Perguntas em branco
Jungkook
Não estava conseguindo raciocinar para entender o que acontecia comigo, apenas sabia que tinha algo muito estranho acontecendo, e mesmo que eu tentasse pensar sensatamente, analisando a situação e supondo que eu poderia estar passando por estresse pós-traumático, percebi que não faria sentido, porque tinha absoluta certeza de que aquelas mãos, pernas e voz não pertenciam a mim, muito menos aquele vestido azul escuro cheio de bolinhas brancas.
Acabei por levantar da cama num pulo, arrancando o fio que ligava o soro ao meu braço, levando a mesma junto, o que me causou dor, mas eu não estava me preocupando com aquilo agora, apenas queria sair dali e procurar alguém conhecido que poderia me ajudar a entender o que estava acontecendo.
Me sentia tonto enquanto caminhava até a porta do quarto, parecia que os objetos estavam mais baixos, tudo parecia esquisito, e eu sabia que não era apenas porque eu estava num hospital desconhecido por mim, minha estatura parecia modificada, e meus pés descalços também doíam com o frio do piso, o que me fez olhar para baixo e constatar que aqueles pezinhos pequenos e de unhas esmaltadas não pertenciam a mim também.
Mas ignorei minha falta de calçados e o estranho ventinho que entrava por baixo da saia do vestido e andei em disparada até a porta, a abrindo e vendo um corredor longo e cheio de pessoas, ignorei os olhares curiosos e me pus caçar por alguém de confiança, já que possivelmente todos envolvidos no acidente estavam naquele hospital, porém era bem assustador se sentir perdido, e se isso já não estivesse me deixando apavorado o suficiente, piorou quando me dei conta de que enquanto eu corria, algo pesava e balançava em cima meu peito, algo que ia subindo e descendo, causando desconforto...
Levar as mãos até ali foi o momento mais aterrorizante, pois pude constatar que havia dois volumes estranhos ali, os quais apertei com ambas as mãos e quase tive meus olhos saltando de suas cavidades ao perceber o que parecia ser aquilo, afinal eram como seios femininos, não que eu já tivesse pegado em muitos, mas com certeza pareciam ter o mesmo formato e textura.
Algumas pessoas começaram a me olhar estranho no corredor, já que continuei a espremer aqueles troços moles por um tempo, minha expressão não deveria estar das melhores, eu conseguia sentir o pavor transparecendo pela minha face enquanto esmagava os dois bolinhos de carne.
Os soltei quando senti que entraria em colapso se continuasse tocando ali, porém tirei a mão do local apenas para levar até minha nuca, onde eu sentia algo pinicando e também golpeando levemente minhas costas cada vez que corria, e como o esperado, encontrei cabelo quando meus dedos chegaram lá, entretanto não os meus cabelos curtos e aparados, e sim longos fios presos num rabo de cavalo.
Um grito alto e desesperado fluiu para fora da minha garganta quando puxei as madeixas para frente com bastante força, constatando que estavam mesmo presos a minha cabeça, nesse instante pude ouvir voz de alguém perguntando se eu estava bem, acabou me despertando, mas não olhei para ver quem tinha vindo falar, apenas me coloquei a correr mais uma vez, olhando em volta completamente sem rumo, até perceber que havia acabado chegando em uma sala de espera, os presente me olharam confusos, mas não dei atenção, entender o que estava acontecendo era mais importante.
E minha resposta veio antes que encontrasse alguém, um grande espelho presente na sala de espera chamou minha atenção, vi a Yumin nele, a garota popular de minha sala, que namorava Park Jimin, porém o que era esquisito não foi o fato d'eu estar a vendo parada ali, mas sim quando percebi que quanto mais eu me aproximava do espelho, mais ela se aproximava também...
Senti meus olhos inundarem em lágrimas de medo e desespero assim que parei em frente ao espelho, levantando minha mão até que tocasse o vidro e eu pudesse ter certeza do que já desconfiava, aquele reflexo era dela, mas quem estava em seu corpo era eu.
Mais um grito foi disparado por mim atraindo a atenção de todos, tudo em minha volta começar a rodar, minhas mãos tremiam enquanto eu cobria a boca, tentando evitar mais escândalo mesmo que fosse em vão, eu sequer conseguia raciocinar direito, afinal constatei que não estava mais no meu corpo, como isso era possível?
