responsabilidades.
─── Papai! Papai!
Mesmo feliz por finalmente ouvir sua filha chamá-lo de papai ─ algo que somente fazia há poucos meses, mesmo morando com Sunghoon há um ano ─ estava cansado demais para atender a seu pedido, mas não podia ceder a comodidade e apenas ignorá-la, uma vez que estavam sozinhos.
─── Sim, querida? ── Sua voz estava pesada, típico de alguém sonolento que mal havia dormido.
─── Eu tô com fome. Eu quero comer cereal. ── Ela ergueu seus bracinhos para passar as mãos na cara de seu pai. ─── Acorda papai.
─── Tudo bem, Seol. Me espere na cozinha.
A pequena sorriu alegre, e correu para fora do quarto. Lentamente, Sunghoon sentou-se na cama, resmungando. Cuidar de Seol estava sendo difícil, mas achava que valia a pena, pois podia ver aquele sorrisinho adorável quase todos os dias.
Ela tinha apenas quatro anos, e Sunghoon, somente vinte. Não é preciso analisar a situação a fundo para saber que a garotinha havia sido um acidente, fruto de dois adolescentes irresponsáveis. Foi uma situação desesperadora, com certeza. Ele tinha apenas quinze anos anos quando recebeu a notícia que iria ser pai. O Aborto nem foi uma opção, os pais de Wonyoung, sua namorada na época e mãe de Seol, eram religiosos demais para que a filha pudesse realizar tal "pecado".
O mundo de Sunghoon desabou, e como qualquer adolescente, estava com medo das consequências, e nem mesmo contou a sua mãe. Sabia que um dia ela eventualmente descobriria, mas mesmo assim não conseguiu juntar a coragem necessária. Sra. Park teve que descobrir pelos pais da garota, que vieram falar com ela assim que Wonyoung confessou quem era o pai. Incrivelmente, o jovem casal ainda estava junto e mantiam uma boa relação, a qual foi desmanchada com o tempo.
A mãe de Sunghoon ficou furiosa, e o garoto teve que lidar com todos os castigos e sermões. No entanto, combinou com os pais de Wonyoung que cuidariam da criança até filhos terem condições de cuidar sozinhos. O período de gravidez foi tenso para a garota, a qual teve que tirar longos períodos de ausência da escola. Os colegas não levaram a situação bem, ela sofria muito preconceito, sendo o namorado o único que realmente se importava. O garoto se sentia culpado, pois sabia que a culpa era realmente dele, mas nunca realmente se esclareceu para ela, somente permaneceu ao seu lado.
Depois do nascimento da criança, Wony e seus pais decidiram se mudar, e levaram Seol junto, desmanchando o acordo que tinham com a Sra. Park, que passou a somente mandar ajuda financeira para os Jang. Não houve muita persistência em manter o bebê com a família do pai, uma vez que era muito mais seguro em uma casa com uma dona de casa como a Sra. Jang. A mãe de Sunghoon era enfermeira em um pronto-socorro, mal tinha tempo para o filho, imagina para um recém nascido. Devido às condições, concordaram em ver Seol apenas de vez em quando.
Os anos seguintes foram tranquilos, mas com a correria para a entrada na faculdade, a frequência com a qual ia visitar a sua filha era menor, pois Wonyoung morava relativamente longe. Entrou no curso que desejava, ciência da computação, e conseguiu um emprego de meio período para tentar estabilizar-se. Chegou a comprar um pequeno apartamento, com a ajuda da mãe. Seol acabou tendo o Sr. e a Sra. Jang como seus pais, e não enxergava Sunghoon como pai de forma alguma, era visto somente como um "tio legal" que a visitava de vez em quando. O mesmo aconteceu com Wony, que era chamada de irmã.
Park sentia a necessidade de mudar isso, pois eventualmente pegaria parte da guarda. Mas não esperava que fosse acontecer tão cedo.
O Sr. e Sra. Jang morreram juntos, em um acidente de carro, deixando Seol para trás. Em meio ao choque que Wonyoung passava, os Park acolheram a garotinha, que não entendia o que estava acontecendo. O universitário levou a filha para seu apartamento, por causa das poucas horas vagas da sua mãe. Foi o período mais difícil da sua vida, mas também foi quando mais se envolveu com Seol, o que o deixou muito feliz. Amava demais a sua filha, e todo aquele cansaço no fim do dia valia a pena quando a buscava na creche e ela corria para abraçar as suas pernas.
