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O Monte e o Cálice: Parte V - Perseguições

     Nos aposentos de Olbett Tistein tudo estava de volta a seu lugar. Uma garra gigante repousaria agora por muitas eras naquele armário até que fosse estudada novamente. À frente do Infinite strelatom, Olbett Tistein observava como que hipnotizado. Ade teve de chamá-lo algumas vezes até que respondesse.

     — Eu juro, se alguém nesse mundo consegue dizer quando você surge, eu preciso falar com essa ou esse alguém. Mais provavelmente essa.

     Kings Aderio contou-lhe cada detalhe do que houvera na noite anterior enquanto saboreavam os aromas de um ótimo chá de frutas cítricas. Do fundo da sala, nos corredores, alguém veio. Tinha os cabelos vermelhos caindo de um chapéu pontudo e redondo com uma flor de pétalas listradas em preto e branco em conformidade com a enorme aba também nas duas cores. A ponta tinha uma dobra para o lado esquerdo de seus ombros desnudos. Ainda do chapéu protegia-lhe a face uma seda rendada. Os olhos vermelhos como os cabelos estavam curvados na direção do dracus. Seu nariz empinava na direção de Ade. A cor da pele desnuda na curva descendo-na o colo, o rosto e as pernas era de bronze escurecido. Detrás dos lábios finos estariam guardadas presas do tamanho de uma faca. Aderio nem precisava que ela falasse quem ou o que era. O perfume exageradamente açucarado não conseguia impedir seu faro de sentir o cheiro do sangue. Não de outra pessoa, mas o dela. Vampiros tinham essa característica.

     — Então finalmente encontro o prodígio de Bellara — disse a mulher.

     — Atéa, presumo.

     Olbett parecia envolto em outros pensamentos quando Atéa chegou.

     — Sim, meu caro, esta é Atéa. E este é Kings Aderio, dracus e rei do reino de Seta.

     — Enchantiaer — disse Atéa. Fez uma mesura segurando parte do tecido do pouco vestido presente na indumentária.

     — Estou enganado ou você é de Lorrliz?

     — Não está em partes. Tempos são peculiaridades no meu meio. Vivi muito tempo lá, apenas.

     — Nas peculiaridades esse muito seria?

     — Você colocar fraldas por pelo menos umas quatro vidas.

     Olbett riu.

     — Vamos, se acalme, Atéa. Ele é amigo.

     — Olha-me como se fosse bicho. E vez ou outra repara em seu pescoço, Tis.

     "Tis?"

     — Tenho-no como enorme amigo por longa data. Não fosse por ele eu não estaria aqui.

     — O que não diz nada para mim.

     Kings Aderio achou graça daquilo. Via-se sinceridade no querer bem de Atéa para com o amigo.

     Tentou então diminuir a desconfiança — O livro está aberto e nada aconteceu com você. Eu já vi o que essa coisa faz com outros que tem maldade nas intenções. Não vejo razões para me preocupar.

     — Fala como se soubesse do que sou capaz, dracus. Mas não sabe.

     — Só estou dizendo...

     — Vocês, Os Cinco, agem como se o mundo estivesse a seus pés. Eu vos alerto que não está.

     — Falo por mim que não me sinto assim. Quase morri ontem.

     — E de quases atrás dos outros se fazem os heróis. Quase perdi, mas venci. Quase morri, mas vivi. Quase desisti, mas consegui.

     Olbett intercedeu por Aderio.

     — Noutro momento conversamos sobre isso e sobre o Infinite strelatom.

     — Você estuda demonologia. Conhece as nelias?

     — Como a da noite anterior, não.

     — Você sabia do que se tratava?

     — Sou demonologista, se não soubesse, estaria fazendo meu trabalho deveras errado.

     "Ela não perdoa mesmo."

     Aderio tentou contar o que ocorreu e o que Iala dissera sobre o encontro com a nelia e a reação da mesma perante à rainha.

     — Nascida de uma emoção forte em que um homem pode ter tirado a vida de alguém. Ela não atacaria nem uma mulher nem alguém valoroso.

     — Ela me atacou...

     — Então não é valoroso — disse desdenhosamente a vampira.

