02 | Capture meu coração.
"Capture a Bandeira" não era apenas um jogo—era o campo de batalha onde os semideuses testavam suas habilidades todas as sextas-feiras. Para alguns, era pura diversão. Para outros, uma atividade entediante. Mas havia aqueles que viam na competição a chance de se destacar no acampamento. No fim das contas, o mais importante era manter a sequência de vitórias.
Naquele momento, o time azul, formado pelas cabanas de Hera, Atena, Apolo e Hermes, enfrentava o time vermelho, composto pelos filhos de Deméter, Ares, Hefesto, Afrodite e Dionísio. Eles estavam posicionados em extremos opostos da floresta, separados por um riacho.
Não era novidade que o time azul tinha mais integrantes. Afinal, a cabana 11, de Hermes, abrigava praticamente metade do acampamento.
— O primeiro time a capturar a bandeira inimiga e levá-la para o outro lado do rio vence. — anunciou Quíron. — Como sempre, nada de mutilações ou assassinatos. Confio que todos respeitarão as regras.
Percy olhava ao redor, inquieto. Seus olhos se cruzaram com os de Dorian, trazendo à tona lembranças da noite do incidente. Não se viam desde então, já que o loiro passava a maior parte do tempo treinando com Luke. Ele ainda não dominava a espada, mas estava melhorando.
Dorian percebeu o olhar sobre si e, para sua surpresa, era Percy de novo. Ele sorriu discretamente antes de voltar sua atenção para frente.
"Talvez hoje eu não seja capturado tão rápido." Pensou Dorian, lembrando todas as vezes que acabara na "prisão" do jogo.
— Qualquer objeto mágico está permitido. Todos os campistas que não estiverem feridos devem jogar. Os prisioneiros podem ser desarmados, mas não podem ser amarrados ou amordaçados... Que o jogo comece! — anunciou Quíron.
A caracola soou, e os gritos de guerra ecoaram pelo campo.
O time vermelho—principalmente a cabana de Ares—começou a bater as armas contra os escudos, rugindo como se fossem para uma guerra de verdade. Já o time azul, apesar da coordenação, não tinha a mesma energia barulhenta dos adversários. Cada equipe tinha o que a outra precisava.
— Certo, temos vinte minutos antes da segunda corneta. Você já sabe o que fazer? — perguntou Annabeth, se aproximando de Luke.
— Sim, senhora.
— Ei! — Annabeth chamou Dorian, que se preparava para partir. — Hoje parece um dia de vitória para você? — perguntou, sorrindo.
Ele riu, acenou para ela e, antes de seguir com os demais, lançou um olhar divertido para Percy, acompanhado de um discreto piscar de olho. O filho de Poseidon corou na hora, sem saber como reagir.
— Em posição! — ordenou Luke, com a espada em punho.
— Você não. — disse Annabeth, segurando o braço de Percy. — Vem comigo.
Dorian ficaria na defesa desta vez. Normalmente, ele era enviado com o grupo de ataque para capturar a bandeira inimiga, mas estar na retaguarda lhe dava um bom pressentimento. Sentia que, dessa vez, iriam vencer.
— Assim que ouvirem a corneta final, vão direto para o rio. Não se esqueçam. — instruiu Luke antes de desaparecer entre as árvores.
O filho de Hera não sabia ao certo qual era a estratégia do time azul, mas começou a desconfiar quando viu Annabeth levando Percy. Suas suspeitas se confirmaram ao avistar Clarisse e alguns semideuses marchando para o lago.
Bom, Dorian sempre seguiu ordens, mas sair um pouco do posto para ver o que os inimigos estavam tramando não faria mal, certo? Havia pelo menos dez campistas protegendo a bandeira do time azul, então sua ausência não faria tanta diferença...
Ele seguiu seu instinto, como sempre fazia. E, graças a Hera, o fez—caso contrário, teria perdido o espetáculo armado pela cabana 5: Clarisse e seus irmãos encurralando Percy.
O moreno estava prestes a se aproximar, mas sentiu uma mão segurar seu braço, obrigando-o a se esconder atrás de uma das muitas árvores ao redor. No entanto, não havia ninguém... Annabeth.
── Está tudo sob controle. ── Garantiu a garota, sem se deixar ver, falando com sua touca da invisibilidade ainda posta. Dorian apenas assentiu, sentindo uma inquietação crescer em seu peito, enquanto seu coração acelerava a cada segundo que passava.
