Babe e Trip assistiam a um filme de terror na Game Shakers. Os dois estavam entediados naquele domingo. Não tinha trabalho, nem escola ou aulas particulares. Double havia desaparecido em mais uma festa de algum mega famoso que ele não quis mencionar. Ou seja, era um domingo normal, e continuaria sendo se não fosse por um furacão chamado Hudson entrar pela porta e acabar com o sossego em que eles estavam.

- Eu preciso da ajuda de vocês! - anunciou assim que parou em frente à eles de forma ofegante. O rosto banhado em suor e as bochechas vermelhas mostravam o quanto ele deve ter corrido.

- O que você fez agora? - Babe perguntou de forma entediada ao pausar o filme e se virar para ele.

- A Kenzie foi pra casa da tia dela, né?

- Sim, aquela velha louca que mora no meio do nada. O que tem? - a garota perguntou, pedindo com gestos para ele apressar a explicação.

Trip somente observava os dois em silêncio.

- Então, ela me deixou cuidando do Bimbo porque sabia que vocês não iam querer cuidar.

- Garota inteligente.

- Eu não ia cuidar mesmo.

- Tá, tá, ela tava certa. Mas a questão é que eu tava vindo pra cá com ele nos braços. Peguei o metrô e tinha um cara no vagão engolindo espadas, era muito incrível.

- Espera um pouco, Hudson. Tô sentindo que já sei pra onde essa história vai. - falou, olhando para Trip que já se preparava ansioso para o desfecho. - Continua.

- Eu saí da estação e quando cheguei na esquina daqui percebi que o Bimbo não tava comigo!

- Agora esse domingo ficou bom. - Trip falou sem conseguir conter o sorriso. - Você tá tão, mais tão, morto.

- Mais do que morto. A Kenzie vai te torturar. - Babe afirmou rindo do evidente desespero do loiro.

- Isso vai ser tão legal.

- Não vai não! - gritou nervoso para os dois que riam alto. - Isso não é engraçado! Ela vai surtar e vai chorar, aí vai surtar chorando porque perdeu outra doninha anã. E a culpa vai ser minha porque ela confiou em mim e eu perdi o bichinho dela. Eu sou um péssimo amigo, o mais burro dos amigos e ela nunca mais vai querer falar comigo. E eu não quero que ela pare de falar comigo. É a Kenzie, caramba! Ela não pode deixar de falar comigo! E eu...

- Calma, calma. Respira. - Babe pediu apressada, se colocando à frente dele para ter sua atenção. Trip já havia se calado. Eles nunca viram o amigo surtar dessa forma. - Nós vamos te ajudar, vamos encontrar esse bicho nem que tenhamos que virar Nova York de cabeça pra baixo. - garantiu vendo ele assentir mais aliviado.

- E como nós vamos achar uma doninha anã nas estações de metrô que são enormes? - Trip perguntou ao se levantar e ficar ao lado dos dois.

Babe pensou por alguns segundos enquanto Hudson ainda se acalmava.

- Estamos falando do bichinho da Kenzie, pessoal. Definitivamente ela colocou algum dispositivo de rastreamento nele. A coisinha tinha coleira?

- Sim, o Bimbo tava de coleira. Qual o problema em falar o nome dele?

- Aff, que seja. O que importa é que temos como saber pra onde ele foi.

- Só tem um pequeno problema, Babe. Como vamos rastrear ele se a Kenzie é quem deve ter o aplicativo no celular? - Trip perguntou fazendo o sorriso dela desmanchar. - E, caso não lembre, nenhum de nós é bom em qualquer coisa que envolva tecnologia hacker.

- A gente pode pedir pra quem criou o chip pro Bimbo. - Hudson opinou recebendo olhares confusos.

- Aquele bicho tem um chip próprio?

- Criado sob medida.

- Eu não falo é nada. - Trip levantou as mãos em rendição e se afastou dos dois.

- Explica isso direito, Hudson.

- A Kenzie me falou que tinha conversado com a Charlotte e juntas elas tinham criado o programa e o chip.

- Espera, a Charlotte do Henry?

- Hei, hei, hei, hei, hei. Desde quando ela é do Henry? - Babe interrompeu irritada. Trip somente revirou os olhos e Hudson riu de seu ciúme.

- Liga logo pra ela.

Atendendo ao pedido de Trip, Hudson logo fez uma chamada de vídeo com Charlotte. Demorou um pouco, mas ela finalmente atendeu, um pouco descabelada e ofegante, mas pelo menos havia atendido.