Era como a sua recarga. Eventualmente, Wonyoung também tomou parte em cuidar da criança, mas dividindo a guarda. Depois de um ano, as coisas finalmente estavam indo melhor. Mas a melhor coisa, de longe, para Sunghoon, era Seol o chamar de papai.
─── Papai? ── A menina estava na porta, apenas mostrando sua cabeça, apoiando-se na parede com as mãozinhas gorduchas. ─── Vamo.
Sorriu de leve, mantendo a postura cansada. Havia ficado mais tempo sentado refletindo sobre a vida do que deveria ter ficado. Levantou-se e bagunçou seus cabelos com um leve gesto, enquanto abria sua boca para um bocejo. Antes de sair do quarto, checou o horário no seu celular.
Eram apenas seis e meia da manhã, e sua primeira aula era somente às oito e meia. Sempre achou que crianças dormissem mais do que o normal, mas sua Seol definitivamente não fazia isso. Provavelmente ela dormia demais no "horário da soneca" da creche.
Chegou na cozinha e deparou-se com a cena mais adorável: sua filha, sentada em uma das cadeiras da sala de jantar ─ a qual era aberta para a cozinha ─, com os bracinhos em cima da mesa que mal conseguia alcançar. Balançava as pernas, impaciente, e não tirava os olhos do seu pai.
─── Cereal!
─── Tudo bem, tudo bem. Vou pegar para você, okay? ── Riu da situação.
Sunghoon pegou a tigela favorita da garota e a pos sobre o balcão, colocando um pouco de leite e o resto de cereal. Precisava ir ao mercado logo, mas não tinha muito tempo, então pediria a sua mãe para que fizesse compras duplas da próxima vez.
Entregou a tigela para sua filha, e sentou-se ao lado, para poder observá-la. Sabia que não poderia fazer isso por muito tempo, no entanto. Tinha uma tarefa não completa da faculdade, a qual também havia o privado de sono na noite anterior. Seu projeto estava ficando muito bom, já poderia ganhar uma nota decente com o resultado atual, mas Sunghoon não ficava satisfeito com notas decentes.
─── Filha, papai vai ir trabalhar. Qualquer coisa é só chamar, tudo bem? Quando acabar deixe seu prato na mesa, papai limpa depois. ── Acariciou a cabeça da menina, que apenas concordou ainda com a colher na boca. Já estava acostumada com a rotina o pai, sua mãe era igual.
Voltou para o quarto rapidamente, pois tinha tempo limitado. Como pai solteiro e pessoa de exatas, tinha o tempo médio cronometrado do quanto demorava para aprontar Seol e a si mesmo. Para arrumar-se era simples, demorava cerca de três minutos, já para vestir a garota era mais complicado, que insistia em usar chiquinhas todos os dias, demorava cerca de dez minutos em um dia bom. Para chegar à creche, de carro, vinte minutos sem trânsito, e para chegar à universidade, dez minutos da creche. Dessa forma, poderia trabalhar por cerca de quarenta e cinco minutos para que pudesse deixar sua filha na creche às oito e chegar na faculdade às oito e pouco. Tinha algumas coisas que precisava imprimir.
Ligou o computador e concentrou-se no projeto até o seu alarme tocar no celular, o qual apontava o seu habitual horário de acordar, mesmo não sendo mais usado para esse propósito desde que Seol decidiu que a casa acorda às seis e meia.
Passou um pouco do tempo para poder escrever uma última linha de código, nem teve tempo para testar, mas se funcionasse teria tempo à noite para assistir desenhos com a pequena. Desligou tudo, na correria, e pegou um dos casacos usados em sua cama e uma jeans rasgada, já seu cabelo, mal os penteou. Escovou os dentes e fez suas necessidades o mais ágil que pode, depois indo procurar por Seol.
─── Filha, hora de ir para a creche. ── Depois de uma leve procura, a viu no chão da sala, com
seus carrinhos de brinquedo.
─── Brum brum. ── Empurrava o carrinho pelo tapete, mas depois jogou-o no sofá. ─── Avião.
─── Que tal brincar de avião com seus amigos na creche? ── Aproximou-se, e para ficar mais perto, apoiou-se nos seus joelhos. Ela sorriu aberto,
com aqueles dentinhos de leite adoráveis.
─── Vamo! ── Levantou-se num pulo, jogando as mãos para o ar, para pedir colo.
