segredos.
Kim Hyeri chegou em casa batendo a porta. Seu sobrinho, Jungwon, estava sentado na sala brincando com Yeri, e a encarou, confuso. Hyeri aproximou-se do garoto, quase enterrando os saltos no piso.
─── Onde está Sunoo?
Jungwon entendeu o que havia acontecido no mesmo momento. Desviou o olhar, tentando pensar qual seria a melhor resposta para dar a sua tia. A sra. Kim, no entanto, não estava gostando nem um pouco da demora.
─── Yang Jungwon, onde está se primo? ── Não gritou, mas a sua voz dava a ênfase perfeita para assustá-lo.
─── Eu... Eu não sei. ── Respondeu, encarando o chão.
─── Sim... Você sabe. ── Bufou a mulher. ─── Eu procuro se não quiser me falar.
O garoto não sabia o que fazer. Seu primo estava no banheiro, e havia deixando o celular com ele. Não havia como avisar do temperamento de Hyeri. Observou a mais velha andar rapidamente em direção às escadas, provavelmente esperava que seu filho estivesse grudado no computador em seu quarto, o que era bem típico de Sunoo. No entanto, ele estava abrindo a porta do lavabo mais próximo, o qual tinha visão para a sala. Jungwon cruzou olhares com o primo. Tentou ao máximo transmitir sua mensagem apenas pelo olhar, mas não foi o bastante. Sunoo não entendeu o que queria dizer, e continuou andando ao encontro do mais novo e Yeri.
─── O que foi? Que cara é essa? ── Exclamou com um sorriso no rosto, alto o bastante para que Hyeti ouvisse.
─── Kim Seonwoo.
Os passos pesados de sua mãe logo tiraram o seu sorriso do rosto. Ela sempre andava com delicadeza, e nunca o chamava pelo nome completo. Engoliu em seco, esperando o que viria. No entanto, não imaginava que fosse ser justo aquilo.
─── Você é gay, Sunoo? E está de namoro com aquele... Aquele adolescente irresponsável? ── Gritou.
Foi o bastante para fazer Yeri, que brincava pacificamente no tapete da sala, chorar. Jungwon a abraçou, precisava tirá-la de lá. Sentia pena de Sunoo, sabia que esse assunto era muito delicado na família dele, e como era o único parente ─ além de Yeri, claro ─ que sabia sobre. Pegou na mão da pequena, e rapidamente subiu os degraus para até o quarto da garotinha. Sunoo acompanhou o primo e a irmã com os olhos, realmente seria melhor se ela não visse aquela cena. Sua mãe, furiosa, aproximou-se ainda mais.
─── Sunoo. Me responda. ── Não gritava mais, mas falava com a expressão seria o bastante para intimidar.
─── Você... Já sabe não é? ── Respondeu baixinho.
─── E você só achava que iria conseguir se safar escondendo de mim e de seu pai? Você sabe exatamente o que pensamos disso. Ah... Você é um caso perdido. ── Hyeri suspirou, tentando manter a calma, e arrumou a franja. ─── Vá para seu quarto. Não quero mais ver seu rosto.
─── Mãe... ── Levantou o olhar, mas ela ainda o encarava da mesma forma, uma mistura de desprezo e desapontamento.
─── Eu vou falar com seu pai hoje quando ele voltar de viagem. Vamos decidir o que fazer sobre isso. Só saia da minha frente. ── Virou o rosto, caminhando para a cozinha.
Sunoo estava quase deixando as lágrimas caírem, mas segurou tempo o bastante para conseguir subir para seu quarto e trancar-se. Sua mãe descobrir já era ruim, mas se seu pai descobrisse... Talvez até acabe tendo que sair de casa. Sentou-se no chão, ao lado da porta, e começou a chorar baixinho. Talvez apenas negar tudo e fingir gostar de garotas resolva? Mas sua mãe parecia tão certa do fato de estava namorando Sunghoon... Mesmo que há poucos dias antes estivesse de negação. O que havia entregado?