Vi algumas pessoas se aproximando, tentando me ajudar, porém apenas fugi mais uma vez, agora encontrando os banheiros, entrei na primeira cabine que vi e me sentei ao chão, segurando as lágrimas, tentando respirar fundo e tranquilizar meus pensamentos, porém isso pareceu levar décadas para acontecer.
Não sei quanto tempo acabou se passando, mas quando enfim me sentia mais calmo, saí da cabine encarando o espelho do banheiro com grande confusão, sabia que não era uma miragem ou qualquer outro fruto da minha imaginação, eu realmente estava no corpo de Yumin e não fazia ideia de como algo assim poderia acontecer na vida real.
Nunca fui uma pessoa completamente cética, acreditava em sobrenatural como fantasmas, idealizava uma alma gêmea e sempre achei que vivíamos num mundo grande e antigo demais para achar que sabíamos sobre tudo que havia nele, porém jamais tinha se passado por minha cabeça que seria possível uma troca de almas.
Mas sabia que ficar me remoendo no banheiro de um hospital não fariam as coisas se resolverem e muito menos me traria respostas, eu precisava encontrar com o meu verdadeiro corpo, já que pela lógica ela deveria estar "sendo o Jungkook" agora, e eu tinha que saber se Yumin entendia o que estava acontecendo ou se ambos éramos vítimas ali.
— Yumin, o que está fazendo aqui? — Uma voz conhecida por mim se pronunciou, levei um susto e acabei por correr de volta para me trancar na cabine, como se isso fosse me esconder de algo, mas minha mente se mantinha bagunçada demais para que eu pensasse numa saída melhor, então me mantive ali dentro e não me mexi até ouvir batidinhas na porta. — Eu vi você correndo pra cá, por que está fugindo de mim? — Me assustei novamente quando a tranca foi aberta com facilidade e a porta foi aberta, revelando Jimin com uma expressão preocupada. — Você tem que voltar para o quarto, vamos!
— Não vou não! — Exclamei me afastando defensivamente, me encolhendo contra o fundo da cabine, o quanto era loucura saber que eu estava no corpo da namorada de Jimin?
— Ei Brownie, fique calma. — Franzi o cenho ao ser chamado daquela forma, mas não levantei meu rosto para o encarar. — Trombei com o hyung no corredor, ele estava apavorado porque não te encontrou no quarto, e me disse que acha que você sofreu amnésia. — Seu tom era manso, quase como se estivesse tentando explicar algo a uma criança, me senti um pouco mais calmo assim. — Caso isso seja verdade, saiba que a gente se conhece há anos, e eu só quero te guiar de volta para o quarto, o médico precisa cuidar de você.
— Eu... — Murmurei, não sabia o que dizer, afinal como poderia falar para ele que eu era outra pessoa? Que meu corpo não era aquele? Com certeza me levariam para a ala psiquiátrica do hospital na hora.
— Venha, está frio demais para ficar ai sentada no chão, ainda mais descalço e num lugar sujo assim. — O Park me estendeu a mão, sua forma de falar era doce e gentil, totalmente diferente de qualquer outra vez que tentei conversar com ele, na realidade eu nunca tinha trocado mais de cinco palavras com Jimin antes, tudo estava tão maluco, se isso acabasse bem, eu precisaria de um psicólogo.
Mas aceitei segurar sua mão e fui guiado por ele até o quarto em que acordei anteriormente, na porta do mesmo aquele rapaz moreno esperava aflito juntamente de um médico e a enfermeira, começaram a me encher de perguntas e quando dei por mim já estava novamente deitado sobre a cama, recebendo um curativo no local que a agulha do soro estava antes, ainda sendo cercado pelos três desconhecidos e Jimin.
O rosado continuou ali ao lado enquanto uma coleta de sangue era feita em mim, me olhando como se quisesse passar todo o apoio e força do mundo apenas através de suas íris, e realmente me senti confortável, porém não conseguia parar de pensar que aquele olhar não estava sendo dirigido especificamente para mim, mas sim para o corpo em que eu estava, ou seja, para Yumin.
