XII - Maggie e Billy
Dias Antes
Maggie
O enterro da minha mãe foi muito triste, eu olhava para o seu corpo no caixão e só lembrava-se da tapa que eu dei nela. O mais triste de se despedir de alguém é quando você não disse tudo ou fez tudo que queria com aquela pessoa, acho que o Eu Te Amo mais verdadeiro e mais doloroso é o dito ao lado do caixão. Um eu te amo que sai lá do fundo, sabe? Quando me avisaram sobre a morte de minha mãe e saíram do meu quarto no hospital psiquiátrico eu fiquei arrasada, as lágrimas por um momento pareciam que não iriam sair, mas logo começaram a escorrer pelo o meu rosto.
Eu não tinha muitas opções de roupas, mas logo uma enfermeira me trouxe um vestido preto, bem básico e todo liso sem nenhum detalhe.
- Como você está? – Perguntou.
- Como eu estou? Vocês estão de brincadeira com a minha cara, só pode. Eu estou presa em um hospital psiquiátrico sem ter o diagnóstico de absolutamente nada enquanto a minha mãe está sendo preparada para ser enterrada. Você acha que eu estou bem?
A enfermeira permanece em silêncio e sai do meu quarto. Eu sento na cama e apoio minhas mãos em meus joelhos e fico pensando em tudo que eu já passei com a minha mãe. É lógico que continuo magoada por ela ter me abandonado aqui, nem passa pela minha cabeça para onde eu irei agora, ainda falta um ano para eu ter a maior idade. Orfanato? Tias distantes? Não importa para onde eu vou agora, tudo o que eu mais quero é paz. E será que algum dia eu vou ter paz? Deito e olho para a luz fraca do meu quarto, choro.
Algumas horas se passam, não sei se dormi ou não. Apenas olho para a roupa preta que está no cantinho da minha cama. Sei que inevitavelmente irei vestir aquela roupa, mas a dor permanece a mesma. É tão boa a sensação, os primeiros minutos depois que você acorda você esquece-se dos seus problemas, das coisas ruins que você não quer fazer no dia, enfim. Você esquece-se de tudo... Aquela sensação de paz momentânea, mas o pior pé quando aos poucos você vai lembrando-se de tudo que você irá ter que fazer no dia e bate o desânimo. Eu não tenho feito muitas coisas ultimamente, mas é péssimo pensar que a primeira vez que eu irei sair desse hospital é para ir até um velório, ainda mais de minha mãe que eu estava brigada.
Na porta do meu quarto há uma pequena portinha e para a passagem de comida, vejo que o almoço foi entregue. MERDA! QUANTO TEMPO EU DORMI?
Comer com o sentimento de angústia é muito ruim, o alimento desce pelo meu esôfago parecendo pedra, me arranha. Eu não consigo nem comer a metade daquela salada com frango. Tomo um pouco de suco e todo o copo de água e volto para a cama para chorar. Está presa nesse local é horrível, acho que eu nunca vou parar de dizer isso. É Horrível ao quadrado. Eu não tenho ninguém para conversar, eu tenho, mas não são conversas do jeito que eu queria, a Senhora Candelária não está em condições de dizer coisas que me conforte. A Psicóloga está em sua obrigação, ela está recebendo para falar comigo... Tudo o que eu queria agora era um abraço de um amigo, sabe? Aquele abraço silencioso que diz muita coisa. Um abraço sincero. Não sei se eu vou encontrar meus amigos lá, mas acredito que sim, a Katie não deixaria de me ver. Percebo que os meus olhos estão cansados novamente e volto a dormir como uma princesa.
A Porta se abre. Acordo.
- Maggie, hora de se arrumar, banho liberado no banheiro 8.
Banheiro 8? Desde quando eu cheguei aqui apenas os que entram no banheiro 8 são os funcionários. Nesse banheiro as águas são quentes, pelo menos eu ouvi boatos. A água dos banheiros que disponibilizam para os internados é extremamente fria, até parece um campo de concentração. Muitas vezes eu pensei que eu estava na segunda guerra mundial.
