Capítulo 13
Ge insistiu em preparar o chá. Ela se sentia culpada porque Jane estava pagando por tudo, então ajudava com todo o resto, sem contar que ela realmente queria encontrar uma nova distração agora que não tinha mais acesso diário à biblioteca do sr. Bentley. Para a sorte dela, a maior das distrações decidiu fazer uma visita às irmãs Hartford naquele dia e estava sentada na pequena sala de estar aparentando desconforto e preocupação.
– Eu ia te contar, mamãe – explicou Jane enquanto pegava uma xícara da bandeja. – Eu só queria esperar até que estivéssemos devidamente acomodadas.
Lady Hartford entortou os lábios.
– Claro que ia – disse sarcasticamente. – Como se eu não a conhecesse desde que era nascida...
Jane franziu o cenho tristemente.
– Eu ia, sim... – murmurou.
Lady Hartford agradeceu à Georgie pelo chá e voltou-se para Jane novamente:
– Aquele homem baixinho para quem tu trabalhas foi muito prestativo, até ofereceu-me uma carona até aqui. Quando o vires, agradece a ele de novo por mim.
A mais nova concordou, apesar de não ser um pedido.
As meninas ficaram em silêncio absoluto. A mulher não falava num tom muito alto e ainda assim elas sentiam como se fossem crianças novamente enquanto ela falava.
– Honestamente, – disse a mãe –, o fato de que as duas simplesmente fugiram nem me incomoda tanto porque eu entendo porque o fizeram. O que eu não posso entender é por que esconderam coisas de mim! Eu suspeitava de que esse sr. Dawson tinha sentimentos por ti, Georgiana, mas jamais imaginei que ele... Tu... Bem...
– Este assunto está encerrado, mamãe – Ge garantiu antes que ela prosseguisse. – De fato, nunca sequer chegou a este ponto, de verdade; quase nada do que foi escrito sobre nós realmente aconteceu.
Lady Hartford curvou os lábios.
– Encerrado...? – indagou.
Jane reprimiu uma risada. A mãe parecia tão desapontada quanto ela mesma com aquelas notícias.
– Eles discutiram na semana passada – ela contou. – Dá para perceber que Ge está incomodada porque ela não falou uma palavra sobre o assunto desde então.
Georgie bufou e desviou o olhar. O que realmente estivera incomodando-a era o fato de que Jane insistia em insinuar que sabia mais sobre como Ge se sentia do que ela própria.
– Discutiram? Sobre o quê? Foi mesmo tão horrível assim?
Ge cruzou os braços e murmurou que não queria falar sobre o assunto, o que fez Jane erguer as sobrancelhas como se dissesse "Está vendo? Eu disse!"
– Não olha para mim deste jeito, mocinha! – a mãe brigou. – Tu também me deves algumas explicações! Eu teria amado saber que estavas escrevendo tuas próprias histórias e opiniões e se houvesses me contado que querias alugar um apartamento antes de contares ao teu amigo baixinho, eu teria ajudado a procurar um e pagar por ele... Por Deus! Nem sequer contaste que estava hospedada na casa do sr. Bentley antes; felizmente ele é um bom homem e escreveu-me um bilhete explicando tudo ou eu teria morrido de preocupação!
Os olhos de Jane se arregalaram. Ela sabia que a mãe era mais compreensiva que o pai, mas não imaginara que era tanto assim.
– Tu terias...? – ela sorriu. – Sinto muito por não ter contado, eu só presumi... Não te importas com o que o papai...?
– Ah, faça-me o favor! – a Lady franziu a testa dramaticamente. – Eu pareço dar ouvidos ao teu pai?! Só tu fazes isso... Agora, diz, de quanto precisas?
Jane piscou repetidamente.
– Hum... Nada, mamãe...
Lady Hartford revirou os olhos e esperou que Georgie dissesse algo, mas ela também ficou calada.
– Vamos, meninas, eu sou a mãe de vocês, não há necessidade disso.
Jane cruzou os dedos, brincando com eles ao se encolher um pouco. Não era uma questão de orgulho.
– Eu... Eu estou falando sério – ela disse com cautela. – As coisas estão... Claro que eu aceitaria tua ajuda se realmente precisasse, mas... não preciso.
Foi Lady Hartford que piscou repetidamente dessa vez e inclinou o corpo para trás.
– Ela já tinha algumas economias – explicou Ge. – Jude está ganhando mais dinheiro que nunca e já há outro livro prestes a ser publicado. Além disso, eu tomo conta das tarefas domésticas, então estamos lidando bem com a situação sozinhas.
A mais nova ergueu os ombros, concordando.
