Capítulo 22
Eleanor Bentley observou Jane Hartford. Então, olhou para Edmund Hawkins.
A amiga e ela haviam acabado de ouvir Lord Hartford dizendo a ele que nunca mais aparecesse na Mansão Bridgewood novamente e ela não conseguia decidir se ficava ali com Jane ou deixava os dois a sós.
Ela os encarou mais uma vez.
As sobrancelhas de Edmund estavam quase unidas e os lábios de Jane torcidos.
– Jane, eu... – ele caminhou na direção delas.
– Deixarei que os dois conversem – disse Eleanor antes de dar um apressado abraço em Jane.
Assim que Eleanor se afastou o suficiente, Ed parou de frente para Jane e murmurou seu nome outra vez.
– Eu não acredito que fizeste isso – sibilou ela.
Edmund pensou que ela gritaria com ele, mas ela apenas sussurrava e isso partiu o seu coração.
– A única coisa que pedi que não fizesses... – ela continuou.
– Jane, está tudo bem – ele acariciou os braços dela, confortando-a. – Não te preocupes.
– Como posso não me preocupar? – ela ergueu o tom de voz e deu um passo atrás bruscamente.
Ele encolheu-se, confuso pela reação subitamente rude dela.
– O que disseste a ele? – Jane cruzou os braços. – Falaste sobre mim?
Edmund desviou o olhar e umedeceu os lábios.
– Inacreditável... – ela murmurou, balançando a cabeça e bufando.
– Escuta, Jane, – ele acariciou os braços dela de novo –, não é grande coisa. Deves entender, ele... Eu não posso ficar em silêncio enquanto vejo-o não se importar com nossa luta! E eu não posso... Ele deveria apoiá-la! Por Deus, és a filha dele e és brilhante... Quero dizer, ele construiu a própria carreira dizendo que queria defender aqueles que não podem se defender por si mesmos e mesmo assim...
– Eu implorei tantas vezes para que não discutisses com ele, – ela interrompeu-o, esfregando os olhos –, para que não arruinasses esta oportunidade! Tiveste a chance de ascender e fazer uma verdadeira diferença, mas jogaste tudo fora para quê? Hein? Para me defender? Realmente valeu a pena?
Ed franziu o cenho. Era quase ofensivo o modo como ela perguntara aquilo.
– É claro que valeu a pena! – ele deu um passo atrás. – Absolutamente e eu faria tudo novamente se preciso!
Jane arregalou os olhos.
A face de Ed se tornara vermelha e ele desviou o olhar de novo, exceto que dessa vez também travou a mandíbula e pôs as mãos na cintura.
– Jane, eu sinto muito, – ele bufou e sacudiu a cabeça –, mas o que me pediste para fazer... Eu não me importo se não queres que eu a defenda, eu sempre a defenderei porque és não apenas a mulher que amo como também és tudo em que acredito; e eu sempre defendo meu ideais. És o motivo de eu estar aqui para começo de conversa; és o motivo de todos estarmos aqui hoje. Este julgamento... Eles estão tentando nos silenciar porque não entendem que podem silenciar pessoas, mas não ideias. Tu encheste os corações desse povo de ideias, encheste o meu coração de ideias e sonhos e... tudo. Tu, Jane... Porque tu precisas entender de uma vez por todas que Jude Hartford não é mais corajosa que tu, não é mais esperta que tu, não é nada mais que tu porque tu és Jude Hartford. Tu me inspiraste a estar aqui, tu já fizeste e continuas a fazer a verdadeira diferença. Sem tuas palavras, sem ti, não haveria diferença alguma.
Jane encarou-o por um momento, que pareceu durar uma eternidade. A maneira como o olhar dela focava no dele fê-lo sentir-se um pouco desconfortável, mas a sensação era, de alguma forma, tenra.
O peito dele subia e descia como se houvesse corrido uma maratona ao passo que ela prendia a respiração.
– A mulher que amas? – murmurou ela.
Ele sentiu as costelas se moverem ainda mais rápido, mas reuniu toda a força que tinha e respondeu de modo firme:
– Sim.
Ela voltou a encará-lo.
Ed pensou que seria torturado por outra rodada de eternos segundos de um silêncio estranho e perturbador, mas ela não o manteve por tanto tempo desta vez. Ao invés disso, ela interrompeu o momento colocando as mãos no pescoço dele e puxando-o para perto. Seu olhar, então, passeou para baixo até os lábios dele e ela sorriu brevemente, puxando-o mais uma vez para um longo e delicado beijo, ignorando completamente o fato de estarem em público.
Assim que Jane se afastou, ela analisou a expressão dele e percebeu que seus olhos brilhavam e se moviam dos olhos dela até os lábios repetidamente, como se ele houvesse sido hipnotizado.
De repente, ele deu uma risadinha.
– O quê...? – ela indagou, confusa com a reação.
– Nada, eu só pensei... No dia em que nos conhecemos... Eu lembrei... – ele riu um pouco mais e ela inclinou a cabeça. – Parece que tu realmente me atacaste no fim das contas.
Jane deu mais um passo atrás, revirando os olhos para o comentário; ele logo sorriu, puxando-a pela cintura, e as pessoas na rua o viram tirar o chapéu e posicioná-lo na frente do rosto enquanto ele provava os doces lábios de Jane entre risadinhas outra vez.
A tarde, como todos os seus sorrisos e sussurros secretos, passou rapidamente e terminou com um círculo esperançoso de amigos reunidos na Casa de Chá dos Brown.
Muitas das pessoas com que haviam falado naquele dia haviam sido convencidas a comparecer ao julgamento e apoiar o seu lado caso o juiz favorecesse o outro.
Quanto ao juiz, a noite trouxe a ele todos as mágoas do dia.