Tomo banho. Que banho gostoso, por um segundo eu esqueci para onde eu estava indo nesse exato momento. Pego a toalha e me enxugo. Olho para o espelho. Fico me olhando por uns minutos e começo a chorar. Eu, Maggie, uma menina tão normal que já passou por diversos problemas em minha vida... Hoje estou aqui, trancada por causa de minha própria mãe e agora estou indo em direção ao seu próprio velório, com uma mistura de sentimentos o que já é típico nessa história. Raiva. Mágoa, Tristeza, Culpa... E se quando minha mãe capotou o carro ela estivesse pensando em mim? Será que ela estava chorando? Será que foi minha culpa? Não importa! Mesmo se não for minha culpa ela morreu brigada comigo e isso é terrível, eu queria ter pelo menos mais uma chance de tentar conversar com a minha mãe e explicar pela ultima vez tudo o que eu vi e tudo o que meus amigos estão enfrentando.
- Maggie! Está na hora, vamos? – Alguém bate na porta do banheiro, é a voz de um homem. – Você está pronta? – Silêncio. – Está tudo bem aí?
Pisco os meus olhos e respondo.
- Está sim, já estou saindo.
Arrumo o meu cabelo e abro a porta do banheiro, um segurança com terno preto está me esperando, juntamente com duas enfermeiras vestidas de branco. Uma carrega uma maleta preta, certeza que lá dentro tem algumas injeções de calmante caso eu resolvesse fugir. Fugir? Agora eu não tenho nenhum ligar para ir, nenhuma casa, nenhum familiar por perto. Claro que vou conhecer alguns que eu nunca vi em minha vida. Acho que é para isso que servem os velórios, conhecer pessoas que você nunca viu. Conhecer pessoas que fingem que se importa com a família. Triste, mas é a realidade. É como a vida é.
- Vamos. – Falo.
E o meu sentimento de liberdade é quebrado quando as duas enfermeiras seguram em meus braços, uma de cada lado, com as duas mãos. Até parecia que eu era uma presidiária. Enquanto eu passo no pavilhão vejo diversas pessoas, inclusive a Senhora Candelária que está caminhando em minha direção.
- Senhora Wilma! – QUEM?
Ela olha para mim e entrega um bilhete.
- Eu fiz esse bilhete para você entregar para a sua mãe. Diga a ela que eu sinto muita saudade de nossas viagens para o Japão.
- Pode deixar! Eu digo sim. – Falo, forçando um sorriso. A situação é triste de mais para achar as frases icônicas de Candelária engraçadas.
Abro o Bilhete com dificuldade, pois há duas vadias segurando os meus braços enquanto caminhamos para a porta da garagem, o segurança vem logo atrás de nós.
" Meus Sentimentos e Cookies!"
É! A senhora Candelária sempre comentou comigo que uma das maiores saudades dela era de comer Cookies quentinhos e preparados carinhosamente para ele, se for possível, depois do velório eu procuro em algum mercado para ela.
Entro no carro, totalmente preto, até parece que alugaram somente para essa ocasião. Eu não faço a mínima ideia de quanto a minha mãe pagou para me internar aqui, deve ser uma fortuna, percebo isso pelo carro que eu entro.
Quando chegamos ao cemitério a ficha cai mais uma vez, eu iria descer de um carro para ver a minha mão pela ultima vez e dentro do caixão. Isso é muito triste. Caminhos pelas gramas verdes e aparadas, desviando das lápides que estão no chão, minhas lágrimas começam a escorrer como águas em cachoeira. Vejo os pingos de tristeza caindo na grama. Enquanto estou me aproximando da multidão em volta do caixão, as enfermeiras passam em minha frente e pede para os outros se afastarem. E lá estava minha mãe pronta para ser enterrada em um buraco de terra para sempre. Vejo que nenhum amigo meu está presente, apenas o Clark, o ex-namorado da Sarah. Alguém percebe que eu fico triste pela falta de amigos presentes e murmura em meu ouvido.