Ouviu algumas batucadas em sua porta. Calmas demais para ser de sua mãe. Levantou o rosto, e limpou-o com a manga.
─── Sunoo, sou eu. ── Soou a voz familiar.
Sunoo abriu a porta para seu primo, que entrou no quarto já esperando encontrá-lo daquela maneira. Fechou a porta atrás de si, e o olhou com pena.
─── Vem cá, me dá um abraço. ── Abriu os braços. Sem pensar muito, abraçou-o com força, o que o deu ainda mais vontade de chorar. ─── Já sabe o que irá falar para Sunghoon? ── Perguntou baixinho.
Sunoo soltou-se, e andou até a sua cama. Não sabia o que falaria, mas não o contaria sobre a situação. Sunghoon já tinha muitos problemas para cuidar sozinho, não precisava se preocupar com a família homofobica de seu namorado.
─── Ele não pode saber.
─── Sunoo...
─── Jungwon, isso vai acabar com o nosso relacionamento. E essa é a última coisa que eu quero que aconteça. ── Tentava falar sem cair nas lágrimas novamente.
─── Isso não vai acabar bem. Além disso, como você vai continuar se encontrando? A tia não vai te deixar sair de casa mais. ── Retrucou.
O que Jungwon falava fazia sentido. Agora sua mãe provavelmente iria empurrar garotas para ele, e impedir que saia com seus amigos. Todos os dias vão ser insuportáveis com ela no seu ouvido. Não tinha como fugir.
Mas mesmo assim, não queria preocupar seu namorado. Precisava mostrar que também sabia lidar com seus problemas.
⏳
Sunghoon, sentado no sofá, ouve a fechadura da porta abrir-se, já sabendo exatamente quem era. Abriu um sorriso, vendo sua mãe e Seol entrarem pela porta. A garota nem mesmo falou nada, fez a volta até o sofá e agarrou a perna de seu pai.
─── Papai.
─── Aconteceu alguma coisa, amor? ── Ele passou a mão pelos cabelos finos da menina.
─── A vovó me deu bronca. ── Fez um biquinho com os olhos, e olhou rapidamente para a mais velha.
Sunghoon vira-se para a sua mãe, com um sorriso sapeca nos lábios. Sua mãe nunca repreenderia por nada.
─── O que ela fez, mãe?
─── Ficou colocando o braço para fora da janela só porque abri. ── Suspirou, tirando a bolsa que carregava.
─── Mas o ventinho era bom! ── Contestou a menor, cruzando os braços.
─── É perigoso, pode te machucar. A vovó estava certa. ── Riu baixinho.
Seol revira o rosto, e foge para seu quarto. Provavelmente brincaria até acabar adormecendo no tapete do seu quarto. Sunghoon pegou seu celular, e começou a checar as notificações. Hyeonsung, agora que sua neta havia ido embora, lembrou-se do que estava pensando desde que saiu da creche. A conversa que teve com a suposta mãe do namorado de seu filho havia sido bem esquisita. Ela não agia como se soubesse da situação, o que deixou Hyeonsung preocupada. Não gostava da ideia de seu filho estar namorando alguém não assumido, especialmente alguém que morava com os pais como Sunoo.
Sentou-se ao lado do filho, e não demorou muito para que ele percebesse a intenção de sua mãe.
─── O que foi? Falaram alguma coisa na creche? ── Perguntou, colocando o celular de volta no bolso.
─── Bem, queria te fazer uma pergunta, na verdade. É sobre o Sunoo. ── Encarou seu filho seriamente, o que o deixou um tanto preocupado.
─── Algo de errado? ── Riu para descontrair o clima pesado que sua mãe havia criado.
─── Ele é assumido para a família dele?
Sunghoon engoliu em seco. Ela sabia?
Desviou o olhar, e voltou a rir, sem jeito. Se sua mãe soubesse, com certeza não aprovaria.
─── Claro que sim.
Hyeonsung suspirou, pensativa.
─── Por que a pergunta?
