Cinema
Morgana não estava ansiosa. Na verdade, nem mesmo nervosa. Impaciente, talvez, fosse a palavra que mais se encaixasse no estado de espírito da mulher.
Se encarando no espelho, Morgana analisou o short preto e a blusa soltinha, com mangas boca de sino de renda. Elas combinavam perfeitamente com as botinhas de salto, também pretas. E levando em consideração que Morgana ostentava uma corrente de prata, anéis de prata com pedras pretas e vermelhas escuras e brincos de argolas em sua orelhas, Bart não estava errado quando declarou:
-Está parecendo uma gótica. Ou pior: Que vai para um enterro!
Morgana revirou os olhos e encarou o gato de olhos amarelos em cima de sua cama, tentando não o enforcar.
-Esse é o meu estilo, Bart.
-Deus… Você precisa mesmo de uma estilista!
-E você precisa aprender a calar esse focinho metido!
O gato revirou os olhos, esticando o corpo preto sobre a cama, enquanto soltava um bocejo felino. Em segundos, fechou os olhos e dormiu.
Morgana encarou o relógio em seu celular recém comprado com o dinheiro do salário. Ainda faltava meia hora para o horário combinado, mas ela não conseguia parar de pensar que estava ridícula. Já era a quarta muda de roupa que trocava.
Bart tinha razão. Estava ridícula.
Então, voltou a abrir o armário e pegou uma calça jeans azul escuro colada e um moletom marrom. A blusa debaixo era simples, de alcinhas pretas. Se encarou novamente no espelho.
Agora ela parecia a Morgana de todos os dias, mas com um cordão e um brinco a mais. Ela suspirou, insatisfeita.
Não devia ter aceitado, mas queria fazer Steve calar a boca. E se ele não tivesse falado a seguir com Thor e Sam, que se animaram para sair, ela inventaria uma cólica súbita e se trancaria no quarto pelo resto da noite.
Morgana estava trocando a blusa mais uma vez quando batidas suaves na porta do quarto ecoaram, chegando aos seus ouvidos. Ela levou um pequeno susto, mas foi capaz de murmurar um "Eu já vou!", sem gaguejar.
Morgana andou até a porta e abriu apenas uma pequena brecha, revelando Sam Wilson. Ele não estava, exatamente, arrumado, mas Morgana já tinha visto o homem com roupas piores. Além disso, o cheiro do perfume de Sam entrou pelo olfato de Morgana e ela não pôde deixar de reparar que ele tinha aparado a barba.
-Já está arrumada?
-Hm… Na verdade, não. - Morgana admitiu. - Eu não tenho uma única roupa que preste!
Sam franziu a testa, pendendo a cabeça de lado.
-Mas e aquelas pilhas de malas que chegaram aqui?
-Exatamente! - Morgana deu de ombros. - Se tivesse menos roupa, eu acho que não estaria entrando em colapso nervoso.
Sam riu e empurrou Morgana para o lado, invadindo o quarto dela, enquanto olhava ao redor. Nenhuma decoração muito pessoal, mas muita bagunça espalhada. Sam a encarou, então, analisando.
-Dá uma voltinha, Gatinha!
-Primeiro: Não me chama de gatinha! É ridículo… Segundo: Eu não vou dar uma voltinha para você!
Sam revirou os olhos e cruzou os braços na frente do peito, o que ressaltou seus músculos.
-Você quer ajuda ou não, Morgan?
Morgana bufou. Já havia desistido de tentar fazer as pessoas a chamarem de Morgana. Então, por fim, deu uma pequena voltinha.
-Uau! Bem… Só uma pergunta aleatória antes… Mas seu manequim é de criança?!
-Só porque eu sou magra e baixa não preciso comprar roupa infantil.
Sam deu de ombros, olhando a bagunça de roupas sobre a cama, onde um gato preto dormia de barriga para cima, com as patas traseiras e dianteiras esticadas. Depois, Sam caminhou até o armário e achou uma blusa embolada, jogada por cima das outras. Ele a pegou.