- Senhorita Maggie, seus amigos não puderam vim. O Billy está desaparecido e o pai da Katie também morreu, os velórios foram marcados no mesmo horário.
E minha dor piora. Eu queria estar lá e abraçar a Katie, eu queria está confortando a minha amiga, como pode duas pessoas tão importantes para a vida de outras morrerem subitamente? É tudo muito estranho. Nem olho para trás para ver quem me deu essa informação. Olho uma nuvem preta está impossibilitando a luz do sol para o local onde estamos e começo a chorar mais uma vez, peço para Deus que dê forças para a Katie, ela é a esperança daquela cidade, só ela pode acabar com tudo que está acontecendo. Eu sei que ela é capaz disso.
- Te mando boas vibrações daqui Katie. – Murmuro.
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Billy
Eu não sabia o que iria acontecer com o Majon, ele ficou lá amarrado no meio do galpão e eu era arrastado para algum lugar. Não pude enxergar para onde estavam me levando, pois colocaram um capuz preto em minha cabeça. Minhas mãos foram amarradas com mais força do que antes e fui jogado na mala de algum carro. Fico em silêncio, gritar não vai adiantar em nada. Eu quero entender o motivo de eu ainda estar vivo e pensando, o que querem de mim? Para onde estão me levando? O que vão fazer com o pai da Katie?
Só consigo pensar na imagem horrenda que eu vi. Um homem pendurado em um guincho de carne, com sua pele praticamente inexistente, marcas de asfalto por todo o seu corpo, foi uma imagem traumática. Escuto algumas viaturas da polícia passar pelo carro onde eu estou. A mala era apertada, tinha cheiro de mofo, eu quase não conseguia respirar. O Capuz continuava em meu rosto. Enfim, o carro parou. Abriram a mala e me tiraram de dentro, me levaram para dentro de uma casa, eu acho, me sentaram em uma cadeira e tiraram o meu capuz.
Não me lembro de ter subido ou descido escadas, mas eu estava naquele momento em um lugar parecendo um porão. Um lugar escuro e repleto de paredes de madeiras, eu percebia algumas faíscas de luz penetrando o local por umas brechas.
Um Homem com capuz se aproxima de mim.
- Bem Vindo Billy. Acho que será aqui a sua nova casa por muito tempo.
Do que esse cara está falando? Eu permaneço em silêncio, se eles estão esperando que eu fique em desespero e comece a gritar estão muito errados. Acho que irei tentar o truque da psicologia reversa.
- Eu sei que você gostaria de estar abraçado nos braços de sua mãe agora, mas saiba que talvez você nunca mais a veja... Ou melhor, você irá ver, mas não irá sentir mais nada por ela. – Ele pega um livro preto, abre em uma página específica e começa a falar sobre o conteúdo. – Sabe o que esse livro é? Sabe do que somos capazes? – Ele começa a rir.
Não estou entendendo nada do que esse cara está falando, apenas fico observando e tentando identificar se já o vi em algum lugar, porém as dores que eu estou sentindo não colaboram com a minha visão embaçada, a luz do local extremamente baixa deixa o clima ainda mais aterrorizante. Eu sinto meus pés ficarem frios, meus braços começam a tremer. Eu estou preso em um lugar desconhecido, diante de um desconhecido, sem saber se um dia eu vou conseguir voltar para casa e abraçar a minha mãe. Eu queria saber naquele momento se o Majon está bem, se ele conseguiu fugir daquele lugar amaldiçoado. Começo a pensar coisas pessimistas, e se eu nunca mais conseguisse sair desse local? Eu precisava me formar, eu quero ter minha formatura no próximo ano, eu quero fazer uma faculdade e aproveitar todas as coisas boas de morar sozinho. Eu tenho uma vida para viver, e ela não pode acabar desse jeito.
- Mas tenho uma notícia boa para você! O Senhor Belman gostou de você. – Quem é esse? O Demônio que eles invocam? – Gostou tanto que você tem a garantia que viverá muitos e muitos anos.
O que é isso? Que tipo de acordo eles querem fechar comigo? Eu nunca conseguiria mentir ou trabalhar com caras assim, eu cometeria suicídio, mas não trairia meus amigos e não deixaria ser assassinado por esses covardes inúteis.
- Você foi escolhido para levar adiante tudo que estamos construindo, muitos de seus amigos acham que serão capazes de enfrentar um ser maligno ou de acabar de vez com a seita, por mais que eles consigam matar todos que estão na seita nesse momento, nós vamos viver em algum lugar, em alguma cabeça – Ele se aproxima de mim e coloca o dedo indicador em meu peito. – ou em algum coração.
- Eu nunca vou concordar com isso! Eu nunca vou levar adiante coisas desse tipo.
- Vai sim! – Ele começa a rir muito alto. – Nós poderíamos sequestrar a sua mãe e amarra-la bem na sua frente e começar a torturar ela, arrancar toda a pele do braço e depois os olhos com uma faca quente até você concordar em nos ajudar. – Me arrepio só de pensar nisso. – Mas, Billy, quem daria a garantia que você não iria fugir? Quem garantiria que você seria realmente fiel e não ferraria com tudo? – Ele abre o livro novamente e me mostra o título da página que ele abriu.
Ritual de iniciação de uma mente
- Saque o que significa isso Billy?
Eu queria ter ficado em silêncio e paralisado, mas não consegui. Isso me envolvia! Que ritual é esse que vão fazer comigo? O que irá acontecer comigo?
Balanço a cabeça em sinal de negativo.
- Bom! – Mais uma vez dá uma leve risada. – Você a partir do fim do ritual terá outra visão de mundo, seus sentimentos serão arrancados da sua cabeça como uma pele de urso para fazer casacos caríssimos de grife, seus pensamentos irão mudar e toda a sua interpretação sobre as suas memórias. O Belman acha que alguma coisa irá acontecer com a seita se não conseguirmos acabar com os seus colegas intrometidos e você será a nossa garantia que o Belman continuará sendo adorado.
- Vocês estão com medo? – Pergunto, analisando o discurso dele.
Ele me dá uma tapa no rosto, fazendo minha cabeça virar.
- CALADO! – Grita. – Nós com medo? Nós temos o melhor Senhor do nosso lado, fazemos tudo o que ele pede. Medo? Se algo acontecer com nós, garoto! Nós iremos morar definitivamente com ele que tudo nos dá. Ele precisa viver aqui na terra e no inferno. Sacrifícios, rituais, tudo isso é necessário para que ele seja fortificado e permaneça entre nós. É você que ficará acarretado de fazer tudo isso.
Eu? Eu estou em uma história de ficção? Como vão conseguir apagar todos os conceitos e valores que eu carrego comigo com um simples ritual? Isso é possível? Não quero duvidar de mais nada, a ultima vez que eu duvidei de algo eu me dei mal e aqui estou, enfrentando o que eu jurava que não existia. E se for verdade?
- Você não pode fazer isso! Não ouse fazer isso comigo, você tem que parar com essas coisas CARA – Grito. – Vai viver uma vida normal PORRA, o que MERDA vocês tem na cabeça de não pararem de fazer coisas desse tipo? Não percebem que vocês vão à contramão do que é certo?
- Afinal, o que é certo Billy? – Ele me faz uma pergunta filosófica.
- Não estou em uma aula de filosofia para a sua informação e você sabe muito bem do que estou falando. – Minhas mãos estavam doendo bastante, enquanto eu gritava com aquele cara desconhecido eu forçava muito as minhas mãos, eu estava apavorado com a ideia de perder tudo que estava em minha cabeça. Apavorado! Eu não queria me tornar um assassino.
- O que eu tenho de especial? – Pergunto, eu quero entender o motivo de ser e não outra pessoa. Eu quero entender o motivo.
