Julia
Por volta das 17h30, Lucas chegava do trabalho, no mesmo instante em que uma van escolar estacionava em frente à sua casa. Antes de descer do carro, ele pegou uma boneca que estava caída no assoalho há algum tempo. Ele decidiu dar o brinquedo para sua filha antes que Susana, a perueira para quem ele pagava 180 reais por mês para levar e buscar a menina na escola, descesse para abrir a van. Ele já estava parado em frente à porta enquanto ela descia.
— Boa tarde, seu Lucas! — disse ela, sorrindo.
— Boa tarde.
Susana era uma mulher atraente, e hoje usava uma calça jeans rasgada e uma mini blusa branca. Ela se virou e abriu a porta da van, pegando uma menina loira no colo e a colocando no chão, na frente de Lucas.
— Oi, Denise, minha filha! Como é que foi na escola hoje?
— Foi muito legal! Hoje a gente brincou de esconde-esconde, e eu ganhei um chocolate da tia Susana.
— Ah, que legal! Olha só o que o papai comprou para você!
Ele entregou a boneca para ela e viu os olhos de Denise brilharem.
— Obrigada, papai! — disse ela, abraçando-o e logo em seguida se soltando.
— Por que você não leva para dentro e mostra para a mamãe?
Ela nem esperou ele terminar de falar e já correu para dentro. Lucas, então, se despediu de Susana e entrou em casa.
Dentro de casa, Denise tentava chamar a atenção da mãe, que estava assistindo televisão. Na TV, uma reportagem falava sobre o desaparecimento de uma menina, mas Diana não desviava os olhos da tela.
— Mamãe, mamãe, olha a boneca que o papai me deu!
— Ah, sim, ela é muito linda — disse Diana, distraída.
Na televisão, o repórter dizia:
— Foi encontrado o corpo da menininha Júlia. O corpo dela foi encontrado aqui nessa área de mata que vocês estão vendo. E o corpo dela... bem, não iremos mostrar, pois é muito forte. Policiais já disseram que claramente dá para ver que tem sinais de abusos sexuais e que ela foi morta estrangulada.
— Agora que o corpo de sua filha foi encontrado, você tem algo a dizer?
O homem ignorou o repórter, virou de costas e começou a caminhar. O repórter não satisfeito andou atrás do homem, dizendo:
— Senhor, espere! Senhor! Sua filha... o que tem a dizer sobre ela?
— Coitado, - disse Diana - nem sei o que o homem está sentindo. Perder a filha deve ser algo bastante doloroso. Coitado.
Enquanto o repórter falava e mostrava sua tentativa fracassada de entrevistar o pai de Júlia, Denise continuava tentando chamar atenção de sua mãe.
— Minha boneca! Olha minha boneca!
— CHEGA, DENISE! VAI AGORA TOMAR UM BANHO E ME DEIXA ASSISTIR MINHA TELEVISÃO! — Disse a mulher.
— Deixa sua mãe assistir. Vem comigo. Vamos lá para cima para você tomar banho, e depois eu vou brincar com você, tudo bem?
Lucas pegou a mão de Denise e a conduziu para o banheiro para que fosse tomar banho, e lá o monstro oculto, que ninguém conhecia, agiu de novo.
*****
Depois, a menina ficou brincando com sua boneca. Em determinado momento, ela segurou a boneca com carinho e a chamou de Júlia.
Então ela ficou em silêncio, chorando sentindo a dor e sentindo um profundo arrependimento de não ter machucado seu pai enquanto teve a chance, depois de um tempo ela escutou uma coisa em sua cabeça. Era a boneca, era Julia.
" Ele não vai mais machucar você"
— Ele sempre me machuca.
Denise não estava mais se contendo ela estava chorando e soluçando bastante alto, escutou sua mãe andando do lado de fora do quarto.
Diana escutou sua filha chorando, mas ela ignorou e entrou no chuveiro e começou a tomar banho.
Denise escutou quando o Lucas entrou no chuveiro com Diana e escutou bastante sons estranhos vindo de lá logo em seguida
“Vou cuidar de você."
— Mas você é só uma boneca
" Por isso mesmo. Por isso e porque eu te amo muito"
Denise pegou a boneca e viu que os olhos, que anteriormente eram pretos, agora estavam vermelhos, parecendo estar acesos e brilhando. Em seguida ela viu a boca da boneca se mexendo:
— Irei proteger você. - A boneca disse.
— Eu sei Julia.
Denise abraçou a boneca. Naquele instante foi a primeira vez que ela se sentiu acolhida e protegida, e, acima de tudo, amada por alguém.
****
Durante o jantar, Denise desceu usando um vestidinho cor-de-rosa, segurando a boneca, e sentou-se à mesa.
— Cozinha não é lugar de brinquedinhos, Denise! - Lucas falou, irritado.
— Deixa ela brincar — disse Diana. — Ela só está feliz com o presente que ganhou.
— Ela não é nem um brinquedinho, - disse Denise - Júlia é minha amiga.
Ela segurou a boneca de forma protetora.
Diana levou a mão à boca ao ouvir o nome.