-Essa blusa com essa calça vai ficar ótima! E veste… Isso aqui por cima!
Sam jogou um cardigã em amarelo mostarda escuro para ela, que pegou as roupas, vendo que a blusa era a de boca de sino com rendas que, anteriormente, havia combinado com o short preto.
Morgana ergueu as sobrancelhas, surpresa com a combinação. Tinha gostado do bom gosto de Sam.
-Valeu, Sam!
-Disponha! Eu e o Thor estamos na sala, esperando as duas donzelas ficarem prontas! - Sam avisou, saindo do quarto.
Antes que pudesse fechar a porta, Morgana o chamou.
-Que duas donzelas?
-Você e o Steve! - Sam sorriu, piscando. - O Coitado tá enfrentando o mesmo dilema que você!
Morgana assentiu, de leve, observando Sam sair do quarto. Ele nem se deu ao trabalho de ir ao quarto de Steve, verificar se ele tinha aceitado sua sugestão. Sabia que não. Então, seguiu pelo corredor até chegar na sala.
Mas, ao menos, Steve Rogers já tinha se decidido por uma calça escura e uma blusa em um tom claro, com a jaqueta de couro marrom por cima. Parecia o Steve de todos os dias, mas Sam pôde notar que com o cabelo mais penteado e o perfume um pouco mais forte.
-Falei com a Morgana agora… Ela está quase pronta! - Sam anunciou, se jogando ao lado de Thor, que jogava algum joguinho de tiros no celular e nem mesmo ergueu os olhos.
Steve assentiu, completamente arrependido de ter sugerido um encontro em um cinema. Cinema era levemente romântico e muito oficial. Mas levar amigos tornava as coisas menos sérias, não tornava? Droga…
Steve deveria ter sugerido um encontro na sala de treinos. Era muito mais informal. Mas cinema era a única coisa que ele sabia que Morgana gostava… Devia ter perguntado o que ela queria, não ter inventado que tinha ingressos sobrando.
-Você está caladão. O que foi? - Thor encerrou a partida quando venceu mais uma e encarou Steve.
-Ele está nervoso! - Sam debochou, com um pequeno sorriso.
-Primeiro: Eu não tenho motivo para estar nervoso! - Steve revirou os olhos, soltando o ar. - Segundo… Não é nada. Só estou com sono.
Thor assentiu, começando a falar sobre como Steve teria uma ótima noite de sono se comprasse um colchão novo, como o que Thor tinha comprado, cuja principal função era fazer massagem em quem estivesse deitado em cima, além de vibrar e tocar música.
Steve não achava que precisava desse colchão. Na verdade, ele achava que só precisava acabar com esse encontro logo.
Rolando os olhos, Steve ouviu miados intensos e agudos aumentando gradativamente e, ao olhar na direção da escada, viu Bart soltando um miado a cada degrau descido por ele. O felino seguia de perto a dona.
-Puta merda! - Sam exclamou.
Era óbvio que não havia nada ligando a reação dele, que estava no celular, com o surgimento de Morgana. Mas nada mais poderia descrever aquele momento do que "Puta Merda!".
Morgana não estava só bonita. Ela estava incrivelmente linda. Havia algo diferente em seu cabelo: Estava mais brilhante e levemente liso. Notoriamente, ela usava um pouco de maquiagem, já que suas bochechas estavam coradas e os olhos verdes estavam destacados por um delineado preto. E a roupa…
Ela era magra. Isso era fato. Mas tinha curvas que Steve nunca reparou antes e, por segundos, Steve se pegou imaginando o que mais aquelas roupas escondiam. Então, Thor se levantou e caminhou até Morgana, beijando o dorso da mão dela.
-Você está incrivelmente espetacular, Minha Lady!
