Capítulo 9
Lord Hartford parou de ler seu jornal apenas para olhar Georgie comendo seu café-da-manhã calmamente, então voltou para sua leitura.
Gostasse ou não, ela era uma mulher casada e isso significava que, diferentemente dele, de Jane e de Charles, ela podia tomar o café na cama; mas ela não queria se comportar como uma mulher casada e embora ele não dissesse nada a respeito, isso o incomodava mais do que qualquer um podia imaginar.
– Para com isso! – reclamou Jane empurrando as mãos de Charles para longe de seu prato. O menino estivera roubando a comida dela a manhã inteira.
Ela fitou John e perguntou:
– Papai, vais dizer algo?
Ele permaneceu focado no jornal, mas respondeu em um tom ensaiado:
– Charles, para de chutar tua irmã.
O garoto sorriu maliciosamente. Estava tão convencido da falta de atenção do pai que nem se deu o trabalho de dizer a ele que não chutara a irmã sequer uma vez naquele dia.
– Esquece... – Jane murmurou ao revirar os olhos.
– Pareces estar distraído hoje, meu pai... – Ge falou e ele finalmente levantou a cabeça. – Há algo incomodando-o?
– Ora, não é nada importante, apenas este tal de Jude Hartford novamente...
Jane passou a prestar atenção total nesse momento e Charles viu isso como uma oportunidade de comer mais um pouco do prato dela.
– Ele escreveu mais um de seus artigos escandalosos, – continuou John –, e eu temo que isto terá uma repercussão negativa no Tribunal de novo.
– Discordas dele? – Jane tentou soar o mais natural possível.
Ele suspirou pesadamente.
– O homem tem algumas ideias interessantes, ainda que exagere bastante, devo admitir. Porém, pouco importam a mim os seus devaneios; meu problema é que já tenho que lidar com muita pressão dos conservadores, portanto não preciso de pessoas insinuando que este lunático e eu temos parentes em comum ou algo do tipo...
Se Jane algum dia cogitara contar para ele sobre Jude, a ideia estava definitivamente descartada agora.
– Que loucura! – disse Ge. – Hartford não é nem de longe um sobrenome incomum.
– Eu sei, mas as pessoas não lembram disso quando querem perturbar-me. Posso ter algumas ideias progressistas, mas eu sempre respeito a lei; ninguém pode acusar-me de não fazer meu trabalho devidamente. Eu não entendo por que alguém questionaria meu trabalho baseando-se no discurso de outro. Jamais disse que concordava com ele...
– Talvez eles o respeitem demais para acreditar que és realmente a ovelha negra da família, então inventaram outra – disse Lady Hartford, descendo as escadas.
– Oh! – Lord Hartford riu. – Eu não havia percebido que estavas aí, minha querida. Bom dia!
Ela educadamente cumprimentou a todos, então caminhou na direção de John, descansando as mãos nos ombros dele.
– Por que estás reclamando de um colunista tão cedo de manhã? – ela perguntou a ele. – Não há parentesco algum entre os dois e logo essa história será esquecida...
John sorriu e pôs as mãos sobre as dela.
– Exatamente, querida. Estes fenômenos como o sr. Hartford sempre fazem muito barulho, mas dificilmente duram, especialmente agora que estão sendo caçados...
Jane deu um salto e até Charles se assustou, puxando a mão de uma vez e atraindo a atenção de Lady Hartford.
– O que quer dizer com caçados? – perguntou Jane, mas antes que pudesse obter uma resposta, sua mãe andou a passos largos em sua direção, interrompendo-a:
– Céus, Jane! És realmente tão desatenta assim?
– Ai!!! – reclamou Charles após levar um tapa na nuca.
– Pede desculpa para tua irmã e come tua própria comida!
Charles bufou.
– Desculpa, Jane – disse a contragosto.
– E tu, – ela virou para encarar Jane –, tira a cabeça das nuvens de vez em quando, garota! É melhor que te apresses, pois o sr. Dawson chegará em breve.
Lord Hartford franziu o cenho.
– Sr. Dawson? – ele ergueu uma sobrancelha.
– Falei sobre ele ontem mesmo – disse a esposa, irritada com o fato de que ele não prestara atenção. – Ele e as meninas sairão para um passeio hoje.
– Ah, sim, sim! Eu lembro, apenas... esqueci o nome, só isto – ele disse numa voz titubeante.
Ela virou-se para Ge.
– Espero que não deixem-no esperando. Georgiana, já que já terminaste a refeição, deverias subir para te arrumar.
