Buscas azuis
Jungkook
"O que eu poderia fazer agora que tinha aquela informação?"
Essa era a pergunta que eu estava me fazendo há mais de cinco horas, desde o momento em que Yoongi especulou, ou melhor, afirmou que Jimin poderia ser um ser mágico assim como ele, e que possivelmente o Park era uma fada, ou quem sabe um elfo, pois sua energia era forte o bastante para pertencer a um desses seres.
Eu não conhecia muita coisa sobre o mundo mágico e também não sabia quantos seres eram reais, mas pelo pouco que Yoongi se dispôs a me contar, não eram muitos seres que tinham poder o suficiente para criar um feitiço ou alguma outra magia para poder para obter uma aparência humana, para outros seria até ofensivo se "transformar" num humano e alguns sequer tinham contato ou vontade de estar perto de humanos, ou seja, sobrava poucos seres para colocar numa lista de possibilidades.
E bem, Yoongi disse que para as fadas obterem uma aparência humana não era algo simples, esconder cada detalhe de suas características exigiria uma grande quantidade de energia e magia, uma coisa que não seria simples, ainda mais mantendo todos os dias, ou seja, talvez Jimin fosse algum outro ser.
Por incrível que pareça eu não estava assim tão chocado ao saber da possibilidade de Jimin ser uma fada ou seja lá o que for, tinham tantas coisas loucas acontecendo na minha vida que eu começava a desconfiar até de mim mesmo, se acabasse descobrindo que na verdade sou descendente de uma família de bruxos, não me surpreenderia.
A verdade era que ainda existia coisas nesse mundo que nem eu e nem os mais estudiosos conheciam ainda, alguns segredos devem permanecer escondidos e algumas coisas nunca vão poder ser explicadas, e está tudo bem, há um deslumbramento no mistério que nos move de certa forma.
E era esse deslumbramento que me trazia tanta curiosidade sobre o Jimin, o garoto havia sido um mistério para mim por muito tempo, e agora ainda continuava sendo, talvez ele nunca fosse confiar em mim para contar sobre si mesmo, mas eu ainda tinha esperanças de que iria o entender algum dia.
O Park continuava mantendo a sua greve do silêncio, não atendia minhas ligações e ignorava completamente minhas mensagens, eu já começava a desconfiar que ele tinha me bloqueado ou desligado o celular, e ir atrás dele apenas poderia o deixar ainda mais irritado comigo, então preferi esperar que ele me procurasse, afinal eu não tinha feito nada errado para precisar ir atrás de perdão ou alguma coisa assim.
Não tinha como eu descobrir nada com Jimin agora, então o jeito era tentar saber de outras formas, e Yoongi iria me ajudar com aquilo, o mesmo havia me dito que as criaturas mágicas fazem um tipo de "cadastro mágico" com cada criatura que já nasceu e morreu neste planeta, uma forma de ter controle e saber se estavam a salvo.
Quando perguntei o motivo de existir algo assim, Yoongi me explicou que era importante saber quem era e onde estava cada ser que nascia, servia para a própria segurança dos mesmos, assim os líderes de cada clã poderiam ter as informações necessárias para saber se seus membros estavam seguros e mantendo seu segredo.
Porém informações como essas não eram dadas para qualquer um, apenas os líderes tinham acesso e sabiam como entrar nesse cadastro, não era como acessar um site qualquer na internet e colocar uma senha, era necessário magia e também ser um dos autorizados a ver a lista, ou seja, precisaríamos de Taehyung para ajudar.
Mesmo que eu acreditasse em Yoongi e soubesse que ele tivesse embasamento o suficiente para dizer se alguém era um ser mágico ou não, ainda precisava de uma confirmação mais clara disso, e o próprio loirinho concordava que tinha coisas suspeitas sobre o Park.
E assim, no dia seguinte o Hoseok, Yoongi e eu entramos num carro a caminho do bosque onde o loiro e sua comunidade mágica vivia, eu não sabia se era um bom plano e muito menos se Taehyung iria aceitar me dar informações sigilosas, era um tiro no escuro e agora eu já estava decidido a fazer.
