Passos rápidos ecoavam por toda a floresta. Os suspiros sôfregos da mulher que corria desesperada para salvar seus filhos podiam ser ouvidos nitidamente, assim como o som dos cascos do cavalo em contato com a terra úmida do chão, dos gritos do homem que a perseguia e o choro estridente da pequena criatura em seus braços.

A mulher apressou os passos e apertou o pequeno bebe e a criança de três  anos (que ao contrário do irmão mais novo não chorava, apenas encarava tudo assustado) em seus braços, fazendo de tudo para salvar pelo menos suas crianças.

- Pare de fugir sua vadia! - gritou o homem em cima do cavalo - Eu vou acabar com você!

A pobre camponesa puxou o folego com força e começou a chorar, temendo que as ameaças daquele homem se tornassem realidade.

Chorava tanto que sua visão começou a embaçar e não demorou muito até o corpo pequeno e magro encontrar o chão, em um baque alto e doloroso que fez o pequeno corpo do bebê recém-nascido rolar para longe.

- Te peguei! - o homem desceu do cavalo e agarrou a mulher pelos cabelos com uma mão, enquanto com a outra, começou a puxar a criança - SOLTA ELE PORRA! - o guarda gritou irritado quando a mulher segurou o pequeno menino com força, tentando evitar ao máximo que o guarda o levasse.

- NÃO! - gritou e direcionou seu olhar para seu filho mais novo que chorava e gritava a poucos metros de si - Não solte a mamãe filho! - sussurrou para o mais velho que a olhou com medo e começou a chorar.

O guarda então, irritado, soltou a criança e agarrou a camponesa com as duas mãos, dando-lhe tapas e socos.

- C-corra... - a mãe começou antes de levar mais um puxão de cabelo, olhando para o filho e chorando desesperada, sentindo uma dor horrível por todo o corpo - p-pegue s-seu i-irmão e-e f-fuja... - sentiu sua cabeça bater fortemente contra o chão quando o homem a soltou com força - e-eu a-amo v-voc-cê...

O menino, desesperado e chorando muito, obedeceu a mãe: correu até o irmão e o pegou no colo, correndo logo em seguida na direção oposta a que sua mãe e o homem estavam.

- Aonde pensa que vai? - o menino arregalou os olhos quando o homem assustador apareceu em sua frente, como uma terrível assombração - Você vem comigo! - o guarda com uma barba grande e escura o puxou com força, fazendo com que os pequenos braços do menino de três anos soltassem o irmãozinho, que rolou para perto da mãe.

- MAMÃE! - o garotinho gritou, olhando para o corpo fraco, mas ainda vivo, de sua mãe - ME SALVE! POR FAVOR! - a mulher, fraca e machucada, se arrastou pelo chão, tentando chegar até seu filho, algo que, infelizmente, não aconteceu, porque o guarda foi mais rápido e montou em seu cavalo com o menino desesperado junto a si - NÃO! - estendeu os braços em direção a mãe assim que o cavalo começou a correr.

- M-meu b-bebe.. - fechou os olhos com força e gritou agoniada, sentindo um aperto forte no coração e dor por todo o corpo - s-socorro... - tentou pedir ajuda ao mesmo tempo que agarrava o recém-nascido com força, ouvindo pela última vez o choro fino de seu amado bebê, antes de dar seus últimos suspiros e morrer naquele chão sujo e frio.

Tudo que podia ser ouvido agora, era o choro esganiçado da pequena criatura, que clamava pela mãe e por ajuda.

E depois do que pareceu ser uma eternidade, a criança finalmente foi acudida por uma velha cozinheira que trabalhava no castelo.