23 - A REUNIÃO
E você pode ver o meu coração batendo
Dá para ver através do meu peito
Estou apavorada, mas não vou sair
Sei que preciso passar nesse teste
Então simplesmente puxe o gatilho
Rihanna - Russian Roulette
꧁⸻⸻⸻𝓚𝓜⸻⸻⸻꧂
⚠️ESTE CAPÍTULO CONTÉM OS SEGUINTES GATILHOS⚠️
⚠️Morte
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Quando Carlos acordou na manhã seguinte, havia alguém o chamando na porta. Ele foi preguiçosamente atender, a suíte era muito maior do que parecia. Ele detestava acordar cedo e ainda mais quando era apressado a fazer as coisas, o mau humor fez com que o caminho da cama até a porta parecesse interminável.
– Senhor Carlos? – a jovem a sua porta tinha nas mãos algumas sacolas – Temos algumas roupas limpas para o senhor. A capitã te esperará na sala de reuniões. O café da manhã será servido ali.
Carlos não teve reação nenhuma, a jovem fez uma pequena reverência e foi para a próxima porta. Ele voltou a fechar o quarto e olhou a roupa que havia na sacola. Uma calça preta muito parecida a que ele estava usando e uma camiseta lisa branca, nada fora do comum e muito parecido com qualquer outra roupa que ele costumava usar. Além disso havia um colete de moletom preto com capuz e sem manga, ele o admirou, esse era um tipo de blusa que ele certamente pararia para comprar. A bota no estilo coturno de cano baixo era preta também e seu cadarço era curto, a biqueira era impermeável e do lado, de maneira camuflada havia o símbolo dos Malphas.
Ele foi pacientemente até o banheiro, tomou um banho demorado, limpou os alargadores da orelha e colocou as roupas que a jovem havia deixado para ele. Eles não haviam tido tempo de comprar roupas adequadas no caminho e ele já havia ido dormir de maneira desconfortável por falta de banho. Ele secou o cabelo com uma toalha que haviam disponibilizado para ele, mas como sempre não o penteou, apenas passou a mão bagunçando-o ainda mais e saiu.
Assim que ele saiu, encontrou com Sam e com Roy. Sam com uma camisa preta e calça preta, cinto branco, as botas iguais a de Carlos, porém de uma cor clara. Roy estava com seu brinco de sino de gato de sempre, uma camiseta preta, uma blusa aberta branca, calça preta e um tênis branco. Os dois haviam voltado a normalidade, se mostravam confiantes. Sam mantinha seu sorriso intacto enquanto falava alguma coisa para Roy que ria com gosto.
– Ei, Carlos. Está se sentindo melhor? – Sam perguntou.
Carlos rebuscou dentro de si se parte da raiva que ele havia sentido no dia anterior ainda estaria ali e o alívio foi palpável ao notar que ele estava realmente bem.
– Estão nos tratando como reis aqui – Roy falou rindo – Chega a dar um pouco de medo.
– O problema vai ser acostumar-se com isso – Sam riu alto – Vamos indo também Carlos? Acho que todos já estão lá embaixo. Afinal, sempre fomos os últimos.
Carlos riu e seguiram para a sala de reunião.
A sala de reuniões que estava fechada no dia anterior, não era o que ele esperava, era um espaço descontraído, havia cadeiras almofadadas e puffs, em um canto próximo a uma imensa janela que dava para o mar havia uma mesa de madeira escura, bem polida e simples, as cadeiras que a rodeava eram alaranjadas, com detalhes vazados e trançados que fez Carlos lembrar de uma cesta de frutas. Havia plantas de diversos estilos espalhadas em vasos artesanais em diversos cantos da sala. Em uma das paredes havia um quadro psicodélico grande, as luzes artificiais estavam caídas em luminárias de bambu e no meio da sala de reuniões havia um filtro dos sonhos roxo com diversas penas caídas. Carlos sorriu, pois ele não pensava que qualquer outra coisa poderia ser tão parecida a Lissa.
Lissa estava sentada no batente da janela com uma miniblusa aberta, decotada e vermelha, sua saia era longa e ela usava de uma maneira que cobria quase toda a barriga. A saia era solta, florida e no mesmo tom de vermelho que sua blusinha. O cabelo estava despenteado, com um meio coque bagunçado no topo da cabeça. Ela levava um cordão no pescoço com pedras e penas e vários anéis de diversas pedras e cores nos dedos. Como em várias ocasiões, ela estava descalça, com vários cordões amarrados nos calcanhares. Ela estava conversando com Senka, que levava um vestido soltinho florido também, o cabelo solto e um óculos redondo com a lente avermelhada, a tiara que Senka levava era um estilo hippie com flores ou pétalas de flores que a deixavam com um ar inocente. Algo que combinava bem com suas mechas loiras e longas.