Isso não iria parar de me atormentar, eu necessitava saber como o meu corpo de verdade estava, afinal tinha passado por um acidente, mas preferi manter minhas dúvidas apenas para mim, porque dos poucos filmes sobre trocas de corpos que já tinha visto na vida, sabia que uma regra era "tentar não estragar a vida do outro", e com certeza seria estranho se Yumin começasse a perguntar sobre mim — alguém que nem era do seu ciclo de amigos — para o seu namorado, Jimin claramente não ia com a minha cara e eu não fazia ideia de ele era do tipo ciumento.
Acabei sendo levado para fazer uma tomografia, e enquanto os pensamentos sobre "manter a vida social de Yumin nos eixos" dançava em meus pensamentos, não pude deixar de notar o quanto o Park parecia estar abalado, os olhos inchados e avermelhados traziam uma angústia maior a sua fisionomia.
Ele não parecia ter se ferido mas talvez tivesse chorado por ver a namorada mal, ou alguém que viajava conosco estava numa situação pior, pois eu ainda não sabia de nada sobre ninguém e aquilo me preocupava também, afinal meu melhor amigo Namjoon viajava ao meu lado.
O exame acabou sendo demorado, e não encontraram nada que pudesse indicar alguma lesão que explicasse uma falta de memórias, isso deixou os médicos confusos, mas preferi dizer que eu me lembrava sim de tudo que tinha acontecido, apenas tinha ficado nervoso com a situação toda, a enfermeira não pareceu acreditar muito, porém se eu dizia que lembrava, eles não tinham mais porquê procurar uma causa para amnésia.
Voltei para o quarto tentando parecer o mais calmo e recuperado possível, pois queria muito ter alta para que conseguisse ir atrás de respostas, mas isso não aconteceria se continuasse sendo cercado pelos médicos e pelos dois acompanhantes de Yumin.
— Por que mentiu? — O moreno que agora eu sabia que era o irmão da Yumin questionou, me fazendo franzir o cenho.
— E eu menti sobre o quê? — Indaguei não deixando de levar mais um susto com "minha nova" voz.
— Jimin, você poderia deixar a gente á sós? — O mais velho pediu e Jimin apenas assentiu, saindo do cômodo rapidamente, quase o pedi para ficar e evitar que aquela conversa acontecesse. — Yu, eu te conheço desde o momento em que a mamãe te colocou ainda recém nascida no meu colo e me ensinou como te segurar, então não ache que eu não sei quando está mentindo.
— Eu não sei do que está falando. — Respondi me sentindo mal, mas sabia que contar a verdade para ele poderia apenas me jogar numa confusão maior.
— Quando perguntou quem eu era, você não estava apenas confusa, me olhava como se fosse a primeira vez que estava me vendo. — Ele analisou, me fazendo perceber que seria muito difícil mentir para ele.
— Eu só estava nervoso... n-nervosa. — Corrigi rapidamente a palavra para o feminino, outra coisa que seria complicado lembrar sempre de fazer.
— Qual o nome e quantos anos eu tenho? — Sua pergunta me pegou de surpresa, o cara era inteligente e eu me via desesperado.
— Você... — Murmurei perdido, eu sequer sabia que Yumin tinha um irmão antes, não fazia ideia do nome dele e muito menos da idade. — Eu não sou obrigado... obrigada a provar nada, apenas acredite que estou bem, me lembro bem de quem eu sou e de quem você é.
— O médico tem que saber da verdade. — Ele comunicou começando a ficar nervoso, eu podia notar suas mãos trêmulas.
— Pare com isso, eu não estou mentindo. — Repeti mais uma vez, ele não parecia acreditar de qualquer forma.
— Amnésia é algo sério, tem que ser acompanhado pelos médicos. — Indagou elevando seu tom de voz. — Por que prefere fingir que se lembra ao invés de se cuidar, Yumin? Você nunca foi assim.
— Porque não há problema algum nas minhas memórias. — Retruquei bufando, não poderia deixar ele pensando que eu estava com amnésia, isso seria apenas mais tempo perdido em exames e consultas médicas.
— Claro que há, você não sabe o nome do seu próprio irmão. — Ele falou apontando para si mesmo.
— Eu não sei seu nome porque essa é realmente a primeira vez que estou te vendo! — Exclamei me arrependendo um pouco das palavras escolhidas, foi puro impulso pelo nervosismo.