Morgana riu, sentindo as bochechas esquentarem, enquanto dava de ombros.
-Ah… Não é nada demais! Na verdade, foi o Sam quem escolheu minha roupa. O crédito é todo dele.
-De nada, Gatinha!
Steve rolou os olhos, fazendo uma anotação mental de perguntar a Sam desde quando eles tinham intimidade para isso.
-Idiota!
Steve olhou ao redor, vendo apenas Sam ao lado dele. Bart estava se esfregando em seu peito, ronronando alto. Enquanto ele dava atenção ao felino, Steve murmurou:
-O que eu fiz agora, Sam?
-Ham?
-Por que você me chamou de idiota?
-Não chamei você de idiota…
-Só tem nós dois aqui, no sofá.
-Não fui eu!
-É? Vai me dizer que foi o gato?!
Os dois homens encararam o gato preto, que soltou um miado baixo, balançando o rabo. Sam revirou os olhos, ignorando Steve, levantando do sofá.
-Olha, não fui eu que te chamei de idiota, mas… Aproveitando que você tem dado ouvidos à sua consciência: Vai falar com a menina, cacete!
Steve foi erguido do sofá, com um puxão. Então, encarou Morgana, que estava rindo de algo que Thor havia dito. Steve respirou fundo, enfiou as mãos nos bolsos e encarou Sam. O mesmo o empurrou na direção dos dois, que já estavam quase na porta. Morgana e Steve se encararam quando eles entraram no elevador.
-Oi. - Morgana sorriu, agarrando o casaco em suas mãos. - Animado?
-Ah, não muito… Eu não curto cinem..! Ai, Sam!
-Ops, era seu pé?! - Sam pediu desculpas e encarou Morgana. - Enfim, escuta… O Steve quer saber se você quer ir com a gente no Central Park. E você também, Thor!
Thor concordou, assim que ouviu a sugestão.
-É claro! É sempre uma boa ideia ir ao Central Park. Nana, tem uma barraquinha que vende um litro de Milk-Shake por 15 dólares!
Morgana deixou o queixo cair, impressionada.
-Um litro por quinze dólares?! Okay, tô dentro!
Steve franziu a testa e encarou a mulher quando ela saiu do elevador, o seguindo para a garagem.
-E você aguenta isso tudo?!
-Você não?!
-O Steve é fresco para comida! - Sam explicou, segurando os dois ombros do amigo, o sacudindo, de leve, enquanto ria. - Esses músculos todos que você está vendo? Soro! Ele era um franguinho!
Steve revirou os olhos, puxando a chave do carro do próprio bolso. Ele o abriu e observou Thor se jogar na parte de trás do carro. Torcendo para Sam se jogar na frente, Steve encarou o amigo, que deu um sorriso safado para ele e foi sentar ao lado de Thor.
Um segundo incômodo ficou no ar, até que Morgana decidiu que sentar ao lado de Thor era a melhor opção. Sam bufou, frustrado.
Steve respirou fundo e entrou no carro, o ligando. Finalmente, eles começaram a sair da Shield. Não houve silêncio no caminho até o shopping. Sam e Thor foram fazendo piadas o tempo todo, o que fazia Steve e Morgana rirem, mesmo que fosse sem graça.
O caminho do estacionamento até a porta do cinema também tinha sido animado, embora Steve tenha notado que a postura corporal de Morgana tinha mudado completamente. Ela estava mais quieta, completamente encolhida e vermelha como um pimentão. Por ser a mais baixa, Morgana sumia entre Steve, Thor e Sam e só por isso, não saiu correndo, gritando.
Em sua cabeça, um mantra se repetia: Não sou criminosa, não sou criminosa, não sou criminosa…
Ou ao menos, não era uma procurada e conhecida, a voz em sua mente sussurrou. Isso já era algo, Morgana se convenceu, suspirando.
-Hey, você já tá com os ingressos, certo? - Sam perguntou, cutucando Steve.