— Por que você colocou esse nome na boneca, minha filha? Tem outros nomes melhores, como Mariana Marcela, até Daniela.
— Ela colocou esse nome nessa merda de boneca de por conta daquela porra de jornal que só fala da menina morta. - Sentenciou Lucas. - Não quero mais ver você assistindo aquele jornal! Aquele imbecil, filho da puta, só repete reportagem todos os dias!
Diana fez uma careta.
— Eu tenho que me informar. Assistir o jornal é a única coisa que eu posso fazer, e além do mais o jornal é antes da minha novela...
O que ela estava dizendo foi calado com um tapa na cara
— Puta desgraçada! Não ouviu o que falei?! Não quero aquela porra de jornal na minha casa, sua vadia! Se eu ver você assistindo o jornal daquela bicha, você vai apanhar bem mais do que da última vez eu tive que te bater!
Lucas se levantou, saindo da cozinha.
Diana começou a chorar e serviu o prato de sua filha para ela comer, logo em seguida foi para o quarto chorando.
Denise sorriu, abraçando sua boneca, parecendo muito contente.
Após o jantar, Denise foi para o quarto. Lá, ela continuou brincando e conversando com a boneca, passando um tempo até que adormeceu tranquilamente, com a boneca ao seu lado.
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De repente uma batida na porta a assustou, mas era apenas sua mãe que gritou:
— Estou saindo para o trabalho. Seu pai já chegou em casa, ele já está vindo te dar um beijo de boa noite.
— Finja que está dormindo. - Disse a boneca.
Denise assim fez, e logo em seguida escutou o barulho da porta sendo trancada.
Segundos depois ouviu batidas na porta e a voz zangada de Lucas:
— Que porra é essa, Denise? Me deixa entrar!
Depois de uns 5 minutos batendo, gritando e chutando a porta ele desistiu e foi até a cozinha beber uma cerveja. Deu um pulo de susto ao ver a boneca de sua filha sentada em uma cadeira, sorrindo para ele.
Ele a ignorou, abriu a geladeira e ficou irritado. Não tinha nenhuma cerveja, então ele cortou um grande pedaço de um bolo de chocolate que a sua esposa iria vender no dia seguinte e comeu . Depois ele foi para seu quarto dormir.
Ouviu passos de criança correndo e rindo no corredor e se assustou. Ele olhou em volta.
— Denise. Você está aí? Vem com papai.
Silêncio.
Ele escutou mais passos de criança correndo e rindo subindo a escada. Ele sorriu, pois acreditava que iria dar o beijo de boa noite em sua filha. Seguiu a criança até o seu próprio quarto mas não tinha criança alguma lá, apenas a boneca deitada na cama de casal. Lucas franziu o cenho, pegou a boneca pelo braço, a jogou para fora do quarto, fechou a porta, e, ainda de roupas, se deitou e dormiu.
No dia seguinte Lucas acordou com uma baita dor de cabeça então. Ele se levantou, e ainda com aquela mesma roupa que estava, foi até a cozinha onde sua esposa e filha, que estava junto da boneca, estavam tomando café da manhã e rindo. Diana tinha feito panquecas para o café da manhã.
— Lucas, não acredito que você comeu o bolo ontem à noite! - Exclamou Diana. - Aquele bolo era para eu vender, o comprador já me ligou perguntando do bolo que eu vou ter que fazer de novo!
— O problema é seu. - Ele olhou para Denise. - Ei, mocinha, já não disse que cozinha não é lugar para brinquedos? E você esqueceu ela aqui na cozinha ontem!
— Júlia não é brinquedo, ela é minha melhor amiga, e eu dormi a noite toda com ela.
Lucas ignorou o resto do café da manhã e quando a buzina da van soou, ele levantou rápido
— Vamos, Denise.
Denise nem sequer se despediu de sua mãe, apenas pegou sua boneca e saiu saltitando na frente de seu pai. Não esperou ele e entrou na van sem ajuda. Ele chegou perto da van exatamente no momento em que Suzana fechava a porta. Hoje ela estava usando um vestido curto, até demais, e muito decotado. Ela sorriu para ele.
— Bom dia.
Ela sorriu, entrou na Van e saiu. Ele entrou em sua casa. Tinha que pegar a chave do carro.
— Já estou indo Diana.
— Onde você foi ontem à noite?
— Não é da sua conta.
Ele pegou a chave do carro e saiu. Ao entrar no carro deu um grito de susto, pois a boneca que ele viu sua filha saindo para a escola com ela estava sentada no banco do passageiro.
Ele pegou a boneca, jogou para fora e dirigiu até seu trabalho, mas mesmo assim ficou escutando risos de criança no banco de trás. Olhou várias vezes para trás e não tinha nada.
🎎🎎🎎
Depois do trabalho Lucas foi direto para sua casa.
Diana estava no banho e Denise estava na cozinha jantando com a boneca sentada ao seu lado.
Denise, vendo seu pai, pegou a boneca e saiu correndo para seu quarto, e assim que entrou trancou a porta.