     Aderio tentou uma nova abordagem, o mais sincero que conseguia com seus olhos. Porém, a mulher não o encarou. Em vez disso folheou o Infinite strelatom, de onde palavras voaram magicamente pela sala. Símbolos desvaneceram em letras da linguagem comum. Se a mulher antes era irresistível tornara-se mais ainda ao sorrir largamente. As letras contavam sobre aparições tais como as nelias. Estas aparições teriam capacidades diversas: poderiam atravessar paredes, ser incomodadas por rochas, ganhar força próximas a flores, rios, pântanos, diversas coisas. Atéa moveu o dedo indicador de baixo para cima no texto e as palavras magicamente subiram mostrando outra parte em que Aderio leu outra particularidade desconhecida: o poder de ler mentes.

    — Nelias tem a capacidade de ler mentes. É a curiosidade dos jovens se valendo nessa espécie. Mas o ponto mais intrincado no estudo nem é sobre como elas ganham forças...

     — Isso eu consigo explicar — disse Olbett Tistein. — É também da natureza jovem de onde saem as descobertas. Descobrem-se adorando e amando. Isto posto, seria natural para um demônio nascido da morte de um jovem ter seus anseios em profusão.

     — O que não ocorre com os lugos — disse Aderio.
Atéa estalou a língua nos dentes.

     — Lugos estão próximos do esquecimento total, tem senso de responsabilidade. Mas há aqui algo muito importante, dracus.

     — Pode me chamar de Kings Aderio — disse um estúpido Kings Aderio.

     — Dracus! — disse ríspida Atéa, seu apaixonado ao lado tinha pulinhos no peito. — Vê aqui em baixo? — e então leu "Suposto que suas formas corpóreas são de aparência jovem, como vistos em rostos, membros, dorso, olhar, as nelias podem ainda não ter encontrado a natureza da maldade e, sendo assim, podem ser tratadas como inofensivas e suplicantes de compreensão. O mesmo não ocorre com as outras emanações demoníacas advindas de uma emoção muito forte pré-morte."

     — Leia-se frocos — disse Aderio.

     — Como estes não sabem distinguir nada, deixam a natureza malígna dentro do sofrimento se condensar até explodir e tornarem-se o que são.

     — Mas ela não era nada inofensiva.

     — Ela só parou quando viu uma mulher na sua frente. A culpa é do outro gênero.

     — Aquele que a matou, compreendo. Sua sugestão é que eu... peça que vá embora?

     Atéa sacodiu as mãos fazendo as letras sumirem da sala.

     — Não lhe sugiro nada, apenas trouxe a teoria em voga.

     — Muito bem, eu desisto — mudou para o gênio que se ria. — Homem! Você falou sobre coisas ontem. E deixou de falar coisas! Conte tudo de uma vez!

     — Para quê a pressa, o assunto demoraria alguns chás e um almoço, provavelmente.

     — Então encurtemos tudo isso e já vou dizendo, há, sem sombra de dúvidas, um surto de chupa-cabras nesta região.

     — Funda suas certezas no quê?— indagou Atéa.

     — Eu os vi na noite passada. E por falar nisso, eles não foram perseguidos pela nélia.

     — Sinal que são valorosos.

     "Mulher."

     — Tistein, eles estão aqui! Esse anel, esse dedo, o diadema, o que você tem a me dizer para eu sair logo daqui?

     Tistein pegou os objetos rapidamente e os colocou na mesa. Atéa se largou no sofá erguendo as pernas no encosto do sofá. Olhava provocantemente irritada para Kings Aderio enquanto folheava um livro.
"Bem vampira essa..."

     — Segundo o que Atéa e eu descobrimos esse surto de chupa-cabras pode ter relação direta com outro problema — disse Olbett Tistein.

     — Mais um! O abismo de problemas dessa terra parece não ter fundo. Até o Abismo é mais resolvido.

     — Você cava fundo, pois plantou fundo demais — disse Atéa passando uma folha de seu livro.

     "Mulher, eu juro..."

     — O problema é algo que vem de longe, Kings Aderio. Das coisas que você gosta. O espírito de alguém que sofreu muito. Está familiarizado com a Ordem do Sol?