— Não, meu anjo, a gente se conhece desde sempre. — O moreno disse vindo se sentar perto da cama, segurando minha mão delicadamente. — Eu sou Jung Hoseok, seu irmão mais velho.
— Certo Hoseok, vou falar calmamente. — Soltei sua mão devagar. — Eu não sou a sua irmã.
— Sim Yumin, você é. — Afirmou mantendo um tom calmo.
— Eu também não sou a Yumin. — Expressei o vendo franzir o cenho, mas agora que já tinha falado, o melhor era continuar. — Eu sei que você vai achar que eu sou maluco e que isso não faz o menor sentido, mas eu não sou uma garota, ok? Eu sou um garoto que estuda da mesma sala que sua irmã, e que acordou no corpo dela depois do acidente. — Hoseok me encarava chocado, algo que eu já esperava. — Ótimo, agora está me olhando como se eu fosse um doido, até entendo, também não acreditaria se alguém me contasse algo assim.
O moreno não falou nada, apenas continuou a me analisar de cenho franzido, eu gostaria de saber o que se passava na cabeça dele, mas possivelmente estava apenas achando que sua irmã havia batido com a cabeça violentamente, então apenas continuei esperando por alguma resposta, possivelmente ele logo chamaria a enfermeira e me mandariam fazer uma enxurrada de exames, eu não deveria ter falado nada, era claro que Hoseok não acreditaria, apenas tentei a sorte.
— Yumin, se você estiver brincando com a minha cara, eu vou ficar muito chateado. — Ele quebrou o silêncio, sua expressão estava bem séria. — Eu estou muito preocupado, isso não tem graça.
— Eu te juro que não é uma brincadeira, me chamo Jungkook e tenho vinte e um anos, estudo jornalismo na mesma sala que sua irmã, e também... — Não pude concluir pois o mais velho me interrompeu rapidamente.
— Espera, qual é mesmo o seu nome? — A pergunta me pegou de surpresa, esperava qualquer coisa, menos um fio de esperança que ele tinha acreditado.
— Sou Jungkook. — Afirmei o vendo arregalar os olhos e se levantar alarmado.
— Ah meu Deus, não acredito que ela realmente fez isso! — Exclamou levando a mão até a boca, andando de um lado para o outro. — Mamãe vai me matar, e possivelmente vai matar ela também depois que revertermos isso.
— Espera, como é que é? — Questionei completamente confuso, ele sabia o que tinha acontecido então?
— A Yumin te entregou alguma coisa? Algo para comer ou um presente? — Começou a lançar perguntas, apenas me deixando ainda mais desentendido.
— Não, o único contato que a gente teve foi quando ela me entregou o crachá de identificação. — Respondi mesmo que ainda não entendesse onde ele queria chegar.
— Onde está esse crachá? Precisamos arrumar isso. — Disse de forma exasperada, enquanto começava a caçar pelo quarto o tal crachá.
— Espera, o que está acontecendo? — Indaguei já que aparentemente ele tinha esquecido que o mais envolvido e confuso naquilo tudo era eu.
— Não tenho tempo para explicar, apenas... — Continuou a falar enquanto mexia nas coisas.
— Hoseok! — Exclamei em alto tom, tendo sua atenção em mim. — Estou tendo o dia mais sem sentido da minha vida e estou a ponto de ter um ataque de nervos, você tem o dever de me explicar o que é tudo isso.
— Ok, você tem razão, tem o direito de saber. — Suspirou pesado, voltando a se sentar na poltrona ao lado da cama. — A primeira vez que eu ouvi o seu nome foi há uns dois anos, quando ela começou a faculdade.
— A Yumin falava de mim? A gente sequer tinha alguma amizade. — Murmurei desorientado, por que eu era um tópico em suas conversas? Tínhamos nos falado menos de cinco vezes desde que o curso começou.
— Ela falava superficialmente para mim, mas eu escutava bastante o seu nome quando ela estava conversando com o Jimin. — Afirmou me fazendo arregalar os olhos. — Há três meses ela começou a falar que precisava fazer algo para te ajudar, e que uma troca de corpos sempre funciona nos filmes.
