73 - DECISÃO
Quando a chuva estiver soprando no seu rosto
E o mundo todo incomodar você
Eu poderia te oferecer um abraço caloroso
Para fazer você sentir o meu amor
Quando as sombras da noite e as estrelas aparecerem
E não houver ninguém lá para secar suas lágrimas
Eu poderia te segurar por um milhão de anos
Para fazer você sentir o meu amor
Make You Feel My Love — Adele
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Carlos entrou no quarto apreensivo. Lissa não parecia tão mal quanto Senka, nem por isso ela estava bem. Pensar que ela estava se mantendo assim por 4 meses era terrível demais para aceitar. Ele olhou para o lado, um senhor que parecia ter dores até para respirar foi colocado na cama que havia ali e sorria de maneira aliviada.
– Agradece... – o homem sussurrou, mas Carlos não entendeu o resto da frase.
– O que você disse? – Carlos perguntou chegando um pouco mais perto.
– Você a ama. Vejo isso na maneira como você a olha – o homem sorriu de maneira fraca – Agradece ela por mim. Cuida bem da nossa Lissa.
– Eu vou cuidar – Carlos falou baixo se afastando do homem e se aproximando de Lissa novamente. Ele se sentou na mesma cadeira onde Senka havia estado sem se importar com a quantidade de sangue que havia em volta.
Ele a olhou um tempo, tirou um fio de cabelo que estava atravessando seu rosto até se decidir falar.
– Olha só – ele falou próximo a ela – não é que ela realmente quer mostrar que é obstinada?
Ele notou como a respiração dela ficava um pouco mais rápida ao ouvir a voz dele parecendo de repente ficar agitada.
– Pois é, Lissa – ele falou mantendo a voz controlada – nós voltamos.
A máquina que ligava seu coração começou a alterar junto com a sua respiração.
– Então, você pode me ouvir – ele sorriu, mesmo sabendo que ela não o veria – isso vai realmente facilitar as coisas. E sentir, você pode? – ele passou a mão por seu rosto e notou que ela se agitava ainda mais – Lissa, nós voltamos a fazer o acordo e não iremos sair daqui. Luc me contou que você ouviu um de nós te chamando de monstro e talvez você seja mesmo – ele secou uma lágrima que escorreu no canto dos olhos da garota – não chora... no fundo, todos nós somos, só que fazemos as coisas de outro jeito, só isso. Lissa, você sabe como está se mantendo viva? Acho que ninguém te contou, então eu irei fazer isso agora. Você não tem sangue infinito, sabia disso? Têm várias bolsas de sangue conectadas a você, mantendo esse pequeno fio de vida que você está se recusando a soltar. Suas amigas estão fazendo o possível para manter a sua vontade, mas você precisa saber que só esses sangues não estão sendo o suficiente, além do sangue tem diversos aparelhos que eu mal sei para que servem... Lissa, a Senka tirou o amuleto e para que você mantivesse essa linha, ela deixou que você arrancasse pedaço por pedaço dela, ela está morrendo no quarto ao lado, está irreconhecível por sua culpa, seu corpo está inteiro desfigurado e irá morrer, é inevitável esse destino para ela e a culpada será você. Emma acreditava que o que você tem é um dom, e acho que posso começar a entender isso, mas se você usar esse dom para tirar a vida da sua amiga só para amenizar a sua dor, então sim, você sem dúvidas é um monstro. Me prova Lissa, me prova que você é quem eu sempre achei que fosse. Me mostra que a Lissa que eu conheço é a verdadeira Lissa. Por favor, me mostra que a Lissa que eu amo está aí e está me ouvindo e se você também me ama como disse, se entrega, descansa de uma vez. Tem um homem aqui do lado que me pediu para te agradecer e me pediu para cuidar de você, me deixa cumprir o último pedido dele.
Lissa podia ouvir, podia sentir e quando a mão quente dele segurou a sua mão, seu corpo inteiro reclamou por mais um pouco dele. Ela se esforçou para fechar a mão na dele, mas era difícil, seu corpo estava duro e dolorido, ela tentou se manter viva para não tirar a vida de mais ninguém, mas ela não sabia como tinha feito aquilo até aquele momento... o desespero dela cresceu, ela precisava salvar a sua amiga, ela nunca quis isso, nunca quis fazer isso com a Senka e o peso de mais um erro passou a pesar nas suas costas. Por que ninguém falou isso para ela? Ou será que falaram? Lissa nem sempre estava consciente. Ter o Carlos ali com ela, era de certa forma, um impulso para que ela se entregasse. Ela queria ver ele mais uma vez, queria escutar ele só mais um pouco, então... não teria problema ela se entregar só mais essa vez, certo?
