Caixa rosa
Jungkook
Me levantei daquela cama torcendo para que Jimin não tivesse um sono leve, afinal seria fácil alguém acordar ao perceber alguém fuxicando em seu quarto, e o que eu menos queria era ser pego pelo Park enquanto mexia em suas coisas sem a permissão do mesmo.
Eu não sabia se eles tinham o tipo de relação mais aberta e despreocupada, onde não se tem receio de ter o outro mexendo nas suas coisas como se fosse as dele, e muito menos tinha consciência se Jimin se irritaria ao ter sua namorada revirando seus objetos pessoais, porém não poderia contar com a sorte.
Mas claro que eu não iria me jogar naquele quarto como se fosse minha própria caça ao tesouro ou investigar como uma cena de crime, pois não teria muito tempo para pesquisa detalhada ou algo assim, me focaria nas coisas mais óbvias, como o computador do rosado e cadernos ou livros que poderiam ter algo importante.
A primeira coisa que veio em minha linha de visão foi o celular do Park, mas infelizmente tanto a galeria quanto o aplicativo de mensagens eram bloqueados por senha, e aquele foi o meu primeiro empecilho da noite, até tentei algumas combinações de números e letras, porém ele não usava algo óbvio como aniversário ou nome da namorada.
Como a luz que vinha da sala era pouca para que eu enxergasse todo o cômodo, precisei do auxílio da lanterna do celular de Jimin, já que o de Yumin estava numa bolsa na sala e o meu mesmo deveria ter sido entregue para minha mãe quando ela foi no hospital, ou ao menos eu espero que ela tenha ido lá me ver, não tenho muitas certezas sobre a conduta dela como mãe desde a minha infância.
E falando no celular de Yumin, eu já havia feito algumas checagens nele para ver se encontrava algo que poderia me dar um luz em toda aquela situação, entretanto a Jung não tinha muitas coisas em seu aparelho, percebi que ela sempre apagava as conversas que tinha com amigos e em sua galeria não havia nada de surpreendente, apenas fotos da mesma com amigos e família.
Acabei tendo esse problema se repetindo com o notebook de Jimin, o aparelho era travado por uma código de dez dígitos, e nada do que tentei colocar funcionou, novamente uma senha grande e com inúmeras possibilidades, mas preferi não insistir muito naquilo, pois temi que o barulho das teclas do teclado acabasse despertando o Park.
Dei uma rápida olhada em alguns cadernos que estavam espalhados sobre a cômoda do quarto, porém eram apenas matérias para estudo, nada como um diário ou bloco de notas, Jimin era do tipo que mantinha seus segredos bem guardados ou nem escrevia em algum canto, mantendo tudo somente para si mesmo.
Mas bem, meu objetivo ali não era saber sobre ele, eu queria ter qualquer informação sobre o que ele quis dizer a mim quando fizemos um trabalho juntos no ano passado, ou quem sabe entende porquê Jimin tinha uma certa aversão a mim antes, mas depois do acidente se mostrou tão preocupado, qualquer pequena pista já seria de grande ajuda, pois talvez sabendo seus motivos eu poderia chegar até o objetivo de Yumin quando me trocou de corpo com ela.
Eu estava começando a desconfiar que o tudo isso tinha alguma relação com essa tal conversa que Jimin nunca conseguiu ter comigo, só precisei juntar os pontos para concluir isso, afinal a Yumin usava o crachá de Jimin quando sofremos o acidente de ônibus, ou seja, ela enfeitiçou um objeto que iria para as mãos de Jimin, então pretendia me trocar de corpo com o Park e não com o dela, significava que tudo estava relacionado a ele e não a ela.
Ainda não tinha como ter certeza disso, porém era o que mais fazia sentido em minha mente, a ajuda que Yumin queria dar não deveria ser para mim, mas sim para Jimin, para que o mesmo pudesse dizer o que nunca conseguiu, porém o plano nem tinha dado certo, já que ela acabou com o crachá errado em mãos, e também, pelo visto o rosado não estava ciente dessa ajudinha que sua namorada queria lhe dar.