— Há chances dele negar isso, não é? — Perguntei para Yoongi enquanto já caminhávamos pelos caminhos do bosque.
— Sim, mas pelo menos a gente vai ter tentando alguma coisa. — O loiro respondeu, com aquele mesmo sorriso terno de sempre.
— Só espero que não estejamos perdendo tempo. — Comentei meio rabugento, não sabia porque daquele mal humor repentino.
A verdade era que desde que entramos naquele lugar eu me sentia irritado, estava calor demais, a blusa que eu tinha escolhido ficava apertando meus seios, a calça era folgada demais e parecia que ia cair a todo momento, os sapatos não eram os certos para caminhar na terra e uma hora ou outra eu tinha que espantar algum mosquito chato que queria me picar.
— Você está sentindo, não é? — A pergunta veio do loiro, e não a entendi muito bem.
— Sentindo o quê? — Questionei franzindo o cenho.
— Bem, cada comunidade de fadas criam suas próprias proteções. — Respondeu enquanto passávamos por aquela mesma barreira mágica da última vez, entrando na vila onde as faires moravam. — Nós temos algo além da barreira, existe uma energia no lugar acaba espantando os humanos.
— Mas estou no corpo da Yumin, ela não é apenas humana. — Indaguei ainda confuso.
— Jungkook, a nossa magia reconhece uma alma humana. — Hoseok proferiu, rindo da minha expressão desentendida.
— Não senti isso da primeira vez que estive aqui. — Falei e Yoongi se virou para mim sorrindo, não entendi o porquê.
— É que você está cada dia mais desconectado com o corpo, isso é muito bom, será mais fácil quando for retornar. — Ele explicou, me animando com aquilo.
Continuamos andando pela vila até chegar numa árvore central, que era gigantesca e me deixou de boca aberta, nunca tinha visto uma árvore daquele tamanho, e quando algum tipo de porta se abriu nas raízes dela eu entendi que não se tratava de uma planta comum.
E logo os cabelos vibrantes e vermelhos de Taehyung puderam ser vistos quando ele saiu por esse portal que se abriu, o mesmo sorriu para nós e nos fez um movimento de cabeça, indicando que éramos para lhe seguir, quase dei pulinhos constrangedores por perceber que a gente iria entrar na árvore, porque cara, eu queria muito conhecer aquilo.
Eu me sentia num verdadeiro filme de fantasia, o local por dentro não parecia o tronco de uma árvore, mas sim um castelo, com diversos cômodos e corredores, mesmo com paredes de madeira, com certeza havia muita magia naquele lugar, e era fantástico cada pequeno detalhe que compunha aquela construção.
— Yoongi havia me mandado algumas mensagens dizendo o que vocês queriam. — Taehyung cortou o silêncio enquanto nos guiava por um longo corredor. — Não sei se vai ser possível, mas posso tentar.
— Vocês tem celulares? — Perguntei bem surpreso e o ruivo riu soprado.
— Somos apenas fadas, mas não paramos no tempo, temos nossa tecnologia. — Respondeu ainda rindo, deveria estar me achando um idiota.
— Oh desculpe. — Murmurei preocupado em ter lhe ofendido ou algo assim.
— Não se preocupe. — Falou sorrindo e levou a mão até meus cabelos, os bagunçando. — Bem, vamos logo com isso, meus pais não ficariam nada felizes se soubessem que trouxe pessoas de fora pra cá.
Apreciamos nossos passos até chegar ao final do corredor, onde uma porta metálica estava, a mesma foi aberta por Taehyung e adentramos a sala que havia ali. O local era bem silencioso, parecia até a prova de som, pois não era mais possível ouvir os barulhos de conversas e passos que havia do lado de fora.
No centro da sala havia uma única mesa, feita de pedra e com algumas escrituras acima dela, ao lado da mesma havia um objeto esquisito, meio arredondado, onde Taehyung colocou sua mão e aquilo se acendeu momentaneamente e depois se apagou.
— Me diga qual o nome, a idade e o território do rapaz que querem procurar. — O ruivo pediu, porém sem nos olhar, seus olhos estavam fixos na mesa.
— É Park Jimin, ele tem 21 anos e é do a zona azul. — Lhe respondi rapidamente, me corroendo de ansiedade.
