24 - GAIOLA
Não tenho dinheiro
Pra pagar a minha yoga
Não tenho dinheiro
Pra bancar a minha droga
Eu não tenho renda
Pra descolar a merenda
Cansei de ser duro
Vou botar minh'alma à venda
Babylon – Zeca Baleiro
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⚠️ESTE CAPÍTULO CONTÉM OS SEGUINTES GATILHOS⚠️
⚠️Violência
⚠️ Esquartejamento e morte
⚠️ Tortura
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Carlos olhou a cena tranquilamente, ele já havia visto inúmeras execuções e ele mesmo teria puxado o gatilho depois daquilo. O que o surpreendeu não foi a decisão de Kai e sim o fato de que eles tomaram conta da situação sem a interrupção de nenhum outro líder das Kitsunes. Quando ele se virou para onde estava Lissa, Maia estava ao seu lado sorrindo triunfante.
Maia queria isso, ela queria que os Malphas fossem os Malphas, ela já tinha deixado isso claro e eles haviam entendido isso finalmente, mas por quê?
Niely e Maia levaram Lissa que tinha o corpo inteiro tenso para uma cadeira qualquer, só ela saberia a luta interna que estava travando consigo mesma para que a raiva não a dominasse.
– Vamos começar de novo – Senka falou olhando para os dois homens que haviam sobrado e sorriu com certa malícia – Vocês estavam levando sacrifício para a rainha... para onde os levaram?
O homem que estava mais próximo a ela cuspiu em sua direção, ela colocou as mãos na cintura, mas seu sorriso não sumiu.
– Então, faremos do jeito mais difícil – ela falou tranquilamente – Kai, os sacrifícios são levados para alimentar a rainha Kawany, ela se alimenta de medo e desespero, então suas vítimas preferidas são mulheres e crianças, já que essas são mais suscetíveis a isso. Esses – ela apontou para os dois – são alguns dos soldados responsáveis pelos sequestros.
– Não é sequestro – um dos guardas falou irritado – são ordens da minha rainha e se ela precisa disso para sobreviver e governar, então temos o dever de atendê-la.
– Ah – Senka jogou a cabeça para trás – Eu não tenho saco para isso. Kai, se quiser participar disso, aponte seu interrogador. Niely, vou te deixar a cargo do outro. Divirtam-se.
O sorriso de Niely se alargou de uma maneira sociopata e naquela hora todos puderam ver a verdadeira natureza da garota com o semblante frio.
– Vamos para a gaiola – ela falou com um sorriso tão aterrador que até mesmo Yugo, que estava acostumado a torturar para conseguir informações sentiu um arrepio.
– E então, Kai? – Senka perguntou sem se alterar – Niely é muito violenta, melhor deixar um dos dois inteiros caso ela não consiga informações.
– Estou ofendida, Senka – Niely falou ainda sorrindo – Só vamos ter uma luta justa, dentro de uma gaiola, até que um dos dois morra e por certo, eu sempre consigo a informação que quero – enquanto ela falava, seus olhos brilhavam e seu sorriso aumentava.
– Percebe-se pela quantidade de vezes que você perdeu – Senka arqueou uma sobrancelha e olhou novamente para Kai.
– Yugo – Kai o chamou – o que você acha?
– Eu fico com um – ele falou acendendo mais um cigarro, já era o quinto desde o início daquela estranha reunião – Mas estou curioso para saber o que ela irá fazer, aprender novos métodos não está demais.
– Acho que você não vai curtir muito isso – Senka falou dando de ombros – Mas faz tempo que não temos um show desses. Capitã? – Senka a chamou e todos notaram que ela já havia se recuperado e sorria divertida com a cena.
– Vamos para a gaiola – ela falou – Armas?
– Apenas meu taco – Niely respondeu e olhou para o homem mais alto e mais forte entre os dois – E você?
– O que?
– Oras, vamos, não seja um estraga prazer... vou te bater até a morte, o mínimo que posso fazer é te dar uma chance de se defender – Niely falou irritada, como se aquilo fosse óbvio – A não ser, é claro, que você prefira me falar onde estão as pessoas que vocês levaram.
– Vai se danar, vadia – ele falou orgulhoso e apontou com a cabeça para Yugo – Teria mais medo se fosse aquele ali me ameaçando, mas você? Uma pirralha, magrela e fraca?
