— Eles me ofereceram uma bolsa para o doutorado, aquele que sonho desde quando comecei a lecionar na faculdade. — ele soltou em um suspiro nervoso.

Por que ele não parecia feliz? Ele me fitava transtornado. De repente, eu percebi o motivo, recordei que o tal doutorado era na Inglaterra. Senti-me pálida, meu coração se apertou tanto que tive a impressão de ter parado de bater por alguns segundos. O que aconteceu com meu lindo mês de sonhos? Foi transformado num pesadelo. Talvez eu não tivesse ouvido direito, ou tivesse entendido errado. Mas para meu desespero eu estava certa.

— Você aceitou? — sussurrei temerosa.

— Sim. — ele me olhou profundamente. — Claro que você vai comigo.

Fui pega de surpresa, nem conseguia pensar. Ele queria que eu fosse? Isso era bom, mas assustador. Pensei na minha faculdade, em Sérgio, principalmente em Gustavo e não me conseguia imaginar simplesmente deixando tudo.

Lembrei-me de quando fiquei três meses com minha mãe no Canadá. Foram meses horríveis tomados por angústia e frustração até que implorei para voltar. Eu apenas não conseguia aguentar a saudade de meus amigos, minhas coisas e minha família substituta.

O convite de Giovanni trouxe à tona em minha mente uma verdade: eu nunca havia cogitado a ideia de morar com ele e construir um relacionamento realmente sério. Eu o amava, mas até que ponto eu estava disposta a largar tudo para ficar com ele?

O pavor tomou conta de mim e eu não sabia o que dizer ou como explicar, não conseguia nem mesmo refletir direito sobre tudo. Ele me olhava angustiado e dizia que podíamos casar ainda neste mês se eu desejasse, ou podíamos apenas morar juntos, o importante era que eu fosse com ele.

Aquilo parecia um dèja vu do ano anterior com Ricardo. E como no ano anterior esse era um péssimo momento, havia tanta coisa que me segurava aqui e apenas uma que me fazia querer ir. Giovanni era dono do meu coração, mas não era o único.

— Então, o que me diz? Vai comigo? — Giovanni me abraçou em desespero.

— Não! — disse com firmeza, mesmo que dentro de meu peito a dor queimasse de modo horrível.

— Por que não quer ir comigo? — o modo despontado que ele me olhava ardia mais ainda.

— Eu te amo, mas tenho minha vida aqui e não vou deixá-la. — engoli em seco ao guardar as lágrimas que desejavam sair. Por todos queriam que eu abandonasse minha vida por eles? Minha mãe fez isso, Ricardo tentou e agora Giovanni.

— É só por dois anos! Não estou pedindo que abandone nada para sempre! — então ele me olhou em suplica. — Você não quer ir por causa de Gustavo, não é? Isso não está certo, você não pode passar toda a vida em função deste garoto. — então ele gritou. — Você sempre o coloca acima de nosso relacionamento!

— E você prefere fazer um doutorado do que ficar comigo. — soltei com raiva. As coisas estavam perfeitas por que ele tinha que complicar ao aceitar ir?

— Droga, Emily! — ele voltou a gritar com frustração. —Isso é tão... Tão, tão adolescente!

Sua fala me magoou com profundidade, abri a porta do carro e o fitei com olhos úmidos.

— Tenho uma novidade para você. Eu sou adolescente! — batia a porta do carro e entrei correndo em meu prédio.

Como chegamos a essa desgraça? Por que as coisas não podem ser perfeitas? Por que sempre tem que vir algo para se atravessar e mudar tudo?

Sentei na escada escondendo o rosto nos joelhos e chorei.