– Oh – disse Lady Hartford simplesmente e as meninas riram um pouco de sua reação.
– Então, não estão...? – ela finalmente falou de novo. – Não precisam...? Sozinhas?!
As duas assentiram em resposta e a Lady desviou o olhar concluindo:
– Bem, suponho que os tempos estejam mudando mais rápido do que sou capaz de acompanhar... Graças a Deus!
– De qualquer forma, – disse Jane abraçando-a –, obrigada pela oferta, mamãe. Obrigada por ficar ao nosso lado, significa muito para mim.
Lady Hartford inclinou a cabeça, convidando Ge para participar do abraço, então disse enquanto acariciava o cabelo das duas:
– Eu sempre estou ao lado de vocês, assim como seu pai. Ele ama muito vocês duas, então jamais pensem nele como um inimigo. Ele pode até exagerar às vezes, mas é porque quer o melhor para vocês.
Jane não respondeu, mas considerou o pedido. Ela não via John como inimigo, mas... ele não havia ido até o escritório de Tom apenas para descobrir onde ela estava morando...
– Quanto ao livro, – a mãe disse –, vai doer se enviares uma cópia? Lembrando que doeu bastante quando eu a trouxe para este mundo.
Jane riu.
– Prometo que receberás uma antes mesmo da publicação oficial.
– Acho bom mesmo – respondeu em tom firme, mas então ela sorriu em seguida e deu um beijo na cabeça das duas.
Antes de ir, Lady Hartford aproveitou o abraço das filhas um pouco mais e também as ameaçou numa tentativa de convencê-las a escrever para ela com frequência. Ela deixou bem claro que queria saber tudo que acontecia na vida de ambas.
Embora ela tenha partido um pouco tarde, houve tempo suficiente para Jane e Ge irem até a Casa de Chá da sra. Brown e assistir a uma das reuniões exclusivas para mulheres que ela organizava.
Todas as moças se sentaram em círculo, incluindo Grace Brown, o que significava que qualquer pessoa naquela sala era igualmente bem-vinda a falar.
Jane percebeu que a maioria era jovem e apenas algumas eram tão velhas quanto Grace (embora ela mesma não fosse tão velha assim) e havia algumas cujos vestidos sugeriam que suas condições financeiras não eram tão confortáveis quanto a dela.
Outra coisa que notou foi que duas das moças partiram mais cedo, preocupadas que suas famílias as impedissem de voltar nos próximos encontros caso chegassem em casa muito tarde.
Houve uma rodada de aplausos quando Grace apresentou Jane e algumas perguntas sobre alguns de seus artigos assim como alguns elogios, mas felizmente não durou muito tempo e todas logo mudaram para outros assuntos.
Ela ficou satisfeita por não terem prestado-lhe muita atenção. Alguns anos antes, ela teria amado, mas agora ela estava mais interessada em ouvir e escrever algumas anotações. Cada detalhe daquela reunião a deixava sem palavras.
Georgie, por outro lado, decidiu compartilhar algumas coisas sobre si e Jane ficou surpresa ao descobrir que o tempo que ela passara com Lockhart fora ainda pior do que ela havia imaginado.
Ge não gostava de expor seus problemas, ela apenas tentava deixá-los no passado ao invés disso, mas ela ouviu algumas histórias de partir o coração e pensou que seria bom contar às outras o que havia persuadido-a a deixar Lockhart e como sua vida havia sido desde então.
Quando Ge leu o artigo de Jane sobre o assunto na época, com todas as entrevistas que ela havia feito, ela sentiu que não estava sozinha, mas escutar aquelas garotas falarem sobre isso bem na sua frente não apenas a fez ter certeza disso como também a fez sentir que era seu dever fazer com que elas também soubessem que não estavam sozinhas.
Mais tarde, quando Grace perguntou às irmãs Hartford o quê elas haviam achado do encontro, nenhumas das duas era capaz de pôr em palavras o quanto haviam amado, mesmo assim conversaram com ela sobre isso por tanto tempo que já estava bem escuro quando elas decidiram ir, então o sr. Brown ofereceu-lhes companhia até o apartamento.
Ge estava radiante quando chegaram em casa e Jane percebeu que havia um tempo que ela não aparentava estar tão bem, especialmente desde que discutira com Arthur.
Naquele dia, Georgie entendeu porque Jane amava tanto escrever. Quando você diz algo que faz outra pessoa se sentir melhor; quando encoraja alguém a encontrar a força em si mesmo para enfrentar seus problemas; quando ajuda todos a entenderem o quanto as coisas precisam mudar; quando os convence de que são invencíveis, você se torna invencível também.
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