Era a primeira vez que Harry ia a praia desde que se lembra. Ele havia lutado contra a leucemia por anos a fio e aquele momento era único.

O garoto sentia-se vivo pela primeira vez.

A maneira com que a brisa que vinha do mar massageava seu rosto magro, e o sol esquentava a pele pálida, parecia um grande show.

Quando se tem a morte te encarando todos os dias você aprende a dar valor a tudo que tem a sua volta, a cada segundo que seu coração ainda está batendo.

Observando a grandeza do mar e o encontro bonito entre ele e o céu, Harry se perde na magnitude de tudo. Fica sem palavras, mas com um sorriso sincero no rosto. Poder completar dezessete anos é muito melhor do que qualquer coisa que ele pudesse pedir.

As pessoas costumam se perder na correria do dia-a-dia, perdem momentos, sorrisos, cenários, perdem a si mesmas. Numa busca maluca por dinheiro e realização, se esquecem que a real beleza pode estar a sua volta, que a alegria está em cada pequeno trecho da vida, às vezes pode ser difícil identifica-la e absorve-la, mas ela está lá, convidando-nos para a felicidade nem que seja por alguns instantes.

Harry está feliz, de uma maneira inspiradora. A força de vontade e a coragem do garoto que recentemente completou dezessete anos é bonita.

Ele não reclama de ter passado boa parte da adolescência dentro de um hospital, lutando contra uma doença que na maior parte das vezes é fatal. Pelo contrario, ele agradece o quanto a vida foi generosa consigo por ter lhe dado uma nova chance de viver.

Os pais o observam de longe. Foi difícil para eles ter que lidar com o medo iminente de perder o filho. Mas agora os corações estão preenchidos de um alivio tão grande. Seu menininho está ali em frente, vivo.

Eles não poderiam ser mais gratos a isso.

-x-

Pela noite, Harry vai a um luau acompanhado de seu melhor amigo, o único que restou. A verdade é que Louis se tornou uma especie de porto-seguro depois que o menino adoeceu.

Os dois caminhavam pela areia gelada e Harry parecia extremamente feliz em afundar o pé ali. Ele suspirou se encolhendo graças ao vento do mar.

"Eu amo me sentir vivo."

Eles chegaram a roda em volta da fogueira e se sentaram lá, cumprimentaram os demais. Um loiro com um violão tocava alguma música indie, serena. O som do fogo crepitando, a imensidão das estrelas acima das cabeças, tudo parecia uma obra de arte.

As reflexões passavam nas mentes dos ali sentados enquanto cantarolavam as canções, com as mentes correndo longe. Em algum momento, Harry puxou Louis da roda, pedindo para que eles dançassem.

Em qualquer ritmo lento os dois, com os olhares completamente vidrados um no outro, dançaram como se não tivesse ninguém ali os observando, como se nada mais existisse. Era o seu momento.

Uma garoa fina começou cair, as pessoas já se levantavam procurando abrigos, porém todos pararam para observar o garoto de cachos e lindos olhos verdes jogar a cabeça para trás em uma gargalhada sincera enquanto girava, sentindo a chuva o molhar com deleite.

Como em um reflexo todos começaram a sorrir, mas nenhum sorriso foi maior do que o menino de olhos azuis e cabelos castanhos claros que continuava a dançar totalmente contagiado pela alegria de viver do amigo.Ele sentia-se leve ao ponto de flutuar.

"Isso é viver!" Harry gritou com todo o folego.

Logo o loiro do violão arrumou um lugar embaixo da copa de uma árvore enorme e voltou a tocar,os demais formaram pares, alguns foram molhar os pés na água gelada do mar noturno, outros resolveram imitar o primeiro par, dançando a luz do luar.

Sem abandonar os sorrisos, os olhares de Harry e Louis se encontraram intensamente. Era como se ondas de sentimentos bons se apossassem de ambos.

Tão naturalmente quanto a chuva caindo do céu, os lábios se encontraram com uma explosão de sentimentos, os corpos aproximaram ainda mais.

Nesse instante não existia mais nada além do outro. Os corações acelerados, os lábios se moldando perfeitamente. O sentimento tomando forma e força. A vida ficando mais colorida porque essa é a graça do amor, ele colore o que não tem cor. Ele faz com que a vida se torne a mais bela obra de arte independentemente do pintor. O amor é o sentimento mais avassalador, mais sincero e mais puro. Nasce em qualquer lugar sem se importar com as circunstâncias, bastam ter dois corações dispostos.

Separaram-se com diversos selinhos apenas para se encararem por alguns momentos, sorrirem e então voltarem a se beijar, várias e várias vezes.

Naquela noite estrelada, com a lua e o mar de testemunha, nasceu um grande amor.

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