VII - Velórios
Katie
Roupa preta.
Óculos escuros.
Lenços de papel.
Um belo Kit para um dia ensolarado de domingo, melhor ainda é está pisando na graminha verso do cemitério. Dois dias que o corpo do meu pai estava em análise e hoje finalmente o velório. Eu e minha mãe não aguentava mais chorar, nós não aguentavámos o silêncio que habitava em nossa casa.
No cemitério o caixão do meu pai, ao lado do policial Jeff, acredito que toda a cidade estava no cemitério, ele estava repleto de pessoas, ainda bem que não vi pessoas que eu não queria no velório, apenas o Xerife, com fardamento preto, assim como todos os outros POLICIAIS, acho que esse fardamento é exclusivo para ocasiões assim. Minha mãe está abraçada com um tio meu, irmão do meu pai que veio de longe para o velório, ainda lembro dele chegando em minha casa.
- Meu Deus Jessica! Que tragédia. - Falava ele, chorando e abraçando a minha mãe, deixando suas malas perto da porta.
- Olha Filha! Esse é o seu tio, Thiago. Ele saiu de casa muito cedo para trabalhar e ainda não tinham se conhecido.
Ele olha para mim como se já soubesse quem eu era. Sei lá. Eu tive essa impressão.
- Oi garotinha! - Fala e me dá um abraço. Eu só balanço a cabeça.
O Carlos ficou todo esse tempo na minha casa, dormia no quarto de hóspedes e ficava até tarde tentando me consolar, conversávamos sobre tudo, até eu ter crises de choros repentinos. Foram os dias mais difíceis de toda a minha vida. Uma orquestra de sopro toca uma música triste, o pároco da cidade dá a benção nos caixões e eles são colocados no grande buraco no chão, cada um de um lado. Estou com uma rosa branca na mão, vou até a beirada do buraco e jogo no caixão de meu pai.
- Você foi o melhor pai que alguém poderia ter! - Falo.
Eu sei que ele sabe que eu amava ele, mesmo tendo expulsado ele de casa. Essa é uma dor que eu sempre vou sentir, não importa quanto tempo passe, essa dor eu sempre vou sentir.
Ficamos ali, Eu, Minha Mãe e o Carlos. Vendo o buraco sendo coberto de areia enquanto as pessoas saem do cemitério. Algumas vêem até mim e me dão abraços, falam coisas no meu ouvido, mas não dou a mínima antenção, apenas fico olhando para o novo local do meu pai, o local que eu tenho certeza que sempre irei visitar, morreu não apenas um pai, morreu um herói. O meu Tipo Thiago se aproxima e abraça minha mãe.
O Carlos derrepente sai correndo, parece que ele viu algo.
- CARLOS? - Grito mas ele não fala nada.
E vejo qual foi o motivo.
O Oliver está caminhando em nossa direção, até parece que ele estava lá o tempo todo. Está com um terno preto, óculos escuros e calças sociais pretas, assim como o seu sapato. Usa um óculos escuros e está com as duas mãos nos bolsos. Eu quero sair dali, quero dá um soco na cara dele, arrancar uma cerâmica dos túmulos e cravar na garganta dele, mas eu olho para o túmulo do meio pai e sinto que eke me pede calma, eu tenho que ficar calma, respirar e planejar os meus passos com cuidado.
- Meus sentimentos. - Fala ele, abraçando a minha mãe.
Sério eu não estou suportando essa falsidade.
- O Carlos saiu correndo quando te viu. Está tudo bem entre vocês dois? - Pergunta minha mãe.
- Sim. Ele só quebrou um vaso da minha avó em minha casa e está fugindo do castigo, mas hoje ele terá. - Dá uma leve risada e olha para mim.
Eu não vou suportar!
Ele dá uma abraço no meu tio e mais uma vez parece que eles se conhecem.
- Olá!
- Olá!
- Quem é você? Irmão da Jessica?
- Não, não. Sou Irmão Do Manjon.
- Meu sentimentos.
- Obrigado.
- Prazer, meu nome é Scott Oliver, mas todos me chamam de Oliver.
- O meu é Thiago Wodson, Prazer!
Os dois apertam as mãos.
Fico observando com a séria impressão que os dois se conhecem, mas não posso afirmar nada, afinal é a primeira vez que o vejo. Ver o Oliver se afastar foi a melhor coisa do dia, me devolveu paz, pelo menos momentânea de não ter ninguém lá me observando ou sendo falso.
Ficamos por mais uns minutos olhando para o túmulo de meu pai, percebemos que o sol já está indo embora, começo a me preocupar com o Carlos, onde será que ele foi? E seu o pai dele fizer algum mal com ele? O Cemitério começa a fechar, sei disso pois um coveiro veio até minha mãe e falou algo.