Carlos viu quando a mão dela se moveu na tentativa de segurar a sua. Ele envolveu seus dedos com carinho e com a outra mão fez carinho nela.
– Está tudo bem, Lissa – ele falou baixo e encostou a sua testa na dela – Eu vou estar aqui o tempo inteiro. Descansa agora, descansa para salvar a sua amiga e depois disso, podemos conversar de novo.
Ele ficou olhando como uma última lágrima escorria pelo rosto dela antes de ver pelo aparelho que seu coração havia parado. Por um momento ele teve medo, medo de que dessa vez não funcionasse e segurou a respiração, mas se passaram apenas poucos segundos antes que uma luz envolvesse seu corpo e o aparelho desconectasse. Carlos se virou a tempo de ver a foice de luz transpassar o homem que morreu sorrindo e voltou seus olhos para a luz que quase lhe cegava a sua frente. E pouco a pouco uma garota começava a se mostrar com o desaparecer da luz.
A menina se levantou devagar, parecendo confusa e olhou para o homem na cama ao lado, mas não pareceu se assustar. Olhou para todos os aparelhos e para os poucos fios que ainda estavam conectados nela e depois olhou com curiosidade para Carlos.
– Quantos anos você tem agora, Lissa? – ele perguntou com um sorriso sincero.
– 6. Quem é você moço? O que aconteceu comigo?
– Lissa, eu quero te mostrar uma coisa, mas vai ser muito duro para você. Ainda assim, acho que você vai precisar ver por você mesma. Pode ser?
– Como você sabe que eu posso ver? – ela perguntou curiosa e não parecia ter medo dele.
– Prometo te contar tudo depois, mas agora, é mais importante que você saiba o que está acontecendo.
Lissa acenou e levou seu dedo magro até a testa dele. Quando ele abriu os olhos de novo, ela chorava silenciosamente, algo estranho para uma criança de 6 anos. Ela se levantou e andou com dificuldades, Carlos teve a sensação de que ela tinha dificuldades de se manter de pé, mesmo assim ela forçou um passo atrás do outro até o quarto ao lado. Ela parecia sentir dores. Carlos a seguiu devagar e deixou seus olhos vagarem pelos corredores até encontrar Aylin. Ela olhava fixamente para a pequena Lissa e tentava em vão segurar as lágrimas.
A pequena Lissa entrou com o olhar inexpressivo no quarto ao lado, ela parecia andar no automático. Olhou para Senka e deixou que mais lágrimas silenciosas caíssem de seus olhos e se deitou ao lado do que havia restado de sua amiga. Se aninhou ao seu corpo, abraçou com suas pequenas mãos o corpo já quase sem vida da amiga e murmurou algumas vezes.
– Me devolve, não a tire de mim. Não tirem a Senka de mim.
Kai e Carlos olharam tentando controlar os sentimentos enquanto o corpo da pequena Lissa era dilacerado sem ela reclamar uma única vez de dor e poucos segundos depois uma luz a envolveu e uma foice transpassou o corpo da pessoa ao lado.
Senka puxou o ar de uma única vez e antes que pudesse se levantar, sentiu o pequeno corpo de Lissa alinhado ao dela. Sem se importar com quem estava ali, ela apenas abraçou o corpo magro de Lissa e fechou novamente os olhos tentando marcar aquela sensação para nunca mais esquecer.
Layla apareceu pálida na porta, Carlos não havia nem notado a hora em que ela havia chegado. Viu como ela desabava quando as pernas falharam e abaixou a cabeça enquanto deixava o choro sair do seu corpo tenso.
– Vamos, Carlos – Kai chamou puxando seu amigo – Eu preciso de uma bebida forte e de uma mulher dançando na minha frente.
Ao passarem pelo corredor ele chamou Roy e eles foram sentido o bar, onde com toda a certeza, Luc, Sam e Yugo estariam bebendo.
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