-Já. - Steve ergueu os quatro ingressos, puxando do bolso. - Por quê?
-Porque eu e o Thor vamos comprar pipocas e cervejas.
-Cerveja? Onde? - Thor olhou para Sam, com um sorriso. - Sabem, a cerveja daqui é extremamente satisfatória apesar de não ter gosto de nada!
Sam assentiu.
-Pois é. Você bebe, Morgan?
-Bebo. - Morgana concordou.
Enquanto Sam puxava Thor para longe do casal, interrompendo o monólogo que se iniciaria sobre a qualidade da cerveja Asgardiana, o silêncio constrangedor se instalou. De repente, apesar de ter feito um script mental para quando isso acontecesse, Steve não sabia como puxar assunto.
Então, acabou falando sobre a primeira coisa que veio à sua mente.
-Você é toda loira?!
Morgana arregalou os olhos, levando um pequeno susto, tanto com a pergunta, quanto com a voz de Steve. O homem fez uma careta e espalmou a mão grande na própria face. Ela nem chegou a abrir a boca e Steve já estava falando:
-Não, eu não queria perguntar se você é toda loira. Eu queria perguntar se você é loira!
-Meu cabelo não te diz?
-É, mas podia ser pintado. - Steve deu de ombros.
Morgana abriu um sorriso maroto, cruzando os braços em frente aos seios, que saltaram aos olhos de Steve, já que, inevitavelmente, ele tinha que olhar para baixo.
-Nesse caso, meus cílios e minhas sardas não denunciaram?
-Na verdade, eu achei mesmo que todos seus pelos eram loiros… Quer dizer, não todos! Não, espera… - Steve respirou fundo, gaguejando. - Eu sei que você é toda loira porque eu também sou! Mas… Não, tá.. Quer saber?! Esquece isso! Eu sou um idiota…
Morgana riu, negando com a cabeça. Ela o encarou com pena.
-Você não sabe conversar com uma mulher, né?
-Não quando eu tô nervoso…
Mais silêncio. As bochechas de Morgana poderiam fazer cosplay de tomate. Steve soltou o ar.
-Ham… Nervoso?
-Não gosto de multidões. Só isso. Enfim…
Steve viu o momento em que Sam acenou para ele e, respirando aliviado de passar as próximas duas horas e um pouco, calado, em silêncio, chamou Morgana.
Os quatro amigos entraram na sala do cinema, demorando um pouco para achar o lugar, afinal, Thor havia se confundido, no escuro, o L com o I, e Sam, o 4 com 7. Quando todos acharam seus devidos lugares, Sam e Steve, que estavam sentados lado a lado, se encararam. Isso fez o Falcão rir.
-Se arrependeu, né?
-Muito!
Steve encarou Thor e Morgana. Eles cochichavam baixo, chegando à conclusão que preferiam o filme em casa.
-Bem, eu teria recusado. - Thor admitiu, enfiando um bocado de pipoca na boca. Falando de boca cheia, ele completou. - Mas eu não podia deixar você sozinha com o Steve.
Morgana franziu a testa, o encarando, surpresa.
-Ué? Por que?
-Pelo amor de Odin, Nana! Olha para ele… Não tem o charme necessário para conquistar uma mulher sem fazer ela querer sair correndo, ao menos, umas dez vezes antes de desejá-lo!
-Tadinho!
Morgana encarou Steve, que distraído, pegou o canudo e enfiou na garrafa. O homem estava tão entretido com os trailers, que acabou enfiando o canudo dentro do nariz, ao invés da boca.
Engolindo o riso, Morgana virou para Thor, com a testa levemente franzida.
-Espera… Você acha que o Steve está querendo…?
Thor encarou o amigo por um tempo longo demais, até Morgana enfiar a mão na barriga dele, chamando atenção para si.
-O que você está fazendo?!
-Tentando ler a mente dele.