O sorriso das duas eram perfeitos, elas pareciam parte de um quadro onde o mundo era feliz e bonito.
A sala se encheu com todos os líderes das Kitsunes e dos Malphas. Carlos olhou ao redor e notou como todos os Malphas estavam arrumados. Kai estava com sua calça preta, bota preta, camiseta solta branca e um sobretudo preto com o símbolo dos Malphas nas costas. Era primeira vez que Carlos via aquele sobretudo e imaginou que havia sido cortesia das Kitsunes também, seu cabelo estava meio preso como de costume. Luc estava com a calça preta, uma camisa branca e um sobretudo igual ao de Kai, ele estava de cabelo solto e as mechas lisas caíam apenas para um lado da cabeça, algo realmente novo no visual dele, afinal, raramente Luc deixava seu cabelo solto. Yugo estava com um cigarro na boca ainda apagado, o cabelo solto, blusa branca, camiseta preta e calça preta. Todos com roupas novas, todos vestidos com a cortesia das Kitsunes.
– Bem-vindos – Lissa falou animada.
Carlos olhou os líderes das Kitsunes e apesar das roupas distintas, todos levavam um estilo de quimono hippie com uma Kistune branca com uma das caudas pintadas de acordo com as suas divisões.
– Vamos aos tópicos a serem discutidos aqui – Lissa falou se levantando em um pulo – Temos novidades sobre a infiltração na casa do Lorde Hasegawa e a pedido de Green ela estará inclusa na invasão.
Os Malphas sabiam que lorde Hasegawa era um lorde extremamente importante e poderoso que vivia na capital. A família Hasegawa era influente e de grandes privilégios, além de serem de confiança do atual rei. Invadir seu território era um ato praticamente impossível.
– Será muito arriscado para a divisão dela participar disso – Niely interrompeu parecendo muito mais calma que no dia anterior – Minha divisão consegue dar conta do trabalho.
– Agradeço a preocupação – Lissa assentiu com a cabeça – Mas Green tem assuntos pessoais a tratar lá, a divisão dela não está inclusa, apenas ela. Também falaremos sobre as cidades que ajudaremos os Malphas a conquistarem, já explicarei com detalhes de como foi feita a nossa aliança. Estamos tendo problemas com as provisões para a divisão nove, teremos que pensar em como resolver isso. Alguém mais tem alguma colocação importante?
Ela olhou para todos que seguiam de pé apesar dos inúmeros lugares vagos na sala. Carlos olhou detidamente para todos da sala e viu a hora em que Maia levantou a mão.
– Gostaria de levar a minha divisão para trabalhar com os Malphas.
Lissa arqueou uma sobrancelha.
– Algum motivo especial?
– Sim – Maia deu de ombros – Eu gostei deles, só isso.
Lissa sorriu e assentiu.
– Então vamos começar a reunião, vou presidir a reunião com a Senka, como sempre e com Luc e Kai, o resto de vocês podem se sentar em qualquer lugar.
Luc e Kai posicionaram-se ao lado delas, de frente para o grupo. Elas estavam relaxadas e serenas; eles, orgulhosos e imponentes.
– A primeira coisa que iremos discutir será sobre a casa de Lorde Hasegawa. Todos aqui sabem a dificuldade que foram as últimas invasões, Lorde Stewart em especial foi um desastre, muitos inocentes morreram na invasão e não conseguimos nada de útil. Estamos a poucos passos de chegarmos ao palácio, nosso objetivo é a rainha Kawany e para isso teremos que passar por Hasegawa e por Rafael. Tenko continua presa com um selo em alguma masmorra do castelo, a divisão 7 segue trabalhando em um meio de quebrar esse selo.
– Nós iremos salvá-la capitã – a senhora Kendra falou ao notar a expressão de dor no rosto de sua líder.
– Sim, iremos sim – Lissa suavizou sua expressão e sorriu – nem que para isso eu declare guerra contra o mundo inteiro.
– Por que não invadimos o castelo de uma vez? – Green perguntou tranquilamente – Para que tantas voltas?
–- Você sabe que a rainha Kawany é uma Nogitsune, temos que primeiro quebrar suas barreiras ou seremos pessoas mortas – Lissa respondeu colocando a mão no queixo – grande parte da proteção do palácio é disponibilizada por lorde Hasegawa e grande parte dos sacrifícios são eles que levam. Quebrando a base deles, estaríamos enfraquecendo um pouco a barreira que nos separa da rainha.