─── Hoje eu me encontrei com a mãe dele. Ela não parecia saber sobre vocês dois, e me olhou estranho.
Sunghoon arregalou os olhos, aquilo não podia ter acontecido. Elas realmente precisavam se encontrar? Mas se pensasse bem, a situação estava favorável ao encontro. Como poderia ser tão idiota? Sem saber exatamente o que responderia a sua mãe, pegou o celular do bolso novamente.
─── Eu preciso fazer uma ligação. Já volto. ── Levantou-se já desbloqueando a tela, e procurou o contato de Sunoo no caminho para o quarto. ─── Merda.
Acomodou-se na sua cadeira enquanto esperava-o atender. Não poderia estar mais preocupado naquele momento. Hyeri não parecia ser nem um pouco tolerante com os seus ideais.
─── Sunghoon? ── Ouviu a voz baixa do outro lado da linha.
─── Sunoo! Sunoo, meu Deus. ── Começou, tentando conter-se. ─── Sua mãe, ela descobriu não é?
Um silêncio se deu por alguns segundos.
─── Sunoo?
─── Sim. Ela descobriu. Mas está tudo bem.
─── Mesmo? ── Sorriu pequeno.
─── Sim. Está tudo bem.
Aquilo tirou um grande peso do coração de Sunghoon, o único problema era que não era verdade.
⏳
Era estranho. Aquela semana estava sendo estranha. Sunoo estava recusando a os seus convites, dizendo estar ocupado depois das suas aulas. Ele sorria para Sunghoon sempre, mas do nada ficava na dele, apenas pensando no cantinho. Estavam apenas se vendo no almoço e entre aulas. Sunghoon não podia reclamar, pois ele também era muito ocupado, e sempre contava com o tempo livre extra do namorado para poderem se ver.
Depois de quase uma semana o vendo tão cheio com a sua rotina, decidiu que deveria fazer alguma surpresa para deixá-lo mais alegre. Sunghoon sabia exatamente como excesso de trabalho poderia causar estresse.
─── Papai, que cheiro é esse? ── Seol perguntou da sala, onde estava assistindo seus desenhos.
─── Bom, não é? São biscoitos.
Pode ouvir passinhos vindo em sua direção, o que o fez rir. Sabia que Seol gostava bastante de biscoitos com gotas de chocolate.
─── Vão ficar prontos quando? ── Sorriu para o forno.
─── Logo, logo. Mas dessa vez, os biscoitos não são para você. ── Falou em um tom provocativo, já esperando a reação da menina.
─── São pra quem? Não posso pegar nem um? ── Fez carinha triste, derretendo o coração de seu pai.
─── Claro que pode pegar um, amor. Dois até. Fiz bastante para não te deixar sem. ── Retirou a luva para afagar os cabelos da filha.
─── Isso! ──Sorriu animada, dando uns pulinhos. ─── Mas pra quem são os outros?
─── Para o Tio Sun.
─── Por que?
─── Ele anda ocupado. Vou fazer uma surpresa para deixá-lo feliz. ── Sorriu mais para si mesmo. Estava cada vez mais apaixonadinho por aquele garoto baixinho.
Assim que os biscoitos ficaram prontos, colocou uns oito dentro de um potinho, e os outros dois entregou à sua filha. Iria ir até a casa de Sunoo, e entregá-los pessoalmente. No entanto, não queria levar Seol consigo para isso, mas deixá-la sozinha também não era uma opção. Só sobrou uma possibilidade.
A campainha tocou, e Sunghoon correu até a entrada. Destrancou a porta, e a sua melhor amiga, Shin Ryujin entrou.
─── Seol! Olha quem veio ficar com você? ── Foi a primeira coisa que disse, já indo na direção da criança que comia pacificamente na mesa da cozinha.
─── Tia Ryu? ── Falou com as mãozinhas sobre a boca.
Sunghoon sabia que talvez sua filha acabasse aprendendo novas palavras questionáveis, mas Ryujin era confiável.