Ou talvez ele até soubesse de tudo, porque eu ainda não sabia se Jimin tinha consciência da existência das fadas ou não, isso significava que tinha a possibilidade dele ter esquematizado tudo juntamente dela, mas como eu troquei de corpo com Yumin e não com Jimin, ele deve estar imaginando que a troca de corpos não funcionou.
Mas se fosse isso, ele não teria conversado com a Yumin sobre o fracasso do plano, certo? Até o momento Jimin não havia deixado escapar nada que pudesse o fazer ser suspeito de ter planejado juntamente a ela.
Percebi que pensar sobre isso tudo só estava me deixando ainda mais confuso.
E eu ainda não conseguia concluir o que poderia ser tão importante para que o Park sequer conseguisse encontrar coragem o suficiente para me dizer, mas acho que depois de descobrir que alguns seres dos contos de fadas são reais, eu conseguiria imaginar em mil respostas e possibilidades.
Suspirei frustrado após aquela série de indagações sobre a situação, não adiantaria de muito ficar apenas pensando tanto e agindo pouco, já que eu ainda não tinha muito tempo e Jimin era do tipo que se mexia bastante durante o sono, sempre me deixando apreensivo e com receio de que ele estivesse próximo a acordar.
Voltando a minha investigação, o meu próximo alvo foi o guarda roupa do Park, outro lugar que não havia nada demais além das suas roupas — contendo um cheiro de amaciante muito gostoso, só pra constar — e algumas caixas, as quais me chamaram atenção pela variedade de tamanhos, sendo assim logo escolhi uma para dar uma olhadinha.
Em algumas havia apenas álbuns de fotos, possivelmente lembranças da infância que eu não teria tempo para ver um por um e nem achava que teria algo importante para o meu objetivo naquela pesquisa, já em outras haviam documentos e antigos trabalhos da faculdade, também nada que serviria para mim.
Até pensei em desistir de buscar por ali e ir procurar na sala, se não fosse por uma caixa rosa entre todas as outras sem cor, fechada com algo que pensei ser um fio de barbante verde, mas apenas em pegar pude perceber que era alguns ramos, decorada com objetos naturais, como flores e folhas secas e por fim alguns gravetos pequenininhos, isso me chamou muito atenção para a caixa.
Era tudo tão delicado que fiquei com medo de mexer e acabar estragando, porém eu tinha um pressentimento bom envolvendo aquela caixinha, então deixei a minha curiosidade falar mais alto e decidi que a abriria, tomando o maior cuidado possível, claro.
Acabei indo pra sala para ter mais espaço e luz para poder ver o que tinha dentro da caixa, felizmente a amarra estava frouxa e foi fácil de desfazer o laço, assim pude tirar a tampa e me surpreender com o conteúdo; era tudo tão delicado e bem arrumado que eu poderia jurar que aquilo se tratava do presente de alguém.
O fundo era coberto por palhas secas, por cima ficavam objetos como um livro de capa dura, com algumas escritas numa língua que eu não conhecia, um colar artesanal com água dentro de seu pingente, alguns recortes de papel, envelopes pequenos e perfumados, e principalmente muitas sementes e flores secas que também enchiam a caixa.
Pela naturalidade das coisas logo pensei que até parecia um presente feito por uma fada...
Não poderia deixar de citar também o perfume que cobriu o ar assim que a caixa foi aberta, estranhamente muito parecido com o odor da colônia que Jimin costumava usar, era um cheiro tão bom que até me perdi de meu objetivo por alguns instantes apenas para sentir, mas consegui me tirar daquele transe e voltar a minha "missão".
Descartei os objetos que não me interessavam e também o livro que estava fechado por um cadeado e me foquei nos papéis presentes, o primeiro que peguei era um recorte de jornal regional do território azul, datado de cerca de cinco anos atrás, porém fui interrompido antes mesmo de conseguir começar a ler:
— O que está fazendo? — Uma voz rouca e um tanto sonolenta soou do nada, me dando um grande susto, tanto que quase caí do sofá em tamanha surpresa.