– Ah – ela chegou próximo ao homem, segurou seu rosto e sussurrou ao seu ouvido – Então terei que te mostrar o quanto eu gosto da cor do sangue.
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– Gaiola – Aylin e Yan gritavam chamando a atenção de todos e diversas vezes os Malphas escutaram vivas de euforia.
Os dois homens foram praticamente arrastados junto com os líderes. O que iria lutar, tinha o queixo erguido e um olhar de desprezo, o outro estava encolhido e acovardado.
A gaiola era grande, inteira fechada no formato octogonal e em alguns cantos havia estacas bem afiadas, todas na altura das pernas. Notava-se que não estavam ali para matar, apenas para ferir e atrasar a luta. Estava em um centro de luta muito parecido a qualquer outro.
O lugar rapidamente se encheu com praticamente todos os que viviam dentro do navio. Todos gritavam e faziam apostas de maneira animada.
O homem que Niely havia escolhido para lutar, entrou confiante no ringue com uma espada, ele inicialmente havia escolhido uma arma de fogo, mas segundo as Kitsunes, a regra era clara, só poderiam usar armas brancas.
– Niely foi uma ginasta durante toda a sua infância – o senhor Kendra falou aos Malphas assim que a luta começou, ele usava um tom quase paternal – Uma pena que isso não tenha sido o suficiente para que a família dela saísse da miséria.
Yugo reparou que a garota tinha muita flexibilidade, força e agilidade. Ela se desviava com rapidez e precisão dos golpes profissionais de seu adversário com a espada. Ela demonstrou ser extremamente violenta e agressiva, seu estilo de luta era aéreo, com acrobacias e diversos chutes, assim como Lissa o fazia.
– Isso não é tortura – Yugo disse à Carlos dando de ombros – é só um pequeno entretenimento e um bem arriscado. O cara pode matá-la a qualquer momento.
– Talvez você esteja certo, mas você está vendo a Lissa logo em cima da gaiola? Não acho que ela esteja ali à toa – Carlos observou.
E de fato ela não estava, assim que o homem caiu inconsciente, todos vaiaram e Lissa fez um pequeno corte no braço deixando que apenas uma gota de sangue caísse no corpo do homem. O homem se debateu e se levantou puxando o ar, ele parecia tonto e cansado. Ele mal acordou e Niely já estava em cima dele de novo. Ele por sua vez se defendia como podia e voltava a desmaiar e assim que desmaiava, Lissa voltava a fazer o mesmo, sem deixar um minuto de descanso a ele.
– O que exatamente elas estão fazendo? – Carlos perguntou curioso.
O bastão de Niely batia em diversas partes do corpo do homem, que já tinha inúmeras fraturas. Niely, por sua vez, não tinha nem um arranhão.
– Quem é essa mulher? – Yugo estava vidrado nela.
– Quer a história completa dela? – Star apareceu de repente com seu jeito ainda um pouco infantil logo atrás deles.
Carlos levou um susto e deu um pequeno pulo.
– Ela foi a assassina contratada para matar a Lissa, a melhor assassina do reino.
– Star... – o senhor Kendra falou dando uma pequena bronca na jovem.
– Ah, não seja careta Kendra. Falando nisso, aposto 20 mil com você que em menos de uma hora a Niely consegue a informação – Star sorriu e mostrou uma bolsa de dinheiro para o senhor Kendra que sorriu e aceitou aposta. Logo após isso, ela se sentou sem esperar convite entre Yugo e Carlos – Conto para vocês em troca de um chocolate.
– Feito – Yugo respondeu sem pensar duas vezes, ele sorria maliciosamente e realmente queria escutar sobre aquela mulher lutando.
– Para deixar claro, o homem que está lutando, ou no caso tentando, não vai morrer mesmo que continue apanhando ou que o desmembrem inteiro. Niely pode tirar seu coração e ele seguirá ali respirando e com dor – Star falou abrindo uma latinha de refrigerante.
– Como assim ele não vai morrer? – Carlos perguntou olhando para a garota.
