Tormenta
Daisuke-san explicou em detalhes como o "passado" esteve parasitando meu corpo tomando pequenas ações para si e prejudicando meu sistema, era algo que precisava aprender a controlar com urgência afinal cada minuto se tornava cada vez mais nocivo.
-Não acho que você deva manipular o passado [Nome] somente manter sob controle, não sabemos quais são as consequências se você voltar o tempo novamente.
-E sobre o resto? Devemos ficar parados apenas olhando?
-Se acalme Ieiri, foi como eu disse precisamos fazer alguns exames para ter certeza da atual condição, irei precisar da sua colaboração [Nome].
Chrono controlava o tempo físico, segundos, minutos, horas tudo aquilo que pode ser medido. Já Kairós é indeterminado, é o tempo que marca momentos especiais. Saber que a vida que existia antes daquele ponto era diferente da vida que vinha depois dele, era um marco de importância causado pelas oportunidades.
-[Nome]?
Virei pisquei meus olhos quando ouvi que me chamaram - Desculpe, o que?
O doutor suspirou - Vou precisar que faça visitas regulares ao hospital, é necessário uma analise profunda da sua condição para saber como prosseguir.
-Tudo bem, só me avise que eu apareço por aqui.
Daisuke-san me lançou um olhar pensativo e Shoko alcançou meu braço dizendo que devíamos ir embora, o homem ficaria no aguardo do meu retorno para começar, agradeci pelo seu tempo e acompanhei minha amiga para o lado de fora.
-Quer que eu chame um assistente para te levar pra casa? - perguntou já com o celular em mãos.
-Não precisa. Eu... Acho que vou andar, sabe, muitas coisas para pensar.
Com delicadeza minha amiga segurou meu pulso me forçando a olhar em sua direção - [Nome] você vai ficar bem, vocês dois vão.
Sorri fraco e coloquei a mão por cima da dela me soltando em seguida, sem dizer uma única palavra e iniciando uma caminhada que não fazia ideia para onde levaria. Aos poucos a paisagem se tornava mais mórbida e desértica parecia ser uma parte esquecida da cidade, poucas pessoas na ruas e a maioria dos prédios comerciais estavam para alugar ou fechados.
O único estabelecimento aberto parecia ser uma agência de viagens, ou algo próximo disso, colado contra o vidro sujo tinham cartazes com os lugares mais assombrados do país, rotas assustadoras e todo tipo de passeio sobrenatural.
"Conheça hoje a Ilha de Gunkanjima, a cidade carvoeira fantasma"
Apesar de bizarra, parecia um bom lugar para se pensar, um local onde o tempo implacavelmente pesou a sua mão consumindo os prédios com sujeira e mofo. O salto cronológico era útil exatamente em momentos como esse.
Nuvens escuras de chuva cobriam a ilha, seus prédios cinzentos murmuravam canções de agonia quando o vento gélido e salgado passava por seus corredores vazios. Tristeza e abandono fizeram daquele lugar sua morada, e junto com eles as maldições que ali nasceram.
Aquele lugar hediondo estava repleto de criaturas malignas nascidas da dor humana, famintas, esperando pelo momento de se alimentar com um turista tolo e desbravador. Não que qualquer um ligasse, o sumiço num lugar daqueles só significaria mais fama sobrenatural.
Chutei as pedras embaixo dos meus sapatos, fazia tempo que eu não me soltava, então faria bom uso da situação e deixaria que minhas frustrações servissem de sentença de morte para tais maldições.
A escuridão que assombrou a ilha nas horas seguintes não teve importância, considerando o número de exorcismos feitos naquele lugar até acreditei ter sido rápida, poderia ter acabado em minutos se quisesse mas não era esse o objetivo.
Estava sentada na beirada do prédio mais alto da ilha assistindo as águas quase cor de nanquim se chocarem contra as pedras do penhasco.
Um trovão violento cortou os céus atingindo o mar em algum ponto no horizonte, em seguida a tempestade caiu sobre aquele pedaço de terra abandonada sem piedade. Sentia os pingos de chuva açoitar minha pele, mãos e pés tão gelados que mal conseguia os mexer.
Mas mesmo assim não se comparava a dor contida em meu coração.
Levantei a cabeça para os céus as lágrimas que nasciam de meus olhos se misturando a tempestade, tomando uma decisão abaixei todas as minhas barreiras e deixei que o fio do destino fizesse o resto do trabalho, levando tudo aquilo que escondi para outra ponta dele.
De novo um clarão iluminou a ilha, dessa vez mais perto com um som ensurdecedor, sorri para o céu ainda tão manchado e escuro quanto o futuro que me aguardava, de alguma forma encontrava nele algum consolo.