— E-eu só estava... — Tentei me explicar, porém ao notar a expressão nada amigável de Jimin, não consegui falar nada.
— Por que está mexendo nas minhas coisas? — Indagou se aproximando e pegando o papel que eu ainda segurava.
— Só... — Não conseguia arrumar alguma desculpa resolveu naquele momento, Jimin parecia realmente enraivecido por ter me pegado olhando aquela caixa.
— Por que está mexendo nisso? — Exclamou, e mesmo que sua voz fosse baixa e ele sequer fazia menção de a elevar, ainda sim me deixou com medo de sua expressão irritada. — Você passa o dia inteiro agindo estranho e agora te pego xeretando nas minhas coisas em plena a madrugada, apenas com a lanterna do celular, então não tente fingir que isso não é no mínimo suspeito, o que está havendo?
— Me desculpa, eu não quis ser inconveniente, apenas estava procurando algum moletom do guarda roupa e acabei vendo essa caixa, ela me deixou com curiosidade. — Joguei a primeira explicação que surgiu na minha cabeça.
— Mas você conhece essa caixa, foi você quem me deu ela há um tempo atrás, não se lembra? — Retrucou arqueando as sobrancelhas, eu havia chutado outra bola fora.
— Sim... Mas tive vontade de ver de novo. — Falei mesmo que isso não fosse exatamente a melhor desculpa.
— Pra quê? Tem algo na caixa que te interessa tanto assim? — Perguntou ainda desconfiado.
— Não sei... Eu apenas quis olhar mais uma vez, sabe? — Tossi falsamente e depois fingi um bocejo. — Ai estou com sono, vou voltar para a cama.
Corri de volta para o quarto antes que Jimin me chamasse e deitei na cama rapidamente, fingindo ter começado a dormir na esperança de que o Park não viesse atrás de mais respostas, o que felizmente não aconteceu, apenas o vi entrar novamente no quarto com a caixa em mãos e a guardar antes de voltar para a cama, sem dizer nada.
Novamente mal consegui pegar no sono.
{.x.x.x.}
Na manhã seguinte acordei mais cedo do que Jimin e aproveitei para sair antes mesmo que ele despertasse, para evitar qualquer clima estranho ou mais perguntas vindas dele, apenas deixei um bilhete avisando que precisava ir mais logo para casa pois minha mãe tinha me chamado, o que era mentira, mas ele não precisava saber que eu estava fugindo.
Acabei pegando o caminho do hospital, nem sabendo exatamente porquê tive vontade de fazer aquilo, apenas senti que precisava "me" ver e fazer perguntas que eu sabia que não teria as respostas ainda, mas me sentia bem em ao menos saber que estava indo atrás de conclusões em vez que ficar somente com as questões.
Não foi difícil entrar no hospital e subir até o andar em que "eu" estava, ninguém me parou ou deu atenção enquanto passava pelos corredores em passos apressados, temendo que alguma enfermeira me reconhecesse e logo soubesse que eu não era um familiar do paciente.
Entrei no quarto respirando aliviado por ter conseguido chegar sem imprevistos e por não ter ninguém no quarto além de "mim" ainda adormecido sobre a cama, mas agora já sem algum soro ou máscara de oxigênio preso ao corpo, apenas a máquina de batimentos, o que indicava realmente uma melhora.
— Oi Yumin, como está? — Indaguei aproximando da cama.
Ainda continuava a ser bizarro ver a mim mesmo, mas eu não estava ali para pensar no quanto era esquisito conversar comigo mesmo, se bem que para falar a verdade eu sequer sabia porque tinha decidido ir ali.
— Sei que aconselham a conversar com quem está em coma, mas eu não sei se pode me ouvir. — Murmurei levando a mão até a "dela", segurando-a. — Mas vou fazer assim mesmo...
Eu sequer tinha alguma coisa para falar, preferia ter preparado alguma coisa, afinal se "ela" acordasse enquanto eu falava, que ao menos eu estivesse dizendo alguma coisa legal, e não me embolando em palavras sem nexos e gaguejadas, mas pelo visto iria ter que ser na base do improviso.