Morgana estreitou os olhos na direção de Thor, confusa.
-E conseguiu?
-Não. Mas não custava tentar!
Morgana respirou fundo, sem saber se ria ou se batia em Thor. No fim, ela voltou os olhos para a tela, decidindo deixar o assunto para lá. Não era raro que os heróis saíssem juntos e nem que fizessem programas em grupos. Já havia presenciado eles irem em baladas, barzinhos, compras, salão e até a festa de aniversário de algum primo distante, onde Clint não queria ir sozinho.
Um cinema não significava nada.
E principalmente, o principal ponto era: Steve estava com uma mulher chamada Sharon.
Quando percebeu que pensava nele de novo, Morgana pegou mais cerveja e bebeu, sentindo o álcool esquentar por dentro. Depois de seiscentos anos, havia adquirido uma super resistência ao álcool, porém, ainda gostava da sensação do calor se espalhando pelo seu corpo.
O filme era bem o estilo de Morgana: Muitos tiros, lutas, explosões, sangue e pouquíssimos beijos. Em duas horas, rolou apenas um esfregar de lábios do protagonista na antagonista, e na última cena.
Morgana foi uma das primeiras a levantar da poltrona, enquanto Sam passava por ela e comentava que precisava ir ao banheiro. O homem entrelaçou o braço ao dela e começou a puxar Morgana para fora da sala, antes que Thor ou Steve, sequer, tivessem pensado em levantar.
-Tem algum motivo para você estar me puxando com tanta pressa? - Morgana ergueu uma sobrancelha, o analisando, quando chegaram na porta dos banheiros.
Uma grande aglomeração de adolescentes barulhentos estava na porta, esperando para usarem os banheiros, o que os obrigou a esperar na fila.
-Eu ouvi o que o Thor falou e, por consequência, o que você perguntou.
-Metido! - Morgana revirou os olhos, sentindo suas bochechas esquentarem, mas sem alterar sua postura irônica.
-O Steve não está interessado conscientemente em você.
Morgana sentiu o alívio percorrer seu corpo, então, sorriu amplamente.
-Ah, que bom! Eu estava preocupada porque… Espera… - Morgana encarou Sam, que começou a rir. - O que você quis dizer com conscientemente, Samuel?!
Sam soltou risada mais alta e os dois chegaram mais para frente, conforme a fila andou. Olhando ao redor, Morgana percebeu Steve e Thor conversando e rindo, na porta do cinema, enquanto esperavam eles irem ao banheiro.
-Olha, não tô dizendo que ele quer te beijar e te levar para a cama. Não é isso, Morgan. É que o Steve… Te achou interessante e digamos que ele gosta de desafios. - Sam deu de ombros quando ela o encarou. - E você é toda fechada e misteriosa. Acho que ele quer tentar uma amizade, mas não sabe como.
Morgana assentiu, entendendo. Então, deu de ombros, tentando fazer a voz sair mais naturalmente.
-Não sei porque alguém ia ficar interessado em uma amizade comigo, mas aceito se isso ajudar no desenvolvimento da equipe… Até porque, tenho uma missão nesse sábado e não quero errar.
Sam sorriu, assentindo e dando um soquinho no ombro dela, em um gesto amigável.
-É isso, Morgan! O segredo de uma boa equipe é a harmonia e carinho entre os envolvidos. O Steve é legal, sabe? Você vai gostar dele.
-Duvido que ele vá gostar de mim, Wilson. - Morgana retrucou. - Não sou uma pessoa legal…
Ssm dei de ombros e entrou no banheiro, deixando uma Morgana reflexiva para trás. Ela sentia que em um futuro próximo se arrependeria da sua escolha.
Mas quando Sam e Thor se afastaram dos dois, alegando que iam procurar o rapaz da barraca de MilkShake pelo Central Park, Morgana ajeitou a postura e encarou Steve Rogers.
