Eu vou matar aquele garoto!
Eu sou um gênio, na moral! Eu fiz esse carro voar. Tipo, sair do chão controladamente, ou quase, era Johan quem estava dirigindo. Claro que eu sabia tudo que estava fazendo, obviamente não foi um esbarrão em um botão no painel do carro quando eu estava procurando o rádio. Sim, o rádio. Por que? Bom, uma musiquinha de fuga emocionante parecia combinar com a situação. Alguma coisa como Missão Impossível, pois é mais ou menos isso que está acontecendo. Eu estava lutando com Lindsey, a Kitsune, e não acabou muito bem. Eu apaguei e acordei na caçamba da Lindsey, a caminhonete, com um dragão e mais duas garotas atacando a gente, olha que legal!
Um formigamento começou na ponta dos dedos, se espalhando por todo o meu corpo como uma onda, de repente um gêiser explodiu na minha frente e foi para cima das meninas. Eu fiz isso?!
Depois tudo saiu de controle. Killiam desmaiou, Hiro o colocou na caçamba, Laís nocauteou uma garota e entrou na caminhonete e Johan começou a dirigir. Entrei rápido pela janela e esbarrei no botão. O carro decolou! Literalmente. Me senti em Harry Potter e a Câmara Secreta.
As garotas montaram no dragão e começaram a nos seguir. Olhei para trás e vi Hiro agarrado a um ferro da caminhonete. Voltei-me para Johan que também estava olhando para trás.
- Olha pra frente! Você está dirigindo! - gritei para ele me ouvir acima do som do vento entrando pelas janelas.
- A gente está no céu, o que você acha que pode acontecer? Atropelar o Buzz Lightyear?
- O Buzz não voa, ele é um brinquedo.
Nesse momento apareceu um bando de pássaros na nossa frente e o garoto deu uma guinada para o lado para desviar. Eu me agarrei à porta. Péssima escolha! No mesmo momento uma bola de fogo atingiu a porta, que abriu, me jogando para fora. Me segurei pelo braço ruim e uma dor muito forte percorreu o meu corpo, deixando minha visão escura. Acho que a única coisa que impediu o impulso de soltar foi os trezentos metros que nos separavam do chão.
Laís tirou uma corda da cartola e a jogou para mim, me puxando para cima.
- Você não está nada bem! - ouvi ela gritando. Pelo menos eu acho que foi isso, estava atordoada de mais para raciocinar direito. Ela colocou a mão na minha testa. - Vai mais rápido, Johan! Aguenta firme, Alice.
- Eu estou bem. - disse recuperando as forças. - Vamos acabar com essas meninas!
Espiei pelo retrovisor e presenciei o exato momento que outra bola de fogo atingia o vidro traseiro de Lindsey.
- Cuidado! - gritei abaixando. A bola não atingiu Hiro, mas derreteu o vidro e ateou fogo no casaco de Laís, que começou a gritar e a balançar os braços freneticamente. - Calma!
Será que eu consigo fazer de novo? Fechei os olhos e imaginei rios, lagos, cachoeira, privada, chuva, tudo que tinha a ver com água, daí vapor de água do ar passou a se condensar e formou uma pequena poça na minha mão, aumentando e aumentando. Eu joguei em Laís e o fogo extinguiu. O meio segundo em que isso ocorreu foi o meio segundo mais longo da minha vida. No antebraço da garota tinha um grande rasgo no casaco queimado e uma queimadura bem feia. Eu a olhei nos olhos.
- Isso vai doer - E joguei mais água delicadamente no ferimento. Ela gritou. Tirei uma pomada da cartola e fiz um curativo bem improvisado, enquanto Johan desviava de mais bolas de fogo e Hiro se esforçava para se manter, e provavelmente manter Killiam, na caçamba.
Nós duas nos viramos para o buraco recém derretido no vidro. Laís jogou uma bazuca para Hiro (o que eu não aconselho, mas tudo bem). Ela tirou uma mangueira da cartola e atingiu o fogo com a melhor arma. Água. Adorei essa menina! Ela é simplesmente incrível! Sua mira é impecável. Entendi o que ela estava fazendo, estava sendo um tipo de escudo para que elas não nos atingissem enquanto nós atacávamos. Não posso falar que Hiro era o tipo de lobo com a bênção de Téia, mas ele acertou a maioria dos tiros.