Ge, com os lábios semiabertos, pôs a mão no colo e suas sobrancelhas se uniram com a ofensa.
– Eu já estou arrumada.
– Ah! – disse a mãe tentando esconder o constrangimento. – É claro que estás. Que tolice a minha, não havia percebido...
Ge pediu licença e subiu a passos firmes para mudar de roupa.
Assim que ela desapareceu nas escadas, Lady Hartford fez uma careta, o que fez Jane e Charles rirem.
– É melhor te apressares também, Charles – disse Lord Hartford pegando o jornal. – Vais acompanhar às duas.
– O quê?! Por quê? – o menino elevou a voz. – Eu não quero.
– Ora, que pena! Eu não perguntei se tu querias... – respondeu John concentrando-se na leitura e ignorando completamente Charles fazendo biquinho de raiva.
Georgie julgou o passeio bastante agradável.
Arthur era muito boa companhia e, embora ela houvesse pensado que Charles os atrapalharia, pôde aproveitar bem a presença do sr. Dawson porque Jane distraiu o irmão assim que possível.
– Ele ficou reclamando e ordenando que eu andasse mais rápido para que pudéssemos alcançá-los – ela contou à Ge mais tarde. – Eu disse a ele algo sobre meus sapatos estarem machucando para despistar. Quando ele ameaçou deixar-me para trás porque o papai não iria gostar de saber que ele a havia deixado desacompanhada com o sr. Dawson, eu argumentei que seria muito pior se me deixasse sozinha. No fim das contas, ele começou a contar umas histórias sobre os amigos e esqueceu completamente do porquê estávamos lá para começo de conversa.
– Obrigada, Jane – respondeu ela. – Eu realmente precisava de um tempo a sós com o sr. Dawson hoje.
Jane mordeu o lábio e observou a irmã.
– Pareces bastante afeiçoada a ele.
– E estou – ela confirmou. – Depois dos acontecimentos de hoje, tenho razões para acreditar que o sentimento é mútuo.
Ge silenciosamente desviou o olhar como se seus pensamentos estivessem tomando toda sua atenção.
– Por que eu sinto que isso não é motivo para alegria? – perguntou Jane infeliz e Ge sorriu em resposta.
– Benjamin enviou outra carta esta semana... – ela começou. – Aparentemente, estou mesmo presa a ele até que a morte nos separe.
A mais nova deitou a cabeça no travesseiro angustiadamente, ainda analisando a outra.
– Tu mereces um pouco de felicidade, minha querida irmã. Não é justo.
Ge sorriu com sinceridade, o que deu à Jane um pouco de conforto.
– Quem disse que não estou feliz? Certamente, as coisas poderiam estar melhores, mas nós temos uma a outra e é tudo que preciso.
Jane estava contente por ouvir aquilo, mas ainda não estava satisfeita com as respostas.
– Mas quando pensas no sr. Dawson... – ela perguntou. – Quero dizer, se nunca houvesses sido casada... Considerarias casar-se com ele?
– Talvez, eu não saberia dizer – respondeu sentando-se na cama. – Estou tentando não pensar em possibilidades impraticáveis, mas sim focar nas reais. O que eu sei é que ainda estou casada e embora eu adore pensar que isto não vai ficar no caminho para a minha felicidade, não posso ignorar tal fato.
Jane mordeu o lábio inferior, pensativa, e perguntou:
– Arthur sabe sobre Benjamin?
– Ainda não, – ela suspirou –, mas eu mesma direi a ele o mais breve possível. Agora que suspeito que ele tenha sentimentos por mim, não posso encorajá-lo a alimentá-los sem o conhecimento desta informação. Não seria justo com ele.
– De fato... – Jane concordou, ficando perdida nos próprios pensamentos no meio da frase. – Eu não sei para quê devo torcer. Todos os cenários que consigo imaginar terminam, de alguma forma, em tristeza.
Ge deu um sorriso largo.
– Não te preocupes, Jane – ela pôs a mão no ombro da irmã teatralmente. – Tenho certeza de que conseguirás sobreviver a isso.
Jane riu.
– Para de fazer graça comigo, estou preocupada por ti!
– Eu sei, minha querida. O que estou tentando dizer é que não é preciso. Não posso depender de minha irmã mais nova para tomar conta de mim pelo resto da minha vida; honestamente, é vergonhoso! – ela riu. – Não importa o que aconteça, posso lidar com a situação porque tu já me ensinaste como.
Jane suspirou e balançou a cabeça devagar, pondo uma mão na testa.
– Ah, eles crescem tão rápido...
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