— Certo. — Sorriu minimamente. — Não vai demorar muito.
— A gente não deveria estar vendo alguma coisa? Uma tela com nomes? — Perguntei de forma sussurrada para Yoongi.
— Eu disse que apenas os líderes têm acesso, somente o Tae e os pais dele podem ver as coisas que devem estar aparecendo agora no centro da mesa. — Disse apontando para o local.
Assim Yoongi me explicou que quando Taehyung colocava sua mão naquele item redondo, a magia presente nele lia as digitais do ruivo, e assim mostrava a ele, e somente a ele, nomes sobre o mármore da mesa. O feitiço naquilo funcionava de acordo com seus pensamentos, sendo assim Taehyung apenas tinha que pensar nas informações sobre alguém e um nome iria aparecer sobre a mesa caso existisse algum ser mágico com aquelas características.
— Desculpe, mas eu não encontrei nada relevante, seja quem ou o que for esse Jimin, não está registrado aqui. — Taehyung cortou o momento de explicação de Yoongi.
— Não há ninguém com o mesmo nome? — Perguntei decepcionado, estava realmente esperando receber alguma informação significativa.
— Bem, há outras pessoas com esse nome, mas uns são mulheres e outros têm idades bem diferentes. — Respondeu se afastando da mesa e virando-se para mim, também parecia desapontado por não ter tido como ajudar.
— Tem a chance do Jimin ter mentido sobre a idade, não é? — Hoseok indagou e os outros assentiram.
— Sim, a gente pode procurar mais alguma coisa ou... — Yoongi começou a falar, mas o interrompi.
— Não gente, está tudo bem. — Falei forçando um sorriso. — Se nem o Hoseok sabia sobre a possível identidade mágica de Jimin, significa que ele tem boas razões para manter isso em segredo, então se for para eu saber mais sobre isso, que seja pela boca do próprio Jimin.
— Você tem razão. — Hoseok disse e os rapazes concordaram.
Hoseok e eu voltamos para casa após isso, eu não tinha como negar que fiquei bem esperançoso quando vi aquela tal mesa mágica e tudo que compunha aquele local incrível, e foi como receber um balde de gelo direto na cabeça, mas não ia desanimar, as informações viriam no momento certo.
Acho que o que realmente acabou me deixando bem cabisbaixo no caminho de volta foi por me dar conta que realmente havia a possibilidade d'eu nunca retornar ao meu verdadeiro corpo, afinal estava ali vendo toda aquela magia e não tinha nada que poderia me fazer voltar, e as chances do meu corpo nunca sair do coma eram grandes.
Hoseok percebeu que eu estava para baixo, tentou me animar me levando para o shopping, indo diretamente nas lanchonetes e me pagando qualquer besteira doce ou gordurosa para comer, até ganhei um ursinho de pelúcia na volta pra casa, com o moreno se lembrando que sua irmã amava ganhar aqueles bichinhos.
Foi divertido tentar esquecer por algumas horas toda a bagunça que havia virado a minha vida, o Jung era um cara bem legal, conseguia facilmente arrancar um sorriso de qualquer pessoa e tinha um bom astral consigo, eu gostava muito da companhia dele.
A volta para casa foi silenciosa, ele havia me animado um pouco, mas eu ainda não estava com muita vontade de desabafar ou algo assim, queria apenas ficar no meu cantinho em silêncio, e Hoseok respeitou isso.
O resto do dia passou lentamente, não sai do quarto pelo próximas horas que vieram, me mantive escrevendo algumas coisas, observações sobre tudo que havia acontecido e tentando juntar uma lista de pistas, não iria me levar a algum lugar, porém me ajudava a organizar as ideias.
Possivelmente eu teria ficado até a noite listando coisas se batidas na porta do quarto não tivesse me interrompido, tive que me levantar da cama a muito contragosto para abrir, mas não esperava me deparar com Jimin parado ali, me olhando como um cachorrinho que caiu do caminhão de mudança.
— O que faz aqui? — Questionei o olhando desconfiado.
— Vim conversar. — Respondeu desviando o olhar de mim, sua voz estava apática, assim como sua expressão.