- Também não sabemos criança, apenas seguimos ordens. – Coloca o livro no chão, onde tem um desenho mal feito de um carneiro com chifres enormes. – Podem entrar. – fala olhando para a porta, que rapidamente se abre e mais umas oito pessoas entram e começam a falar diversas palavras que eu não tenho conhecimento algum. Velas pretas são acesas e colocadas ao redor da cadeira que eu estou amarrado.
- PAREM! – Começo a sentir mês olhos queimarem. – PAREMMMMMMMMM! – Grito desesperadamente. Parece que eu estava sendo queimado, minha cabeça começa a doer muito mais do que eu já estava sentindo. Sinto que os meus pés já não estão tocando mais no chão, abro os meus olhos com dificuldade e vejo que estou flutuando.
Eles não param de recitar palavras entranhas e o meu corpo não para de sentir outras coisas estranhas. Eu começo a recitar as palavras também. Eu não sei que idioma é esse, mas minha boca começa a mexer com velocidade, abrindo e fechando e repetindo tudo o que eles estavam dizendo.
Quando param de recitar as coisas estranhas a cadeira cai no chão, ela quebra, as cordas que me amarraram estavam desatadas. Eu estava livre, livre. Eu poderia sair do local correndo, ou partir para cima das pessoas que estavam ali, mas eu não conseguia correr. Eu por algum motivo queria ficar ali.
- Tragam o homem. – Fala o cara misterioso para uma pessoa que estava ao seu lado.
A pessoa vai até o lado de fora da casa e traz um homem todo sujo, descalço, com roupas rasgadas.
- sabe quem é esse Billy? – Eu não consigo falar nada. – Esse é um mendigo que encontramos na rua, um homem que nunca fez mal para ninguém e sempre viveu correndo atrás de seus objetivos, pedindo esmola e fazendo de tudo para criar os seus filhos. A mulher dele tem Câncer e batalha na justiça para conseguir o tratamento de graça, enquanto isso ele trabalha vendendo balinhas no semáforo. Um homem digno e que você vai matar agora. – Ele me entrega uma faca. – Mate esse homem pelo amor que você tem pelo Belman.
Eu não consigo me conter. Eu não queria fazer aquilo. Mas eu podia escutar o sangue percorrendo as veias e artérias do pescoço do homem. Eu queria ver o sangue daquele homem jorrando pelo chão daquela casa velha.
- POR FAVOR, NÃO FAÇA ISSOOOOO. NÃO FAÇAAAAA ISSO. – O mendigo começa a gritar. – EU TENHO uma família para sustentar, minha mulher precisa de mim.
Levanto do chão e rasgo a garganta do homem com a faca, como uma criança rasga uma folha de papel. O sangue Jorra. O home dá um ultimo gemido. Meus olhos se arregalam e eu não consigo entender o porquê do meu corpo estar em êxtase por conta do que eu acabei de fazer.
Todos Gritam e comemoram.
- Seja Bem-Vindo a Seita!
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Agora
Katie
Abro os olhos e vejo luzes vermelhas e azuis girando e girando. Percebo que estou deitada em uma maca dentro de uma ambulância. Vejo que o fogo no galpão permanece, mas já é bem baixo. Vejo diversos corpos no chão cobertos com uma lona preta. Lembro-me do Carlos. Meus olhos se fecham mais uma vez, não para dormir ou desmaiar, para chorar de tristeza por ter perdido uma pessoa tão especial e corajosa. Por qual motivo eu estou viva? Eu deveria ter morrido com ele, eu deveria ter ido embora com ele, eu não conseguirei viver sentindo a dor de ter perdido tantas pessoas.
Tudo o que eu queria saber agora era se o plano havia dado certo. Eu queria saber qual foi o plano do Carlos, o que ele estava conversando com o Pai. O que tinha acontecido.
- Garota? Você pode me escutar? – Um enfermeiro que está dentro da ambulância me pergunta. Faço sinal de positivo com a cabeça. Enquanto balanço a minha cabeça percebo que ainda estou muito tonta. Meu corpo arde, acho que estou queimada em diversas partes. – Qual o seu nome? Precisamos ligar para a sua família. – Escuto helicópteros sobrevoando o local, mais viaturas chegam a cada momento e carros pretos com autoridades e pessoas que passam de um lado para o outro com bloco de notas anotando coisas a todo o momento.
