XI - Ápice 3
Katie
Minha cabeça está doendo muito, meu rosto está no chão. Estou caída, meus olhos estão fixados no pneu do carro e a luz do farol me encadeia. Eu penso por um momento como eu parei naquele não e lembro. Foi o Carlos, o Carlos me bateu muito forte com algo em minha cabeça, foi tão forte que eu só consigo pensar agora que abri os olhos.
Quantos minutos parei aqui deitada? O que será que ele fez?
Antes que eu me levantasse do chão eu conclui que o Carlos fez isso por amor, ele fez isso para me proteger e foi resolver todas as questões sozinho, mas eu queria lutar contra tudo isso com ele. Eu queria vencer tudo isso ao lado dele. Com dificuldade consigo me levantar, apoio os meus joelhos no chão de cascalhos e levanto. Minhas pernas ficam bambas e vejo por um momento tudo rodando. Viro-me em direção ao galpão e vejo que há duas pessoas do lado de fora aparentemente discutindo. Forço minha vista que está totalmente embaçada e vejo que o Carlos e o Oliver estão discutindo.
Eu corro em direção ao galpão, eu tinha que participar desse momento.
Um vento assustadoramente forte me atinge e eu sou arremessada e bato forte no tronco de uma árvore, novamente estou no chão. Escuto ruídos de algum animal se aproximando.
- Katie! - Murmura.
- Quem está aí? - Meus olhos estão inquietos, olhando para os Matos e plantas que desciam pelo monte todo, impossibilitando que eu veja quem está me chamando.
Vejo duas luzes vermelhas, pequenas saindo das altas plantas que estão por perto. São olhos! Chifres surgem. E lá estava Novamente, eu de cara a cara com um demônio. A imagem era aterrorizante. Pelos, chifres circulares, pernas de Carneiro, horripilante.
- Você está aqui para me adorar? - Pergunta, mostrando aqueles dentes pontiagudos e totalmente pretos.
Afasto-me do que estou vendo, rastejando pelo chão. Tiro uma pequena cruz que coloquei em meu bolso antes de sair da minha casa e aponto em direção ao demônio.
- Seu pai foi mais forte que você! Que pena que ele já está queimando em minha casa. - A voz é distorcida e muito grossa.
Como ele pode falar do meu pai assim? Ele continua se aproximando. Eu paro de me afastar. Ele pega em meu pescoço, suas mãos são frias, parece que tem uma cobra enrolada em meu pescoço. Ele me levanta. Quando meus pés tocam o chão ele solta.
- Katie! Katie! Você é uma menina muito forte, não seja como o seu pai e me aceite como deveria ter aceitado.
- Eu nunca vou me curvar! - Corro, corro desesperadamente em direção ao Carlos, eu não posso deixar nada de ruim acontecer com ele. O Carlos não pode morrer. Eu não iria suportar perder mais alguém tão importante para mim.
A sensação de está correndo de algo que você tem medo é muito ruim. O vento frio da noite entra em contato com a minha pele, meu arrepio tem um nível a mais do normal. Eu estou chegando perto. Estou chegando no local, olho para traz e vejo diversas pessoas de branco totalmente deformadas olhando para o galpão.
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Carlos
Quando estávamos saindo da casa para ir em direção ao galpão eu resolvi mudar o plano. Eu iria fazer uma transmissão ao vivo em minhas redes sociais de tudo que eu visse no momento e iria acabar com o meu Pai. Eu daria um jeito de não deixar a Katie ir até o galpão. Eu não sabia que o único jeito que eu encontraria seria machucando ela, mas é melhorar machucar um pouco do que deixá-la cara a cara com a morte...
- Você não entende filho, nunca entenderá, você é muito fraco para entender o que acontece aqui dentro. - Aponta para o galpão. - Quando você estava lá naquela cama do hospital eu desejei que você não acordasse, para um dia como esse nunca chegar.
- Eu quero ouvir de você tudo que fez. - Falo. - FALA, EU NÃO ACREDITO, FALA. - Parece que a ficha caiu só agora, as lágrimas percorrem a minha face.
- Você acha que eu queria matar todas aquelas pessoas? - Ele pergunta.
- Eu quero achar que não!
- Você está enganado. Eu queria matar todas elas, pois existe algo maior que nós nessa vida. E você não conseguiu compreender quando eu te mostrei pela primeira vez. Eu queria mostrar a sua mãe no armário...
- Minha mãe?
O cadáver que eu vi no armário era da minha mãe, como ele pode ser tão podre? Como o meu próprio pai pode ser alguém tão sujo e macabro? Eu não quero acreditar que o meu pai é uma pessoa desse tipo.
- Você deveria ver, você deveria sentir como é prazeroso se fantasiar de palhaço e matar as pessoas. Você deveria ver como é bom ouvir elas e eles gritando. Sabe o motivo? O Belman fica feliz. - Cânticos ficam mais altos no galpão. - Filho! - Ele começa a chorar. - Você deveria ter feito parte disso, eu não queria perder uma parte de mim, eu sou fiel ao meu pai e você deveria ser fiel ao seu.
- Eu sou fiel a justiça! Eu sou fiel ao amor! Eu sou fiel às pessoas que são pessoas de verdade e não animais como você e as mazelas que estão dentro do galpão.
Meu pai coloca a mão dentro da túnica, respira fundo e tira uma arma de dentro e aponta para mim. Um pai, apontando uma arma para seu próprio filho.
- Matar a Norman, A Sarah, e tantos outros foi prazeroso... Mas, matar o meu próprio filho será algo que eu nunca mais irei esquecer.
- Você pode até me matar, mas vai junto. Você é um covarde, desumano. Você vai morrer junto comigo. - Falo.
