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70 - UM NOVO ACORDO?

Amar pode machucar
Amar pode machucar às vezes
Mas isso é a única coisa que eu sei
Quando fica difícil
Você sabe, isso pode ficar difícil às vezes
É a única coisa que nos faz sentir vivos
Ed Sheeran - Photograph

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– Yan, está na hora de irmos.

– Eu sabia, sabia que tinha algo errado na hora em que te vi – Yan suspirou e apontou para o próprio braço para indicar o que ele queria dizer e de repente sentiu o mundo inteiro desabar em cima dele – ela nunca tinha conseguido por tanto tempo. O que será que está motivando tanto ela dessa vez?

– Vocês estão falando da tia que não para de sangrar? – Aya perguntou com os olhos curiosos.

– Do que você está falando, Aya? – Sam perguntou sorridente como se fosse uma simples pergunta.

– A Kat me disse que a mamãe dela está com várias feridas pelo corpo que não fecham, mas que ela não quer morrer – Aya deu de ombros – aí a Kat disse que quando a mamãe dela não está aguentando, ela rouba um pouquinho de sangue de alguém e aí ela continua viva.

Senka de repente sentiu a boca seca e Yan parecia não reagir. Luc passou o olho pelo corpo de Senka e respirou fundo.

– Me deixa ver seu braço, Senka – ele falou olhando para a moça que de repente pareceu perder a cor.

– Não – ela respondeu. Luc nunca a tinha visto tão indefesa como naquele momento e isso pareceu fazer seu coração romper em mil pedaços.

– Por favor, me deixa ver o seu braço – ele chegou perto dela e segurou um deles.

Senka inicialmente tentou puxar o braço de volta, mas Luc era forte e simplesmente manteve o pulso da moça firme em sua mão. Ele lentamente começou a desenrolar uma das faixas e quando finalmente a faixa acabou ele precisou desviar o olhar. No braço dela havia vários cortes fundos, muitos ainda bem abertos e Luc só podia imaginar o tamanho da dor que aquilo poderia estar causando.

– Puta merda – ele sussurrou, como se aquilo fosse aliviar o que ela sentia – Por quê?

– Se é assim que a Lissa quer, então eu vou ajudá-la – Senka falou baixo, mas de maneira firme – Ela disse que não queria ser um monstro. Eu nunca a vi como um, mas se ela acha que precisa fazer isso para estar em paz, então eu vou ajudá-la, mesmo que eu tenha que dar todo o meu sangue para ela. Peço desculpas por tomar tanto tempo de pessoas tão importantes, se me dão licença, agora irei embora.

Senka puxou de maneira brusca o braço de novo e soltou um pequeno gemido de dor. Por pouco tempo o braço quase sem pele da moça ficou a mostra de todos causando um desconforto terrível em cada um. Ela pacientemente começou a enfaixar o braço novamente e se virou para Yan.

– Yan, vamos embora – Senka o chamou de novo, mas notou que Kai fazia um sinal para Carlos e riu colocando as mãos na cintura enquanto Carlos foi até a porta e a fechou.

Ela viu como ele parecia tranquilo ao encostar ali. Ele teve um único momento em que transpareceu o que realmente sentia, mas foi tão rápido que ela chegou a se perguntar se aquele momento realmente tinha existido.

– Que inferno – apesar da frase, ela sorriu – Lissa tinha razão, vocês são um pé no saco mesmo.

– Por que você não fica um pouco, Senka? – Kai falou tranquilamente – Vamos tomar alguma coisa e conversar.

O clima parecia ter pesado consideravelmente e por um momento ninguém se moveu.

– A tia Senka vai ficar? – Aya parecia feliz com a ideia – Então podemos chamar a tia Aylin também? Ela não pode ficar na rua.

– Davi, por que você não leva a Aya para passear um pouco? – Roy falou sorrindo para a pequena.

Davi saiu pacientemente com sua filha no colo enquanto todos tinham os olhos cravados nas costas de Senka que seguia virada para a porta e assim que eles saíram de vista, Kai se sentou de novo.

Luc foi até o bar de canto que havia na sala, pegou a garrafa de um dos seus whiskies mais caros, encheu um copo On The Rock e entregou para Senka.

– Quantos têm aí fora? – Luc perguntou enquanto voltava até o bar para pegar outro copo para ele.

– O suficiente – Senka riu e deu um gole grande do copo que estava nas suas mãos.

– Quantos? – ele voltou a perguntar e ela sorriu de novo.