- Katie Wodson. – Os olhos do enfermeiro arregalam por um momento e ele sai apressadamente da ambulância.
Penso no Billy, em meu tio maldito e em todas as outras pessoas que pudessem estar dentro do galpão, percebo que fui eu que matei todas. Eu desejei tanto acabar com tudo isso e acho que acabei da forma mais traumatizante possível. Eu vi pessoas correndo e queimando, ouvi gritos de desespero, eu queimei diversas pessoas. Um policial entra na ambulância, acho que já o vi na delegacia.
- Senhorita Wodson, em nome de toda a policia de Stiller pedimos sinceras desculpas por todo o desentendimento com sua família, iremos abrir um sério processo criminal contra todos os policiais envolvidos na incriminação do seu pai.
SIM! Deu certo, descobriram a verdade sobre o meu pai. Mas como?
- Como vocês descobriram isso? – Pergunto com muita dificuldade.
- O Seu amigo Carlos antes da explosão estava transmitindo tudo ao vivo. Diversas pessoas estavam assistindo. Quando a live chegou no conhecimento da policia que estava presente na delegacia bloqueamos a transmissão para as pessoas e reprogramamos o sinal apenas para o computador da delegacia, vimos tudo.
MERDA! Eu vou ser presa, eles sabem que fui eu que joguei o isqueiro.
- Você é uma heroína. Ninguém precisará saber o que você fez. Divulgaremos que você foi sequestrada por esses malucos e que foi a única que sobreviveu na explosão do galpão, causa pela arma do Oliver.
OI? Eu nunca imaginei que a policia dessa cidade estaria do meu lado. Mas eu queria mais, eu queria que as pessoas começassem a acreditar nas coisas horrendas que eu vi.
- Você está de acordo? – Pergunta.
- Estou!
Ele dá um sorriso.
- Agora você será encaminhada paro o hospital, precisa se recuperar e receber o tratamento adequado. Já entramos em contato com a sua mãe. – Ele desce da ambulância, fecha as portas e o veículo começa a se movimentar em direção ao hospital.
Chegando ao hospital me levam até uma sala, aplicam diversas injeções em mim e fazem outros diversos curativos, nas minhas pernas e nos meus braços. Visto uma camisola de hospital e sou colocada em uma cama confortável. Estou tomando soro.
- Liga a televisão no jornal local. – Peço para a enfermeira que está acabando de arrumar o quarto.
Ela olha assustada para mim. Ela sabe o que está sendo transmitido nesse momento.
- Você tem certeza? – Pergunta.
- Sim!
Ela liga a televisão e me deixa sozinha no quarto.
A polícia local acaba de confirmar mais oito mortes, até o momento são trinta e cinco mortes. A todo momento chegam pessoas da cidade no local procurando os parentes que ainda não chegaram em casa, ao todo, além das mortes confirmadas, estão desaparecidas mais trinta pessoas incluindo o Jovem Billy. As identificações dos corpos podem começar a qualquer momento. Incluindo nos desaparecidos estão o Xerife Jhon e o Senhor Oliver, voltamos já com novas informações.
Um sorriso e umas lágrimas. Essa é minha reação. Feliz por ter dado um fim e triste por ter perdido o Carlos.
A televisão do nada desliga.
A janela do meu quarto abre sozinha.
Um morcego desgovernado entra pela janela e começa a fazer barulhos estranhos.
Olho para ele e quando o meu olhar volta para o lugar onde estava... O demônio está na minha frente.
- Você é esperta garota, mas lembre de que eu estou solto! Você sofrerá por ter matado os meus adoradores.
- Você pode até está livre Chifronildo, mas não tem ninguém para te dá forças.
Minha mãe abre a porta do quarto e ele desaparece do local.
- Minha Filha! – Fala chorando e me abraçando.
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