- O Belman está solto. Você pode me matar, matar todo mundo que está aí dentro, mas o Belman irá seguir você e sua amiga por onde quer que vocês vão!
Não penso nisso. Prossigo meu raciocínio.
- Onde está o Billy? - Grito.
- O Billy? Você não viverá para ver ele meu Filho, mas saiba que o seu amigo recebeu um toque especial e continuará o legado de todos que estão dentro do galpão. O Billy já não é o Billy. Ele é algo maior que nós dois juntos, mesmo eu sendo filho do senhor.
- Você é doente. Eu não deveria ter te dado tantos presentes dos dias dos pais... Eu não deveria ter confiado tantos sentimentos bons... - Meu coração acelera, eu tenho certeza que o momento está chegando.
Falar sobre a morte é difícil, principalmente quando você sabe que ela está chegando. Penso nos meus sonhos, penso no casamento com a Katie que eu nunca terei, nos meus filhos que eu nunca irei beijar e ter. Nunca serei chamado de papai, mas eu quero morrer em paz, quero morrer sabendo que essas pessoas não irão fazer nenhum mal para a Katie.
Olha para o lado e vejo que a Katie está se aproximando, correndo em nossa direção. Vejo que o rosto dela está repleto de Sangue, acho que bati forte de mais e ao mesmo tempo penso que bati fraco de mais, ela deveria estar desmaiada, ela não poderia estar tão perto. Acendo o isqueiro. Eu não quero que ela seja uma vítima.
- Katie! Se afasta! Tudo irá explodir! - Grito, desesperadamente e quando estou prestes a jogar o isqueiro antes que a Katie se aproxime mais um tiro atinge minha mão fazendo o isqueiro ser arremessado para um local que não estava molhando de gasolina.
Minha mão está formigando, vejo que estão faltando alguns dedos em minha mão. O sangue começa a jorrar. A dor percorre todo o meu braço.
- MALDITO! - grito.
- Filho! Foi você que escolheu o pior caminho, eu não queria te perder.
- Você me perdeu desde que se enfiou em uma coisa dessas!
Ele destrava a arma e aponta em minha direção. Dispara. Eu sinto minha perna doer Bastante. Caiu no chão. Olho em direção a Katie que continua se aproximando.
- Não venha. Pareeeee. PARAAAAAAAA.
Outro disparo.
Vejo a Katie Cair.
- MALDITOOOOO!
Ele começa a Rir.
- Dois pombinhos morrendo aqui nesse local! Vocês nunca pensaram que seria Impossível nos vencer? Vocês são dois adolescentes fajudos! Vocês vão morrer como fracassados.
Eu começo a chorar Bastante. Vejo minhas lágrimas molharem o chão. Olho para trás e vejo que muitas pessoas com túnicas estão saindo e indo em direção a Katie.
- MATEM ELA! - Meu Pai grita.
- KATIEEEE. O ISQUEIRO ESTÁ DO SEU LADO. LIGA E JOGA PRA CÁ. - Soluço. - EU TE AMO, MAS JOGA PRA CÁ. JOGAAAAA. É O ÚNICO JEITO. ELES VÃO CHEGAR ATÉ VOCÊ E VÃO TE MATAR. JOGAAAAAAAAAAAAAAAA
Vejo o isqueiro voando em minha direção e penso em quais seriam minhas últimas palavras.
- TE AMO! - Grito e fecho os olhos.
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Katie
Não sei ao certo onde foi que o tiro me acertou, mas a dor é imensa. Estou no chão e vejo que algumas pessoas começam a sair do galpão. O Carlos começa a gritar coisas que eu nunca iria fazer.
Matar ele? Ele não tem nada haver com isso. Eu não poderia matar o amor da minha vida. Eu não poderia fazer uma coisa dessas. Eu fui até o local para acabar com o ciclo massacrante, para ver o Oliver se ferrando pelo menos uma vez na vida dele. Eu tinha que fazer algo, mas não desse jeito.
- KATIEEEE. O ISQUEIRO ESTÁ DO SEU LADO. LIGA E JOGA PRA CÁ. - Ele continua gritando.
Levanto a cabeça com grande dificuldade e vejo uma pequena faísca de fogo perto de onde eu estou, eu vou rastejando até o isqueiro e pego. Estou desesperada, sinto meu coração bater muito rápido, estou com uma tremenda dor de Cabeça... Eu não acredito que vou fazer isso.
Tudo que eu quero é ver o Oliver morrendo, ver essas pessoas partido para o inferno. Eu tinha que acabar com isso e ter a certeza que mais ninguém iria ser vítima desse massacre. Eu teria que fazer esse sacrifício, eu teria que perder a pessoa que mais esteve do meu lado em todo esse tempo de luta. Carlos foi para mim meu refúgio, mesmo quando estava em coma, eu pensava nele e tinha forças de continuar em pé! Eu queria muito que não tivessem mais velórios para eu participar, mas parece que o meu destino é esse, me despedir da pessoas que eu mais amei durante toda a minha vida e mais uma vez uma pessoa irá embora sem eu falar tudo o que eu queria.
Pego o isqueiro e jogo.
- Te Amo. - Grita o Carlos.
- Também te amo. - Grito de volta.
Quando o isqueiro vai perto do Carlos eu vejo as chamas consumirem o local, o Carlos está repleto de fogo assim como o seu pai que começa a dá disparos com a arma sem saber o que está fazendo e onde está atingindo. O local explode, escuto diversos gritos, pessoas queimando estão correndo e caindo não chão. A explosão arremessa pedaços de madeira por todos os lados, atinge em cheio as pessoas que estavam vindo em minha direção, explode os carros que estavam parados no local, o calor me atinge em cheio. O fogo tomou todo o local, acabando com toda a vida que ali estava.
Fecho os meus olhos e desmaio.
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