Também, olha o tamanho do alvo (Laís)
Ei! (Hiro)
Comecei a mirar os jatos de água, tentando atingir a boca na mesma hora do disparo. Algumas vezes eu acertei, o que deu uma boa desestabilizada no dragão. Em minha defesa, cada tiro parecia que levava parte das minhas forças junto, eu estava começando a ver três dragões, e não sei em qual mirar.
Me senti em uma perseguição policial, nós sendo os ladrões. Agora imagina isso em uma caminhonete a trezentos metros do chão, com um garoto de doze anos dirigindo e um DRAGÃO que cospe fogo com duas (agora uma) menina controlada por um titã como policiais. Bem divertido, não acha?
- Não podemos fazer isso para sempre! - gritou Laís.
Ela estava certa, e as meninas também pensaram a mesma coisa, pois deram uma investida contra o carro e nós nos vimos em queda livre. Pelos Deuses, eu nunca gostei de voar. Eu podia ter morrido de um jeito mais divertido né. Enfrentando uma matilha de lobisomens, uma galinha de Chernobyl, uma kitsune, um dragão. Mas não, eu tinha que morrer caindo de cara no chão.
Tudo ficou lerdo. Pensei que o Alex, tinha aparecido de novo. Seria capaz de abraçá-lo se pudesse me mexer. Mas não foi o Alex que nos salvou, desta vez. E sim, uma garota. Ela tinha o cabelo bem preto e longo, preso em um rabo de cavalo, seus olhos eram verde escuro e sua pele clara um pouco queimada de sol, seu porte era atlético e para completar, ela era alta. Eu me sentia um minion perto dela.
A observamos andar calmamente e tocar a testa das meninas. O tempo voltou ao normal e as meninas mudaram completamente de olhar. Pareciam confusas e assustadas.
- Quem são vocês? - A antiga “dragoa” perguntou, já armando os punhos para uma possível luta.
- O que? Essa pergunta não era tão pertinente a dois segundo quando vocês tentavam fritar a gente. - disparou Johan.
- Acalmem-se todos. - falou a garota.
- E quem é você? - perguntou a morena.
- É, eu também queria saber. - falou Laís segurando o braço machucado.
- Eu sou Nyo. Fui mandada por Tyler para levar vocês à Quebec. Vocês estavam demorando demais. - Ela se virou para as meninas. - Vocês estavam em um transe. O Julian está controlando varias meninas e vocês foram algumas de suas vítimas. Mas depois eu explico isso direito. Vamos logo, já nos atrasamos bastante.
- Espera! Cadê o Killiam? - falei
- E cadê a Emma? - disse a morena, provavelmente a Phoebe.
- Então... - começou Hiro - Hasta lá vista!
- O que isso quer dizer? - perguntou Laís
- Eles estão bem, eu acho. Estão com Tyler. Eles foram conseguir a cura dos duendes para a Alice. Qual de vocês é ela? - explicou Nyo.
- Eu não preciso de cura, eu estou bem. - protestei. - Mande-os voltar. O melhor que podemos fazer é ficarmos juntos.
- Não está bem nada. - gritou Laís.
- Espera aí... como ele sabe? - Voltei-me para Hiro, que estava escondido atrás de Lindsey - HIRO!!!
- Desculpa. - falou o garoto lobo. - Mas ele precisava saber, ele se importa com você. Não me mata por favor!
- Eu não vou te matar. - falei.
- Ufa!
- Ainda.
- O QUE?
- Brincadeira. - sorri. - Mas é sério. Eu estou bem. Não preso de cura nenhuma. Sem contar que precisa passar por um torneio para consegui-la, e tem grandes chances dele morrer. Se eu precisasse mesmo da cura, o justo seria eu conseguir a cura.
- Ele nao vai morrer. - falou Nyo. - Pelo que Tyler falou, ele é imortal, não é?
E ele também me disse que o seu ferimento é nada simples. Aqui não é seguro, vamos logo para Quebec, no avião a gente conversa direito.
- Eu não sei se você percebeu, mas a Lindsey está UM POUCO destruída. Não sei se ela vai aguentar. - falou Hiro. - Tadinha da minha garota!
- Quem disse que nós vamos de carro. - disse Nyo com um sorriso um tanto assustador. - Isso pode deixar vocês um pouco enjoados.