Ultimamente, ele estivera bastante focado no caso terrorista e usava-o como desculpa para esquecer sobre suas filhas. Mesmo sua esposa havia deixado de lado o assunto por um tempo após ver a pressão que ele estava sofrendo, mas seu encontro com o sr. Harvey trouxera algumas lembranças dolorosas mesmo assim.
– Amanhã é um dia tão importante em minha carreira – ele disse à esposa. – Eu não deveria ter que me preocupar com estas tolices...
Lady Hartford permaneceu em silêncio, observando-o. Ela sabia que o assunto o machucava muito embora ele fingisse que não.
– Não fiquei nada surpreso com a petulância de Thomas Harvey, mas o sr. Hawkins... – ele continuou. – Ele foi totalmente insolente!
– Sr. Hawkins? – ela perguntou. – Mas ele sempre foi tão gentil e respeitoso! Pensei que gostasses dele.
– E gostava! – ele socou o colchão. – Ele lembrava-me de uma versão mais nova de mim e pensei que tivesse um futuro, mas parece que é tão presunçoso quanto qualquer garotinho tolo da idade dele.
Ela encolheu-se.
– Jamais pensaria isso dele. O que ele disse que o chateou tanto? Tens certeza que não estás exagerando meramente porque ele discordou de ti?
– Ah, por favor, minha Lady, – ele sacudiu a cabeça –, sabes que não o dispensaria por tão pouco! Ele se atreveu a mencionar Lady Jane para mim! Eles se conhecem há um bom tempo! Os dois mentiram para mim o tempo inteiro...
Lady Hartford cobriu os lábios fingindo surpresa.
– O que ele disse? – ela aumentou o tom de voz. – Ele a insultou?
– Exatamente o contrário. Disse que eu deveria aprender com ela! Eu! Aprender com uma jovenzinha de vinte e um anos porque aparentemente Harvey e ele pensam que não sei fazer meu próprio trabalho! É disso que estão falando, nunca foi sobre Lady Jane... Eles não sabem nada sobre ela, como se atrevem a usá-la para atacar-me?! Se queriam acusar-me de ser parcial, que o fizessem usando tal palavra!
Ela sentou ao lado dele e acariciou suas costas.
– Tudo bem, acalma-te, meu bem – ela pediu, mas ele levantou e caminhou sem rumo pelo quarto.
– Harvey disse que ela é esperta por não obedecer a mim e aquele garoto ingrato ainda chamou-me de hipócrita! – ele cuspiu. – Disse que ela fala por aqueles que não podem falar por si...
Georgiana encarou o chão enquanto John repetia os comentários de Edmund em tom de zombaria.
Ela fechou os olhos e respirou fundo antes de interrompê-lo:
– Costumavas dizer algo similar...
John imediatamente virou-se e ergueu uma sobrancelha.
– Eu?
Ela assentiu calmamente.
John moveu os ombros parecendo desconfortável, mas menos rígido que antes.
– Tu me disseste antes de nos casarmos, – ela explicou –, que querias ser um homem da lei para que pudesses ajudar aqueles que não conheciam seus direitos, para que pudesses defender aqueles que não podiam defender a si mesmos. Era a única coisa que o motivava e eu podia ver aquele fogo em tua alma desde o momento em que o conheci. Tu não suportavas injustiça e jamais ficava em silêncio diante dela.
"Claro, eu entendo que precisaste mudar. Precisaste ser mais respeitoso em relação à hierarquia para que pudesses chegar aonde chegaste hoje e talvez isso tenha-o feito esquecer que isto existia aí dentro..."
Ele ficou calado enquanto via a mulher levantar e atravessar o quarto em sua direção de braços abertos.
– Vejo em Lady Jane a mesma faísca que vivia no homem por quem me apaixonei vinte e sete anos atrás – ela disse sorrindo tristonha e dando-lhe as mãos. – Dói muito para ela ver que o homem que a inspirou não a aprova. Tu estás em posição de decidir se tua filha pode ser ouvida ou se terá outros falando por ela, decidindo por ela, silenciando-a... Não permitirás que ela tenha voz?
John suspirou. Seus ombros estavam encolhidos e sua mandíbula tremia levemente.
– Tudo que sempre quis foi o melhor para elas – ele respondeu. – Para as duas.
– Eu sei, meu amor, – ela ofereceu-lhe um sorriso –, mas chega um momento na vida de toda jovem mulher em que nós mesmas precisamos decidir o que é melhor para nós. Como pai e marido, ofereces maravilhosos conselhos e teu caráter inspira grande admiração, mas cada pessoa tem o direito às próprias decisões, mesmo que sejam ruins. Deixa que digam o que querem dizer, que sejam ouvidas, que mergulhem no mundo e procurem vorazmente pelo que quer que queiram encontrar. Deixa que sejam como o jovem rapaz com o desejo de mudar o mundo que tu costumavas ser.
Lord Hartford olhou nos olhos da esposa e viu uma vida inteira junto a ela através deles. O momento em que se conheceram e se apaixonaram; os obstáculos que impediram sua união; os sacrifícios e as lutas; o nascimento da filha mais velha e os outros dois que vieram depois... Ele pensou em como as crianças haviam crescido e aprendido com o apoio de sua incrível esposa e como aos poucos se tornavam pessoas tão fortes.
De repente, pensando na família, não era mais tão difícil lembrar de quem era e quem queria que fossem; não era mais tão difícil ignorar toda a pressão e tomar a decisão certa no dia seguinte. O fogo em sua alma sempre apontaria para o seu Norte e Lady Hartford e ele haviam ensinado as crianças com amor o suficiente para que tivessem suas próprias bússolas; eles não precisam pegar a dele emprestada.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro