03.
Caminhei pelo campus sem um rumo definido, pois eu não o conhecia suficientemente bem para querer ir à algum lugar. À minha volta, os alunos e seus pais começavam a chegar, deixando todo o campus um pouco mais movimentado. Eles saíram de seus carros, carregando suas mochilas, olhando tudo ao redor. Uns, veteranos ansiosos e populares; outros, calouros nervosos e solitários, como eu.
Apesar dos prédios, o campus era repleto de árvores, rodeadas por um verde chão gramado.
Depois do que pareceu ser muitos minutos, cheguei ao último prédio e entrei. Logo na entrada vi uma placa que apontava para a escada que dava na biblioteca. Subi. Como era de se esperar, estava vazia e a bibliotecária arrumava as prateleiras, bastante distraída, enquanto cantarolava alguma música antiga.
Andei pelas dezenas de estantes entupidas de livros e me enfiei entre duas delas.
Toquei nos livros e senti uma fina camada de poeira em meus dedos.
"Dracula - Bram Stoker" li para mim mesmo. Não era o tipo de livro que eu costumava ler - sempre preferi os de ficção científica - mas o puxei com o dedo indicador. Antes mesmo que eu o retirasse da prateleira, um livro caiu.
Me agachei para apanha-lo e eu nem estava dando muita atenção quando notei um pequeno texto escrito na contracapa e assinado estavam as iniciais "J. H". Por que isso chamou minha atenção? Bem, meu nome é Joseph Hudson e ali, naquele caderno, estavam as minhas iniciais.
"Alguém me tira desse hospício, onde todos são normais e eu sou a única louca."
Claramente era uma garota, então o "J" poderia ser de Jean ou Joanne.
Fechei o livro para poder ver a capa: A Boy's Will, de Robert Frost.
Aquele definitivamente era o tipo de livro que eu nunca leria; tampouco escreveria aquelas palavras, pois não me considerava um louco.
Fechei o livro e, apesar de um tanto intrigado com o nome, tornei a colocá-lo na prateleira.
Com o Drácula embaixo do braço, sentei numa das mesas vazias e o abri. E, na contracapa, outra vez às iniciais estavam gravadas.
"Eu gostaria de ser um vampiro e poder voar à noite, com os morcegos" é o que estava escrito.
"Se eu fosse um vampiro, chuparia até a última gota do sangue da Zoey", pensei com amargura.
Já não queria mais ler, então fechei o livro com um pouco mais de força do que deveria e segundos depois ouvi um "Shh" da bibliotecária.
A biblioteca estava completamente vazia.
- Só tem eu aqui - disse, ficando ainda mais irritado.
Em resposta, ela aponta para a placa de silêncio.
Com um pouco de raiva dela, vou até o balcão e pego uma caneta. Apanho o livro em cima da mesa e vou para o meio de duas prateleiras.
"Se eu fosse um vampiro, cravaria minhas presas no pescoço dessa velha mal-amada. J.H."escrevi rapidamente e assinei.
...
Saindo da biblioteca, com a cabeça um pouco mais relaxada, percebi que o que tinha feito talvez tenha sido um pouco exagerado, considerando que a bibliotecária estava apenas fazendo seu trabalho.
Eu devia mesmo ter dito que cravaria minhas presas na Zoey, aquela...
- Ei, aí está você! - chamou Jason, me trazendo de volta à realidade. - seu celular não parou de tocar lá em cima, no meio das suas coisas.
- Ah, obrigada por avisar - agradeço, meio sem jeito. Eu não sei se era por causa da minha cara sempre fechada, ou por eu ser a encarnação da timidez, mas as pessoas não costumavam ser legais comigo... Com exceção da Zoey, que sempre foi uma boa amiga e, antes que eu descobrisse que ela me traía, uma boa namorada.
- Você vai lá em cima atender, ou...
- Acho que não - digo, enfiando as mãos nos bolsos.
- Vamos jantar, então.
- Certo - eu realmente estava com muita fome. Minha única refeição do dia tinha sido um copo de leite. Pela manhã não consegui comer pois estava ansioso demais para pedir a Zoey em casamento; pela tarde, estava nervoso demais com o fato de que, pela primeira vez na vida, pensamentos homicidas e suicidas passavam pela minha cabeça. ANTES QUE VOCÊ PENSE QUE EU ERA MAIS UM GAROTO AMERICANO COM TENDÊNCIAS PSICOPATAS, PODE IR PARANDO POR AÍ. Eu era só um adolescente que estava se sentindo frustrado, traído e amaldiçoado. Nada mais.
Haviam, por baixo, umas oitenta pessoas em todo o refeitório e, a julgar pela minha conta rápida de cabeça, o colégio tinha capacidade para uns duzentos alunos.
Fiquei feliz de saber que, em alguns dias, eu voltaria a ser só mais um no meio de toda aquela multidão afobada.
Oioi gente, espero que estejam gostando. Comente por favor o que estão achando 💙
Os capítulos serão sempre publicados às SEGUNDAS, QUARTAS E SEXTAS-FEIRAS.
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