19. Piquenique - Giovanni
No primeiro mês de nosso namoro, tive que aprender a seguir o ritmo de Emily. Por mim, já estaríamos morando no meu apartamento, queria estar com ela todo o tempo. No entanto, ela precisava de espaço para fazer suas coisas de adolescente e apesar de ter aceitado almoçar todos os dias comigo, não partilhava da ideia de dormirmos juntos ou nos vermos todas as noites ou que eu fosse buscá-la para vir à faculdade. Foi um pouco difícil para eu compreender que nosso relacionamento apesar de muito bom demoraria um pouco para ter a cumplicidade que eu ansiava. Além de ser cada vez mais difícil segurar meu desejo por Emily e aceitar nos afastar depois de alguns beijos acalorados.
Giordana foi uma importante conselheira, que me tranquilizou. Alegrou-se ao saber que eu finalmente estava emocionalmente envolvido com alguém e desejava fortemente que tivéssemos sucesso. Minha irmã me fez entender que de alguma maneira a juventude de Emily interferiria no modo de ser de nosso namoro e eu deveria aceitar isso.
O que realmente me chateava em nosso relacionamento era a presença constante de Gustavo, nos tratávamos de forma educada, mas claramente não nos aturávamos. Quando eu e ele nos víamos, quase não trocávamos palavras. A forma como ele e Emily se tratavam com extrema cumplicidade me mantinha alerta, pois tinha certeza que ele apresentava segundas intenções com ela.
Mesmo que ainda não tivéssemos compartilhado o corpo um do outro, era fácil perceber que nos encaixaríamos com perfeição. E estava certo que nosso relacionamento seria duradouro e resolvi que era a hora de apresentar Emily como minha namorada a Nina.
Informei-a de minha ideia e ela concordou animada, não parecia afetar-se em dividir seu tempo comigo e com minha filha. Ao pedi-la em namoro havia esquecido que de alguma forma ela teria que conviver com Nina e quando me dei conta disso fiquei receoso, pois conhecia alguns casais que tinham brigas homéricas pelo fato da nova mulher não querer saber dos filhos do casamento antigo. O sorriso de Emily quando lhe fiz a proposta fora sincero, para ela não seria um empecilho. Só esperava que essa boa vontade permanecesse depois de algum tempo e que ela e minha filha se dessem bem.
Ao buscar Nina avisei que iríamos ao zoológico e que tinha uma surpresa para ela. No carro, a pequena estava impaciente e decidi que seria melhor prepará-la para que a surpresa não fosse desagradável.
— Levaremos mais alguém ao zoológico hoje.
— Outra criança?
— Não, uma pessoa que já conhece e que se divertiu muito quando foi me visitar no meu trabalho.
— Emily! — minha filha sempre facilitava as coisas para mim, pelo menos pensara na pessoa certa. Ela me olhou desconfiada. — E por que ela vai junto?
— Porque ela é muito legal e quer passar mais tempo contigo e comigo.
Sondei os olhos pensativos de Nina na esperança que ela se desse por satisfeita. Contudo dei-me conta que seria preciso uma explicação mais realista. O que minha filha pensaria ao ver que nos cumprimentamos com um beijo como eu fazia no passado com sua mãe? Deveria ter combinado com Emily para mantermos certa distância. Não! Enganar Nina não é justo.
— Nina, a Emily irá conosco porque agora ela é minha namorada. — falei pausado e sorri amigável na espera que ela compreendesse, estávamos quase na frente do prédio de Emily.
— Namorada? — ela me observava confusa. — Como o tio John e tia Ana?
— Isso mesmo. — ela não poderia ter relacionado um exemplo melhor, buscando a irmã mais nova de Rebeca na memória. — E por isso queria que se dessem bem.
— Tá.
Ela ainda parecia confusa, porém não conseguia encontrar formas de expressar algo que não entendia. Eu deveria tê-la preparado melhor para esse encontro. Será que era precipitado? Talvez fosse muito cedo para Nina para ter que lidar com novas pessoas entre eu e sua mãe. E se isso causasse algum trauma nela? Senti-me egoísta por querer que Nina conhecesse Emily tão rapidamente.
Antes que eu pudesse decidir se devia cancelar esse encontro, Emily entrou no carro com uma enorme sacola. Antes de me cumprimentar sorriu para Nina, podia perceber como ela sentia-se ansiosa quando falou com minha filha.
