Capítulo 10
— Deixou o príncipe escapar? Sério? — O jovem perguntou, sentado em uma cadeira de madeira e com seus pés em cima de mesa velha enquanto limpava a lâmina de um belo punhal com um lenço. — Hyunjin, você já foi mais eficiente.
Hyunjin ignorou o jovem vestido de verde, suas provocações sobre sua competência eram frequentes, aquele Yang sempre o tratava daquela maneira, desde que foi nomeado por Changbin como um dos seus assassinos. Jeongin não gostava dele, assim como também não gostava do seu outro colega, Seungmin. Era como se ele se sentisse constantemente ameaçado por aqueles dois e precisasse diminuí-los para se auto-afirmar o melhor entre os três. O Hwang já não se deixava abalar por aquilo.
— Ouvi dizer que aquele Lee vivia doente e que era extremamente fraco. Demorou tanto para conseguir algum resultado em Doyeon, e quando conseguiu ainda deixou ele fugir assim? Estava tão relaxado?
— Não consegue ficar em silêncio nem por um minuto? — Seungmin reclamou, entrando na sala em que os dois estavam.
A Trindade se reunia em um casarão ao qual tratavam como uma espécie de quartel. Lá eles guardavam suas armas, alguns tesouros de saques que eles realizavam juntos e também seu ponto de encontro para preparar seus planos. Era consideravelmente próximo do palácio, no entanto, a presença deles dentro do palácio era escassa, só poderiam ir ao local para entregar seus relatórios ou com permissão do Rei. Seungmin e Jeongin iam mais frequentemente ao local, diferente de Hyunjin, sua presença era rara e sempre carregada de mistérios. Os únicos que podiam saber de sua identidade eram seus colegas de trio e o próprio Rei.
— E então? Notícias? — Jeongin perguntou, sem voltar totalmente a sua atenção para o Kim.
— Ele mandou que ficássemos quietos por enquanto. Principalmente Hyunjin, estão à procura do Lee mais novo e de seu guardinha.
— E o Príncipe Herdeiro? Ele não falou nada? — Hyunjin perguntou, observando o Kim se sentar na cadeira na frente de Jeongin.
Seungmin, ao se sentar, pareceu ter ficado incomodado com os pés do mais novo em cima da mesa e, com um só empurrão com seus braços, tirou eles, fazendo o Yang o encarar claramente irritado. Jeongin era assim, fácil de irritar.
— Ah, sobre ele sim. Jeongin, ele tem uma missão especial para você — Jeongin arrumou sua postura na cadeira, se mostrando finalmente interessado, sempre pronto para mostrar seu valor ao Rei. — Ele te deu permissão para levar um grupo de soldados para a estrada de Deungjeong. Não pode ser um grupo grande, pois você precisa entrar disfarçadamente.
— Isso não é muito seu estilo, não é, Jeongin? — Hyunjin provocou. — Sempre ávido para ganhar atenção, ter que fazer missões no sigilo deve ser um grande desafio!
— Cale-se! Foi você quem não conseguiu lidar com um príncipe mimado e medíocre, eu nunca falhei.
— Podem parar de compartilhar farpas? — Seungmin reclamou, também já parecendo irritado com os dois e tirou um pedaço pequeno de pergaminho dobrado, o jogando em cima da mesa. — Enfim, ele disse que você precisará esperar nesse ponto aqui da cidade, alguém vai levar o Lee para você. Só precisa se livrar dele imediatamente.
— E quem vai levá-lo? — Jeongin perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas, curioso.
— Um certo amigo — Seungmin respondeu, parecendo enojado. — Em Deungjeong haverá o Festival do Equinócio de Outono em breve, o Lee será levado para você durante a noite. Já está tudo decidido.
⊱•⊰
— Como está a recuperação do Lorde Han? — Minho questionou durante o almoço dentro do grande salão.
A família Bang havia o recebido com muita hospitalidade, todos tinham sido amigáveis e o Rei estava cumprindo o que havia dito, ele realmente mobilizou um grupo de soldados para buscar pelo príncipe Felix.
— O Duque Changho garantiu que ele está melhorando, logo poderá sair novamente — Christopher respondeu, dando um sorriso ao Lee.