— Entra. — Lhe dei espaço para passar e assim ele fez.
Jimin se sentou na cama de Yumin e me olhou quase esperançoso, não entendi o que ele desejava, mas apenas sorri de lado mostrando que não estava bravo ou algo assim, entendia que sua reação deveria ter alguma explicação, mesmo que tivesse sido bem estranha e inesperada.
— O que veio dizer? — Perguntei fechando a porta e me virando para o rosado.
— Eu, q-queria contar... Eu... — Gaguejou uma boa parte das palavras, seus mãos estavam trêmulas, parecia estar bem nervosos. — Ah droga, não consigo fazer isso.
— Jimin, qual o problema comigo? — Perguntei o fazendo me olhar surpreso. — Você finge que eu não estou presente faz anos, foge quando falo com você e agora que sabe que sou eu no corpo da Yumin fica agindo como um gato assustado, até parece que eu sou alguém que te fez mal.
— Você não entenderia... — Jogou a típica frase, e isso me irritou um tanto.
— Não me venha com essas frases clichês, eu não sou ignorante, claro que entenderia se você me explicasse. — Retruquei me aproximando um pouco mais da cama, ele se levantou.
— Eu não... — Ficou em minha frente, parado e me encarando, — Jungkook, eu ensaiei isso por muito tempo, mas nunca imaginei que teria que falar tudo isso vendo o rosto da Yumin e não o seu. — Se virou de costas para mim. — Vai ser mais fácil se eu não estiver te olhando.
— Tudo bem, apenas me dê alguma explicação. — Disse tentando o passar um pouco de confiança.
— Você já sabe sobre a família da Yumin, e o Hoseok me disse agora a pouco que você é de total confiança e eu acredito nisso. — Suspirou antes de concluir. — Eu sou como eles, não sou totalmente humano.
— Eu sei. — Murmurei e ele pareceu ficar surpreso novamente.
— Sabe? — Indagou exclamando.
— Yoongi me disse que há uma energia mágica em você, ele sente isso. — Falei e toquei seu ombro levemente. — Mas isso não muda nada para mim, você sendo humano ou uma fada, um gnomo, uma sereia ou um vampiro, não faz diferença, eu continuo gostan-... — Me interrompi, antes que falasse demais. — É, continuo achando você alguém legal.
— Pensei que sentisse raiva de mim. — Disse baixinho, quase sussurrando.
— Ok, você já me deixou muito irritado pela forma que me ignorava, mas eu quero entender o seu lado. — Admiti dando de ombros.
— Espero que realmente entenda. — Mais um suspiro. — Sabe, eu ando fugindo de quem realmente sou há mais de três anos.
— Qual ser mágico você é? — Perguntei bastante curioso sobre aquele fato.
— Sou 90% uma fada. — Assumiu rindo soprado ao fim de sua frase.
— Mesmo? — Não estava verdadeiramente chocado, Yoongi havia me dito que as chances de Jimin ser uma fada eram grandes, mas eu ainda queria saber porque o nome dele não pareceu nos registros que Taehyung pesquisou.
— Sim, esses 10% humano foi por causa da minha avó, que se envolveu com um humano há muitos anos, e eles tiveram um único filho, que é o meu pai. — Riu sem humor. — Esse mesmo humano tentou levar o meu pai ainda bebê para cientistas, ele queria lucrar com a descoberta de fadas e isso destruiria tudo para a minha gente. — O tom de sua voz demonstrava a raiva que sentia. — Ele foi descoberto antes de sair de nossa vila e foi expulso, tiveram que relocar a vila para outro bosque, um mais longínquo, onde aquele humano não poderia encontrar.
— Eu sinto muito por isso. — Falei sincero.
— Cresci escutando que os humanos não eram confiáveis, que eu não poderia abaixar a guarda perto de um. — Havia uma certa dor em sua voz. — Mas havia um acampamento perto de onde eu vivia, e eu sempre me via fascinado por aqueles visitantes, eu queria entender sua forma de vida, queria conhece-los, quem sabe até ser ser amigo de alguns. — Foi abaixando sua cabeça devagar, parecia a ponto de chorar. — Até que um dia eu encontrei uma jaqueta que havia sido esquecida por algum campista, eu a vesti e assim consegui esconder minha imagem. — Soltou um longo suspiro antes de concluir. — E foi quando comecei a sair do bosque e ir até uma praça que havia perto da entrada da floresta, foi quando conheci Yumin.