🎎🎎🎎
Lucas esperou sua esposa sair e então pegou o computador e começou a ver fotos e vídeos pornô. Depois assistiu um filme na televisão, deitou e dormiu. Mais tarde, por volta da meia-noite, ele acordou assustado com passos e risos de criança.
— Denise?
Silêncio. E de repente mais risos e passos de criança correndo. Ele se levantou e seguiu os passos de criança que estava vindo da cozinha. Ele encontrou apenas a boneca caída no chão. A chutou para longe e voltou para a sala, deitou no sofá e voltou a dormir. Acordou subitamente e viu Denise segurando uma faca diante de seus olhos.
— Vem brincar comigo papai.
Denise disse com uma voz sombria e demoníaca.
Lucas jogou não ser real, pois aquela não era a voz de sua filha. Denise sorriu e começou a correr para longe. Lucas, não querendo acreditar que aquela coisa era sua filha, correu a escada acima e tentou abrir a porta do quarto de Denise, mas estava trancada. Ele sentiu raiva e começou a chamar Denise que não respondeu, então ele arrombou a porta. A garota estava dormindo segurando a boneca, que pareceu piscar para ele no escuro. Lucas gritou e correu.
Quando ele desceu as escadas viu Denise em pé, sorrindo para ele segurando uma faca suja de sangue. Lucas gritou mais uma vez, sua filha estava grotesca seus cabelos loiros manchados e sujos de lama, seu vestido branco sujo de sangue, e os olhos órbitas vazias, com um líquido preto escorrendo, e o sorriso diabólico nos lábios.
— Vamos brincar, papai, vamos.
Enquanto Lucas via a versão grotesca de sua filha, ouviu passos correndo e som de crianças rindo; conforme o segundos foram passando muitos risos se misturaram aos passos e começou a ecoar pela casa.
— Vamos brincar, papai, assim como você brincou com Júlia. Ela me disse o que você fez com ela. Você foi muito mal.
Lucas se arrependeu de ter tirado a boneca dos braços da menina que tinha acabado de matar. A maldita Júlia, uma menina que ele sequestrou na saída da escola, levou para uma floresta e a matou em seguida, quando a menina morreu ele arrancou a boneca e seus braços e deu para sua filha. Aquela maldita boneca era responsável por tudo.
Lucas perdeu o controle de si mesmo, ele se viu empurrando sua filha para abrir caminho até a porta. Ele saiu na noite, correndo, mas os passos de crianças o perseguiam, crianças rindo. A coisa o perseguiu para dentro da floresta que ficava próximo a sua casa..
— Me deixem em paz! - Ele gritou para as crianças fantasmas. - Me deixem em paz, me deixe em paz!
As crianças fizeram um círculo perfeito ao redor dele e ele as viu. Eram todas as meninas e alguns meninos que ele matara.
De certa forma ele sentiu alívio, pois as crianças mortas não podiam fazer nada contra ele.
Então Lucas viu sua filha saindo por de trás de uma árvore segurando uma boneca. Era Júlia, ela estava segurando Júlia.
O espírito se formou diante dos seus olhos. Era uma menina, seu cabelo estava preso em maria chiquinhas e era totalmente negro, assim como seus olhos. Ela estava usando uma camisa branca de escola, uma saia que ia até o joelhos, e botas. Era Júlia. A garota que ele tinha matado.
Denise entregou a boneca para o espírito. Júlia arrancou a cabeça da boneca e entregou para Denise o corpo. Então Denise enfiou a mão no corpo da boneca e retirou uma faca.
— Você machucou Júlia papai, machucou todas essas crianças, e machucou a mim.
Todos ficaram em silêncio, nem o vento ousou fazer um ruído sequer.
— Agora vou machucar você papai. Mas vou ficar feliz, pois nunca mais você vai machucar outras crianças!
Denise empurrou Lucas com toda força que conseguiu reunir. Ele caiu para trás, de bunda no chão.
Em seguida ela cravou a faca na barriga de Lucas, que gritou. Logo em seguida Denise ergueu a faca e Júlia sussurrou algo em seu ouvido. Denise sorriu. Ela ergueu a faca novamente e a baixou, atingindo os testículos do homem. Ela continuou esfaqueando aquele lugar, e os gritos de Lucas eram a única coisa que se ouvia.
Júlia sorria, se divertindo com a cena.
Denise pegou um pedaço grande de pedra e jogou na cabeça de Lucas. Logo em seguida ergueu a faca e cortou a garganta do homem que a fez sofrer tanto.
Vendo Lucas morto, no chão ela deu grandes passos para trás. Ela estava suja de sangue e de lama. Olhou para Júlia e todas as outras crianças mortas. Júlia colocou a cabeça da boneca no lugar e a entregou para Denise, que pegou a boneca com ternura.
— Obrigada, Júlia.
— Denise, somos nós que temos que agradecer por você nos libertar. Agora estamos livres para ir.
Denise viu todas as crianças virando feixes de luz e subindo para o céu. Júlia deu um forte abraço nela.
— Vou sempre estar com você, Denise.
Júlia virou um facho de luz dourado e desapareceu.
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