— Espera, espera... — Elevei as mãos em sinal para ele para de falar. — Ajudar com o quê? E por qual motivo ela colocou troca de corpos entre as opções, isso nem deveria ser possível! — Expressei alarmado, tudo ainda parecia muito desconexo.— Como ela fez? Procurou uma feiticeira? Um bruxo?
— Eu não sei exatamente o que ela pretendia com isso, e nem imaginei que ia pra frente. — Hoseok proferiu, porém parecia estar falando mais para si mesmo.
— Mas como isso foi possível? — Perguntei novamente, o vendo desviar o olhar.
— Eu não posso dizer... — Respondeu inseguro, me fazendo ver que se insistisse um pouco, conseguiria uma resposta melhor.
— Hoseok, você mesmo disse que eu tenho o direito de saber. — Falei calmamente, o moreno apenas bufou, talvez se arrependendo do que disse. — Agora se coloca no meu lugar, acordei em um outro corpo e nada na minha mente consegue responder como algo assim foi possível, porque até onde eu sabia, isso nem era provável no mundo real.
— Você deve ser da zona vermelha, esse senso de verdade e investigação não negam. — Riu soprado antes de concluir. — Você conhece as fadas, Jungkook?
— Eu conheço a Tinker Bell. — Brinquei, porém ele parecia estar falando bem sério.
— Certo, e deve saber também que existem fadas específicas para diferentes funções. — Assenti ao que ele disse, mas não consegui entender porque aquele assunto tinha mudado tanto.
— Hoseok, o que saber que existe uma fada da água ou do vento vai me ajudar a entender isso tudo? — Questionei já começando a achar que ele estava tentando me enrolar.
— Vai entender se souber que não é apenas uma história de fantasia. — Sorriu de lado. — Alguns seres sobrenaturais ainda existem.
— Como é que é? — Perguntei franzindo o cenho.
— Os primeiros membros da minha família surgiram há centenas de anos, porém não exatamente na forma humana e hoje alguns ainda nascem com um tanto do que nossos antepassados foram. — Aquela afirmação deu um certo nó na minha mente. — Eu e minha irmã somos 30% fadas.
— O quê? — Indaguei em alto, arregalando os olhos. — Espera... Além de tudo ainda vai me dizer que fadas são reais? Daqui a pouco alguém mais entra aqui e diz que é o Peter Pan.
— Soa fantasioso, mas é a verdade, o DNA vai sumindo conforme o tempo já que muitos humanos acabaram entrando na família e misturando nosso genes, vamos perdendo um pouco desse "espírito mágico" a cada nova geração, nossos bisnetos já não terão mais nada. — Explicou e o pior era que seu tom sequer demonstrava hesitação. — Eu sei que parece loucura, mas seres sobrenaturais andam em meio aos humanos todos os dias, mesmo que hoje seja apenas descendentes, como eu e minha irmã.
— Olha, se você me falasse isso ontem eu iria te achar maluco, mas hoje me vendo do corpo de uma outra pessoa, acredito que pode ser bem possível. — Afirmei pois parecia uma história verídica por mais desacreditado que eu estava, aquilo era o famoso "parece insano demais para ter sido inventado agora". — Como ela fez isso?
— A gente não tem mais tanto poder, asas ou coisas assim, mas ainda temos um grande contato com a natureza, tanto que ainda conseguimos fazer alguns pequenos feitiços. — Sorriu de lado, de certa forma parecia orgulhoso em contar sobre o que eles eram. — Acho que minha irmã usou uma magia antiga com você, onde você dá um objeto enfeitiçado para a pessoa e fica com um outro também encantado, quando as duas pessoas usam os objetos ao menos tempo e ambas estão dormindo, elas trocam seus subconscientes, a alma de um vai para o corpo do outro durante o sono.
— Isso é muito para a minha cabeça. — Murmurei esfregando minhas têmporas com os dedos. — Que tipo de fada vocês são?
— Fadas do amor. — Disse levando a mão até o peito dramaticamente, me fazendo rir. — E pelas histórias que meus avós contam, essas fadas não faziam muito durante o ano, elas apenas mantinham a paz na sua comunidade, transmitiam mensagens e tal. Mas despertavam seus poderes somente durante toda a primavera, que é a época de maior reprodução, e ai sim seu trabalho começava.