Já haviam perdido as contas de quantas vezes Minho havia feito aquela mesma pergunta, conseguiam entender sua preocupação, pois o Lee de certa forma se sentia responsável pelo adoecimento do jovem mestre da família Han.
— Pai, o Jisung estará recuperado até o festival? Seria triste se ele perdesse... — Soobin perguntou, recebendo uma confirmação de Seonyou, que também achava um desperdício perder uma festa tão grande e importante para o Reino.
— Acredito que sim, Soobin — respondeu e voltou-se para o Lee novamente. — Minho, você nunca deve ter vindo à Deungjeong durante a época do festival, não é?
— Não, Majestade. Só saí de Doyeon para alguns bailes ou encontros políticos com meu pai, mas nunca tive a oportunidade de ver.
Nos últimos dias, Minho havia tentado se manter forte perante todas as tragédias que haviam o acometido, no entanto, não eram coisas as quais ele poderia superar da noite para o dia, talvez ele carregasse aquela dor para o resto da vida. Em seu íntimo ele ainda se sentia estilhaçado, quebrado e centenas de pedaços, em lascas afiadas. Mas, pelo menos na frente de outras pessoas, ele queria se manter firme, forte, queria manter a aparência que alguém esperaria de um herdeiro. Ele não sabia se estava fingindo bem, porém, era o que ele conseguia fazer.
Han Jisung estava certo, ele precisava continuar forte para se vingar, vingar sua família, vingar seu reino e salvar seu irmão. Ele era o único pilar que restava para os Lee, o único pilar de esperança para Doyeon.
— Espero que possa desfrutar do nosso festival, Minho. Será bom para tentar desanuviar sua mente um pouco.
— Obrigado, Majestade — Minho agradeceu, mas sem muita emoção. — Irei tentar me divertir e desfrutar da festa.
⊱•⊰
Jisung comia sua refeição sem gosto, aquelas refeições tão insípidas para o seu paladar que haviam sido servidas nos últimos dias. Seu corpo enfraquecido e sua cabeça pesada haviam se suavizado. Seu quarto tinha tido poucas visitas, como normalmente acontecia, sua comida só era colocada rapidamente em cima da mesa e saíam com pressa, evitando se aproximar do Han enfraquecido, qualquer outra coisa em seu nome era entregue daquela forma também, tão rápido quanto entravam, eles saíam.
Desde que havia recebido aquela carta de Drimmoya, Jisung se encontrava pensativo. Ele tinha quebrado qualquer tipo de relacionamento com o Rei Changbin há muito tempo, no entanto, naquele momento crítico, a sua ajuda era mais do que precisa.
Se não fosse pela maldita da Yewon eu não precisaria estar recorrendo a isso tão rápido! Jisung pensou, apertando a folha com raiva, deixando suas beiras amassadas, mas então a estendeu para a vela, deixando com que queimasse.
Não tinha motivos para se sentir culpado.
Era para o seu próprio bem-estar.
Jisung se levantou da cama e abriu as pesadas cortinas, deixando seu quarto ser iluminado novamente. Estava na hora de voltar, ele já estava bem e não podia adiar mais.
— Jovem mestre? Vim recolher a louça...
A criada entrou, muito acanhada. Desde a última vez que Han Jisung havia gritado com ela, ela havia ficado daquele jeito, como se estivesse pisando dentro de uma jaula cheia de tigres e, a qualquer momento, ela poderia pisar em um deles e ativar toda a sua fúria.
— Que bom que você veio, Jihyun! — Ele exclamou, ficando de frente para a criada com animação. — Preciso arranjar vestes novas para mim. Irei ao festival esse ano.
— Sério, jovem mestre?! Que ótima notícia! — Jihyun exclamou animada. — Não se preocupe, farei o possível para ser perfeito!
— Ótimo, agora irei me arrumar, vou ao castelo. Não conte ao meu pai e Yewon.
— Está bem, jovem mestre!
Jisung deu um suspiro curto antes de se arrumar. O festival... realmente era uma lástima que aquilo tivesse que ser feito no festival.
Ao terminar de se arrumar, Jisung saiu do seu quarto e se dirigiu para fora da mansão dos Han. Pegou um dos cavalos no estábulo e tomou seu caminho até o grande castelo de Deungjeong.
