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Dias difíceis

Meu nome é Laís, tenho catorze anos e sou a irmã mais velha de Johan. Há duas semanas atrás, eu estava em uma escola para garotas controlada por um sujeito louco que hipnotizou a maioria das meninas da cidade, criando um exército. Até que um dia ele apareceu, Killiam, e tudo mudou.
Agora, estamos na Inglaterra, em uma escola para as pessoas que não possuem habilidades sobrenaturais. Estávamos divididos por dormitórios, Alice e eu ficamos no quarto dezessete, que ficava no terceiro andar, Hiro e Johan ficaram no cinco, no segundo andar. A Alice havia sido mordida no ombro por um lobisomem há quase um mês, a ferida estava piorando cada vez mais. Runas negras se espalhavam como veias pelo braço ferido da garota e se estendia até o pescoço. A garota ficava olhando pela janela na esperança de Killiam voltar.

-Também sinto a falta dele - Tentei puxar assunto - Mesmo não o conhecendo muito.

Eu realmente estava sentindo. Aquele garoto mudou a minha vida.

-Ele é muito teimoso! - reclamou Alice - Eu vou ficar bem! Ele não tinha que fazer nada disso!

Eu fiquei com medo dela explodir a privada do banheiro. Sentei na cama e olhei o armário.

-Você não vai melhorar, sabe disso.

A garota ficou em silêncio. Ela sabia que precisava da cura, só não aceitava o fato de não ter ido junto.

Damon entrou no quarto de surpresa e dei um pulo.

-Oi, meninas - Ele olhou para a Alice que estava olhando a janela e logo olhou para mim - Ele vai chegar logo.

O garoto foi até a Alice e ela se virou, encarando os olhos do garoto.

-Você sempre fala isso. - Ela o abraçou.

-Ele está em boas mãos - O garoto acariciava a cabeça da menina - Tyler é muito experiente.

Queria que Killiam estivesse aqui, pelo menos eu teria alguém para abraçar também. Eu estava sentindo a falta de Johan e Hiro. Os garotos não deram as caras desde que chegaram. Então saí da sala para procurá-los. Enquanto saia escutei alguém me gritando e me voltei para dentro do quarto, era Alice.

-Laís espera! Onde voce vai?

-Vou procurar os meninos, não os vejo desde que chegamos.

-Eu vou com você. Também estou ficando preocupada com eles. - falou a garota correndo atrás de mim, ou quase. Ela deu cinco passos e se apoiou na parede do corredor.

-Tudo bem? - perguntamos eu e Damon juntos. Ela fez que sim com a cabeça já desencostando da parede e voltando a caminhar.

Chegamos ao jardim de trás da escola. Era sábado, então, graças a alguém, não temos aula. Sério, abençoado seja quem inventou o fim de semana. Os meninos estavam jogando Uno embaixo de uma árvore e nós nos juntamos a eles no jogo. Estamos aqui a apenas 18h, chegamos ontem à noite então não conheço nada ainda, tirando Damon e Nyo (a garota que Damon parecia quando nos conhecemos e que agora jogava Uno com a gente), eles conheciam todos os lugares daquela escola e parecia que planejavam algo a muito tempo, algo secreto que ninguém sabia. Me sentia um pouco na série Teen Wolf, mas tudo bem.
 
Mal começamos a partida e a diretora nos chamou para mostrar a instituição. Era um internato realmente grande. Começamos pela sala dela, onde explicamos uma história inventada sobre nossos pais e como fomos estudar lá. Damon disse que Tyler foi buscar um amigo chamado Killiam que também vai estudar aqui, mas que é muito tímido então pediu para o garoto ir buscá-lo. Percebi que a saída deles tinha sido escondida, mas como apenas Damon voltou, e isso provavelmente não estava planejado, não deu tempo de formular uma desculpa melhor. Apesar disso a diretora nem fez maiores perguntas sobre isso, o que era estranho.

-O que aconteceu no seu braço? - ela perguntou à Alice apontando para a atadura em seu ombro.

-Eu caí de bicicleta e me machuquei. - falou a garota naturalmente, com tanta convicção que até eu acreditei.

-Vou levar você à área hospitalar para vermos isso está bem?

-Não precisa - acrescentou Alice rápido. - Meus pais já me levaram ao médico.

Depois de apresentarmos todos os documentos (falsos, mas quem precisa saber) necessários para a nossa transferência da nossa antiga escola (como eles arranjaram tudo isso tão rápido?), começamos um tour pela escola. Hiro e Alice eram os únicos que pareciam interessados no que a diretora falava. Ele se animava com absolutamente tudo enquanto Johan estava com a maior cara de tédio e Damon caminhava conversando com Nyo sem nem olhar por onde iam. Chamei meu irmão.

-Johan, obrigada por me salvar. - comecei.

-Eu não sabia o que estava errado comigo para eu te procurar, eu estava livre de você. - ele disse rindo. Dei um leve (mais ou menos) soquinho no ombro dele.

