20 - NIELY
O líder pode ser autoritário
O líder pode abraçar o mundo
O líder pode não ser operário
O líder pode chegar em segundo.
Leandro Léo - O Líder
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⚠️ESTE CAPÍTULO CONTÉM OS SEGUINTES GATILHOS⚠️
⚠️Violência
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– Capitã, posso falar com você? – Niely se aproximou e tentou falar por cima da música.
Lissa sabia o que ela queria, mas pediu para que Niely a acompanhasse para um lugar mais tranquilo mesmo assim.
– Por que a trouxe, capitã? – Niely perguntou sem sorrir – É só uma criança.
– Nerissa é uma criança como muitas outras que existem no navio – Lissa respondeu categoricamente.
– Mas essa criança é minha irmã – Niely forçou o maxilar para não gritar.
– Sim – Lissa falou substituindo seu tom categórico por um mais compreensivo – Sei que você se preocupa com ela, mas antes de tudo, eu a aceitei porque ela me pediu, depois... – Lissa soltou o ar para tomar coragem – Seus pais sumiram, você sabe que eles não irão voltar, suas irmãs estavam vivendo nas ruas.
A cor sumiu do rosto de Niely, para ela, aquilo havia sido um golpe duro demais para aceitar.
– Meus pais estão mortos? – ela falou sentindo sua estrutura fria quebrar.
– Sinto muito, Niely – Lissa colocou uma mão em seu ombro – Você veio até aqui para protegê-los. Sei que aceitou o trabalho para que ninguém da sua família passasse fome, mas agora Nerissa só tem você. Converse com ela e apesar de você ser um membro muito valioso para as Kitsunes, se for a sua decisão ir embora para cuidá-la, eu irei entender e irei permitir.
– Por que Lissa? – Niely perguntou novamente com os olhos marejados – mesmo depois de tudo, mesmo depois de todas as coisas que eu passei para protegê-los, por que eu não consegui salvar ninguém da minha família? – uma lágrima insistente rolou por seu rosto – por que eu tenho a sensação de que não vou conseguir salvar a única pessoa da minha família que sobrou?
– Ela cresceu, Niely – Lissa suspirou ao tentar ficar imune a dor da amiga – ela quer fazer as próprias escolhas. Vá para casa.
Niely olhou para o vazio, sua máscara fria estava voltando ao seu rosto.
– Eu já sabia – ela admitiu – Sabia que tinha acontecido alguma coisa quando deixei de receber respostas. Eu só não queria aceitar. Não tenho outro lugar para ir, as Kitsunes são minha família – ela falou séria – Mas quero que a Nerissa saia da divisão de Layla. Layla tem essa pose toda, mas não é conhecida pela paciência com as pessoas da sua divisão.
– Ela está na divisão da Layla por vontade própria, fala com a sua irmã, se ela quiser sair da divisão oito, eu a troco. A Layla não gosta que tirem pessoas de sua divisão, mas farei isso por você se essa for a vontade da Nerissa.
– Não importa a vontade dela, eu quero que ela saia.
– A vontade dela é a que mais importa Niely, não a tirarei se não for essa a vontade dela. Aqui ela é um membro das Kitsunes e está sob o meu comando e não sob o seu.
Niely olhou para a sua capitã e Lissa notou o desejo assassino nos olhos da amiga. As duas se encararam um tempo. Lissa se desviou por pouco de um soco de Niely e Lissa a chutou em um contragolpe, fazendo com que Niely batesse na parede com força, chamando a atenção de todos. Niely se recuperou rapidamente e lançou uma faca em direção a sua capitã que se defendeu com um objeto qualquer que estava ao seu alcance. Um círculo foi formado ao redor das duas, ninguém tentou parar Niely, ninguém tentou impedir Lissa.
Layla abriu caminho junto com os Malphas e os outros capitães.
– Quer brigar Niely? – Lissa sorriu ao perguntar isso para a amiga, mas não havia nenhum traço de satisfação em seu sorriso – Não sei quem você pensa que é, mas farei você se curvar depois disso, para que se lembre qual a sua posição diante de mim.
Niely apertou a mandíbula e Lissa começou dando uma voadora direto na cabeça da amiga. O clima pesou. Niely pegou uma nova faca e atacou Lissa. Star, vendo a situação de Lissa, que era o objeto de sua adoração, deu dois passos para interferir.
