49. Em casa - Giovanni
Nas primeiras noites, meu apartamento parecia distante de ser um lar: um espaço vazio, impessoal e solitário que foi retomando seu aconchego conforme eu colocava as minhas coisas em seus devidos lugares.
Passei um longo tempo em contato com minha família, Nina e alguns professores. Só Pedro se mostrava estranhamente esquivo, não veio me dar boas-vindas com uma enorme organização de festa como eu esperava. Sérgio me ligou para marcarmos um longo almoço filosófico no primeiro dia de aula. Conversamos sobre meu doutorado e novos livros que comprara, sem mencionarmos o nome de Emily. Nem tive noção do que ele pensava sobre nossa separação e se me acusava de traidor como Emily fazia, pois simplesmente era como se ela não existisse.
Porém se antes havia dúvida sobre a força de meus sentimentos por Emily, assim que a vi no corredor da faculdade com um jeito mais de mulher amadurecida do que da jovem que me abandonou em Londres, meu coração disparou e todos os sentimentos adormecidos retornaram com intensidade. O tempo não era cronologicamente grande, porém era evidente que havíamos mudado.
A vontade de beijá-la agigantava-se dentro de mim. Mas ali não era o momento, e talvez nunca mais o fosse. A sensação de estar ao lado dela novamente sem poder tocá-la me corroia por dentro.
Será que acabaria assim: Um distante do outro apesar de querermos ficar perto? Se eu pudesse retornar ao passado, eu faria tudo certo desta vez. Nunca teria permitido que nosso jovem amor houvesse sido sufocado por nossas falhas e birras. Havia uma segunda chance para nós?
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Na próxima semana na faculdade, tentei reencontrá-la pelos corredores. Talvez se começássemos devagar, ela percebia como somos feitos um para o outro e me daria abertura para reconquistar sua confiança e seu coração.
Quando por fim a vi, ela estava naquele que um dia foi nosso jardim, ela esta sentada no banco. Puxei o ar com coragem e comecei a ir em sua direção.
Um grupo de alunos me parou ao meio caminho. Bufei impaciente e mantive meu olhar com intensidade nela. Ao longe nos encaramos com cumplicidade, eu via o amor em seus olhos. Meu coração se agitou, tentei me livrar do grupo de alunos. Queria segurá-la em meus braços e beijá-la com intensidade, sem me importar com qualquer consequência com a coordenação.
Então o primo de Pedro, que eu conhecera em seu aniversário, veio estranhamente na direção de Emily. Ele andava de maneira confiante, como quem rotineiramente faz um mesmo caminho. Ele inclinou-se sobre ela e lhe deu um beijo que a pegou de surpresa.
Não consegui desviar o olhar. Primeiro pensei que ele fora um abusado, mas quando se sentou ao seu lado e continuou conversando com ela como se nada de errado houvesse acontecido, eu percebi que quem sobrava ali era eu.
Como podiam estar juntos? Quando eles se conheceram? Por que eu não sabia de nada, se Pedro era meu amigo?
Meu mundo caiu, fui consumido pela tristeza e pela raiva. De algum modo, que eu não conseguia explanar, ela estava com o primo de Pedro. E todo o meu sonho idiota em achar que ela me amava, que ainda teríamos uma chance juntos se desmanchou como um castelo de areia ao ser levado pela onda do mar.
Andei para longe com meu coração estraçalhado e sem esperanças.
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