     — Já não me basta o Cálice vem o Sol... mas sim, estou familiarizado. Adoram o Sol, que mal há nisso?

     — Nenhum. Mas as pessoas são o problema por trás das seitas. Diz-se que uma mulher, uma excelente curandeira, queria participar da Ordem do Sol. Era muito honesta, e todos a amavam. De alguma maneira conseguiu fazer parte da Ordem. Era um embuste, não se tratava da verdadeira Ordem do Sol, e ela foi recebida. Porém, foi abusada de maneiras terríveis, pois a Ordem do Sol estava sendo comandada por vampiros. O mais incrível dessa história toda é que havia muitos vampiros dentro do lugar onde teria sido trancafiada. Quando a procuraram nenhum estava vivo. Nas paredes estava escrito: "Sacerdotisa do Sol, todos os vampiros vão me pagar." Especula-se que ela morreu e se tornou algo terrível, pois os relatos que apareceram em seguida nas cidades vizinhas ao lugar onde foi o primeiro massacre, mostram assassinatos pontuais. Além disso, também há relatos de corpos de outras criaturas como chupa-cabras boiando nos rios. Como o dracus está aqui, e isso vem acontecendo há alguns meses, acredito que não tenha sido você o responsável.

     — Nem ninguém que conheça. Caçador ou algo da espécie.

     — Então nos resta trabalhar com a teoria de que é essa sacerdotisa a causadora disso tudo.

     — Sendo este o caso, o Equilíbrio não vai gostar nada disso.

     Olbett levantou o cenho com veemência.

     — Seu Equilíbrio ainda vai ganhar novos contornos, meu caro. No momento o que deve ser feito é ter certeza se ela está fazendo mais bem do que mal. Considerando não ter juízo por quem morrer, basta ser vampiro, bom, aqui temos um problema. Entre os vampiros há vampiros bons.

     — Como Atéa — disse Kings Aderio.

    — Senti desdém em suas palavras — respondeu-lhe a vampira sem olhar para o dracus.

    — Claro, adoro desdenhar, mal me conhece. Sigamos, Olbett. De onde vem o rastro dela?

     — De uma construção isolada, sem nome, nos arredores de Córcira. Há relatos do mesmo acontecendo próximo à Danvania.

     — Se Ellera foi para algum lugar ao norte...

     — Na possibilidade de tê-la encontrado, certamente está morta. Ellera pode ter ido a leste, a oeste, vindo para o sul. Não sabemos. De qualquer modo, eu preciso fazer pesquisas sobre o Infinite strelatom quanto ao sopro. Por isso Atéa está aqui.

     — E o que tudo isso tem a ver com o Equilíbrio?

     — Há um conhecimento poderoso dentro do livro que diz respeito à dualidade bem contra o mal. Uma magia usada para descobrir os iguais. Seja isso a respeito de ideias, de gêneros, de espécies, de corações. Da alma! Pode não ser a sacerdotisa em questão que esteja gerando todo esse massacre; e mais, pode estar atrapalhando a naturalidade das coisas. Sendo assim, suas vítimas não deveriam ser mortas. Está me acompanhando?

     — Do que você precisaria?

     — Direto, muito bem. Preciso de uma matriz. Atéa não é uma, não poderia ser usada. Deve ser alguém que já pariu um vampiro, não importando a espécie. Pode ser uma quérina, uma lambirela, succubina, luxsa, uma chupa-cabras. Desde que seja matriz. E que seja boa de coração, isso é imprescindível para que saibamos das intenções de seus outros. Traga-a aqui e prepararei tudo.

     — Então toda essa tralha que você me fez voltar a Danvania não vai servir para nada?

     — Depois explico. Agora, o Infinite strelatom me espera... Até breve, meu rapaz. Até breve.

     "Infinite strelatom, sei." pensou Ade, "vai para a cama, todo animadinho e engomadinho isso se antes não lhe der uma bifa, Tistein." Aderio não se despediu de Atéa. Já com os pés fora da Universidade percebeu muitos olhares sobre ele. Que coisa, tinha até mesmo esquecido de Iala, o início do dia tinha sido tão bom.