Ele estava digitando freneticamente algo no celular e pela foto, Morgana percebeu que era Sharon. Uma rápida olhada fez ela perceber que Sharon queria saber onde ele estava e que Steve não havia avisado que sairia, muito menos com quem.
-Sua namorada?
Morgana soltou a pergunta antes que pudesse pensar muito bem. Steve ergueu os olhos azulados para Morgana, encontrando os verdes, enquanto sentia que seu coração havia disparado.
-Que?! Não! Ela é… Hmmm..
-A mulher que sai do seu quarto de vez em quando, não é?
Steve guardou o telefone e deitou na grama, assentindo, enquanto olhava para o céu sobre suas cabeças. Era raro ver estrelas em Nova York, mas era outono e de vez em quando, uma ou duas estrelas brilhavam sobre o céu.
-Ela mesma. É mais uma amiga do que… Bem…
-Ah, Rogers… Não precisa ficar com vergonha de admitir que come ela na camaradagem! - Morgana rolou os olhos, vendo Steve se engasgar com o ar. - Calma, eu não tô te julgando! Deve ser bom ter um p.a, sabe?
Steve, que estava vermelho como um tomate, suspirou e encarou Morgana.
-P.A?
-Pau amigo.
Steve soltou uma risada, completamente sem graça. Ele deu de ombros, sem olhar para Morgana.
-Não se sou isso. Na verdade, eu tenho achado que a Sharon quer algo a mais do que só um sexo casual.
-Deixou isso claro para ela? - Morgana perguntou, desconfiada.
-Eu disse que não vai rolar nada mais. Não tô afim de um relacionamento. Tanta coisa aconteceu nos últimos anos e… Ela é sobrinha da única mulher que amei. Não vou casar com ela.
Morgana deu de ombros.
-Então, se ela se apaixonar, problema dela! Você fez sua parte. Deixou claro que só quer transar e se divertir. O processo de ilusão é todo dela.
Steve estreitou os olhos para Morgana, suspirando.
-Você pensa isso?
-É a verdade. Os humanos se iludem sozinhos, especialmente as mulheres. Horas pensando o que um sorriso quis dizer quando foi só um sorriso, não quis dizer nada. Entende? Mas se você acha que ela ainda não entendeu, chama a Sharon para conversar e contar. Não tem nada pior do que ser enganada, Steve.
Steve chegou a levar para o lado que Morgana poderia estar insinuando que ele estava enganando Sharon, mas algo na forma como Morgana soltou o ar e olhou para o lado fez uma luz se acender em sua cabeça.
-Experiência própria?
-E das mais traumatizantes.
Silêncio. Steve estava se coçando para perguntar, mas não queria ser metido. Por sorte, Morgana percebeu e decidiu abrir um pouco sua guarda. Afinal, Thor e Fury sabiam da história e não tinha nada demais, tinha? Ela quem foi enganada e amaldiçoada…
-Eu era prostituta.
Steve engasgou com o ar, mas conseguiu reduzir a tosse a quase nada quando Morgana continuou falando.
-E foi no Bordel que eu conheci um homem. De forma resumida: Ele era casado com uma bruxa. E sim, elas existiram de verdade, mas eram espertas demais para se deixarem ser pegas pela Igreja. Na verdade, elas existem até hoje, só que escondidas e sob outros pretextos.
-Uau… - Steve murmurou, vendo Morgana assentir.
-Enfim, ele nunca me disse que era casado. Pelo contrário, ele fez planos de fuga comigo, me prometeu o mundo e quando Freya nos encontrou, Philippe fingiu que não sabia quem eu era e que eu tinha enfeitiçado ele para ir para a cama comigo. Como a palavra de uma prostituta nada valia, eu fui amaldiçoada.
Steve sentou na grama e encarou Morgana, que em momento algum havia erguido os olhos para ele.
-Mas que filho da puta!
Morgana riu, finalmente, encarando Steve.