Em um impulso, a colocou em seus braços, então
se apressando para o quartinho da garota, que antes era o seu mini escritório. Mesmo pequeno,
era decorado com tudo que a menina mais gostava: carros, aviões e foguetes, sendo predominantemente vermelho. A deixou em cima da cama, e tirou os pijamas, para colocar um vestido rosa, o qual presente de Wonyoung. Seol o adorava. Amarrou os curtos cabelos em dois rabinhos, utilizando amarradores de cereja. Para
finalizar, tênis brancos.
Sunghoon tentava se convencer de que achar que sua filha era a mais fofa entre as outras crianças não era coisa de pai orgulhoso.
Ainda tentando manter o horário, voltou a segurar Seol no colo, pegou as coisas importantes para o dia e vestiu os sapatos que já estavam usados na porta da frente. Balançava as chaves em uma mão enquanto segurava a pequena com a outra.
No elevador, checou uma última vez o horário, mas estava ainda dentro do tempo. Por sorte, como ainda não era muito tarde, também teve sucesso em chegar no horário o qual havia planejado à
creche. Sem paciência para esconder a sua
empolgação com o sucesso, sorria com todos os dentes, assim recebendo alguns olhares das mães presentes. Seol soltou a mão de seu pai assim que chegou ao portão, havia visto uma amiguinha, mas mesmo assim surpreendeu Sunghoon.
─── Não vai dar tchau para o papai, filha? ── Falou um pouco alto, o que não era muito
incomum, os pais ali não eram muito discretos.
Seol voltou rapidamente ao encontro do pai, que abaixou-se para receber um beijo da pequena. Logo se soltaram, e ela voltou para a amiga. Park respirou fundo, notificaria a recepcionista para poder ir embora.
─── Sr. Park? Você é o pai da pequena Park Seol? ── Uma voz perguntou ao seu lado. Era doce e feminina, vinha de uma das mães das crianças. ─── Prazer, eu sou a mãe da Kim Yeri, a criança que está brincando com a sua filha.
Sunghoon sorriu sem graça, surpreso. Nunca ninguém além dos professores havia o abordado, mas sabia que um dia teria que trocar ideia com uma das mães.
Ele reconhecia o nome da criança, Seol comentava sobre ela de vez em quando, provavelmente eram melhores amigas naquela escolinha. A mãe de Yeri era uma mulher alta, mas ainda assim menor que Park, e parecia estar com os seus quarenta anos. Provavelmente havia sido mãe tarde, exatamente o oposto do universitário.
─── Park Sunghoon. Sim, sou o pai da Seol. Ela adora a sua filha. ── Estendeu a mão, e a mulher fez o mesmo. Sunghoon fez questão de notar o excesso de suor nas mãos da senhora.
─── E você parece tão jovem! Não deve ter mais que que vinte cinco. Cuidar de uma criança é mesmo difícil, não acha?
Enquanto aquela mãe tentava engajar em uma conversa, Sunghoon só conseguia pensar no tempo passando.
─── Pois é. Na verdade, não tenho muito tempo agora, sra. Kim. Eu tenho que ir para a faculdade, sabe, vida de estudante. ── Tentou não parecer grosso, mas mesmo assim se sentia mal em fazer isso com a simpática mulher.
─── Ah, claro, eu entendo. ── Parecia sem jeito, o que deixou o jovem mais incomodado. ─── Eu só queria te convidar a levar a Seol para a festinha de aniversário da Yeri nesse sábado. Minha filha adoraria ter a sua lá! Você também pode ficar, terá bastante comida e as mães querem muito conhecê-lo. ── Tirou da bolsa de marca que carregava um convite físico, todo decoradinho, e entregou para Sunghoon.
Até o dia atual, nunca havia ido a uma festinha de aniversário de um colega da sua filha, somente as dela, que até os quatro anos eram apenas para a família. Queria recusar, mas Seol provavelmente iria ficar muito triste se o fizesse. Era uma das suas melhores amigas, afinal. Com um sorriso desleixado no rosto, respondeu mãe de Yeri.
─── Claro. ── Pegou o envelope, o metendo no bolso traseiro. ─── Estaremos lá.
⏳
Sunghoon, durante as suas aulas do dia, eventualmente tirava o convite do bolso, o encarando, inseguro. Queria parecer uma figura confiante e responsável na frente das mães das amiguinhas da sua filha, mas não sabia se realmente tinha os requisitos necessários para tal papel. Não podia mais devolver o convite, e deixar Seol lá e ir embora seria uma prova da sua falta de responsabilidade. De acordo com sua mãe, era um
bom pai para sua filha, mas às vezes pensa que ela
estava somente tentando o agradar.