     Sua saída pelo portão de onde havia sido escoltado não foi tranquila. Havia muita movimentação. Pessoas corriam para o outro lado da ponte, perto da vila e seu prefeito. "Mais essa, ainda tenho de interrogar o homem." Achou ser por causa da nelia aquele enorme alvoroço. E gritavam pelo prefeito o tempo todo. Do outro lado da estrada, na direção da taverna Arco em Forca e da Vista da Agulha, estava tudo muito calmo. As pessoas saíram do prédio ligeiras, para fofocas essas pessoas demonstravam pressa. Estavam ali os guardas da guarita que, agora sabendo quem era Kings Aderio, deram-lhe passagem. O chão estava empoçado de sangue, vinha despencando da cabeça de um homem de rosto gordo e cabelos louros, pendurada num galho de uma árvore. Não foi decepada de uma maneira limpa. A cabeça tinha sido arrancada de tal modo que parte da cervical continuava ali balançando com o vento. Um dos guardas, bem novo, de bigode fino, vomitou perto do velho Nestórr. Aquela parte da cidade não estava entendendo a reação de certa obrigação para com as perguntas do "responsável" pela infestação de chupa-cabras.

— É recente.

— Claro que é recente seu borra...

— Nestórr — interrompeu um guarda. — Modos perante ao senhor!

     — Não é preciso — vociferou Aderio de um jeito que ninguém ousou erguer a fala senão para responder a ele. — Ninguém viu movimento? Alguma luz, ou sombras na floresta ali atrás.

     — Não, senhor — disse um jovem —, e eu havia acabado de sair da loja de pesca, passei bem embaixo de onde está. Antes ouvi um barulho nas árvores. Foi quando olhei para trás e gritei. Ainda bem que não fiquei escolhendo muitas iscas, senhor, ou a cabeça do prefeito ia cair na minha cabeça.

     — Isso é o prefeito?

     — Mais respeito, meu senhor — disse um guarda baixando o elmo. — Era um homem bom de quem estamos falando, por favor.

     — Excelente se olharmos ao redor para as casas de seu povo — desdenhou Kings Aderio tocando despretensiosamente a cervical. — Avise o rei Oromergius. Eu me encarregarei do resto.

     — Mas, senhor, somos a guarda do prefeito.

     — Eram a guarda do prefeito. Não pegará mais nenhum imposto.

     Uma chuva de perguntas desceu sobre Kings Aderio. Ouvia e respondia desdenhosamente. Estava conversando mais consigo do que com os transeuntes. Ao examinar a cervical observou alguns ossos faltando no início da coluna, que deveriam ter ficado em algum lugar junto ao tronco ou se partido.

      "O homem deveria pesar no mínimo cem quilos, tem estatura alta pelo tamanho da cervical, pedindo ainda mais força para arrancar a cabeça dos músculos e gordura. Seja o que for que o matou virou a cabeça duas vezes, brusco, fazendo o osso girar. Poderia ter ouvido o som de estalo e puxado a cabeça de uma vez se aventurando na carcaça. Há diversos seres que gostam de brincar com a morte antes de se alimentar. Terei de olhar com mais cuidado para dentro do bosque."

     Kings Aderio aguçou os sentidos e ouviu movimento de pássaros muito perturbados mais à frente na estrada. Gotas imperceptíveis para qualquer ser humano podiam ser vistas pelo dracus. Chapinhavam o cume das árvores num padrão que acompanhava o sangue no chão. "Foi aqui que o prefeito perdeu a cabeça. Ela foi lançada naquela direção, não à toa, poderia ser para chamar atenção. Aqui o sangue faz uma mancha, parou de ser arrastada naquela direção para dentro da floresta."

   A espada zuniu para fora da bainha.