— Estamos na primavera agora... — Concluí pensativo. — Então vocês são como cupidos da natureza? — Indaguei o que fazia sentido em minha mente.
— Pode-se dizer que sim. — Sua resposta levantou mais perguntas em minha cabeça. — Tanto que às vezes é difícil conter com esse lado cupido de ser, a vontade de ajudar é tanta que pode se tornar insuportável.
— Se Yumin tinha essa ligação com o amor, que história ela estava tentando concertar? Eu não tenho nenhum problema com ex's namorados e estou solteiro. — Questionei mesmo sabendo que Hoseok já havia afirmado que nem sabia o que sua irmã pretendia.
— Bem, isso você vai ter que perguntar para ela. — Responde dando de ombros.
— Ok, e você sabe como reverter isso? — Ele sendo alguém como ela, deveria saber também como me trazer de volta para meu verdadeiro corpo.
— Até onde sei você tem que usar o crachá que foi te dado ao mesmo tempo que a Yumin usa o crachá dela, mas não tenho absoluta certeza que isso funcionará, nunca tinha visto acontecendo, sei apenas na teoria. — Explicou me desanimando bastante.
— Tudo bem, já é um começo. — Mordi o lábio inferior pelo nervosismo. — Agora temos que ir atrás do meu corpo, seja lá onde ele está agora.
— Os acidentados da excursão estão divididos em dois andares, os mais graves ficaram no quinto andar e os mais leves ficaram nesse aqui, que é o primeiro, pode demorar um pouco pra achar. — Levou a mão até o queixo, pensativo. — Mas tudo bem, eu vou procurar informações. Qual seu nome completo?
— É Jeon Jungkook. — Falei e ele assentiu, já indo em direção a porta, porém o chamei de volta quando me lembrei de algo que ainda não tinha perguntado. — Hoseok, o Jimin sabe o que vocês são? — Questionei curioso, se o Park soubesse, talvez também estivesse sabendo do motivo pelo qual Yumin fez aquilo, e como Hoseok disse que ambos conversavam sobre mim, o rosado poderia estar envolvido nos planejamentos.
— Não, a gente nunca contou isso para ninguém fora da família. — Proferiu quebrando o meu plano de procurar respostas por Jimin. — Bem, você ainda estava usando o crachá antes de ir fazer a tomografia, a enfermeira tirou e colocou todos os objetos que estava usando ali ao lado, naquela bolsa, então pegue ele.
— Certo. — Assenti e Hoseok logo se retirou.
Me sentei na beirada da cama e me estiquei para poder pegar as roupas e a bolsa que estavam sobre uma mesinha ao perto da cabeceira, nas roupas não havia nada de interessante, porém dentro da bolsa foi fácil achar o crachá e um pequeno frasco, onde parecia ainda haver o resto de algum líquido azul, me deixando curioso sobre ele, mas preferia deixar lá mesmo onde tinha achado.
No crachá em questão acabou havendo uma outra surpresa, não era o nome de Yumin presente, mas sim informações pessoais em de Park Jimin, então ela estava usando o crachá dele o tempo todo? Isso não fazia sentido.
A menos que...
Se o crachá enfeitiçado estava no nome do Jimin, então a Yumin havia planejado me fazer trocar de corpo com o Park e não com ela, mas por quê isso?
— Jungkook! — Meu nome foi gritado na porta do quarto me fazendo levar um susto, mas relaxar em seguida por ver que era apenas Hoseok que tinha voltado. — Eu encontrei você... Quero dizer, o seu corpo... — Falou franzindo o cenho confuso com suas próprias palavras. — Ok, o importante é que perguntei para um enfermeira dizendo ser um amigo próximo e ela afirmou que tem um paciente com esse nome no quinto andar, que o mesmo estava no acidente de ônibus.
— Mas o quinto andar não é onde estão os piores casos? — Perguntei preocupado.
— Ao que parece sim, mas só indo lá para saber como estão as coisas. — Respondeu e assenti concordando.
— Ótimo, vamos lá. — Falei me levantando da cama, começando a tirar aquela camisola do hospital, que tinha sido colocada para o exame de tomografia.