— Ela se sentava todo dia perto de você, me lembro que contou essa história. — Proferi relembrando de quando ele havia me contado como apelidou Yumin de brownie.
— Ela nunca falava nada, nunca me perguntava nada, mas eu sentia que ela sabia o que eu era. — Sorriu de lado. — Depois que ficamos amigos, eu tirei aquele capuz gigantesco e me mostrei para ela. Foi quando Yumin me contou sobre sua família e eu me senti bem porque era alguém que me entenderia.
— Por que ninguém da família da Yumin sabe sobre você? — Indaguei um tanto desconfiado, parecia haver mais coisas naquela história do que ele queria contar.
— Porque eu preferi assim, eu queria uma nova vida, se soubessem do meu passado, as coisas poderiam vir a tona uma hora. — Ele respondeu, mas ainda me mantive com dúvidas.
— Você fugiu? — Perguntei arqueando as sobrancelhas.
— Sim, eu estava cansado de ser controlado daquela maneira por meus pais, eles me queriam preso naquele bosque, sempre ao lado deles, queriam escolher meus pretendentes, escolher o que eu vestiria e só faltava escolher o que eu poderia falar, mas eu tinha que ter muito mais do que aquela vida. — Suspirou pesado. — Eu queria frequentar uma escola, trabalhar, ter uma casa como a de vocês e fazer coisas simples e bobas como comer pipoca na frente de uma televisão, queria uma vida onde eu podia escolher quais passos dar.
— E você apenas foi embora? — Questionei curioso para saber como ele conseguiu sair da mão de pais controladores.
— Não foi simples, eu tive que fazer tudo na surdina, apenas a Yumin me ajudava. — Andou até a janela do quarto, ainda sem me olhar. — Eu tenho uma tia, que mora aqui na zona neutra, ela é renegada da família por ter se casado com um feiticeiro, mas eu sabia que ela entenderia meus desejos, por isso quando eu fugi, vim diretamente para cá.
— Então quando eu te conheci no ensino médio você não era apenas um aluno de intercâmbio que tinha conseguido uma bolsa? — Indaguei começando a me dar conta de muitas coisas, saber daquelas informações me abria uma nova visão sobre tudo.
— Não, aquela era a primeira vez que eu estava frequentando uma escola de verdade, mesmo que os ensinos que eu recebia na vila fossem até mais avançados do que os que tive na escola humana. — Eu não via o seu rosto, mas pude perceber que Jimin sorria. — O marido da minha tia conseguiu arrumar umas coisas para mim, me deu documentos e uma nova história de vida, comecei a usar o sobrenome dele e me tornei um filho postiço.
— Então você não é um Park? — Perguntei, agora fazia sentido o Taehyung não ter achado nada sobre um "Park Jimin".
— Fadas como eu era, que não tem contato com a humanidade e ainda vivem nas florestas não usam sobrenomes. Só comecei a ter um a partir do momento que vim morar com minha tia. — Explicou e me dei conta que eu nunca tinha ouvido o sobrenome de Yoongi ou de Taehyung, agora estava explicado o porquê.
— Como consegue ter uma aparência humana? — Indaguei chegando um pouco mais perto, mas não muito pois não queria que ele ficasse arisco como sempre.
— Eu te disse que o marido da minha tia é feiticeiro, ele me fez essas lentes de contato. — Finalmente se virou para mim, apontando para os seus olhos. — Quando as coloco, ganho aparência humana.
— Por que você diz que ensaiou dizer todas essas coisas para mim? — Questionei e o rosado mordeu o lábio inferior, ficando nervoso novamente.
— Porque tem coisas que você não sabe ainda. — Disse fazendo um certo suspense. — Teve uma pessoa que acabou me dando forças para seguir esse sonho de viver na cidade, graças a ela que comecei a montar todo um plano e é por causa das coisas que ela me mostrou que hoje estou aqui.
— Quem foi essa pessoa? — Perguntei dando um passo em sua direção.