    Entrando na floresta e seguindo diversos rastros com o olhar e o olfato, Aderio voltou para fora da floresta. Agora encarava um prédio grande, feito de cimento e madeira. Como as construções das Colinas. O rastro levava ele até lá. Kings Aderio entrou com cuidado, passando vagarosamente pelos cômodos. Logo encontrou muito sangue e diversas partes de um corpo jogadas pelo salão. No chão próximo à uma poltrona usou a ponta da espada para erguer o que eram as tripas do prefeito. "Para uma morte assim, a coisa precisava odiar muito o sujeito." Não sentia nenhum cheiro diferente, e isso o incomodava. Apenas o cheiro do prefeito, almíscar e vinho, além do sangue. Andou até aonde ficaria o local de trabalho do prefeito. A porta estava escancarada, quase caindo. Balançava à vontade leve da brisa vindo da janela aberta. Ali havia outra parte do prefeito.

     "Desnecessário, seu monstro. Desnecessário."

     Era parte da perna do prefeito pendida na janela com o instrumento sexual do homem apontando para Aderio. Estava duro. "Não quis comer os bagos, pelo jeito, mas deixou o homem extremamente excitado. Succubus? Ou luxsas, como Atéa." Aderio chutou a perna para fora da janela. Na escrivaninha encontrou diversos documentos, muitos com a gravura de um carimbo vermelho de um castelo sobre um monte ladeado por duas torres: o símbolo de Nianda. O que leu foi insalúbre. Poderiam até odiar ao prefeito por aquilo, mas as coisas descritas seriam sentidas apenas em alguns meses, e poucos deveriam saber do conteúdo daqueles documentos, já que a tinta neles era fresca. "Ou poderiam suspeitar e vieram certificarem-se quanto ao prefeito de que não escrevesse quaisquer ordens."

     Resolveu não tomar tanto tempo dentro da casa, não tinha nada de Equilíbrio a considerar ali. Da janela pôde ver movimento, mas eram tantas coisas acontecendo naquela floresta; dali não poderia concluir nada.

     Kings Aderio saiu pela janela em direção aos bosques. Buscou sinais no chão, dos quais não encontrou sequer um fio de cabelo. O assassino movia-se com leveza, rapidez, preferindo o alto das árvores. Acima de sua cabeça o sol estava convidativo quando aparecia entre os tufos de neblina. A visão de Kings Aderio no alto de sua forma descansada o possibilitava olhar do outro lado da neblina. Constatou que as folhagens tinham cortes e os galhos estavam apertados, como se um gancho tivesse enrolado e girado neles. Não havia sangue, o que dificultava perpetrar suas possibilidades. Ainda assim, seguiu esses galhos. O fez por horas. A paisagem mudou três vezes. De bosques para florestas. Em seguida as florestas diminuíram, dando lugar a pântanos e gramíneas e, depois, mais florestas com pinheiros muito altos. Quando chegou aos pântanos até achou estar perdido. "Um dracus perdendo-se, Kings Aderio? Mangura adorará os comentários sobre isso". Com cuidado ele olhou uma área grande no arco do pântano junto à orla da floresta. Nada encontrou no chão, nem menção de um espasmo do pântano depois de cobrir uma pegada. Sua caça não atravessou à nado e não deveria estar dentro do pântano também, ou pelo menos uma distinta respiração Aderio ouviria. Como ouvia das enormes serpentes inofensivas. Descansavam seus corpanzis de escamas diamantinas sob o sol de meio de tarde. Olhou para um lado e para o outro deixando as brisas do vento comandarem seus sentidos. Concentrado, ouviu um galho quebrado além do pântano e para lá se dirigiu tendo que descer um rio e subir uma colina infestada de pinheiros.

     O provável lugar onde ouvira galhos se quebrarem estava diante dos seus olhos. Um carvalho que perdera alguns troncos, nem eram galhos. Aderio contraiu o cenho deixando os lábios sorrirem um pouco: havia, num dos troncos, uma marca de sangue. O cheiro era de sangue humano, "não vai me escapar."

     Subiu em outros pinheiros mais altos a fim de ganhar distâncias. No horizonte se erguia um paredão pontudo enorme depois de um rio que Kings Aderio considerou ser bastante largo. O rastro, a descontento, não ia para lá. Em frente a esse paredão, do lado em que estava do rio, Kings Aderio viu uma série de ondas verdes encrespando-se além da floresta. Tinham diversas tonalidades de verde dependendo de onde o sol batia. Estava próximo das Colinas Sinuosas. Em algum lugar naquela região existiria o Cálice. Kings Aderio pensou quando o visitaria, se no dia seguinte ou na semana seguinte. Isso se o encontrasse. Ora, tão perto da região, há uma distância da cidade de um dia a pleno galope para uma pessoa normal viajando pela estrada, achou melhor descobrir onde era o local. Sua caça não sairia de seu rastro.

