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Anne chorou por algumas horas. Era madrugada e estava muito frio e ela não tinha para onde ir.

    Ainda usando o uniforme do manicômio, ela precisava achar um lugar para se esconder antes que o sol nascesse, caso contrário, seria facilmente encontrada.

O choque ainda tomava conta do seu corpo, enquanto ela tentava digerir tanta coisa ruim acontecendo ao mesmo tempo. Sarah a odiava, a via como uma inimiga mortal e ela não entendia como tantos anos de amor poderiam resultar em um ódio como aquele.

E Ruel estava vivo. Tudo porque ela não era boa de mira e apesar de já desconfiar que aquilo iria acontecer, ainda era chocante olhar naqueles olhos sem vida mais uma vez.

A noite era escura, Anne já começava a sentir frio enquanto tentava imaginar algum lugar para ir, talvez para casa, apesar de Anthony ter toda aquela mágoa, ele jamais a deixaria na rua.

É, ela precisava de casa.

— Você não deveria estar na rua a esse horário, garotinha. — Anne sentiu seu coração acelerar mas se acalmou aos poucos, ao ver que não era o Van Dijk.

— Não se aproxime. Eu matei um homem. — Anne se levantou, enquanto o homem assustador, que aparentava ter mais de 50 anos, a olhava com um sorriso perturbado.

— Você? Acho que é mentira! Você é só uma garotinha assustada, garanto que é de menor, do jeito que eu gosto.

— Cala a porra da boca, seu nojento.

Só podia ser piada, Anne tinha o dom de conhecer os piores homens do universo. O homem parecia perverso, enquanto se aproximava da garota, que sentiu suas pernas tremerem enquanto dava passos para trás.

— Você não tem pra onde ir e não adianta gritar, ninguém vai ouvir.

Aos poucos Anne sentiu o desespero a invadir, procurando por algo que pudesse usar para acerta-lo mas nada estava ao seu alcance, ela estava encurralada.

Ou era o que imaginava, até que o homem cambaleou para trás, se debatendo enquanto recebia um mata-leão. Anne deu um passo para trás, encarando Ruel enforcar o homem em sua frente mas não sentiu remorso, aquele homem merecia.

— Cheguei a tempo, ele não encostou em você, certo? — Ruel perguntou, com o olhar parado e vazio fixo na ela. — Responda, Anne.

— Não! Mas não precisava, eu sei me defender. — Anne desviou o olhar, observando o homem ficar vermelho e perder as forças aos poucos.

— Não sabe, não mesmo. — Ruel revirou os olhos, ela era muito orgulhosa. — Pode ir, você precisa se esconder de mim.

— Você é louco. — Anne comentou, sem entender porque ele continuava dando aquelas chances.

— Talvez me falte coragem, ou eu apenas quero me divertir com você.

— Não vai me encontrar, não mais.

— Por que você nega tanto, Anne? — Ruel soltou o homem, que despencou em direção ao chão, sem vida, Anne não ligou, nem sequer olhou para ele, estava mais interessada em encarar os olhos sombrios. — Eu te encontro em todas as vezes, você sempre volta pra mim.

Tinha razão, em todas as vezes ele tinha razão. Anne estava exausta, era madrugada e ela sequer conseguia aguentar com o próprio corpo. Talvez pudessem ser melhor juntos, afinal ambos eram foragidos agora.

— Preciso de um lugar para ficar.

E então Ruel sorriu, a noite seria longa.

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