- Filha, precisamos ir eles falaram que vão fechar.
Eu não quero ir embora daquele local, eu me sinto mais próxima do meu pai aqui. Sei que quando eu colocar um pé fora do cemitério todo o terror começará novamente, e tudo que eu mais quero é que isso tenha um fim e eu em estado catatônico não ajudaria muito. O vento que está no local faz o meu cabelo negro voar e atrapalhar a minha visão. Nesse mesmo instante, uma coragem e uma fúria nasce dentro do meu peito, eu tenho que sair desse local fortalecida, eu não posso deixar que alguém próximo de mim tenha esse mesmo fim. Lembro-me do Billy, lembro-me das buscas FALSAS que estão fazendo dele nesses dois dias e só consigo imaginar o desespero da mãe dele de saber que o seu filho pode estar em qualquer lugar, inclusive morto.
- Tá bem. – Respondo.
Viro-me de costas para o túmulo e em passos lentos vou deixando o cemitério, enquanto estou andando e me afastando do túmulo de meu pai eu vou observando que todos os outros túmulos que estão próximos de mim começam a ver pessoas vestidas de branco e uma pequena luz brilhante está rodeando elas, por incrível que pareça eu não senti medo, apenas senti conforto e força.
- Você consegue!
- Você é forte.
- Vingue nossas mortes.
As vozes sussurram e eu fico muito animada com isso, eu sei que eu devo acabar com isso, por mim, por meus pais, por meus amigos e por todos que perderam sua vida para esses malandros malditos. Enquanto estou admirada vendo essas pessoas mortas saindo dos túmulos e me desejando coisas boas sinto uma má presença vindo correndo atrás de mim, olho por cima do ombro e vejo o mesmo demônio de sempre ainda maior e com pelos, ele usa um vestido vermelho, seus chifres estão enormes, seu rosto é coberto de pelos marrons e pretos com aparência de carneiro e corre em minha direção em alta velocidade.
GRITO.
Tudo desaparece e por um momento eu me convenço que foi tudo criação de minha cabeça, minha mãe me olha estranhamente. Tenho certeza que ela está pensando no hospital psiquiátrico e torcendo que eu mude de ideia e resolva ir para lá.
O que ela não sabe é que dificilmente eu aceitarei uma coisa dessas, eu quero liberdade e evitar que coisas parecidas voltem a acontecer.
- O que aconteceu? – Carlos segura no meu braço.
- Você não tinha ido embora? – Pergunto.
- Você acha mesmo que te deixaria sozinha?
Tenho vontade de cravar os meus lábios nos dele nesse momento, mas minha mãe está ali ao meu lado e não sei bem o que somos. Amigos? Namorados? O que eu sei é que a presença dele me conforta muito e acho que sempre irei precisar desse homem ao meu lado e espero que ele também pense assim.
- Calos! – Fala Minha mãe. – Seu pai está preocupado com você, acho melhor você ir até sua casa e conversar com ele, eu acredito que hoje já podemos dormir a sós.
- Verdade Carlos, eu estou lá com elas. – Completa Thiago.
Sei não viu, eu estou com um pé atrás sobre esse Thiago, aparecer assim do nada e justamente quando estamos a um passo de vencer tudo isso? Entramos no carro do meu tio, o Carlos decide passar na minha casa antes de ir até a dele, eu sei que é mentira, óbvio, ele não voltará para casa, mas foi necessário arranjar algumas desculpas para a minha mãe calar a boca.
Quando chegamos a minha casa subo ás escadas com o Carlos. Vamos até o meu quarto e trancamos ás portas.
- Katie, já passou da hora, temos que denunciar isso tudo à policia estadual, temos grandes provas e só é mostrar tudo para eles.
- Carlos, eu não sei. Sei pai viu que você entrou lá, ele já pode ter limpado tudo.
- Não Katie! Nós explicamos a situação e eles vão investigar fundo e tenho certeza que vão descobrir algo.
- Carlos eu entendo sua euforia, mas temos que pensar muito bem antes de darmos qualquer passo. O Billy está desaparecido e eu estou seriamente sendo ameaçada de ser jogada em um hospital psiquiátrico.
- Nós temos provas.
- Mas não são suficientes, merda. – Começo a aumentar o tom da minha voz. – A Polícia estadual não vai acreditar em dois adolescentes, eles vão acreditar no xerife maldito daqui, eles vão acreditar no Oliver, é besteira pensarmos nisso.
- E o que vamos fazer então? Esperar ele matar alguém e filmar?
Eu tenho uma ideia, é perigosa de mais, mas eu tenho uma ideia.
- Eu Já sei o que fazer Carlos! Eu já sei!
- O que é então?
Respiro fundo.
- Seu pai está desesperado te procurando, né isso?
- Sim. – Ele responde sem entender bem onde eu quero chegar.
- Ele também quer me ver eliminada que eu sei.
- Sim!
- Então, nós dois vamos juntos até a sua casa e vamos deixar ele nos prender.
- Você está maluca Katie? Você endoidou de vez?
- Não. – Levanto da cama e começo a andar pelo quarto, parece que as ideias surgem de melhor forma quando fazemos isso. – Vamos até lá e deixamos ele pegar um de nós o outro foge e fica escondido. Assim que ele sair com o outro prisioneiro o que conseguiu fugir segue para saber onde é a nova sede da seita e filma tudo que estiver acontecendo.
- E o que fazemos depois de filmar?
- Colocamos nas redes sociais, mandamos imediatamente para a policia estadual e encerramos isso.
Carlos levanta da cadeira de minha escrivaninha, dá uns passos pelo quarto, olha a hora pelo seu celular e volta a falar.
- Isso tem muitas chances de dá errado, e se ele matar um de nós antes da polícia chegar lá?
- Mas ela vai chegar, não vai?
Que pensamento mártir é esse? Eu não consigo entender a minha cabeça, eu sempre tive medo da morte, mas a única solução que eu percebo de vencer a morte que está nos aterrorizando é encará-la face a face. E é isso que estou disposta a fazer.
- Você está maluca? – Ele fala, franzindo a testa, levantando as duas mãos até sua cabeça. Claramente ele está muito preocupado com o resultado desse plano. – Ele pode ver que estamos filmando, ele pode estar a um passo em nossa frente.
- Ele não estará. Não mesmo, ele só está nos vendo na defensiva, que dizer, menos meu pai. –Eu esqueci da morte do meu pai por um momento, eu acho que todas as pessoas já esqueceram da morte de uma pessoa importante mesmo que por pouco tempo, o péssimo é que quando lembramos voltamos no tempo e imaginamos todo o sofrimento que passamos nos dias da despedida e esse dia pra mim foi hoje. Não contenho as lágrimas que começam a jorrar de me rosto, meus lábios se contraem e eu começo a soluçar de tanto chorar. O Carlos vem até mim, me leva até a cama e sentamos juntos. Ele envolve o seu braço em meu pescoço e me deita em seu colo, a outra mão começa a acariciar os meus cabelos, que por um momento tirou um fio de cabelo que estava em meu olho, àquela leve passada de dedos pela orelha me fez ficar aliviada.
- O que eu menos quero é te perder. – Fala.
- O que eu menos preciso é te soltar. – Falo.
- Se um dia você me soltar eu corro atrás. – Fala.
- Caso um dia eu te perder, farei de tudo para te encontrar. – Falo
O plano é bom, o Oliver não estará esperando algo assim, não mesmo.
- Se algo de ruim acontecer lembre que eu... – Silêncio. – Te Amo.
AAAAAAAAAAAAA Meu DEUS do céu, eu não estava preparada para escutar uma frase tão séria assim justamente hoje.
- Tudo pode acontecer, mas temos que tentar Carlos, já pensou quantas vidas estaremos livrando da morte? – Fico parada, fico em silêncio, eu sei o que ele me falou, mas não consigo falar que o amo, não agora, agora não é o momento, esse não é o dia, esse não é o local. – Vamos tentar!
Ficamos parados ali. O silêncio reina em meu quarto, ninguém sabe ao certo o que falar. O silêncio é tão grande que escutamos quando a minha mãe começa a gritar da sala. Corremos para lá, não sabemos o que está acontecendo. Quando chegamos na sala percebemos que a televisão está ligada e ela está na frente assistindo, em pé, com os olhos fixos na televisão e super aterrorizada. Por um momento só prestamos atenção em meu tipo massageando os ombros dela na tentativa de acalmar e nos choros de minhas mãe, até escutarmos o nome do meu pai no telejornal local.
" A CIDADE STILLER TEVE SEUS MASSARCANRES ASSASSINATOS REVELADOS NESSE DIA. O XERIFE JHON CONFIRMOU NESSE MOMENTO QUE O MAJON E A ADOLESCENTE MAGGIE KURTINEY FORAM CÚMPLICES NA EXECUÇÃO DE MAIS DE 10 PESSOAS, INCLUINDO PESSOAS PRÓXIMAS A ELAS. MAJON SE SUICIDOU NO GALPÃO ABANDONADO DEPOIS DE MATAR UM POLICIAL CONHECIDO E QUE ESTAVA QUASE DESVENDANDO O CASO, MAIS INFORMAÇÕES TRAREMOS NO JORNAL DE AMANHÃ. "
Oi? Como assim?
O Carlos me olha espantado.
O XERIFE aquele merdinha pensou em cada passo e encriminou o meu pai para se livrar das celas. Agora mais do que nunca o meu plano parece ser a única solução para os nossos problemas.
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