– Aquilo que Lissa está fazendo é uma troca. Acredito que já tenham explicado como funciona a troca, uma vida por outra, uma ferida por outra. Em troca de um ferimento no corpo dela, ele não morre. Diferente das outras vezes em que ela se cura, nesse processo ela não pode se curar sozinha enquanto ela não "soltar" a vida dele. Pensem nisso como um empréstimo, ela dá um pouco do sangue dela para que ele se mantenha vivo, em troca, o ferimento dela só vai melhorar quando ele morrer. Ela estaria se sacrificando se não fosse o fato de que ele segue sentindo todas as dores sem ter tempo de se recuperar. Niely diz que é o único jeito de se sentir na pele da Lissa, que sempre pega todos os ferimentos para ela. Uma vez tentei imaginar a quantidade de vezes que Lissa teve o pulmão perfurado ou um ferimento de bala por cada um daqui. Alguma vez já se perguntaram como é não morrer? Talvez por isso esse seja o método que Niely mais gosta, a pessoa implora para morrer, mas ela só permite quando consegue a informação. Já imaginaram apanhar sem parar e nem ter o direito de desmaiar?
– Ah – Yugo falou entendendo finalmente o método cruel de Niely.
– Ela era um ginasta da liga infantil, mas seu pai tinha uma dívida muito grande. Sua irmã mais nova, a que morreu, ficou muito doente e seu pai teve de fazer um empréstimo absurdo para pagar o tratamento. Muitas vezes os cobradores iam até a sua casa, abusavam de sua mãe e batiam em seu pai na frente delas como uma espécie de juros. Seu pai, que não tinha dinheiro para nada, usava o dinheiro que ela ganhava para comprar comida para as filhas, mas se recusava a comer para que sobrasse mais para elas. Acredito que algo se quebrou dentro dela em uma dessas vezes. Ela roubou aquele mesmo taco que ela está usando agora de uma loja de esportes que tinha próximo a sua casa e quando os cobradores voltaram ali, ela matou um deles a sangue frio. Dizem que ela batia e ria. Ela jurou que nunca mais deixaria sua mãe ser usada como juros e nem que deixaria seu pai morrer de fome. Ela passou a ser uma das delinquentes mais procuradas na cidade que ela morava, ela roubava, matava e como prometido, nunca mais deixou sua família sem comida. Pelo menos até um tempo atrás. Talvez vocês tenham ouvido falar dela, ela ficou conhecida como "Sombra", pois ninguém a enxergava e nem deixava rastros, o máximo que algumas testemunhas foram capazes de ver, foi uma sombra passando.
– O quê? – Carlos arregalou os olhos – O assassino imperial? Dizem que ele sumiu misteriosamente após um dos trabalhos que teria de fazer pelo que dizem os boatos. Pensei que fosse um homem.
– Eu disse que talvez vocês a conheceriam, acho que simplesmente ninguém queria acreditar que era uma mulher, uma outra versão sobre o apelido dela é que foi dado a ela porque em seu interior só tem escuridão – Star deu de ombros – A verdade é que ela é insana. Muitos são os assassinatos atribuídos a ela antes de que ela passasse a trabalhar para o rei e a rainha. Ninguém nunca havia ganhado dela – nesse momento o sorriso de Star aumentou – ninguém, até que ela encontrou a Lissa. Como eu disse anteriormente, sua última missão, antes de desaparecer misteriosamente, era levar Lissa viva ou morta para o castelo. Eu não estava nessa briga, mas a Senka e a Layla disseram que nunca houve uma briga como aquela. Foi feito uma aposta e se Lissa ganhasse, Niely passaria a trabalhar para as Kitsunes, se perdesse, ela se entregaria e iria pacificamente até o castelo com Niely. Lissa viu algo nela que ninguém mais conseguia enxergar, na verdade, ninguém ainda consegue enxergar isso, apesar de Lissa ter jurado nunca ter entrado na cabeça da Niely. Niely passou quase dois anos tentando derrotar Lissa e nunca conseguiu, até que finalmente admitiu que jamais conseguiria deixar Lissa novamente. Quando Lissa ficou sabendo que a irmã mais nova de Niely havia sido levada, ela saiu do navio como louca. Se vocês já viram Lissa brava então conseguem imaginar o que eu estou falando – não, eles não conseguiam, mas guardaram silêncio – não tinha quem conseguisse parar a capitã. Essas duas tem uma relação forte, elas vivem brigando. Aquela cena da briga delas é algo até que comum, mas existe um acordo mútuo entre as duas, se alguém mexe com Niely, a capitã não deixa barato e se alguém mexer com a capitã, Niely é a primeira a matar a pessoa. A verdade é que eu não confio muito na Niely e sempre acho que ela vai realmente tentar matar a Lissa.
