Capítulo 3 - Descubro minha Batcaverna particular
Bernardo estava praticamente correndo para acompanhar o tal do Quênia, pois cada passo dele representava uns 10 seus. Ele achava que aquele homenzarrão iria levá-lo até o pátio para alguma explicação em particular, mas assustou-se quando ele não parou no portão que dava para a rua.
- Espere! Aonde pensa que vai?
- À sua casa. Vamos! Só temos 1 hora antes que dê o horário de saída da escola e você tenha de voltar pros seus pais.
- Ué... mas você não disse que estamos indo para minha casa?
- Vai entender quando chegarmos lá.
- De jeito nenhum! Não vou sair por aí seguindo alguém que nem conheço!
Ao ver que Bernardo parara de segui-lo, o homem virou e se abaixou de modo a olhar o garoto nos olhos.
- Achei que o alívio que sentiu a pouco da queimação no seu corpo seria o suficiente para lhe aguçar a curiosidade.
- Mas como...
- Como sei o que você estava sentindo? Porque passei pela mesma coisa. Se te conforta, saiba que se eu fosse algum sequestrador já teria te levado há muito tempo. Estou lhe vigiando desde que voltou da praia.
- Ahá! Eu sabia que tinha alguém me observando! Mas por quê?
- Para ver se o meteoro te afetou de alguma forma.
E dizendo isso levantou-se e seguiu caminho. Pegado de surpresa Bernardo não teve escolha senão seguir o estranho. Então ele não sonhara! Tinha mesmo havido um meteoro. Mas por que ninguém mais parecia saber dele? Seu cérebro trabalhava a mil por hora inundando-se de perguntas. Nem ao menos reparou nas pessoas que cochichavam ao verem aquele homem incomum em seu bairro. Nem viu quando um moleque tropeçou e caiu de cara em seu sorvete por se distrair olhando para o estranho que Bernardo agora seguia com tanto afinco.
Eles desceram a rua em direção a sua casa, mas não pararam nela. A casa de Bernardo era uma casa de esquina. Atrás dela havia um córrego bem extenso, e do outro lado do córrego próximo à casa dele tinha um clube. O estranho deu a volta na esquina em direção ao córrego e desceu ao lado da pequena ponte cimentada que ligava a rua ao clube. Não havia ninguém na rua naquela hora. O menino seguiu o homem se perguntando porque raios aquele cara estava descendo o barranco em direção a água.
A água do córrego não era imunda, mas estava longe de ser limpa. Várias vezes Bernardo tinha descido ali para pegar a bola quando ele jogava taco na rua. Porém o estranho não desceu até a água. Ao invés disso virou-se para debaixo da ponte e ficou ali parado esperando o Bernardo alcançá-lo. Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ele viu o homem sorrir para ele - que dentes brancos! Não sabia que era possível ter dentes assim! - e atravessar a parede.
Mas como?! Bernardo correu para debaixo da ponte. O barranco parecia sólido. Quando ele começou a se perguntar se não estaria ficando louco, uma mão saiu do barranco agarrando o seu braço e o puxando para dentro. Foi uma sensação estranha, como se estivesse andando dentro d'água. Parou tão rápido como começou e logo ele estava do outro lado. Espantou-se ao ver que não estava molhado, apesar da sensação de a pouco lhe dizer o contrário. Mas nada - nem o fato de atravessar uma parede que ele julgava ser sólida - era mais estranho e surreal do que o que Bernardo viu ao olhar para onde estava.
Era um corredor comprido e bem iluminado, largo o suficiente para passar dois carros lado a lado, e alto de forma a caber um caminhão com folga. O corredor descia e terminava em uma parede na qual, à direita, parecia haver uma abertura. Mas esse não era o mais estranho. De onde vinha a luz? As paredes e o teto daquele corredor pareciam ser feitos de emaranhados de galhos e folhas. O chão era de pedras lisas e tão bem encaixadas que formavam belíssimos mosaicos. Mas não havia lâmpadas e nem qualquer outra coisa que pudesse iluminar o local, então porque parecia que estavam a céu aberto? Bernardo chacoalhou a cabeça como quem tenta acordar de algum sonho e percebeu que Ken-Ya - Bernardo descobriu mais tarde que era assim que se escrevia o nome dele usando as letras do alfabeto romano - já estava lá embaixo no final da estrada.