- O que aconteceu? - perguntou confusa, sentando-se em uma cadeira que estava de costas para uma grande janela.

- Você por acaso pode me fazer um favor? - o loiro perguntou, desviando o olhar ao escutar um som de escárnio que Babe soltou, mas logo Trip se colocou atrás da amiga e tapou sua boca com a mão. - Rápido.

- Você já acabou com o meu domingo mesmo. - reclamou dando de ombros, mas ele a viu olhar pelo canto de olho e fazer um sinal com a mão que ele não entendeu. - Diz o que é.

- Eu só preciso que você me diga a localização do Bimbo.

- Por quê? A Kenzie vive colada nesse aplicativo.

- Resumindo tudo, ela tá viajando e me deixou tomando conta dele, só que por conta de algumas circunstâncias, ela me ensinou essa palavra. - explicou ao ver o olhar intrigado dela. - Eu acabei perdendo a doninha e se eu não encontrar até de noite, que é quando ela volta, eu vou acabar morto. Provavelmente dentro do oceano.

Charlotte somente o encarou com a boca aberta e uma gargalhada alta irrompeu do quarto dela.

- Cala a boca, Henry!

- É ele que tá aí? Por que ele tá escondido? - perguntou confuso após o grito dela.

Babe ainda estava presa nos braços de Trip e tentava se soltar para cobrar explicações. Charlotte desviou o olhar envergonhada e um garoto alto se aproximou para ficar de frente para a câmera.

- Hei, cara. Então, será que dá pra você não contar que me viu aqui? É só que, eu não devia tá aqui hoje, ou agora.

- Sem problemas, só preciso saber onde o Bimbo tá. Não ligo se você tá ficando com a Charlotte ou não. - deixou claro vendo os dois o olharem nervosos. - Isso tá óbvio.

- Tá, tá, que seja. Só não conta pra ninguém ou eu vou queimar todo o seu cabelo com um laser. - Ela ameaçou séria o fazendo tremer um pouco de medo e Henry rir baixinho. - Espera um pouco.

Enquanto ela digitava algo em algum dispositivo, Trip tentava segurar Babe para ficar calada, Henry havia saído de frente da tela e Hudson estava hipnotizado por um besouro que estava girando ao redor de um pedaço esquecido de maçã no chão.

- Pronto! - Ela gritou aliviada o tomando do transe. - Ele tá se movendo por uma avenida que dá para a entrada de uma cidade chamada... Zerowill? Que merda de nome é esse? - indagou confusa.

Hudson olhou para Trip e Babe que tinham um olhar de reconhecimento no rosto.

- O que foi?

Babe se soltou mordendo a mão do amigo, que gritou de dor e se afastou assustado. Ela deu um sorriso vitorioso e se aproximou do outro.

- Essa é a cidade da tia da Kenzie. Só três pessoas moram nesse fim de mundo, nem sei porque é considerada uma cidade.

- Babe?! Hudson, você disse que não tinha ninguém aí! - Charlotte gritou indignada.

- Eu nunca disse isso. Obrigado e tchau! - se despediu apressado desligando na cara dela. Se virou para Babe com um sorriso animado. - Parece que vamos pra Zerowill.

- Não acredito que vou passar o meu domingo atrás de um rato na beira das estrada. E pra piorar descubro que meu amor eterno tá namorando!

- Isso é ruim?! Você me mordeu! Tá saindo sangue da minha mão, sua louca!

Trip se aproximou dela com a mão estendida, Babe somente revirou os olhos e encarou Hudson que ria descaradamente.

- A gente vai no seu carro porque tô de castigo e não posso pegar o meu.

- Sua mãe descobriu que você anda mordendo as pessoas e as infectando com a sua insanidade? - Trip perguntou de maneira amarga recebendo um olhar mortal por parte dela.

- Espero que a Kenzie esteja se divertindo tanto quanto eu. - Hudson falou alegre ao ver Babe e Trip começarem a gritar um com o outro.

■ ■ ■ ■ ■

- Tia, eu já lhe disse pra parar de pendurar ratos mortos na varanda!

Kenzie estava parada em frente à porta de entrada e gritava para dentro da casa onde sua tia amarrava cordões com alhos ao redor da sala.

- Eles espantam os maus espíritos e os vampiros! - Sua tia gritou de volta a fazendo soltar um grito sufocado.

- Esse é o pior domingo da minha vida. - falou para si mesma, fechando a porta com força. - Tia! Sai dessa janela agora que eu já te falei que você não pode voar! Que merda, mulher, me escuta!