— Sua mãe. — Proferiu rápido e meus olhos se arregalaram.
— Como é que é? — Expressei incrédulo, o que minha mãe tinha a ver com tudo aquilo?
— Ela se perdeu pelos bosques com uma equipe de pesquisadores há uns quatro anos atrás. — Contou me fazendo recordar do recorte de jornal que havia naquela caixinha rosa que eu tinha encontrado no armário de Jimin, que era datado dessa época.
Automaticamente me recordei que também foi nessa época que a minha mãe começou a trabalhar numa indústria farmacêutica, e acabou tendo que ir junto de um grupo de pesquisadores atrás de uma planta rara que estava voltando a nascer nessa tal floresta da zona azul após cerca de quarenta anos, ou seja, era algo inédito e lucrativo para a empresa em que minha mãe trabalhava.
Me lembro de que na época eu tinha cerca de uns dezesseis anos e fiquei realmente bravo com ela por ter me deixado com uma babá — que nem era tão mais velha assim que eu —, mesmo comigo alegando que já era quase um adulto, entretanto por ironia do destino acabou sendo essa moça que eu tentei ignorar que me consolou e acalmou quando ligaram em minha casa avisando do desaparecimento de minha mãe junto de seus colegas.
— Nossos bosques são encantados, para quem não conhece o lugar pode se tornar um labirinto, e todos eles se perderam quando entraram lá para fazer suas pesquisas. — Jimin continuou a contar. — Eu e um grupo de amigos ajudamos esses humanos, demos comida, água e mostramos como sair, mas em troca eles não podiam dizer o que viram ali dentro.
Foram dois dias de busca e de uma espera aterrorizantes para mim, mas felizmente todos foram encontrados bem e sem ferimentos, acabou que o guia não era tão eficiente assim e se perdeu no caminho com todo o grupo, porém eu nunca soube detalhes sobre tudo o que passaram, já que minha mãe mesmo falou bem pouco sobre o acontecido.
Eu já havia feito muitas perguntas sobre como eles tinham conseguido passar dois dias no meio do mato sem comida ou abrigo, e ainda mais como haviam encontrado um caminho de saída, mas ela apenas respondia que deram um jeito e dependeram da sorte, sem muitas explicações e pormenores, o que sempre me deixou muito intrigado.
— Isso explica porque ela nunca disse nada sobre isso. — Murmurei apenas para mim mesmo, Jimin sequer escutou.
— Acabei me aproximando de sua mãe naqueles dias, afinal eu era muito curioso e ela disse que me achava fascinante. — Sorriu minimamente. — Fiz muitas perguntas para ela, coisas que eu não havia questionado nem para Yumin, e sua mãe me contou tudo sobre ela e sobre a vida que levava. — Me olhou receoso. — Ela me mostrou muitas fotos de lugares que eu nunca havia visto, e havia muitas fotos suas no celular dela também.
— Você já sabia quem eu era quando entrou na escola. — As coisas estavam explodindo na minha mente naquele momento.
— Fiquei encantado por tudo aquilo que ela me mostrou, e admito que senti inveja de você, pois você era quem que eu queria ser. — Abaixou seu olhar para o chão. — Acho que te admirei tanto que acabou se tornando o garoto que eu queria ter. — As suas palavras me petrificaram no lugar. — Enquanto ela falava de você e contava o quanto você era talentoso, inteligente e mais uma série de elogios, acho que eu ia me apaixonando platonicamente por aquela imagem fantasiosa que estava se fazendo na minha cabeça.
— Mas... — Tentei dizer algo, entretanto estava chocado demais para conseguir pensar em alguma coisa, saber que minha mãe tinha pensamentos tão carinhosos sobre mim também acabaram me surpreendendo, ela não era muito de expor esse tipo de coisa.
— E depois que a equipe de pesquisadores foi embora, eu decidi que queria encontrar aquela mulher doce novamente, eu queria conhecer o filho dela também. — Expressou andando mais alguns passos até mim.
— Como... — E mais uma vez as palavras ficaram presas na minha garganta.
— Eu vim atrás de vocês, Jungkook!
~♥~
Até o próximo!!
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