Clarisse estava determinada a atacar Percy, sem se importar com nada. Por sorte, o garoto desviava dos golpes dela e de outros dois filhos de Ares. O loiro conseguiu se recompor e se levantou do chão coberto por pequenas pedras, ainda cercado pelos maníacos do chalé 5.
Percy manejava a espada com maestria, como se fosse algo natural para ele. Já Dorian... Dorian respirava com dificuldade, pois Annabeth ainda o segurava pela camiseta para impedir que ele interferisse na luta.
── Se a coisa ficar feia, eu te solto. Tudo bem? ── Disse Annabeth, tentando tranquilizá-lo.
"Se ficar feia? Ela vai esperar até que haja sangue?", pensou Dorian, resignado.
Com Percy próximo ao lago e Clarisse tentando atravessá-lo com sua lança, o garoto conseguiu se livrar da arma quando seu escudo se prendeu a ela. Em um tropeço, a filha de Ares, que ainda segurava firmemente seu precioso presente, de repente se viu com apenas metade dele nas mãos.
A lança elétrica que Ares havia dado a Clarisse se partiu em dois pedaços. Finalmente, Dorian conseguiu respirar em paz... e Annabeth o soltou!
Sem perder tempo, ele correu até Percy. A camiseta do loiro estava em farrapos, e, apesar de tudo, ele ainda havia acumulado alguns arranhões e ferimentos leves.
── Nãããããão! ── Gritou Clarisse, tomada pela raiva, indignação, fúria e qualquer outro sinônimo que servisse. Ela se aproximou perigosamente de Percy, mas parou de imediato ao perceber que Dorian havia se colocado entre eles. Clarisse recuou.
Mexer com o queridinho de Hera, mãe dos deuses, não era algo que lhe convinha.
Logo depois, o som da mesma concha que anunciara o início do jogo ecoou pelo acampamento, só que agora para decretar o fim da captura da bandeira. O time azul saiu vitorioso!
Os gritos dos semideuses do time vencedor não demoraram a surgir, mas Dorian não se importava tanto com a vitória. Sua atenção estava voltada para o amigo ferido ao seu lado. Para chamar sua atenção, ele passou a mão na frente do rosto do loiro e fez três sinais com os dedos: bem, mais ou menos ou mal.
── Sobrevivendo. ── Respondeu Percy, tentando soar engraçado, apesar do incômodo causado pelos arranhões.
── Nada mal, herói. ── Disse Annabeth, aparecendo de repente, enquanto tirava a touca azul e se aproximava dos dois garotos.
── Você esteve aqui o tempo todo?
── Sim.
── Você esteve aqui o tempo todo e não me ajudou?
── Sim.
── Por quê?
── Se serve de consolo, Dorian queria intervir, mas eu não deixei. ── Annabeth deu de ombros.
Dorian sorriu, um pouco envergonhado, e ajudou o loiro a se levantar com cuidado. Por alguns segundos, eles se encararam. O moreno não entendia por que os olhos de Percy brilhavam quando se olhavam... E, por outro lado, Percy não conseguia compreender o motivo de Dorian Prie aparecer em seus sonhos.
Pensamentos completamente diferentes, até que uma ideia repentina tomou conta do ambiente. Sem aviso, Dorian empurrou Percy na água.
── Como é que é?! ── Exclamou Percy, caindo sentado no rio. Ainda assim, acabou engolindo um pouco de água.
O grito do garoto chamou a atenção de todos ao redor, que imediatamente voltaram seus olhares para a cena diante deles.
Com certa dificuldade, o loiro se ergueu dentro do rio e, para sua surpresa, sentiu um imenso alívio ao perceber que a dor de seus ferimentos começava a desaparecer. A água estava curando seu corpo...
── Não entendo. ── Murmurou Percy, confuso. Dorian apenas sorriu e desviou o olhar para cima.
Um holograma brilhante, em formato de tridente azul, surgiu logo acima da cabeça de Percy.
── Não pode ser... ── Sussurrou Annabeth, surpresa, assim como todos os outros ao redor.
"Então, filho de Poseidon...", pensou Dorian. Naquela tarde, o moreno compreendeu duas coisas importantes: que sua intuição raramente falhava e que, sem dúvidas, Percy Jackson era um garoto interessante.
Não revisado.
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