— Ei, ei, espera! — O outro exclamou, arqueei as sobrancelhas confuso. — Você está no corpo da minha irmã, não pode sair arrancando a roupa assim na frente de qualquer um.
— Mas você não é qualquer um, é o irmão dela. — Retruquei e ele mudou sua expressão para uma irritada. — Não se preocupa, daqui a pouco vou estar de volta no meu corpo, não vou ter tempo de ter nenhum comportamento estranho que manche a imagem de garota educada e cordial que sua irmã tem.
— Jungkook, quando você fugiu do quanto hoje mais cedo, fez a imagem da minha irmã ficar conhecida como a garota da crise psicológica no corredor e a excêntrica menina que apertava os próprios seios e gritava pra um espelho na recepção. — Se aproximou de mim devagar. — Se conseguiu isso em apenas dez minutos, o que conseguiria em mais?
— Tudo bem, vou tentar me conter, mesmo estando a ponto de ter um ataque de nervos. — Sorri inocentemente. — Agora saia para que eu possa me trocar.
E ele saiu rapidamente, assim pude recolocar aquele vestido, ainda me sentindo incomodado mesmo que me parecesse mais "libertador" para as pernas do que usar uma calça jeans, mas era a única coisa que tinha por enquanto, e após isso calcei os tênis que estavam aos pés da cama e peguei a bolsa, não me esquecendo do crachá e por fim também saí do quarto, estranhamente não encontrando mais Jimin do lado de fora, mas não questionei sobre, apenas me deixei ser guiado por Hoseok até o quinto andar.
— Como vamos saber em qual quarto eu estou? — Indaguei a Hoseok assim que pisamos naquele andar.
— Vamos ter que tentar a sorte. — Riu soprado e concluiu em seguida: — E lembre-se que apenas os familiares podem ver quem fica nesse andar, então vamos ter que ser rápidos e evitar dar de cara com médicos e enfermeiros.
Acabamos andando bastante por todo aquele andar, encontrei muitas pessoas que estavam no ônibus comigo também, felizmente nenhuma corria risco de vida até então e Namjoon não estava naquele andar, o que me fazia crer que deveria estar no térreo ou talvez já tivesse tido alta, isso me deixou mais aliviado.
Ironicamente apenas achamos o "paciente Jeon Jungkook" no último quarto em que entramos, não havia nenhuma enfermeira ou médico por perto, então não tivemos dificuldades para entrar no leito.
Não posso negar que foi um dos momentos mais estranhos da minha vida, afinal estava vendo a mim mesmo em uma cama de hospital, com a cabeça enfaixada e algumas escoriações leves, me senti vivendo uma daquelas experiências de quase morte, onde a pessoa afirma que se viu fora de seu corpo.
— Oh, você é um gato. — O moreno expressou após entrar no quarto.
— Ei! — Exclamei lhe dando um tapa leve no ombro. — Obrigado. — Sorri de lado sendo retribuído pelo outro.
— Vou te chamar pra sair quando voltar ao normal. — Falou andando até a cama.
— Talvez eu aceite. — Pisquei um dos olhos, ganhando uma risada baixo do mais velho. — Então, será que eu estou bem? — Perguntei mudando de assunto, encarando a mim mesmo adormecido naquela cama.
— Vamos ver aqui. — Hoseok respondeu enquanto pegava a ficha que estava presa às grades da cama, seu olhar após ler não foi nada bom. — Ah, isso não é uma boa notícia.
— O que foi? — Questionei alarmado.
— Os sinais vitais estão normais, mas pelo que diz aqui você já chegou aqui em coma profundo após uma pancada forte na cabeça durante o acidente. — Disse de forma entristecida, eu sequer conseguia lidar com aquela informação.
— Isso quer dizer que... — Murmurei, mas não consegui concluir minha linha de raciocínio.
— Não vamos poder fazer a troca até que o seu corpo verdadeiro esteja acordado, o feitiço também funciona ao inverso quando é para reverter, então ambos tem que estar despertos. — Explicou num tom ainda mais melancólico, eu sentia que ele choraria a qualquer instante.
— E caso ele nunca mais acorde? — Perguntei mesmo tendo ideia do que aconteceria caso... esse coma não acabasse.
— Você passará o resto da vida sendo a Yumin e minha irmã morrerá junto com o corpo.
~♥~
até :3
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