⊱•⊰
Minho sentou-se em uma das poltronas confortáveis em meio às grandes prateleiras repleta de livros bem encadernados. Ele havia passado muito dos seus dias ali, muitas vezes nem lendo, somente aproveitando o silêncio. Minho gostava do silêncio, ele via conforto ali, calor, ele não se sentia sozinho. No entanto, desde o sumiço do seu irmão, ele havia sentido falta de um pouco de barulho, aquele barulho que Felix fazia.
O Lee havia puxado um livro aleatório de uma das estantes, livro esse que estava largado na mesa à sua frente naquele momento, seus pés estavam apoiados no estofado da poltrona, envolvido por seus braços, e sua cabeça deitada com seus olhos fechados. Haviam momentos em que Minho só queria diminuir novamente até virar uma criança, aquela que corria por todos os lugares puxando a mão do seu irmão, aquela que ria em todos os momentos sem se importar se era o momento certo, aquela que poderia ser protegida por outros.
Ele nunca havia temido a solidão, pois era algo que ele gostava antigamente, mas agora, parecia tão doloroso se encontrar completamente sozinho. Sozinho permanentemente. Sua mãe nunca mais poderia reclamar com ele por acordar atrasado, ele nunca mais veria seu pai tentando acalmar sua mãe e deixá-lo passar ileso de outro sermão, para que pudesse repetir o mesmo erro na manhã seguinte. Ele nunca mais teria que inventar mentiras para seus pais sobre seu atraso junto com Felix.
Por que ele nunca havia pensado antes que isso seria tão doloroso? Por que nunca havia passado em sua cabeça que teria que lidar com aquela perda tão cedo em sua vida?
Sim, ele era um homem adulto, ele sabia disso, tinha total conhecimento de sua própria idade. Mas por que agora ele voltava a se sentir como uma criança indefesa que não sabia como o mundo funcionava?
Ele tinha sido ingênuo, tão ingênuo. Sua ingenuidade seria a culpada de, agora, ele ter que enfrentar a dura realidade que ele tentou esconder de si mesmo durante anos.
Minho passou suas mãos em seu rosto com força, limpando as lágrimas que desceram ininterruptamente, não se importando em deixar seu rosto vermelho no processo.
Ele ouviu uma das portas serem abertas, o som ecoando no ambiente completamente silencioso. O Lee fez um trabalho melhor em limpar seu rosto e pegou o livro na mesa à sua frente, escondendo seu rosto.
— Conseguiu se adaptar ao castelo? — uma voz foi ouvida em cima de sua cabeça.
Minho virou-se rapidamente, dando de cara com o rosto de Jisung. Ele estava com os braços apoiados na poltrona, anteriormente observando a página que o Lee estava lendo.
— Me perdoe por assustá-lo.
Minho fechou o livro, o colocando de volta na mesa e encarou o Han. Ele não parecia muito diferente de quando se encontraram, realmente parecia estar com a saúde quase totalmente recuperada, mas ele continuava um pouco pálido.
— Está melhor? Ouvi dizer que estava doente — Minho perguntou, fingindo não dar importância, apesar de ter passado dias preocupado.
— Estou muito melhor, obrigado pela preocupação, Príncipe. — Jisung se sentou em outra poltrona ao lado do Lee. Minho arrumou sua postura, que antes estava toda torta. — Vai ao festival?
— Hm. O Rei Christopher me falou sobre o festival, irei dar uma olhada.
— Acredito que é a sua primeira vez?
— Sim, nunca fui antes.
— Deseja alguma companhia ou prefere ficar sozinho em festas?
Minho encarou o Han, um tanto surpreso. Ele não esperava que Jisung fosse se voluntariar a acompanhá-lo. Ele mesmo havia dito no dia em que chegaram ao reino que sua parceria tinha terminado. No entanto, o Lee não estava pensando em recusar, querendo ou não, o Han era a única pessoa que ele conhecia e poderia mostrar a ele os melhores espetáculos do dia.
— Acho que um pouco de companhia seria ótimo.
Jisung... Jisung... Quando digo para desconfiarem até de suas próprias sombras, é disso que eu estou falando.
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