— Gostaria de saber o que dizer, mas minha mente nesse momento só consegue lembrar da noite passada, eu vi coisas que acho que o Jimin não gosta nem que você mexa, mesmo que tenha sido você quem lhe deu. — Comecei a falar como num desabafo, de certa forma era um mesmo. — Eu achava que ele sequer se importava com a minha existência, porém agora descubro que não é bem assim... — Suspirei olhando para baixo, fitando nossos dedos unidos. — O que ele queria me contar? E o que mais você esconde?
— Com licença, quem é você? — Uma segunda voz se fez presente, não pude deixar de me assustar, mas não precisei me virar para saber de quem que era.
Minha mãe...
— Eu sou uma amiga do seu filho. — Respondi me virando para vê-la, a mesma tinha uma expressão abatida, com grandes bolsas abaixo dos olhos, não parecia descansar fazia dias. — Desculpe, só queria o visitar, mas não deixam entrar quem não é da família. — Disse enquanto me afastava da cama, minha mãe parecia mais interessada em olhar que antes eu segurava a mãe "dele".
— É mesmo apenas uma amiga? Meu filho não fala muito sobre suas relações. — Ela indagou arqueando as sobrancelhas, tentando um tom brincalhão mesmo que ficasse óbvia a sua falta de animação.
— Talvez devesse perguntar mais para ele. — Disse a pegando desprevenida pela forma que me olhou.
— Tem razão. — Sorriu forçadamente. — Eu me afastei muito do meu menino, parece que nem o vi crescer. — Proferiu enquanto se aproximava da cama.— Sequer tinha me despedido dele no dia da excursão, eu saí bem cedo... E só após tudo isso que me dou conta que a gente não tinha uma conversa completa fazia semanas.
— Não precisa se lamentar pelo que não fez, apenas mude as coisas daqui pra frente, faça ele saber a presença dele importava. — Respondi me fazendo de amiga que sabe tudo, mas na verdade era apenas o que eu queria realmente, que ela me desse atenção e que não fosse motivada apenas pelo acidente que sofri.
— Tem razão. — Suspirou desviando o olhar. — Eu temo que meu filho se vá sem saber o quanto eu o amava.
— Ele sabia sim, pode acreditar. — Murmurei baixinho, era tão estranho estar na frente dela e saber que tecnicamente eu não era mais o seu filho... Ou ao menos, por fora eu não era mais.
— Você parecem bem próximos. — Ela sorriu de lado, dessa vez parecendo sincera. — É bom saber que ele tem alguém para compartilhar segredos e coisas assim, eu nunca soube muito sobre os amigos do Kookie.
— Senhora, o Jungkook vai ficar bem e vão poder recuperar o tempo perdido se quiser isso. — Afirmei aquela frase, dizendo ela também para mim mesmo, eu realmente queria acreditar naquilo.
— Eu torço por isso, querida. — Ela proferiu com seus olhos começando a se inundarem e aquilo me deu uma grande vontade de abraçá-la e dizer que eu estava bem, que estava ali em sua frente, mas não podia fazer isso.
Após sua fala o quarto tomou o silêncio, e eu me aproximei devagar, colocando a mão em seu ombro em forma de apoio e minha mãe segurou minha destra, nada mais foi dito até eu avisar que precisava ir embora.
No fim aquela minha investigação no quarto de Jimin apenas me causou mais dúvidas e desconfianças sobre tudo, meu corpo continuava em coma e eu não tinha como o despertar, por fim ainda tive um momento estranho com minha mãe, e fez eu sair daquela clínica me sentindo ainda pior do que quando entrei.
Mas tirando os pontos ruins, foi importante para mim de certa forma ter aquela situação, ver a jeito que ela se importava comigo era algo que eu precisava e fingia não perceber, sem contar que mesmo que aquela minha busca por respostas não tenha dado grandes frutos, agora eu já tinha algo para começar.
E talvez Hoseok soubesse algo sobre aquela caixinha.
~♥~
Até o próximo!
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