-Satoru... - disse para o vento - Eu estou morrendo.
A mudança no ar que veio depois disso foi imediata e uma sequência de raios e trovões atingiu a ilha como se fossem guiados até ali, a distorção no campo eletromagnético tornou a ilha um para-raios gigante.
-Fazer esse tipo de brincadeira não é do seu tipo.
Voltei a cabeça para frente onde ele estava, a faixa branca estava presa com força entre os dedos de sua mão enquanto o vento bagunçava seus cabelos claros.
-É porque não é uma brincadeira.
-Se você estivesse morrendo eu saberia, não é pra isso que serve a linha do destino? - ele não levantou a voz mas o tom raivoso imbuído em sua fala era cristalino.
-Você tem técnica de reversão, não sentiria. - me levantei ficando de pé no parapeito do prédio - A passagem que Vega me forçou a abrir resolveu cobrar seu preço afinal o passado envenena o presente e mata o futuro, e dessa vez a moeda foi minha vida com você.
Satoru se aproximou pegando o meu rosto entre as mãos, seus dedos estavam frios e trêmulos, fossem pelo frio ou qualquer outro sentimento - Tem que ter um jeito.
-E se não tiver?
-Encontramos um.
-Satoru, e se não tiver? - insisti e puxei suas mãos as segurando forte entre as minhas - Não posso só esperar e ver o meu corpo fraco e idiota definhar e levar a sua vida junto no final.
-Sabe da promessa ainda melhor do que eu, ou os dois ou nenhum.
Balancei a cabeça - Não precisa ser assim, seus sonhos, as coisas que você quer fazer esta era precisa de você, não posso te deixar morrer.
-E como você acha que vou ficar depois que você for? Sabe as condições do maldito contrato - seu rosto estava perto, seus olhos me encarando com intensidade, foi quando descobriu o verdadeiro motivo por trás do meu encontro com Nanami.
-Pediu pra ele cortar o fio - Satoru se afastou magoado pelas ações que tomei sem que soubesse. - Se for assim nunca mais...
-Não é isso - interrompi - Em partes talvez. Mas se Nanami conseguisse cortar o fio talvez pudéssemos fazer um novo contrato onde um não precisa morrer quando o outro morrer, ou ser consumido pela insanidade.
-Isso envolve nós dois, não pode simplesmente sair tomando decisões baseadas nas suas vontades egoístas. Talvez não tenha passado pela sua cabeça brilhante que eu não quero viver num mundo sem você! - os raios pareceram acompanhar suas falas com uma sincronia brutal, como se ele mesmo tivesse os controlando - Para o inferno o jujutsu e toda sua sociedade, sobreviveram milhares de anos, aguentam mais alguns até nascermos de novo.
-Não temos todo esse tempo, Gaia ainda existe e até lá quantos Prometeu acha que vai surgir? Quantos feiticeiros jujutsus não vão tentar fazer justiça com as próprias mãos e moldar a sociedade à sua maneira? A humanidade não pode esperar tanto.
-Então fazemos o que der e quando chegar a hora deixamos para que se virem.
-Você é tão cabeça dura! - esbravejei - Porque simplesmente não me deixa te salvar?
-Eu sou cabeça dura? Você que acha que tem toda a informação do mundo na sua mão, decisões precipitadas levam a erros!
-Não parecia pensar assim quando recusou me ajudar da primeira vez!
Nesse momento a ilha tremeu e a chuva que estava à nossa volta simplesmente parou, o metal espalhado pela ilha e até mesmo os prédios pareceram ranger. O céu turbulento se revolveu e uma explosão atingiu o prédio ao nosso lado fazendo com que pedaços de cimento e escombros voassem.
-Não sabe quantas vezes eu me condenei por ter deixado que aquilo acontecesse - as mãos de Satoru estavam firmemente fechadas em punho a lateral de seu corpo - É justamente por isso que não vou deixar acontecer de novo.
-Se quiser fazer as coisas do seu jeito [Nome] - sua técnica dos seis olhos cintilou e um raio caiu em suas costas iluminando sua silhueta - Vai ter que me vencer primeiro.
N/A: Vocês tem que entender que quando Nadi está animada, ela faz loucuras. Tipo adiantar capítulos.
Eu to tão feliz com essa história T.T logo quando eu estava me sentindo o próprio chorume literário. Vou ponderar se eu faço dupla att essa semana ou se só faço semana que vem.
Vejamos como as coisas vão se desenrolar.
Até mais! Xx.
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