– Então, depois que Niely decidiu que não deixaria mais Lissa, ela se tornou capitã? – Yugo perguntou fascinado com a história.
– Ah – Star riu – Não. Niely é capitã desde o primeiro dia.
Carlos e Yugo se surpreenderam, no fim eles souberam que nunca entenderiam de fato as Kitsunes.
A luta já durava quase uma hora. Já não havia mais partes do homem que estivesse inteira ou não estivesse dolorida.
– Eu conto – ele falou por fim.
– Senhor Kendra, eu ganhei. Acho que seu trabalho não vai ser necessário, Yugo – Star falou se levantando em um pulo – Que pena. Eu bem que queria ver como você arranca informações de alguém.
Yugo olhou para Star, que já tinha um corpo de mulher, mas seguia tendo a voz e a mentalidade um tanto infantil e estremeceu. As pessoas ali eram realmente muito frias em relação a vida dos outros, mas de alguma maneira, ele se sentiu lisonjeado por saber que Star tinha alguma curiosidade em relação a ele, ser objeto de curiosidade das Kitsunes estava sendo mais agradável do que eles gostariam de admitir.
Todos deram gritos de vitória, se levantaram e festejaram. Lissa abriu a porta da gaiola e entrou, com o braço encharcado de sangue que ainda pingava. Sua mão tremia um pouco, mas não havia nada mais que satisfação em seu rosto.
– Onde estão? – Niely perguntou sem parecer estar cansada.
– Tem uma prisão subterrânea na casa de Lorde Hasegawa, ali é onde está o estoque alimentar da rainha.
– E como chegamos ali? – Niely falou substituindo a expressão de prazer por uma máscara fria novamente.
– Vocês precisam ir até a biblioteca principal, na estante T no lado par, primeira prateleira de cima para baixo, o livro de número 19 tem coordenadas na primeira folha. É tudo o que eu sei. Se vocês seguirem as coordenadas, conseguirão achar a prisão. Agora por favor, me matem – o homem não sabia de onde estava achando forças para falar, pois sentia como se tivesse vidros na garganta, mas aguentou, aguentou porque estava cansado e queria que aquilo acabasse.
– Você está arrependido de ter levado pessoas inocentes? – Lissa perguntou se agachando no lugar onde o homem estava caído.
– Eu... – ele gaguejou.
Ela apertou os olhos e invadiu a mente dele.
– É uma pena – disse isso e foi esquartejando pouco a pouco os membros do homem, mas sem matá-lo rapidamente. Enquanto o homem gritava, as feridas do braço de Lissa pouco a pouco desapareciam. Quando já não havia ferida, já não havia corpo para ser reconhecido também.
Carlos que até então não tinha tido nenhuma participação especial em nada, assim como a maioria dos Malphas, viu como arrastavam o inimigo sobrevivente para fora do local de luta. Encostou a cabeça no encosto da poltrona e fechou os olhos.
– Isso é muito diferente do que vocês estão acostumados, certo? – Carlos abriu novamente os olhos, incomodado pela companhia repentina. Ele olhou para o lado e Maia estava ali, sentada, sorridente.
– Sim, um pouco sim – ele falou tranquilamente e se forçou sorrir.
Ela ficou ali, admirando-o um pouco, até que ele começou a ficar incomodado.
– Precisa de alguma coisa? – ele perguntou sentando-se um pouco mais comportado na cadeira.
– Eu não entendo – ela falou mais para si mesma que para ele.
– O que você não entende? – ele arqueou uma sobrancelha e Maia notou uma pequena cicatriz que atravessava sua sobrancelha esquerda.
– Por que você? E não Kai que é o líder? Ou pelo menos Luc que é o vice?
– Do que você está falando?
– Por que você que fez o contrato com ela? – ela perguntou agora aumentando a voz – O que você tem de especial para que você e não Kai fizesse o contrato?
Ele a olhou confuso, mas depois relaxou e deu de ombros.
– Eu não sei. Você deveria perguntar isso para ela.
Ele voltou a fechar os olhos e encostou a cabeça no encosto da cadeira, ela tentou falar mais alguma coisa com ele, mas ele não estava muito disposto a seguir aquele assunto.
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