-É, ele era. É por isso que eu mesma o matei assim que tive oportunidade.
Morgana omitiu a parte em que sentiu um prazer imenso ao sugar a alma dele, de forma bem lenta, para fora de seu corpo. A sensação de ver ele se mijando e implorando seu perdão tinha sido quase equiparável a um orgasmo. Nunca sugou uma alma com tanta sede e vontade.
-Hm… - Steve murmurou.
Embora não achasse que fosse a solução… Entendia o lado dela. Talvez, se ele fosse forçado a matar pessoas a rodo como ela, então, ele adicionaria esse homem na lista sem pensar duas vezes.
-Como funciona? Você pode me contar?
Morgana olhou para os lados. O parque estava movimentado, mas ela achava que ninguém estava prestando atenção neles, então, após uma breve pausa de indecisão, Morgana assentiu, chegando mais perto de Steve. .
O calor do corpo dele e o cheiro forte e másculo de Steve fizeram o coração de Morgana acelerar. Uma veia latejando no pescoço de Steve chamou sua atenção e ela sentiu uma fisgada dolorida entre as pernas.
Steve era um dos homens mais masculinos que Morgana já havia conhecido e, apesar de fazer quase seiscentos anos que Morgana não se apaixonava, de vez em quando, experimentava a sensação de atração sexual. Ignorando isso, Morgana explicou:
-Eu sinto dois tipos de fome: A física e a da maldição. A física é suportável e passa com, literalmente qualquer coisa, além de ser uma necessidade fisiológica.
Steve apoiou a cabeça na mão, observando Morgana engolir em seco, tentando forçar um sorriso.
-A Da maldição… Não sinto todo dia se eu estiver bem alimentada. E eu não sei explicar… É um vazio, um desespero… Eu simplesmente não controlo e quando dou por mim, eu já suguei a alma das pessoas. Isso, claro, se eu estiver com fome. Se não, eu sou normal. Entende? Por exemplo, não sinto vontade de sugar ninguém agora e não vou sentir até amanhã de manhã.
Steve assentiu, sentindo todos os seus poros se arrepiarem. Era muita maldade fazerem isso com ela. Ou com qualquer um.
-Espera… E o que vai acontecer amanhã de manhã?
Morgana ergueu a sobrancelha e deu de ombros. O acordo que havia feito com Fury era ilegal em mais de um milhão de termos. Mas ou era isso, ou Morgana não seria parada.
-Vou me alimentar.
A pergunta pairou no ar. Morgana hesitou antes de completar:
-Por favor, Steve… Não pergunta. É exatamente o que você está pensando, mas… Não é tão ruim quanto parece! - O desespero subiu até a garganta de Morgana e ela sentiu o gosto da bile invadir suas papilas gustativas, enquanto ela tentava manter a voz calma. - Quer dizer… É péssimo, mas… Existem várias almas que não tem importância para a sociedade ou… Quer dizer… Ah, droga! Eu… Me dá um tempo, tá?
Morgana ergueu o corpo do gramado e começou a se afastar de Steve, andando a esmo. Absorver almas de presos ou doentes que não tinham família ou já estavam condenados não era menos grave ou sério do que absorver de pessoas inocentes.
Afinal, qual a diferença entre a vida deles e a das outras pessoas? Eram todos humanos de qualquer forma e ela continuava sendo uma assassina. Mas agora, uma assassina monitorada pelo governo.
-Morgana, espera! - Steve correu atrás dela, alcançando a mulher em segundos. - Hey, espera…
-Desculpa. - Morgana parou, abraçando o próprio corpo, sem ergueu o olhar para ele. - Eu só não queria que você pensasse que eu sou uma assassina, mas… Eu sou. Droga. Quem eu tô querendo enganar, Steve?! Eu continuo matando pessoas! Eu continuo sem poder acabar com a merda da minha vida!