- Espera... não vou deixar o Killi... - comecei. Mas tudo ficou completamente escuro como se entrássemos em escuridão sólida. Apesar disso, tudo era fumaça. Tentei, em vão, tocar Laís que estava ao meu lado. Não tinha nada, nada era sólido, nem minha própria mão. Era como se meus átomos estivessem se separado e viajassem a 1000km/h, por um mundo totalmente imaterial. De repente tudo voltou ao normal, tão rápido quando um raio de luz.
Minhas pernas falharam e eu tombei para frente, me apoiando em uma superfície lisa e branca. Era um jatinho. Minha cabeça estava rodando, e os outros pareciam estar sentindo o mesmo que eu. Estávamos em uma espécie de base da aeronáutica, menor é o mais estranho, vazia. O chão era asfalto, tinham umas árvores ao redor e um balcão em forma de cúpula de vidro em cima. Ele estava com as portas escancaradas e também vazio.
- Onde estamos? - Laís estava com a voz um pouco esganiçada.
- Como a gente chegou aqui? - falou a morena com a voz um pouco enrolada.
- Em Quebec, e pelas sombras. - Uma voz masculina respondeu. Uma voz que vinha de onde estava Nyo.
- Ãh... Gente, eu acho que estou tendo alucinações. - Falou Hiro apontando para o garoto, que era assustadoramente parecido com Killiam.
- Quem é você? - falou a antiga dragão.
O garoto estava segurando o braço e dobrava para frente.
- Bom, eu sou... - o garoto começou a dizer. Foi aí que o reconheci.
- Damon?! O que você está fazendo aqui? Cadê a Nyo? - falei um pouco alto demais.
Damon estava praticamente o mesmo, só mais alto e forte. Seu cabelo preto estava maior, seus olhos esmeraldas pareciam estar sempre atento a tudo e sua pele estava um pouco mais pálida.
- Você conhece ele? - perguntou Johan.
- Nós éramos vizinhos quando mais novos. - expliquei.
- Brincávamos juntos todo dia. Éramos grandes amigos. - ele completou.
- Até você simplesmente sumir alguns meses depois de descobrirmos tudo sobre o mundo sobrenatural. Falando nisso, onde você foi? E, de novo, o que você está fazendo aqui? - continuei.
- É uma longa história. - ele falou. - Quando eu soube que você estava machucada eu vim o mais rápido que pude. Me fiz passar pela Nyo com a minha habilidade de metamorfose, Tyler a mandou buscar vocês, mas eu tinha que ver se você estava bem... Argh. - Ele fechou os olhos e segurou o braço de novo.
Corri até ele.
- O que houve? Está tudo bem?
- Sim, é só um efeito colateral da viagem nas sombras. Eu já estou acostumado. - ele tirou a mão do braço revelando uma cicatriz negra crescendo, como se renovasse. Sua pele naquele lugar era mais pálida e enrugada, como se ele se machucasse sempre no mesmo lugar, o que provavelmente é verdade.
- Então, onde está Nyo? - falou Hiro.
- Ela está na escola. Eu combinei de trocar de lugar com ela, mas Tyler é meio chato com essas coisas, por isso usei minha metamorfose. Agora vamos logo antes que alguma coisa aconteça. Entrem.
Eba, voar de novo.
Hiro, Johan, Laís, Phoebe e Melanie (O dragão) já tinham entrado e se acomodado. Virei-me para Damon.
- É legal te ver de novo. Estava com saudades. Obrigada por nos salvar.
Ele sorriu e disse que também estava com saudades.
Assim que subi, um estrondo ecoou por todo o lugar. Olhei para trás e vi uma árvore sendo arremessada na nossa direção.Ela desviou nos últimos segundos graças a alguma coisa que Damon fez. Um vulto passou na borda da pista, depois outro, e mais outro. Vários. Centenas. Mais coisas foram arremessadas: arbustos, pedras, galhos e até uma ovelha! Sim, uma OVELHA! Eles pararam na nossa frente. Quem estava dentro do jatinho colou o nariz no vidro para ver melhor.
Eram muito, muito, muito... fofos. Eram centenas de roedores dentucinhos de trinta centímetros com as mini patinhas junto ao corpo, parecendo a cria de um Tiranossauro Rex, um novelo de lã e um hamster. Eu sei que eu falei três animais.