-Até parece, você não sobrevive um dia sem mim. - nós nos abraçamos - Que bom que você me encontrou.

A diretora mostrou os corredores cheios as salas de aula, biblioteca, laboratório e até um teatro. A escola era um semicírculo de dois andares com um telhado em forma de cúpula e aros de sustentação deixando uma das paredes dos corredores aberta para o ar livre. No meio havia um grande gramado onde estávamos sentados, algumas árvores e mesas se espalhavam por ele e, em um dos cantos, um lindo jardim se destacava. Passamos pela área hospitalar, por onde Alice passou quase correndo e chegamos ao refeitório. Um mundaréu de mesas compridas com bancos fixos e coloridos, as comidas separadas como em um restaurante self-service com umas moças servindo os alunos.

-Humm!! - disse Hiro com os olhos brilhando. - Chegou a melhor hora do dia!

-Eu estou morrendo de fome. - falei. - Johan! - gritei para meu irmão que já estava na fila para pegar a comida.

-Deixe-o - falou a diretora sorrindo. - Na verdade, vocês todos devem comer, podem se servir.

Entramos na fila de alunos para pegar nossa comida. Os pratos de Johan e Hiro pareciam montanhas. Alice comeu pouco e Damon nem pegou no prato. Nyo falou que já tinha almoçado e também não comeu nada. Nós sentamos na mesma mesa.

-O que deu em você Alice? - disse Hiro espantado - VOCÊ vai comer só isso? Geralmente você parece um poço sem fundo.

Pela reação de Damon e Hiro acho que eles estavam esperando um olhar de “vou te matar” da Alice, mas ela não parecia estar prestando atenção no comentário.

-Então, tirando a Alice, eu não conheço nenhum de vocês. - falou Damon.

-É verdade, meu nome é Hiro - falou o garoto de boca cheia e estendendo a mão como se estivesse vendo Damon pela primeira vez.

-De onde você veio Hiro? - perguntou Damon enquanto apertava a mão estendida.

-Bom, eu estava na floresta de Hellish quando a Alice me atropelou com uma caminhonete branca desgovernada. Eles estavam sendo seguidos por um bando de lobisomens e eu acabei me juntando a eles. - explicou o garoto.

-Mais uma vez, me desculpa Hiro. - falou Alice envergonhada.

-Tudo bem, eu já superei.

-Mas da onde você é, tipo, sua família. - perguntei.

-Bom... é... você já meio que os conhece. - falou o garoto apontando para Alice. - A matilha de lobos que estava perseguindo vocês, bom, eles são minha matilha. Pelo menos, eles eram. Não sou igual a eles, não quero machucar ninguém, mas eles não me entendiam, então eu fugi. Eles foram atrás de mim, mas farejaram alguma coisa poderosa e desviaram do objetivo inicial. Também sinto esse enorme poder, vindo de... Killiam. Ele realmente é muito poderoso, algo que nunca tinha visto antes, mas ele precisa aprender.

-Sinto muito pela sua família Hiro. - falou Alice abraçando-o, eles pareciam amigos tão próximos que quase não dava para acreditar que se conheciam a tão pouco tempo.

-Não sinta. Estou melhor assim. E vocês são minha nova família. - ele sorria. - E vocês, de onde vieram? - Hiro apontava para Johan e eu.

Congelei e senti que meu irmão fez o mesmo. Não é fácil falar do passado, principalmente quando está tentando deixá-lo para trás. Coisas estranhas vinham acontecendo em casa e nós deixando de pertencer àquele lugar. Fiquei feliz de não ter que voltar para casa depois de sair daquele lugar controlado pelo titã.

-É... nós... bem... nós não... - meu irmão gaguejava.

-Melhor mudarmos de assunto. - falei rapidamente e ele sorriu para mim.

Depois do almoço terminamos de ver nossos horários e passamos o resto do dia relaxando e fazendo absolutamente nada. Exatamente como eu queria passar todas as horas. Divido o quarto com Alice e duas outras garotas, Louren e Vívian. Elas não falaram muito com a gente desde que chegamos, mas também não ficamos muito juntas. À noite Alice gemeu muito, ela suava frio e se revirava na cama acordando todas nós.

-Faça ela parar! - falou Vivian

-Não consigo dormir, e amanhã temos um jogo cedo. Nós somos líderes de torcida, precisamos estar dispostas. - reclamou Louren com um tom de arrogância na voz.

É sério? Isso era só o que me faltava. Pensei enquanto balançava Alice de leve para acorda-la.

Os próximos dias passaram estranhamente devagar. Talvez seja a expectativa de rever Killiam, o medo de saber se ele estava bem que se alastrava por todos nós, ou as aulas que começaram e nos deixava atarefados demais. Alice andava meio sumida, aparecia apenas nas aulas e nas horas de refeição. Ela falava que estava com muitos deveres, mas sabia que ela estava escondendo que sua situação piorava a cada dia. Se Killiam não chegar logo com a cura... Não vou nem pensar nisso.