     Mas durante a noite o rastro desapareceu. Seus sentidos eram aguçados, mas a noite, a neblina, os enormes pinheiros, nada disso ajudava Aderio em sua procura. "Perdendo uma caça, dracus?" Indagou para si contrariado. Perdera os vestígios; pensou em abordar a questão de outra maneira. Estava sem fome, mas tinha sede então caminhou até o lado mais alto da floresta. Ainda cercado por pinheiros muito altos. A noite cobria as montanhas. A neve do luar pousava no alto de uma floresta de murmúrios sem fim. Em busca dos pinheiros, Aderio encontrou um deles. Era bastante alto, com a copa descendo em cone de folhas agitadas. O dracus abaixou-se e se levantou, rápida e repentinamente. O salto o levou até o alto do pinheiro. Continuou escalando entre as árvores sem entraves até alcançar o cume da floresta. Apoiado no tronco saltou longas distâncias de pinheiro em pinheiro deixando um brilho branco no galho de onde saiu a cada salto. Isso o fez uma dezena de vezes espantando pássaros e bichos desconhecidos. Ganhou dezenas de horas em segundos, ainda que a lua o acompanhasse. Ao chegar no rio viu que ele era largo além de revolto. Demorou horas averiguando aquela região. O terreno era acidentado, o rio rumorejava forte, com raiva, e a brisa do vento tanto do rio quanto a que rufava nas árvores não ajudava. Além disso, a vegetação ao redor do rio era intensa com pinheiros de diversos tamanhos guardando arbustos em seus pés.

     Por todo lugar viam-se rochas e espuma branca no meio da água gelada. Dali estava um pouco mais perto da montanha que vira ontem. Caminhou rio a baixo por algumas horas, apreciando a linda paisagem que o cercava. Flores arbustivas contornavam a orla do rio do outro lado subindo pela floresta entre as pedras. A água jorrava urrando seu respeito azulado e as pedras da margem brilhavam com a luz do sol. O fremido das folhas ao redor tingia essas pedras de sombras e a Kings Aderio também. Lá adiante, mais abaixo no rio, viu que a corredeira terminava numa pequena cachoeira. Aderio atravessou de um lado a outro da margem em apenas dois passos. O direito no rio caiu no esquerdo do outro lado no instante seguinte. Tão belo rio também transmitia segurança para ser provado. Sempre com olhos para o horizonte furtivo, bebeu e molhou os cabelos na água gelada. As gotas cortaram o ar e logo ele mesmo o fez isso.

     A montanha estava à sua frente. Levaria alguns dias de longa caminhada para chegar ao cume. Ele não tinha tudo isso. Três dias, dissera Iala. Deveria cobrir seis mil metros em diagonal e sem portais. Para os dracus, algo simples de se realizar. As pedras se espatifaram no chão quando o dracus se tornou vento e viajou ganhando altura e distâncias enquanto seu deslocamento fazia o ar rugir como um animal poderoso. O impacto com a montanha ocorreu suave, mas tossiu com a mudança brusca de estar agora duzentos metros mais alto do que a altura do rio. Dali o rio murmurava uma canção mansa. Assim o fazia também a floresta ao longe com as Sinuosas avizinhando os pinheiros.

     No horizonte, porém, não encontrou o que buscava. Nada se via naquelas colinas. Disseram que o Cálice estava num lugar recluso, de difícil acesso. Pensava agora como que as pessoas conseguiriam chegar até lá. Deveriam ter muita coragem, levadas pela tolice, muitas vezes amiga nossa. Como a noite se aproximaria novamente, Kings Aderio ficou parado observando por horas a bela paisagem. Conforme observava o decorrer dos montes verdes, Kings Aderio desenhou um mapa mental em que as Siuosas estavam no meio. Nianda ficaria mais abaixo à esquerda e Danvania duas distâncias de Nianda acima. Córcira, cidade próxima ao primeiro efeito da tal sacerdotisa vingadora, estaria o dobro disso, acima e mais à direita. Era uma jornada longa demais para um espírito fazer em pouco tempo. Espíritos podiam ser rápidos, mas não são afeitos a viajar grandes distâncias rapidamente. Incansáveis e preguiçosos, pensava Ade.