Steve estava levemente apavorado quando percebeu que Morgana começou a chorar compulsivamente. Olhando ao redor, Steve entrou em pânico ao perceber que algumas pessoas encaravam eles, talvez, achando que eram um casal brigando. E que Sam e Thor haviam sumido.
Sem saber o que fazer, Steve cedeu ao impulso e puxou Morgana pelos ombros, a abraçando com força. A mulher chorava tanto que em pouco tempo sua camiseta ficou molhada de lágrimas e ela chegava a soluçar.
-Hey, está tudo bem?
Steve ergueu o olhar para um garoto que devia ter uns 18 anos e concordou.
-Tudo cert…!
-Espera! Você é o Capitão América?! Tira uma foto comigo?!
-Cara… - Steve revirou os olhos, negando. - Eu to com uma situação meio delicada, aqui…
-Vai lá, Steve. - Morgana enxugou os olhos, o soltando. - Eu vou esperar perto do carro.
Antes que Steve pudesse reclamar, Morgana saiu de perto dele, deixando Steve lidar com todas as pessoas que cercaram o homem, empolgadas, querendo uma foto ou um abraço.
Mais calma, Morgana foi até o estacionamento e procurou o carro azul bebê de Steve. Ela sentou em cima do capô e esperou por vários minutos, cutucando as cutículas soltas das unhas com a pontinha de um anel.
-Oi. - Steve apareceu quase uma hora depois, levemente descabelado e arranhado. - Como você está?
-Bem, eu acho. - Morgana ficou vermelha, vendo Steve sentar ao seu lado. O carro bambeou para frente sob o peso dele. - Cadê os meninos?
-Advinha? - Steve forçou um sorriso. - Eles foram para um bar com sinuca. Mas… Você está bem mesmo?
Morgana assentiu, esfregando o rosto ainda corado pelo choro.
-Eu não sei o que deu em mim. Não, na verdade, eu sei… É que tem anos desde a última vez que admiti a história ou o que sou, então… Eu fiquei um pouco nervosa… E com medo de você me odiar se soubesse isso tudo por outra pessoa.
Steve sorriu de lado, assentindo. Os braços cruzados mostravam os músculos sobressalentes sob a camisa.
-Tudo bem. Não é a primeira vez que as pessoas choram perto de mim. Na verdade, meus melhores amigos não são santos, Morgana. Todos já foram assasinos e… O meu melhor amigo de infância era até uns meses atrás também. Isso não é motivo para eu não gostar de você.
Morgana hesitou.
-E qual o motivo?
-Que motivo?
-Para você não gostar de mim?
-Mas Morgana… - Steve desencostou o corpo do carro, sorrindo por cima dos ombros e indo até a porta. - Quem foi que disse que eu não gosto de você?!
Ele entrou no carro e buzinou, fazendo sinal para ela entrar também. E naquele momento, enquanto voltava para casa com Steve, o sentimento de gratidão se instalou em seu peito, a mantendo aquecida.
Ooie, Pessoal! ❤
Cheguei com um capítulo que me deixou tão inspirada que escrevi quase 5k palavras e nem senti! 🥺
O Thor indo no cinema porque ficou com pena da Morgana ficar sozinha com o Steve KKKKKKK
E sim, gente... A referência dos pelos loiros foi uma referência a uma outra fanfic minha, chamada Gelo em Brasas! KKKKK Será que alguém entendeu??
E esse finalzinho... A Morgana não merecia nadinha disso... 🥺👉🏻👈🏻🤧 Mas o filho da mãe morreu! 🥳🥳🥳
Aaaaaah, e por falar nisso (Não, não tem nada a ver, mas lembrei agora e vou falar KKKKKKKK): Hoje vamos ter capítulo duplo em comemoração às mais de mil visualizações! Muuuuito obrigada!
Vocês são incríveis 💕🦋💫🥺
Ou seja, fiquem atentos que mais para a noite, temos a primeira missão da Morgana 🥳
Bjs 💋💋
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