Eles pararam de ser fofos quando atacaram, todos juntos, parecendo uma avalanche. Uma pergunta: como seres tão pequenos podem ser tão fortes?
- Entra! - gritou Damon enquanto colocava uma luva parecida com a de Killiam.
Damon puxou o ar e uma katana negra se materializou na sua mão. O garoto partiu para cima das criaturas como se fosse um demônio, se defendendo e golpeando em alta velocidade.
Damon atraiu vários para o outro lado da pista, mas muitos continuaram nos perseguindo e se amontoando no avião. Laís e Johan foram tantas fazer o jatinho voar, Hiro, Phoebe, Melanie e eu formamos um semicírculo ao redor do avião e tentamos afastá-los, sem sucesso. Eles são muitos e muito rápidos. Estavam destruindo tudo.
- Alice! - Hiro gritava - Está ouvindo isso? Um rio.
Como ele pode estar ouvindo alguma coisa nessa barulhada? Ae, ele é um cachorro. Entendi o que ele queria dizer. Pensei na correnteza do rio, nas infinitas gotas vindo na nossa direção, concentrei toda a minha força nisso e nada.
- Alice! - sua voz saia com mais urgência.
- Estou tentando! Não sei como controlar direito ainda.
Por favor, vamos lá, por favor...
- Rápido! - gritou a morena enquanto era engolida pela avalanche de hamsters, todos nós fomos.
Bati no avião, só conseguia ver pelos. Ainda dá tempo, vamos lá, por favor. Fiz uma reza rápida a Ocean. Estou ficando sem tempo, e sem ar.
Já estava quase perdendo as esperanças quando a onda finalmente chegou e os jogou a dez metros para trás. Ao mesmo tempo, Laís e Johan gritavam do avião ligado.
- Vem Damon! - gritou Hiro enquanto corri para o jatinho.
O resto o acompanhou. Tentei me levantar, péssima ideia. Meu braço doía mais que nunca, minha visão ficou turva. O jato de água não foi forte o suficiente, os bichos já tinham nos cercado de novo.
A última coisa que vi foi Damon dando uma verdadeira surra em todos os hamsters. Ele veio correndo até nós e um raio, vindo direto da sua katana, acertou os monstrinhos, salvando todos nós. Desde quando ele sabe fazer essas coisas? Ele é incrível. Apaguei.
Quando acordei estava deitada em duas poltronas do jatinho. Meu casaco estava apoiado em uma das mesas. Olhei para meu ombro. Manchas quase pretas estavam se espalhando, já passava da gola da camisa, na base do pescoço, até perto do pulso.
- Oi - disse Laís que estava ao meu lado. - Como você está?
- Bem. - falei.
- Tem quanto tempo que você enfrentou aquele lobisomem? - perguntou Damon.
- Uma semana
- Me surpreende você ainda estar viva. - ele disse com uma cara de surpresa. - Geralmente, sem remédio, as pessoas não duram nem um dia. Espero que eles cheguem logo com a cura. - sua voz era seria.
- O que você fez com os hamsters? Foi incrível! - falei.
- Eram groones. Não foi nada. Eu teria feito antes, mas não podia chamar a atenção da “mãe” deles, iríamos ter um problema bem maior, tinha que esperar até termos a rota de fuga.
- Inteligente. Onde você aprendeu a fazer essas coisas? - perguntou a morena.
- Longa história.
- Afinal de contas, qual de vocês é a Phoebe e qual é a Melanie? - falou Johan.
- Eu sou Phoebe - falou a morena. - E ela é a Melanie
- Sou Johan e esses são Hiro, Alice e Laís.
- Espera aí. Se estão todos aqui, quem está pilotando? - falei um tanto desesperada.
- Relaxa, está no piloto automático. - explicou Damon. - Agora descanse, vamos ter uma longa viagem. Todos devem descansar, eu vigio.
- Para onde nós vamos? - perguntou Hiro.
- Inglaterra. Tyler vai nos encontrar lá. Vocês vão para uma escola de mortais, um esconderijo. - ele virou e ficou de prontidão na janela.
Observei os últimos raios de sol. É muito legal ver Damon de novo, mas ele está diferente. Sério, com olhos fundos e ameaçadores, a aparência mais velha, apesar de ser apenas alguns meses mais velho. Espero que Killiam esteja bem. Fechei os olhos e dormi.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro