- IX -
Um grande clarão se espalhou subitamente e depois de um instante começou a diminuir e a medida que recuava, esgarçava aos poucos a grande nuvem de poeira que pairava como um véu gris por toda a galeria.
E com a névoa cada vez mais rarefeita e diáfana, foi possível a Isoutur perceber que algo se movia de forma estranha no pedaço de chão, localizado no meio de seu laboratório, onde há pouco realizara seu último experimento.
— És tu, Adhamastor? — perguntou com palavras titubeantes e com certa incredulidade, enquanto saía lentamente de sua trincheira improvisada.
— Ad... Adhmofr... — Ouviu alguém balbuciar em resposta com uma voz rouca e um tanto cavernosa.
— Oras! — Resmungou o maghi, ao mesmo tempo que chacoalhava sua capa imbuída de algum poder mágico para que o restante da poeira dispersasse o mais depressa e enfim pudesse vê-lo.
E então, no meio das cinzas do experimento, o que viu não permitia afirmar de que se tratava de seu fiel homúnculo.
Antes, havia no lugar um homem pequeno. Pequeno demais para um maghi, esteja claro, mas com uma estatura similar à dos ghmanim ou talvez dos hybrikim.
Nesse momento, no entanto, a sujeira que o envolvia não deixava que Isoutur sequer percebesse a cor de sua pele ou algum detalhe peculiar de sua anatomia, como se possuía pelos no corpo, por exemplo.
Dessa maneira, ele via somente um homenzinho de rosto feioso mas em nada dissimilar a outras raças humanas, com olhos que brilhavam como os de alguns dos maghim, mas que depois de algumas horas se revelariam, por fim, comuns, exceto pela coloração vermelha.
Ademais, essa criatura parecia ser inteligente, mas o fato é que não diria outra coisa até o amanhecer senão: "Adiii...masfr...Eu!". E apesar disso podemos dizer que a transformação de Adhamastor em algo tão próximo das gerações de Aythila de certo modo devolveram as esperanças ao grande maghi Isoutur de que seu terrível plano em breve estaria realizado.
*
— Um exército! O meu exército! - Ria convulsivamente Isoutur enquanto grupos de homúnculo corriam de cá para lá montando nas profundezas das galerias de Kvarkala uma série de diferentes estruturas que se organizavam de maneira a que se produzisse por etapas a seiva proibida e os novos homúnculos. E para que tão logo estivessem formados, fossem rapidamente disciplinados nas artes militares. Tudo sob a supervisão de Adhamastor.
— Mestre!? — Interrompeu-o em seu instante de desvario seu diligente servo. A essa altura, já trajado em vestimentas humanas e pronunciando as palavras com perfeição como se se tratasse de uma pessoa normal.
— Diz, meu amado discípulo! — Atendeu-o num tom de voz estranhamente caloroso para um maghi.
— O corpo de Edhisendil... Terminamos de cosê-lo há pouco, mas, ainda assim, parece bastante precário. — O circunspecto homenzinho analisava de forma bastante inteligente a situação. O que deixava Isoutur muito satisfeito com seu experimento.
— Estupendo, caríssimo! Não cuides disso, deixa que agora é minha vez de agir. Quanto a ti, apenas coordena os trabalhos dos outros e não os deixe perder o ritmo, pois em breve teremos de iniciar a próxima fase.
Adhamastor apenas se despediu com uma reverência e o deixou. Enquanto o velho maghi, retomando o fio de suas ideias, voltou a rir sinistramente.
Àquela altura, seu confrei e aliado já deveria ter agido em Thalindari e executado sua parte correspondente no terrível plano criado por Isoutur, abrindo caminho para ele e o exército de homúnculos que vinha preparando há anos e que agora recebia o reforço de uma série de novas criaturas, mais inteligentes que os velhos bonecos de barros e praticamente indistinguíveis dos homens.
A certeza do mago metalúrgico do sucesso de seu confrei não era infundada, mas vinha, sobretudo, do fato de que de repente percebia uma certa estranheza em todas as coisas. Como se subitamente aquele mundo não fosse mais o mesmo de antes ou como se um evento importante e trágico houvesse alterado o curso daquela Gesta.
— Essa sensação só pode significar uma coisa... — Pensou Isoutur, ao constatar que algo havia mudado no mundo de Aldamā.
Seguramente, o Forjador não era um mago vidente, mas raciocinou consigo mesmo e por um instante seu aspecto se tornou grave ou mesmo acometido de alguma tristeza... Tristeza, mas não arrependimento. — A vitória jamais é conseguida sem sacrifícios.
A seguir, aquela risada incontrolável e escarninha voltou a soar nas galerias de Kvarkala. Pois para Isoutur o caminho da guerra era inevitável e em breve ele poderia levá-la aos portões da Cidade Lótus como sempre desejara.
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