– Nogitsune? – Luc perguntou baixo para Senka.
– Sim, uma kitsune, mas uma kitsune bastante perversa – Senka respondeu com muita normalidade.
– Vocês realmente estão falando sério? – ele perguntou admirado.
– Depois de tudo o que você viu, me surpreende que ainda duvide dessas coisas – Senka sorriu ao olhar para ele.
– E como resolveremos a questão do Rafael? – Maia perguntou assim que levantou a mão – ele não é um alvo fácil, além do mais é o rei.
– Nós matamos o Rafael faz 3 dias – Senka respondeu antes de Lissa – os ciclos dele costumam demorar muito mais que os de Lissa, mas não sabemos para qual idade ele voltou. Layla irá rastreá-lo e manteremos ele longe do castelo a todo custo. Aylin descobriu uma maneira de matá-lo, mas não usaremos esse método a pedido de Lissa.
– E o Rafael já sabe disso? – Maia perguntou com ansiedade na voz.
– Sim – Lissa respondeu sorrindo – A resposta para a pergunta que você quer me fazer é sim, ele já sabe como me matar, assim como eu sei como matá-lo. Isso não significa que seja fácil.
Um silêncio incômodo caiu sobre a sala.
– Por que vocês estão tão surpresos? – Lissa perguntou sorrindo – Todos corremos o risco de morrer algum dia, certo? Não deveria ser diferente para mim.
– Não fale como se isso fosse uma brincadeira, Lissa – Kai falou forçando o queixo.
– Não se preocupe comigo, líder. Tenho bons companheiros de lutas para passar por Rafael, mas escutem bem, o mais importante é, não matem o Rafael, ele é meu irmão e tem motivos justos para me odiar.
Luc se estremeceu ao lembrar do que havia visto e tentou não olhar para Lissa enquanto as imagens horrendas passavam por sua cabeça.
– Layla, peça para alguém de sua equipe passar tudo o que descobriu sobre os domínios de lorde Hasegawa para Niely. Niely, preciso de um plano bem traçado. Os domínios dele são bem protegidos por fora, mas possuem inúmeras falhas internas. Me inclua, inclua a divisão da Senka, da Maia e os Malphas. Não esqueça que Green estará com a gente, mas isso não inclui a sua divisão, logo te falarei quantas pessoas farão parte. Se precisar incluir alguma outra divisão, pode incluir, contanto que a sua fique de fora. Preciso da sua divisão em outro lugar.
– Por que os Malphas nessa missão, capitã? – Niely perguntou categoricamente.
– Porque passarei os domínios que conquistarmos para eles – Lissa deu de ombros – será o primeiro passo para que eles dominem a capital.
– Capitã, eu já disse que posso lidar com a família Hasegawa – Niely falou irritada.
– Sei que você pode Niely, mas preciso que você diminua toda a segurança do castelo de maneira silenciosa – Niely sorriu e assentiu – Você é a única que pode fazer isso, na verdade me deu até uma certa curiosidade. Quem é mais silencioso, você ou Roy?
Roy se orgulhou pelo elogio e sentiu uma pequena fagulha acender dentro dele. Ele precisaria saber se ela era de fato melhor que ele.
– Esse não é o momento para isso, capitã – Niely falou ainda sorrindo – mas podemos tirar a dúvida quando tudo isso acabar.
– Você precisa se divertir mais vezes – Lissa sorriu, mas não insistiu – Yan, preciso que você fale com as suas esposas para que elas preparem seus estoques de venenos. Vamos precisar levar alguns com a gente – Yan assentiu.
– Capitã – Maia falou alto – Antes de terminarmos com esse tópico, gostaria de dizer que ouve grandes desaparecimentos na região onde Zyon e Lucy estão, inclusive familiares de nossos membros. Niely estava em missão, portanto mandei alguns dos meus para interceptar os soldados e trouxemos alguns que estão atualmente nas celas. Talvez eles tenham pistas sobre o paradeiro de quem foi levado.
– Estou ciente dos desaparecimentos, Maia – Lissa assentiu – É bom termos esperanças sobre a sobrevivência deles, mas gostaria que não espalhasse isso aos outros membros. Niely, você gostaria de trazê-los agora? Não quero te dar falsas esperanças.
– Sim, capitã – Niely assentiu sem mostrar nenhum sentimento baixo a sua máscara fria – Meus pais não estão vivos, mas existem outras pessoas que provavelmente estão.
– Maia, peça para alguém que está de guarda aqui fora trazê-los.
