53 - A VERDADE?
Você e eu temos memórias mais longas do que a estrada que se estende à frente
Two of Us – The Beatles
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– Puta merda – Carlos sussurrou quando sua visão voltou ao normal.
Ele olhou para Lissa que havia dormido em algum momento, se levantou devagar e resolveu sair dali sem que ela notasse. Ele precisava avisar os outros. O que ele deveria esperar? Realmente podiam confiar nelas? Não é que ele achasse que seus atos contra elas houvessem sido bons. No fim, eles haviam destruído a base delas, sua capitã havia sido abusada das piores maneiras possíveis através de um homem que estavam em sua boate e de quebra a irmã de uma das suas capitãs havia sido sequestrada e morta em uma das cidades que pertencia a eles, mas elas estavam no encalço deles já há muito tempo aparentemente, haviam cometido uma atrocidade dentro da boate deles e a cena de tanta gente morta seguia na cabeça dele nitidamente. Eles haviam destruído os Romans acreditando que haviam realmente sido eles e no fim, eles apenas foram parte de um jogo das próprias Kitsunes.
Ele caminhou com passos firmes até o cabaré do fundo do navio, pois tinha certeza de que todos estariam lá.
Quando ele chegou, viu que todos conversavam e bebiam. Não estavam exatamente felizes, já que a situação com a sobrinha e irmão de Roy não permitia, mas estavam relaxados.
Senka cochichava algo no ouvido de Luc, Aylin ria e fumava ao lado de Yugo. Roy, Kai e Sam jogavam cartas com Maia, Green e Yan. Carlos respirou fundo e quando estava teoricamente próximo a mesa, ele segurou o cano de sua arma, mas precisou soltar ao ouvir o engatilhar de outra arma em sua cabeça.
Todos pararam para ver o que estava acontecendo.
– Eu vi algo curioso hoje, Carlos – a voz de Layla saiu ameaçadora atrás dele.
– Pensei que já tinha ido, Layla – Carlos falou tentando soar seguro e tranquilo.
– Eu estava saindo, mas estou curiosa para saber o que você viu.
– Só algumas moças aproveitando na nossa boate – ele tentou sorrir – vocês têm alguma coisa para nos falar?
– Poxa – Layla sorriu – eu sabia que tinha que tomar cuidado com você, mas não esperava que fosse tão cedo assim. Eu esperava que fosse pelo menos depois da invasão.
Senka suspirou profundamente parecendo desapontada, antes de vestir um sorriso assustador.
– É, acho que a brincadeira acabou – ela falou suspirando de novo – E nem tente se mover Luc, ou a bala vai atravessar de uma única vez seu estômago.
Luc soltou o cano de sua arma ao sentir o cano da arma de Senka apontada para ele pouco abaixo da altura da mesa.
– Ah, que pena – Aylin se levantou, se espreguiçou e sacou sua arma também – Estava bom demais para ser verdade.
– Poxa, bem que essa paz podia seguir por muito mais tempo, não? – Green reclamou e apontou a arma para a cabeça de Kai – mas eles descobririam mais cedo ou mais tarde.
Kai não se moveu, olhou para Yugo um momento e notou que Roy já não estava ali com eles. Lentamente ele se virou para onde Layla estava, Carlos parecia realmente tranquilo, o que Kai sabia que possivelmente não condizia com a realidade.
– Que tal você se sentar, Carlos? – Layla falou tranquilamente.
Carlos puxou uma cadeira e se sentou ainda de costas para ela.
– Estou curioso, Layla – Carlos começou – nossa história junto de repente me pareceu tão longa. Realmente começou no "The Red Act"?
Os olhos de cada um dos Malphas se abriram um pouco, mas antes que Layla pudesse seguir eles escutaram a voz de mais uma mulher falando.
– Calma ratinho – Niely falou friamente com uma bonita adaga no pescoço de Roy – é só soltar a arma que eu não vou fazer nada.
– Não sei para que esse teatro todo – Carlos falou suspirando – Vocês não podem nos ferir e nós não podemos ferir vocês. Que tal se você abaixar a arma?
– Você também poderia quebrar o contrato e podíamos tentar resolver isso de outra maneira.
– Se eu quebrasse esse acordo, você puxaria o gatilho. Tá me achando com cara de idiota?
– Ah, não – Layla riu – se tem algo que eu nunca achei, é que vocês sejam idiotas. Como foi mesmo que a Senka chamou vocês nesse dia? Deuses, não é? Como eu poderia achar que os deuses daqui sejam idiotas?
Senka riu ao ouvir isso.
– É, e que deuses. Chegam a ser melhores do que eu imaginava – Senka concordou – o mais surpreendente foi Lissa ter concordado logo de cara.
Carlos suspirou, ele não estava com ânimos para aquilo e por um momento até ele precisou contar até dez para não explodir também.
– Vocês não irão nos ferir para que Lissa não seja escrava e nós não vamos ferir vocês porque isso romperia o acordo e morreríamos, já que vocês estão com a vantagem. Será que podemos conversar civilizadamente. Estou querendo entender o que está acontecendo aqui.
Kai parecia despreocupado ao falar, quem não o conhecia podia jurar que ele estava bem, mas para os outros capitães, o nervosismo em sua voz e em seus atos era nítido após citarem o nome da boate.
