolveu prestar mais atenção no seu companheiro de fumaça.
Yugo parecia estar sempre bravo, de certa maneira isso não o deixava com a aparência tão receptiva, mas ele não era uma pessoa desagradável, longe disso, bastava conhecê-lo melhor e qualquer um ansiaria por mais da sua companhia. Ela adorava como seu cabelo escuro caía pelo seu corpo definido e essa era sem dúvidas a parte que mais chamava a atenção nele.
– Caralho – ele resmungou e olhou para ela – eu não consigo parar de imaginar o que você falou. Como essa bacia gigante conseguiu juntar tantas pessoas trágicas em tão pouco tempo?
Ele falou sério, em tom resmungão, mas ela riu.
– Acho que esse mundo é uma fábrica de histórias trágicas – ela respondeu – mas existe coisas boas.
– As Kitsunes são realmente diferentes – ele falou suspirando – e eu que achei que roubar para não morrer de fome e dormir em chão duro era trágico o suficiente para uma vida.
– Está tenso, Yugo? – Aylin olhou para ele e sorriu, o que o fez sorrir de maneira predatória – Eu posso aliviar a tensão para você.
– Estou começando a achar também que tudo nessa banheira imensa termina em sexo – ele riu.
– Pode ser. É uma das coisas mais prazerosas da vida e adivinha só, nem sempre é preciso pagar para isso – ela deu de ombros.
– Então vamos ver o quanto você aguenta, branquinha – ele riu e a grudou na parede enquanto subia com algo de brutalidade a blusa de Aylin, deixando visível todo o seu corpo, que na visão dele, seguia lindo mesmo com todas as cicatrizes espalhadas.
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Sam ficou no bar em uma mesa por mais tempo, ele estava pensativo, todas aquelas histórias pareciam terríveis demais. A vida dele havia sido difícil, ele tinha sido escravo e as diversas marcas no seu corpo não o deixavam esquecer um minuto do inferno que passou, mas ele havia fugido e em consequência disso tentaram matá-lo, mas ele tinha sido salvo. Agora ele sabia toda a verdade sobre sua sobrevivência milagrosa e muitas vezes aquilo pesava nas suas costas. Uma pessoa havia morrido para ele sobreviver e uma jovem havia feito uma escolha terrível para a pouca idade que tinha para que isso acontecesse. Pouco a pouco ele descobriu que as temíveis Kitsunes haviam salvado sua vida e ele tinha uma dívida eterna com elas, mesmo que ele não admitisse em voz alta.
Sam sempre havia sido um rapaz sossegado, diferente de seus companheiros que todas as noites buscavam algum tipo de prazer. O mais parecido a ele era sem dúvidas o Carlos, que parecia que enfim havia sido enlaçado.
Ele suspirou e olhou para o copo vazio e até mesmo o gelo já havia desaparecido.
Carlos estava com Lissa e isso doía um pouco, mas a moça nunca nem mesmo olhou para ele da maneira que ele gostaria. Luc estava sem dúvidas com a Senka naqueles momentos. Roy foi em direção da cozinha e Sam já imaginava para quê. Kai desde que havia começado a perder o controle, havia estado diferente e distante e preferiu ir para o quarto logo depois da janta, Sam sabia que a jovem Yoko iria atrás dele mais cedo ou mais tarde, mas Kai era um caso à parte, um predador natural que não queria estar amarrado a ninguém. Yugo... bom, Sam nem precisava ir longe para ver o movimento do amigo com a jovem albina na parede do lado de fora. Eles nem disfarçavam.
Ele passou a mão pela cabeça e resolveu ir para o quarto, ele havia passado na biblioteca do navio que parecia mais abandonada que qualquer outra parte do navio. Achou ali alguns livros interessantes e preferiu aproveitar o tempo antes de dormir.
Quando passou pela barra do bar, ele viu Layla ainda ali, com a cabeça baixa, praticamente apagada. Ficou admirando-a por um tempo se decidindo se a ajudaria ou a deixaria, mas no fim, ela não parecia confortável ali e não iria custar nada levá-la para o quarto para que descansasse.
– Vem, Layla – Sam a pegou e notou o quanto ela estava mole por conta da bebida.
– Eu não estou trabalhando – ela falou cruzando as palavras.
– E eu não estou te pagando para nada. Só quero te ajudar a sair daqui.
– Eu sei o que você quer – ela mal conseguia deixar os olhos abertos e ele suspirou.
– Eu não faria isso com uma mulher completamente bêbada. Talvez você tenha razão em duvidar dos homens, a maioria é como você pensa, mas acredite ou não, nem todos somos assim. Deixa só eu te ajudar a chegar no quarto.
– Jura que não vai fazer nada? – ela falou e jogou um dos braços no pescoço dele dando um meio abraço – eu não confio em homens.
– Eu não vou fazer nada, eu prometo. Só vou te ajudar.
– Ta bom – a voz embriagada dela deixou Sam triste, principalmente depois de saber toda a sua história.
Ele a pegou no colo e suspirou quando ele a ouviu chorar baixo. O quarto dela não estava longe, mas estava trancado.
– Layla, onde está a sua chave? – ele perguntou.
– Eu não sei – ela respondeu e se aninhou a ele.
Ele parou um tempo pensando no que poderia fazer e sem encontrar muitas opções a levou para o seu quarto, a depositou com cuidado na cama e tirou seus sapatos.
– Você está no meu quarto – ele falou e ela nem pareceu ouvi-lo.
– Não me deixa sozinha... – ela sussurrou.
– Você entendeu que está no meu quarto, Layla? – ele perguntou um pouco mais alto.
– Sim – ele tentou se virar – mas você disse que não faria nada. Então, só fica aqui até eu dormir.
– Droga – ele resmungou – ela nem vai se lembrar disso amanhã.
Ele se sentou na ponta da cama e colocou suas pernas para cima, mas nem tirou os sapatos. Depois ele olhou para o sofá que havia perto de uma televisão e agradeceu por saber que não teria que dormir no chão, mesmo assim fez uma careta ao imaginar a noite longa que teria.
Layla abraçou seu corpo e tudo o que ele pôde fazer foi levar sua mão até a cabeça da moça para ajeitá-la melhor.
– Você cheira bem... – ela resmungou e pouco tempo depois pegou no sono.
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