– Se você interferir Star, você apanha também – Niely ameaçou.
– Fica de fora, Star – Lissa falou e sorriu para a sua amiga e só então os Malphas e os líderes das Kitsunes notaram que o rosto de Lissa estava respingado de sangue e seus olhos estavam estreitos, os olhos de uma raposa – Eu nunca vou te perdoar se você bater em alguém daqui Niely.
– Divisão nove – Green gritou – à frente agora!
– Não se preocupe, Green – Lissa falou – Eu estou controlada.
Ela falou isso e rapidamente chegou até onde Niely estava e acertou um chute com o calcanhar, de cima para baixo, fazendo com que Niely caísse de joelhos à sua frente. Lissa agarrou o cabelo de Niely e a olhou nos olhos.
– Se você se rebelar de novo, eu não vou ser tão piedosa. Somos amigas, não quero fazer isso com você.
– E se ela morrer? – Niely perguntou com raiva.
– Enquanto eu estiver na liderança, ninguém sob o meu comando morre. Quantas pessoas eu já perdi Niely? Quantas outras pessoas eu sacrifiquei para que nenhum de vocês sofressem ou morressem? Não venha me falar como se eu deixasse os meus subordinados morrerem tão facilmente. Não me venha com essa merda agora. Eu nunca perdi ninguém das Kitsunes, não vai ser agora que irei perder.
Lissa se levantou e olhou um tempo Niely caída de joelhos a sua frente. Niely se levantou e em seguida reverenciou Lissa e andou em direção a Layla, que estava próximo aos Malphas.
– Se você encostar um dedo nela, Layla. Se qualquer coisa acontecer com a Nerissa, eu te mato – Niely parou ao lado de Layla ao falar, mas não a olhou. Layla sorriu.
– Existe uma grande diferença entre nós duas – Layla falou e cravou seus olhos nos de Niely – Você pode ser fria, mas não tem coragem de apertar o gatilho para alguém que conhece. Eu nunca tive esse problema. Qualquer um aqui pode ser meu alvo se essas forem as ordens de Lissa.
Niely a olhou por um tempo e saiu sem falar nada. Sam, que era o mais próximo de Layla e pode ouvir com perfeição a conversa das duas, sentiu um aperto no estômago. Kai e Luc tinham razão, tudo o que eles conheciam de Layla era falso. Ela era uma assassina nata, alguém muito diferente da cortesã atenciosa e carinhosa que aparentava ser.
– Todos voltem a seus afazeres – Senka dispensou todos – A festa acabou. Não tem mais nada para ver aqui.
Rapidamente todos se dispersaram, com exceção dos Malphas e dos capitães das Kitsunes.
– Capitã, o que faremos em relação a Niely? – o senhor Kendra perguntou quebrando o silêncio incômodo.
– Ela só está irritada porque trouxemos sua irmã – Lissa respondeu sem olhar para ninguém em particular – Acabou de saber da morte dos pais, há pouco perdeu a irmã mais nova e a única irmã que sobrou, nós a trouxemos para um mundo de onde ninguém sai. Acho natural a reação dela.
– Ela tentou te matar. De novo – Star falou apertando os punhos.
– Sei que ela é uma pessoa difícil Star, e entendo que você não lembre como é querer proteger a sua família, mas acredite, qualquer um no lugar dela teria feito o mesmo, ou até algo pior. Apenas dê um tempo para ela.
– Então você não vai afastá-la? – Yugo finalmente quebrou o silêncio pela parte dos Malphas enquanto acendia um cigarro.
– Claramente não irei afastá-la. Niely pode ser alguém difícil, mas é minha amiga e uma ótima líder. Eu irei me retirar um pouco, preciso ir até a ala nove. Rapazes, por favor fiquem à vontade, acredito que já tenham mostrado o navio inteiro para vocês e se não o fizeram, peço que aproveitem esse tempo para isso. Podem pedir o que quiserem, hoje não discutiremos sobre negócios, espero que vocês possam aproveitar a estadia. Yan, coloque uma pessoa a disposição de cada um deles. Por favor.
– Está bem, preferência entre homens ou mulheres? – Yan perguntou tranquilamente.