– Será que eu posso fumar? – Carlos falou começando a sentir o nervosismo transparecer em seu corpo.
– Você não fuma – Layla falou tranquilamente.
– Me deu vontade.
– Aylin, acende um cigarro para o rapaz, por favor.
Aylin acendeu um cigarro e colocou o cigarro na boca de Carlos, que sentiu a fumaça descer por sua garganta. O gosto era horrível, ele não sabia como alguém conseguia fumar sem sentir o quão asqueroso era aquilo, mas a fumaça descendo fez com que ele tivesse tempo para pensar melhor.
– Obrigado – ele falou soltando um pouco a fumaça – Talvez possamos conversar agora. Você vai me responder se realmente começou ali?
– Acho que você deveria perguntar isso para a Senka, ela que está no comando na ausência de Lissa – Layla falou sem abaixar a arma.
– Você também estava lá, nas duas vezes. Tanto na sexta anterior, como no sábado, dia 26 de julho... foi uma data marcante para ambos os lados, não?
– Pois é – Aylin falou parecendo nostálgica – Último dia em que vi meu querido templo inteiro.
– Então, o templo era de vocês? – Yugo perguntou torcendo para que o cigarro da boca de Carlos fosse parar na dele, ele precisava loucamente de um – Achei realmente estranho que tivesse tantos tesouros para um simples templo.
– Como essa parte da história já está clara – Senka falou se sentando em cima da mesa e tomando um gole de um copo qualquer, mas sem deixar de apontar a arma para Luc – Acho que já podemos agradecer formalmente por vocês terem eliminado os Romans pra gente.
Carlos forçou os dentes e mostrou um sorriso sem nenhum humor.
– Ainda não estou conseguindo acompanhar – Yugo falou começando a se irritar.
– Por favor, me deixem explicar – Aylin falou parecendo de repente muito animada. Acendeu um cigarro, colocou na boca do Yugo, que agradeceu com um grunhido e depois acendeu um para si mesma.
– Acho que eu mesma posso fazer isso – a voz de Lissa chegou da porta do cabaré, mas foi alta o suficiente para que todos ouvissem – Caramba, dessa vez foi realmente dolorido.
Lissa massageou o pescoço e foi andando a passos lentos até o grupo hostil à sua frente.
– Mas acho que antes disso – Lissa sorriu ternamente – vamos acalmar os nervos. Volto a dizer o que venho dizendo desde os últimos... aamm, deixe-me pensar... talvez pelos últimos 5 anos? Algum de vocês lembram?
– Que você não quer guerra contra os Malphas – Yan falou dando de ombros, era o único que seguia sentado tranquilamente ainda bebendo o que restava da bebida em seu copo.
– Exatamente – Lissa pareceu animada ao ouvir isso – Então, vamos começar pelo básico. Layla tira a arma da cabeça do Carlos, ver essa cena está me deixando um pouco ansiosa. Niely, se eu vir um pingo de sangue que seja, no pescoço do Roy, eu acabo com a sua vida. Green, você escolheu um alvo bastante perigoso, vou agradecer se essa arma voltar para o lugar com todas as balas ainda dentro. Senka, poxa vida, é a segunda vez que você aponta uma arma para alguém que está apaixonada, isso deve ser bem desagradável.
– Mas o outro era um babaca, ele bem que mereceu o tiro que levou – Senka deu de ombros sem tentar esconder o que sentia por Luc.
– O que nos leva a acreditar que o Luc não seja – Lissa sorriu para a amiga – e algo me diz que não seria tão fácil atirar nele. Pelo menos não tão fácil quanto foi com o senhor babaca. Então, que tal abaixar a arma também. Tenho que admitir que demorei um tempo para me localizar depois desse último ciclo. Felizmente me apareceu um anjo que estava limpando o convés e me ajudou, o que me leva ao meu último pedido: Yan, estou precisando de mais capitães como você, está de parabéns por manter a postura até agora – ela parou na frente do loiro com um sorriso de ponta a ponta apoiando no joelho para nivelar o olhar dos dois – eu vi que tem um creme de chocolate delicioso na geladeira, será que eu posso comer um pouco com alguns biscoitos? Essa situação toda me deixou um pouco nervosa e estou precisando de um doce.
Ela ficou olhando para ele com expectava enquanto colocava uma pastilha de menta na boca.
– Para a minha capitã eu faço qualquer coisa.
– Perfeito – Lissa abriu ainda mais o sorriso parecendo uma criança – Agora, Maia – todos olharam em todas as direções procurando pela garota que havia desaparecido sem deixar rastros – Você está ficando muito boa em se ocultar, daria uma ótima parceira para Niely... daria, se vocês não se odiassem, claro. Mas, por outro lado, o que você estava querendo? Explodir a parte detrás inteira do navio? Que tal jogar essa granada fora? Sairia caríssimo arrumar o estrago.
– Você é uma estraga prazeres, capitã – Maia falou rindo de uma das vigas oculta do teto.
– E agora eu que sou a malvada? – Lissa riu – Eu me ausento por um dia e quando volto está um mordendo o calcanhar do outro.
Lissa puxou a mesma cadeira que Yan estava sentado e colocou na frente de Kai com o encosto virado para ele e se sentou de pernas abertas apoiando as duas mãos na parte de cima da cadeira para que enfim, pudessem colocar as cartas na mesa.
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