Hiro, Damon, Nyo, Alice, Johan e eu ficamos mais próximos devido a algumas dificuldades de socialização, se é que me entendem. Ninguém parecia notar as orelhas e o rabo de Hiro, mas é melhor assim, não vou questionar.

Já se passaram quase uma semana e nada do Killiam aparecer. Sexta depois da aula eu e Alice fomos no nosso quarto guardar nossas mochilas antes do almoço. Colocamos as mochilas na cama enquanto conversávamos. Alice parou de repente e colocou a mão na cabeça.

-Ei, está tudo bem? - perguntei. A menina ia fazer que sim com a cabeça, mas suas pernas dobraram e ela caiu para frente. Corri para segura-la, mas ela bateu no chão pouco antes deu chegar. Coloquei sua cabeça no meu colo. Ela suava, estava pálida e fervendo em febre. Sua respiração estava fraca e ela estava com olheiras nos olhos. As manchas se espalharam pelos braços, pescoço e parte do tronco. Como não vi isso antes?

-Damon! Hiro! Nyo! Johan! Me ajudem! - gritei.

Eles apareceram correndo e nós a levamos para a ala hospitalar.

-Não podemos deixá-la aqui. Como vamos explicar o que aconteceu com ela? - Johan argumentava.

-Eles não vão saber. É complicado de explicar, mas eles não vão saber, confiem em mim. - falou Nyo.

-Ela vai ficar bem. - falei para acalmar Damon que segurava a mão da menina.

-Aguenta Alice, só mais um pouco! - ele sussurrou.

Damon realmente estava abalado. Hiro nem se fala, o garoto lobo andava de um lado pro outro uivando. A diretora entrou como um raio na ala hospitalar preocupada.

-O que aconteceu com ela? - dizia atropelando as palavras.

-Eu... eu não sei. Ela estava bem e de repente desmaiou. - falei tentando parecer o mais convincente possível.

A diretora colocou a mão no nosso ombro e garantiu que tudo ficaria bem. Ela nos conduziu para fora da sala.

-Vamos deixar a enfermeira examina-la.

Já escurecia quando Hiro e Johan foram para os quartos. Vários alunos passaram comentando e fazendo suposições sobre o que estava acontecendo. Damon não parava quieto, estava quase fazendo um buraco no chão de tanto andar para lá e para cá, literalmente.

-Ela vai ficar bem. - falei tentando acalma-lo

-Eu sei que vai. - ele respondeu com um sorriso forçado. Ele olhou em meus olhos e perguntou. - Por que você mudou de assunto quando perguntaram da sua família?

-É uma longa história. Não quero falar sobre isso. Mas é você?

-Longa história. - nós rimos. Eu sei que não foi engraçado, mas o momento estava tão tenso que foi meio que uma necessidade.

A enfermeira finalmente saiu da ala hospitalar e foi em silêncio com a diretora para a sala dela. Damon e eu fomos até a cama onde Alice estava. Ela estava pálida, mas estava respirando, o que é muito bom. Ele sentou em um banco ao lado dela.

-Ei, vai dormir. Eu vou ficar aqui com ela essa noite. Você precisa descansar. - disse enquanto colocava a mão em seu ombro.

Ele relutou com a ideia, mas eu finalmente o convenci. Eu o acompanhei até a porta quando um alvoroço começou e parecia vir na nossa direção. Vi a garota ruiva que tinha poderes de fogo que lutou contra a gente e um garoto de cabelo preto carregando, um outro garoto de cabelos brancos platinado no colo. Gelei ao perceber que era Killiam.

-Tyler? O que aconteceu? - perguntou Damon com os olhos arregalados.

-Longa história, cara. Chame a enfermeira Clotis. Agora!

Corri para chamá-la. Novamente saímos da sala hospitalar quando ela chegou e ficamos esperando. Já eram duas da manhã quando ela saiu e nós mandou irmos para os quartos. Nesse tempo, Tyler já tinha nos deixado a par de tudo que tinha acontecido e nós criamos uma desculpa para a diretora.

Não dormi nada bem essa noite. De manhã, fui direto à ala hospitalar. Todos os outros já estavam lá e tive que lutar contra uma multidão de alunos curiosos.

-Chega, não tem nada para ver aqui! Voltem para seus afazeres. - gritou a diretora e todos se dissiparam resmungando.

-Como eles estão? - perguntei para Hiro

-Não sei. Não nos deram informações. - respondeu o garoto.

-Podemos vê-los? - perguntou Nyo para a enfermeira que tentou resistir, mas acabou cedendo ao pedido.

Assim que entramos na sala, Alice estava se remexendo. Corremos até ela. A garota abriu os olhos e parecia assustada. Todos estávamos em volta dela.

-Meus Deuses! Que bom! - disse Damon. A garota sorriu e olhou para o lado.

-Killiam? - ela levantou tão rápido não conseguimos impedi-la e correu até o garoto do outro lado da sala. Ele também começava a acordar.

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