– Não sei – Lissa falou virando levemente a cabeça – Acho que essa pergunta pode ser feita diretamente para eles.
– Não – Kai respondeu sem esperar a resposta de nenhum outro – Na verdade me sinto estranho tendo alguém das kitsunes a minha disposição o tempo todo.
– Ah – Lissa sorriu – não se preocupem, vocês nem vão notar a presença deles, e de qualquer maneira, vocês podem dispensá-los quando não os quiser por perto e pedir para chamá-los quando necessitarem de algo.
Carlos e alguns outros fizeram uma careta, eles não estavam acostumados a terem alguém no pé sempre e apesar de ser uma intenção oculta, todos sabiam que isso era apenas para que ficassem de olho neles.
– Outra coisa – Lissa seguiu – Todos usamos um pequeno cordão, ou corrente com uma Kitsune, isso não é um símbolo qualquer que nossos membros usam. São amuletos de proteção, Aylin irá entregar um para cada. Enquanto estivermos com o contrato ativo, levem esses amuletos mesmo que estejam guardados no bolso, isso evitará que eu possa ferir vocês caso algum acidente aconteça.
– Lissa! – uma voz infantil chegou aos ouvidos de Lissa fazendo-a se virar com o sorriso mais sincero que todos haviam visto até aquele momento – Você voltou!
Uma criança com uma perna mecânica e uma prótese na mão direita chegou correndo e se jogou nos braços de Lissa.
– E está com a cabeça sangrando de novo, mocinha – a menina cruzou o braço como se estivesse dando uma bronca em Lissa fazendo a jovem capitã rir.
– Como você está minha pequena Kat? – Lissa a abraçou forte – Eu exagerei na brincadeira, mas estou bem.
– A tia Green pode cuidar para você – Kat falou confiante – ela sempre cuida dos meus machucados.
Kat tinha no máximo 6 anos, usava o cabelo Chanel e tinha aparelho nos dentes, estava com um short roxo e uma camiseta azul esportiva. Ela corria como se a falta da perna não a incomodasse em nada.
– Lissa, você pode brincar comigo agora? – ela perguntou com voz manhosa – A tia Green não tem tempo. Parece que uma das moças não vai aguentar muito e queria...
– Kat – Lissa falou chamando a atenção de uma maneira carinhosa – O que eu já falei sobre você falar da área nove enquanto tem gente comigo?
Kat levou a mão na boca e arregalou os olhos, mas Lissa seguiu sorrindo.
– Lissa, eu queria ser a próxima – Kat falou abaixando a voz e Lissa sentiu seu coração se despedaçando.
– Não fala isso, Kat – o sorriso de Lissa havia sumido e ela lutou para desfazer o nó da garganta – Eu estava mesmo indo para a ala nove. Que tal se você me levar? O que você quer comer hoje?
– Quero torta de morango!
– Então, hoje teremos torta de morango – Lissa sorriu e Yan fez um gesto de que havia entendido.
Kat pulou rapidamente do colo de Lissa.
– Olha o que a Green me ensinou – Kat deu várias cambalhotas no ar.
– Ah, parabéns! – Lissa falou parecendo orgulhosa dos feitos da criança. A tomou pela mão e foram rumo a uma das portas logo abaixo da escada.
– Que linda – Carlos falou sorrindo.
– Melhor esquecer que a viu, senhor – Green falou cruzando os braços próximo a ele.
– Por quê? – Carlos perguntou curioso.
– Não posso dizer exatamente o que tem lá dentro, mas tem algo que talvez vocês possam saber.
Os Malphas afinaram o ouvido para o que ela tinha a dizer. Qualquer pista sobre aquele lugar misterioso já era um grande lucro.
– Todas as pessoas da minha divisão, estão morrendo. A criança tem uma condição raríssima, se a doença seguir se espalhando desse jeito, ela não tem mais um ano de vida.
Carlos a olhou com o coração apertado. Aquela criança doce que ele havia visto fazia pouco tempo, estava morrendo e aparentemente não havia nada o que pudesse ser feito.
– E por que ela está aqui? Não deveria estar em um hospital? – Roy perguntou estalando a língua.
– Os hospitais não querem atender alguém que certamente irá morrer, principalmente de maneira gratuita – Green deu de ombros e seguiu o mesmo rumo que Lissa e a pequena Kat haviam tomado.
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