Normalmente, quando ia buscar Seol na creche, ela era uma das últimas a ser pega. Não tinha como Sunghoon evitar, o estágio era até tarde, mas pagava muito bem. Assim que estacionou o seu carro na frente do portão, correu para a recepção. A senhora mal teve tempo de comunicar um professor para que a achassem, quando Park sentiu aqueles bracinhos o agarrarem. Ambos abriram um sorriso no mesmo momento.
─── Papai! ── Esfregou seu rosto nas calças do jovem. ─── Colo!
─── Desculpa a demora, amor.
A pegou no colo, deixando seu rostinho para trás. A senhora da recepção apenas assistia a cena, com um leve sorriso nos lábios. Trabalhando em um
lugar como aquele, era uma cena normal, mas toda vez aquecia o coração. Sunghoon estava cansado, mas carregou Seol até o carro, a colocando na
cadeirinha no banco de trás.
Sentou-se no banco do motorista, e ligou o motor.
─── Papai. A Yeri disse que ela vai fazer uma festa enormeeee! ── Park não pode ver, mas ela levantou os bracinhos, representando o tamanho da festa. ─── Eu pode ir?
─── Eu posso ir. ── A corrigiu, sutilmente. ─── Você pode ir. Nós vamos, amor. ── A encarou pelo espelho retrovisor. ─── Que tal irmos comprar um presente para ela amanhã?
─── Sim! Vamos comprar um carrão para a Yeri!
─── Sua amiga também gosta de carros?
─── Não. Mas eu gosto.
Sunghoon riu da pequena, que, confusa, riu junto.
Chegaram em casa em poucos minutos, e passaram o tempo livre que Park havia conseguido depois de se esforçar muito na noite anterior assistindo algumas animações juntos. Aquele era o tempo mais precioso para Sunghoon. Podia ficar abraçado a sua filha, a dando o afeto que normalmente mal podia a dar.
Já depois da hora de dormir da pequena, voltou para o seu quarto, acabado como sempre. Deitou-se na cama, e pegou o celular que não havia visto há horas. Haviam algumas mensagens de sua amiga, Ryujin, suplicando para que ele o respondesse. Não estava com paciência para escrever, então gravou um áudio.
─── Eu estava tentando passar um tempo de qualidade com a minha filha, sua desnaturada. Ela acabou de adormecer. O que seria tão importante para você me mandar tantas mensagens? ── Seus olhos nem mais abertos estavam, falava com o pouco de energia que restava.
Não demorou para que a garota visse a resposta do amigo. Alguns segundos depois, quando Park estava praticamente adormecido com o celular em mãos, Ryujin ligou, soando aquela música antiga que não havia trocado ainda por preguiça. Irritado, atendeu.
─── É sério?
─── Assim é mais prático, também não quero digitar. Preciso de contar sobre o que eu vi hoje. Eu sei que você não tem tempo para nada, nem para mim, nem para namorar, mas hoje um novato muito lindo se transferiu para a nossa faculdade. Metade das garotas já tentaram alguma coisa. Quer foto?
─── Você me ligou para isso, Ryujin? Para falar de um garoto de dezoito ou dezenove com quem você quer transar?
─── Não, idiota. Ele é do seu departamento, e ele rejeitou todas as garotas. Acham que ele é gay, e eu sei que você não quer mais namoradas. Então que tal um namorado? ── Ela parecia animada, enquanto Sunghoon só se incomodava cada vez mais.
─── Não quero que o pessoal da faculdade saiba da minha filha, não posso ir arranjando namorados por ai. Especialmente do mesmo departamento. ── Ouviu o resmungar da amiga.
─── Sem graça, com esse seu rosto você conseguiria fácil. E vamos marcar de sair logo, tchau. ── Soava irritada, mesmo quando o convidou.
─── Claro. Fico te devendo.
Não teve nem tempo de desligar o celular, caiu no sono no mesmo momento.
Na manhã seguinte, só não pensou que essa conversa fosse um sonho porque abriu o aplicativo de mensagens e viu a foto do tão falado garoto. Era, definitivamente, muito bonito, mas não podia namorar, especialmente um universitário mais novo que ele.
Sua filha precisava de estabilidade, e dois estudantes não podiam dar isso a ela.
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