     O sol começara a se pôr. Aderio subiu um pouco mais alto na montanha, apenas onde ela lhe possibilitava caminho sem escalada. Triunfante ele viu no horizonte a mecha de algo subir lentamente. A coluna alcançou certa altura e lá foi aumentando, gerando uma nuvem acusada pelo luar. Kings Aderio via fumaça!

     "E logo verei seu fogo."

     Deduziu que estava a dois dias de distância daquele ponto. Ainda era muito longe. Pensou ir até lá. Pensou, pois algo mais interessante se mexia na floresta. Não era a raposa, o lobo ou o dente-de-sabre. Não. Era algo diferente que Kings Aderio cogitou se tratar ser sua caça. Estava parada, descansando, provavelmente, ou acossada por algo?

     O dracus jogou-se de onde estava. O vento batia em seu rosto até o momento do chão se aproximar demais. Mal deixou seus pés tocarem no solo com leveza já se punha do outro lado do rio.

     Dali seu caminho acabaria em Nianda, o que se provaria cheio de frustrações até lá. Começou por saltar distâncias e em pouco tempo. Não comia nada já há um dia e meio e, em vez de caminhar, viria uma perseguição infrutífera pelo menos até que chegasse à Nianda.

     Julgou conseguir perseguir sua presa noite afora. 

     Uma enorme estupidez! 

     Sua aproximação enfrentaria um caminho tortuoso. Árvores com enormes raízes, labirínticas até, pediram para que ele se enveredasse numa mata de espinhos com um dedo de tamanho. Correr como gostaria era impossível. Isso para ele, pois quem perseguia movia-se tranquilamente por aquela mata, sempre à frente de Kings Aderio. Seus sentidos acusavam uma distância maior, maior, cada vez maior, "como essa coisa anda tão rápido por aqui?" Aderio se indagava e era um custo andar no meio daqueles espinhos principalmente porque queria fazê-lo o mais silenciosamente possível. Sendo assim, não teve jeito. Diminuiu o passo até uma distância suportável. Mas quem era perseguido de repente correu muito depressa e ele se viu obrigado a acelerar seu passo. Não sabendo onde estava em meio à mata acabou descendo pelo caminho até um lodaçal. A região charcosa se abria em arco até uma clareira. Esperava não ser muito fundo. A esperança acabou morrendo logo no primeiro passo dentro do lodo. Que mau cheiro! A areia envolta, solta, pegajosa, descia empurrando o corpo de Kings Aderio. Teve de se esforçar para sair de cima do lodo, isso várias vezes. Caso fosse um homem normal, a natureza cuspiria seus ossos logo, logo. Cansado de perder tempo, explodiu seus poderes para que andasse sobre a areia movediça. E foi aí que se arrependeu, pois o brilho de suas chamas certamente chamou atenção de sua presa que mudou bruscamente a direção para onde estava indo anteriormente. Se ir para o Cálice seria a esperança de Kings Aderio ela havia morrido ali. Quem caçava passou na frente dele na orla da floresta, um vulto branco enregelando seus ossos.

      "Não pode ser." 