Maia assentiu e foi em direção a porta, falou baixo com alguém e voltou. Não demorou para que cinco pessoas fossem levadas: três homens, uma mulher e uma criança. Lissa os olhou um por um e ao se aproximar do grupo de presos foi surpreendida por um chute da criança.
– Assassina! – o garoto que não tinha mais que sete anos gritou e tentou acertar outro chute nela, mas foi impedido pela mulher que olhava a cena horrorizada e apavorada.
– Por favor senhora, perdoe meu filho – a mulher falou deixando as lágrimas correrem solta.
Lissa se agachou na frente do menino, que tinha um brilho de raiva nos olhos.
– Seu pai está aqui? – ela perguntou sem alterar a voz. Ele a encarou por um tempo e cuspiu em seu rosto. A mãe do garoto gritou colocando uma das mãos na boca.
Lissa limpou o cuspe com a ponta de sua saia, mas não se alterou. Levou seu dedo indicador até a testa do menino e não demorou dois segundos para olhar para um homem que estava no canto, com o queixo erguido e pose orgulhosa apesar de sua situação.
– Entendo. Ele é o seu pai, não é? – Lissa falou olhando novamente para o garoto. A expressão de raiva sumiu do rosto do menino dando lugar a um olhar amedrontado.
Lissa se levantou e foi até o homem, o olhou severamente. Ele havia cometido diversas atrocidades e ela nem precisava ler sua mente para saber disso.
– Pegue seu filho e sua esposa, acompanhe um dos meus guardas e volte para a cela. Não mato crianças e nem torturo seus pais com eles olhando.
– Vai se danar – ele respondeu com a voz firme – Acha que uma mulher como você me dá medo?
– Não pretendo te dar medo, apenas a opção de sair da sala e proteger a sua família – Lissa falou pacientemente – Não quero que o garoto veja sangue hoje.
– Foi isso que você falou para o rei Rafael quando matou seus pais e sua irmã na frente dele? – o homem a encarou e Lissa sentiu algo se rompendo dentro dela. Seus olhos arderam e ela forçou o maxilar sentindo o corpo tremer e deu um pequeno impulso para matar o homem.
Maia, Niely e Senka foram rápidas o suficiente para paralisarem Lissa com adagas apontadas para seu pescoço e coração e para a surpresa de todos, Luc se colocou entre ela e o homem. Os presos afogaram o assombro, os outros membros dos Malphas não entendiam nada e tinham uma expressão de surpresa, apenas os líderes das Kitsunes continuavam imóveis sem se imutarem com a situação.
Luc se virou para o homem. Seu corpo ereto o deixava ainda mais assustador do que o normal. Fechou os punhos e acertou o nariz do homem com força, fazendo-o cair de costas enquanto segurava o nariz. Lissa seguia paralisada, com as adagas apontadas para ela, seus olhos estavam estreitos e seus dentes fixos um contra o outro com força.
– Se você não sabe a verdade, não deveria fazer suposições – Luc falou puxando o homem pelo colarinho.
Kai foi até seu amigo, olhou a cena sem tirar as mãos do bolso.
– Você terá que nos contar o que viu, Luc. Não gosto de ficar à margem da situação e você sabe – Kai falou sem olhar Luc.
Ele tirou uma arma de um de seus bolsos.
– O que... o que os Malphas estão fazendo com as Kitsunes – o homem, que há pouco tempo se mantinha orgulhoso, agora exalava medo.
– Temos uma nova aliança com as Kitsunes – Kai falou com a arma no queixo do homem – Se vocês mexem com eles, seremos obrigados a intervir. Yugo, peça para quem quer que seja que esteja aqui fora levar a mãe e o garoto.
Yugo saiu do lugar, também com as mãos no bolso e foi tranquilamente até a porta.
– Não mate o meu pai – o menino gritou desesperado antes que o arrastassem.
– Você ouviu isso? – Kai perguntou olhando para o homem, sua voz era segura e firme – Seu filho está pedindo clemencia por você, ele e sua esposa estarão a salvo. Os Malphas têm um código de ética, não matamos inocentes, mas como você não é inocente, posso te perdoar a vida se você se curvar para Lissa e pedir perdão.
– Eu... eu..., como eu viveria ao abandonar meus companheiros, eles também têm famílias – o homem demonstrava medo, mas Kai o admirou por, mesmo assim, encontrar essa coragem – Além do mais, eu nunca me curvaria ante um demônio como ela.
– Entendo. Se você não fosse um cão imperial, eu até repensaria na minha decisão.
Ao notar que a mulher e a criança já não estavam na sala, Kai apertou o gatilho.
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