Se o garoto já estava sem fala antes, ficou completamente boquiaberto ao alcançar a sala onde Ken-Ya estava. Era enorme. A primeira coisa que lhe veio a mente foi o desenho do homem-morcego. Mas a Batcaverna perdia de 10 a 0. Mesmo muito tempo depois, apesar de ir e vir daquele lugar, Bernardo ainda não conseguia descrevê-lo. Como descrever um lugar que misturava com perfeição alta tecnologia com o meio ambiente?
Tudo ali parecia ser feito de rocha ou madeira, sendo também bem arborizado, com direito a pequenas cachoeiras laterais e um córrego de água limpa que atravessava o meio. Bernardo desceu a pequena escada larga que possuía estátuas de dragões em suas laterais - daqueles robustos com asas que se via em filmes de fantasia medieval, não os da cultura chinesa - e acompanhou Ken-Ya até uma sala onde havia uma mesa redonda feita de rocha, com seis belíssimas cadeiras de madeira dispostas de maneira uniforme. Na parede ao lado, desenhado na rocha, tinha um mapa múndi de três metros. Ken-Ya sentou-se em uma das cadeiras e apontou outra para o Bernardo se sentar.
- Que lugar é esse? - Disse Bernardo, ainda sem conseguir parar de olhar para todos os lados.
- Gostou? Construímos essa semana para o seu treinamento.
- Treinamento? Como assim?!
Ken-Ya olhou-o no fundo dos olhos. Os olhos dele era de um verde diferente, como se brilhasse.
- Quero que preste bastante atenção ao que vou lhe contar. Também quero que saiba que o que vai ouvir agora você não deverá contar a ninguém mais, entendeu?
- Entendi - Bernardo engoliu em seco.
No século dois houve uma chuva de meteoros na Grécia, mais especificamente em Atenas. Muitas pessoas morreram naquele dia, porém outras se tornaram ibotts. Em tradução literal isso significa "Aberrações", porque era assim que eles eram encarados pela sociedade. Para piorar, um dos efeitos colaterais de sua transformação era uma bipolaridade emocional fora do comum. Não que ser bipolar seja algo comum, mas não é nada comparado ao que os ibotts enfrentam.
Não demorou muito e eles se organizaram em uma comunidade. Aprenderam a lidar com sua bipolaridade, e também a manipular a energia que os transformou: a fetcis. É irônico. Os ibotts são mais fortes, mais ágeis e mais inteligentes que os humanos, mas sua condição os tornou mais frágeis e suscetíveis à dor emocional e por isso se mudaram para um lugar longe da vista dos humanos.
Alguns se tornaram tão poderosos que viraram verdadeiros deuses para aqueles mais frágeis entre eles. A cultura grega de onde a maioria se original contribuiu para isso. Poucos deles foram egoístas o suficiente para querer usar esse poder em benefício próprio, e os poucos entre estes são controlados e forçados a trabalharem para o bem da comunidade.
Há cinco tipos de ibotts:
Os de tipo 1 são aqueles que são afetados diretamente por uma fonte de fetcis.
Os de tipo 2 são os filhos de ibotts do primeiro tipo.
Já os de tipo 3, são os que possuem um pai ibott e uma mãe humana. Em geral a mulher acaba ficando estéril, mas em alguns casos raros, elas engravidam. O contrário porém não é possível: uma mulher ibott jamais ficaria grávida de um humano.
Os do tipo 4 são filhos de ibotts do tipo 2 ou 3 e que ainda assim são capazes de manipular a fetcis.
Os demais - a grande maioria - são todos os que não são capazes de manipular a fetcis. Estes são os do tipo 5.
Os ibotts aprenderam a trabalhar o meio ambiente de forma tal a não prejudicá-lo. Sua tecnologia não fere a natureza, tornando-se bem mais avançada que a dos humanos. Há 5 meses descobriram que haveria uma nova leva de meteoros carregados de fetcis. Organizados para evitar que estes atingissem os humanos mais uma vez, fizeram de tudo para tentar apanhar os meteoros antes mesmo de estes atingirem a Terra. Mas um escapou.
E este único caiu próximo a um jovem de 11 anos que estava no lugar errado e na hora errada.
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