     Adiantou-se para fora do lamaçal e correu pela floresta por diversos lugares. Logo estava fazendo corridas em rodeios, indo e voltando por diversos relevos. Pântanos, mata densa, espinhos, raízes tortuosas, penhascos, a caça, que, se os olhos de Kings Aderio tinham visto o que viram, tratava-se de uma mulher, tentou despistá-lo com bravura. Uma exímia fugitiva para conseguir com que o dracus voltasse depois de tantas idas e voltas na noite, e em parte da manhã, de frente para a grande montanha. Ao deparar-se com o gigante cinzento, Kings Aderio quis usar a espada. Eberlen lançava jorros pela floresta, o dracus estava cansado da brincadeira de gato e rato. Mas sua fúria foi atingida ao cair de um penhasco depois da floresta que se aproximava da estrada vindo de Nianda. Por correr sem se dar conta de onde pisava não pôde se livrar da queda. Quando eu te agarrar, disse Kings Aderio com raiva — e certa nostalgia.
De volta ao lado de cima pôs-se a correr tentando cercá-la pela estrada. Porém o que encontrou em frente na estrada foi um verdadeiro bando de chupa-cabras. Coisa mais bizarra, pensava Ade. Estavam lutando contra afogadores, antigos corpos de pessoas afogadas que, não encontrando descanso pacífico, voltavam para comer carne e assombrar as pessoas. Não obstante a luta cessar e virem diretamente para a carne mais tenra do que a dos chupa-cabras. Aderio não se conteve e fez suas chamas perfurarem a pele dos afogadores como manteiga. Seus corpos inchados, membros e tórax flácidos, as bocas babando sangue e tripas, Aderio detestava esses seres necrófagos. "Eu não tenho tempo para vocês!". Eberlen atravessou o corpo dos monstros. Membros rolaram para dentro do rio. Mesmo com as tripas para fora da barriga um deles continuou andando até Kings Aderio. O dracus apontou sua mão e o monstro se desfez em chamas. Chegou tarde demais na água do rio para se salvar. Finalizado com eles, ainda faltavam os chupa-cabras. O que ocorreu em seguida deu um pouco mais de certeza a Aderio de o quê ou quem vira lá atrás, pois os chupa-cabras não quiseram atacá-lo. Pareceram quase que gratos. Aderio guardou sua espada observando cinco chupa-cabras o encararem. Tinham os olhos grandes e oblíquos, amarelos, a pelagem era cinzenta e muito focinhudos, como um macaco narigudo. Munidos de garras e dentes grandes. Em tudo isso, todavia, para espanto de Kings Aderio, nem um pingo de raiva. Os chupa-cabras se colocaram para dentro da floresta na mesma direção que Aderio presumia ser de sua fugitiva. Para sua felicidade, ou não, havia sangue dela no chão, e o rastro era fresco.

     Já com a paciência sem menor controle usou tudo o que tinha para alcançar a criatura. Estava próxima de Nianda, nas cercanias da vila à beira do lago, quase ouvia o senhor Nestórr o alcunhando de borra-botas ou qualquer sorte de palavra chula. Na vila ouviu latidos ferozes e depois ganidos. Os animais haviam sido mortos, dois enormes cães negros, mas não sem deixar um estrago pelo chão. Pela neblina Kings Aderio observou adiante dentro da cidade o rastro aumentar. "O deslocamento dela diminuiu."

     Dirigiu-se rapidamente para as ruas da cidade, passando por becos e alcançando uma construção grande com um alçapão inclinado que dava para baixo do edifício. Sentia cheiro de porcos e de algo mais. Algo lembrando conversas recentes, passados não muito próximos. O rastro do sangue era quente e a poça aumentara. Quem quer que fosse perderia os sentidos logo se nada fosse feito.

     Entrou. A seu redor havia carcaças de porcos içados no teto por ganchos. A noite estava fria. A neblina também estava fria e densa. Aderio via o movimento hipnotizante dos porcos. Balançavam como se tivessem o colocado em um encanto. Inútil se fosse, pois sua presa por trás de tanta confusão estava ao fundo, respirando com dificuldades.

     Aderio fez uma última de suas manifestações mágicas. Dois lobos se materializaram em cor prateada, brilhando e sendo atravessados pela neblina feito vento nos pelos. A voz que saiu de Aderio era inumana:

     — Sua longa fuga acabou. Saia para a luz!

     Nenhuma resposta.

     — Se eu for até aí eu juro pela minha espada arrancar sua cabeça pelo tempo que me fez perder — em resposta veio um soluço. Aderio ouviu o coração se acelerar. Isso principalmente quando ele voltou a se pronunciar.


     — Você já não tem mais forças para correr ou atacar. Ellera.

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