─── Olha, eu já estou indo. Não ensine nada de estranho para ela, tá? ── Encarou a amiga enquanto se arrumava para sair.
─── Sim, sim. Nós duas vamos nos divertir bastante, não é? ── Virou-se para a menininha, que de boca cheia, apenas concorda.
Sunghoon sorri uma última vez antes de deixar o seu apartamento, e descer para o seu carro. Colocou o pote com biscoitos no assento de carona, e seguiu caminho até o condomínio chique de Sunoo. Dessa vez, nem precisaria chamar no interfone, pois seu namorado havia o dado a senha nos primeiros dias, com o objetivo de coisas bem como essa acontecessem. O porteiro também já estava começando a lembrar de seu rosto.
Estacionou onde costumava, e pegou o potinho com biscoitos ao lado. Saltitando, foi até a porta da frente, e tocou a campainha. Alguns segundos depois, a porta foi aberta por Sunoo.
─── Surpresa! Fiz biscoitos com gotas de chocolate para você e a Yeri.
Sunoo arregalou os olhos, assustado, ao ver Sunghoon. O mais velho, estranhando, pensou estar incomodando-o em meio a algo importante.
─── Se ainda estiver ocupado eu posso ir embora, mas fique com os biscoitos. ── Ergueu o braço.
─── Por que não me avisasse? ── Indagou enquanto olhava para trás. ─── Ah, obrigado... Mas eu realmente... ── Estava feliz, mas não conseguia não preocupar-se.
─── Por que você está agindo assim?
Pegou o pote com a mão livre, pois a outra ainda segurava a maçaneta da porta.
─── Sunoo, quem está na porta? ── A voz de Hyeri aproximou-se.
─── Mãe. Não é... ── Sunoo tentou fechar a porta, mas a mão de Hyeri impediu-o.
A mulher encarou o garoto à frente de sua casa uma vez, e depois voltou os seu olhar para o filho. Sem expressar nada, levantou a mão e deu um forte tapa na bochecha de Sunoo. Sunghoon levou as mãos à boca, surpreso. O que estava acontecendo? As coisas não estavam bem?
─── Quem você pensa que é para mentir para a sua mãe?! ── Gritou. ─── Eu já te disse para terminar com ele. É literalmente o pior tipo de pessoa possível para você se comprometer com.
Hyeri jogou um último olhar de desprezo para Sunghoon, antes de puxar Sunoo de volta para dentro, e fechar a porta na cara do garoto. Sunghoon começou a tremer, aquela surpresa não poderia ter ido pior. Era aquilo que Hyeri pensava sobre si? E acima de tudo, porque Sunoo não o contou nada e deixou que descobrisse da pior maneira possível?
Voltou para o seu carro de cabeça baixa, ainda em choque demais para chorar.
⏳
─── Mãe! Tinha que dizer aquilo na cara dele?! Ele não é de ferro. ── Retrucou Sunoo, tentando não aumentar sua voz.
─── Você quer outro tapa, Kim Seonwoo?! ── Ameaçou, novamente aos gritos. Sunoo engole em seco. Ainda ardia. ─── Não basta você gostar de meninos, mas ainda mais insiste em namorar um cara com filhos? Você só tem dezenove anos, Sunoo. Dezenove! ── Continuava falando alto, enquanto o mais novo só encolhia-se cada vez mais. ─── Acabe com essa palhaçada agora se você quer continuar morando sobre o meu teto. Se não, pode considerar-se fora da nossa família. Já imagino as coisas que você anda ensinando Yeri...
Não houve resposta, mas a mais velha não parecia importar-se, apenas voltou para a sala de estar. Aquela era a primeira conversa que teve com a sua mãe desde o dia em que teve que se assumir à força. De resto, eram apenas palavras secas. Se acabasse realmente o seu relacionamento com Sunghoon, talvez tivesse uma chance de reconciliar-se com a sua família. Continuar o segredo também não seria uma opção aos olhos de Sunghoon. Como poderia escolher entre um dos dois?
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