– Poucas – ela deu de ombros – apenas 32, contando com a Aylin.

– Isso não é pouco – Yugo se rendeu a vontade louca de beber e fumar enquanto falava – não se formos levar em consideração que apenas meia dúzia fizeram um estrago gigantesco da última vez.

– Ah – Senka riu um pouco – mas eu não fiquei louca ainda a ponto de desafiar os 6 homens mais assustadores que eu já conheci na vida e vale lembrar que naquele dia a Lissa estava junto.

– Mas não foi ela que matou mais, não é Senka? – Kai falou e sorriu de maneira maliciosa – Chego a acreditar que você é ainda mais perigosa que a Lissa. Quantos capitães tem aqui?

– Além de mim, e do Yan que roubou a arma do Davi pouco antes dele sair?

Todos se viraram para onde Yan estava. Ele estava afastado, parecia uma distância segura para atirar no primeiro que fosse uma possível ameaça.

– Sua diversão distorcida é terrível, capitã – Yan falou sério e depois deixou transparecer o cinismo em sua voz – É realmente muito prudente da sua parte avisar que eu estou armado.

– Ah, não seja chorão Yan – Senka falou dando de ombros – mostra que valeu a pena enquanto você serviu como cachorrinho da rainha.

– A hostilidade dentro das Kitsunes não vai sumir nunca, não é? – Kai fez um sinal negativo com a cabeça – Chega a ser curioso saber como que ninguém nunca morreu lá dentro.

– Não foi por falta de tentativas – Senka continuava sorrindo e fez questão de se virar para Yan, que fez uma careta com a provocação de sua atual capitã.

– Quanto tempo temos? – Sam chegou até a janela, com cuidado para não ficar muito exposto e riu – Como vocês passaram por toda a segurança?

– Para a primeira pergunta, depende. Quanto tempo estamos aqui dentro já?

– Uns 25 minutos eu diria – Sam deu de ombros.

– Então temos mais uns 30 minutos, dá tempo de mais um copo desse whisky delicioso – ela mostrou um copo já vazio, mas seguiu virada para a porta.

– E em relação a segunda pergunta? – Carlos, que era o único que podia ver a expressão divertida no rosto de Senka perguntou.

– Na entrada dos fundos, onde seus empregados comuns entram, têm uma excelente câmera: visão noturna, microfone e uma ótima qualidade de imagem, mas existe uma falha nessa câmera, apesar de ela ser de 360º, durante uma parte da manhã o sol bate na lente e gera um ponto cego em um dos cantos do muro. Esse ponto cego dura pouco tempo e obviamente o dia precisa estar ensolarado como hoje, mas acredite, foi o suficiente para todos passarem.

– Impressionante – Carlos falou ainda de braços cruzados – Levaram quanto tempo para descobrir isso.

– Começamos a estudar isso na manhã seguinte ao ataque, mas como pode ver, só fomos descobrir há pouco tempo, por isso a demora.

– E quem descobriu? – Carlos estava tranquilo, mas Senka notava a ameaça em cada sílaba que saía de sua boca, ele era cativante e com seu jeito empático sem dúvidas conseguia muita informação, mas Senka não tinha necessariamente intenção de esconder essas coisas deles, então apenas deu de ombros.

– A única capaz de entrar e sair de qualquer lugar sem que notem a sua presença.

– Então, a Niely está aqui também? – Carlos seguiu com a sua linha e todos os Malphas sabiam que seria melhor deixar com ele. Senka apenas sorriu – Têm mais capitães aí fora?

– Acho que no fim, vou aceitar me sentar um pouco se não for muito incômodo – Senka deu de ombros.

– Fique à vontade. Roy, será que você pode encher o copo da moça de novo? – Kai pediu com a voz muito tranquila.

– E então? – Carlos perguntou de novo.

– Já que vocês querem tanto saber – Senka disse se sentando – Estão todos, menos o senhor e a senhora Kendra e obviamente a Layla que segue no castelo.

Roy assobiou baixo.

– Vocês têm tanto medo assim da gente, Senka? – Carlos sorriu um pouco ao perguntar.

Senka apertou um pouco os olhos e depois riu.

– É séria essa pergunta? – Senka falou ainda entre risos – É claro que temos, temos medo até os ossos de vocês. Até podemos ser imprudentes, mas não somos burras.

– Muito bem – Luc falou finalmente se sentando em uma poltrona próxima – Então acho que agora sim, podemos conversar.

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