— Olá! — Emily me olhou em busca de apoio, eu sorri. Ela mostrou a sacola para Nina. — Não podemos ir ao zoológico sem fazer um piquenique, então trouxe umas coisinhas.
Na hora Nina foi fisgada pelo sorriso de Emily e pela sacola. Espiou curiosa o que havia dentro da sacola. Beijei Emily em agradecimento e ela pareceu aliviar-se. Provavelmente esse encontro era um desafio não apenas para Nina, mas também para Emily e para mim.
— Tem bolo de chocolate — Nina me contou animada — e pastelzinho!
— Não sabia dos seus dotes culinários. — sorri.
— Só fechei os pasteizinhos. — Emily me olhou divertida e confessou. — O cozinheiro é o Gustavo.
O nome desse garoto sempre surge na conversa. Pensei com raiva. Tinha a impressão que ele passava todo o tempo livre na companhia de minha namorada. Contudo, não poderia mostrar-me ingrato quando ele organizara um piquenique para minha filha. Então apenas sorri novamente e dirigi para o zoológico.
O passeio foi agradável, Nina não pareceu se preocupar com o fato de eu estar namorando. Ela e Emily riam juntas e conversavam sobre os animais que viam, empolgadas. Além de o tal piquenique ter feito o maior sucesso com minha filha e nos proporcionado um relaxante momento para curtir a natureza deitados sobre a toalha posta na grama.
Na volta, teria largado Emily primeiro, contudo o apartamento de Rebeca era muito mais perto, então resolvi deixar minha filha em casa antes. Rebeca desceu para pegá-la e olhou perturbada para Emily, que estava dentro do carro. Senti a curiosidade e o ódio dela, no entanto não falou nada, apenas despediu-se. E Nina, inocente, abanou para Emily com enorme sorriso antes de entrar no prédio.
Percebi que Rebeca ainda me causaria algum desconforto e era provável que fizesse de tudo para colocar Nina contra qualquer mulher que estivesse ao meu lado. Não por sentir algo por mim, e sim por não querer dividir sua filha com outra pessoa. Eu a entenderia, um pouco, pois não ficaria contente em ver minha filha próxima de um cara que não conheço.
Emily não comentou nada sobre Rebeca, como se evitasse falar nela. E na verdade nunca havíamos trocado nenhuma palavra sobre nossos relacionamentos passados desde que iniciamos nosso namoro. Eu não queria ouvir sobre quem havia compartilhado amor com ela e ela parecia sentir o mesmo. Apesar de ainda não termos feito sexo, eu não percebia isso como resultado de sua virgindade e sim mais como uma necessidade de sentir-se segura no relacionamento antes de passar para um nível mais sério. Algo no seu modo de me beijar e me tocar não me passavam inexperiência. E seu passado era algo que não gostava de imaginar.
Ao deixá-la na porta de seu prédio, Emily sorriu:
— Tivemos uma ótima tarde. Sua filha é uma criança divertida.
— Fico feliz em ouvir isso. É importante para mim que vocês tenham um bom relacionamento.
— Acho que não será difícil. — ela me beijou, mas voltou receosa. — Não costumo ter muito contato com crianças, então se fizer alguma besteira não ficarei chateada se me alertar.
— Não se preocupe, se sairá bem com minha filha. — disse com certeza e alegria quando ela entrava no prédio.
Achei engraçada sua preocupação em agradar minha pequena, não receava que ela seria uma ótima madrasta, pois tinha um jeito natural e meigo com Nina. Talvez fosse precipitado pensar em Emily como uma madrasta, mas meu coração não conseguia evitar.
****
O telefone de meu apartamento estava com duas chamadas de Rebeca e o celular, no silencioso, com mais umas quatro. Tinha ideia de que o motivo de tantas ligações desesperadas era minha nova namorada. Pensei em evitar conversar com ela, no entanto era previsível que me ligaria a noite toda se fosse preciso. Disquei o número de minha antiga residência, Rebeca atendeu de forma ríspida e atirou-me suas palavras de fúria.
— O que tem na cabeça?! Vai apresentar todas as vadias com quem sair para nossa filha?
— Só falarei contigo se parar de gritar. — comuniquei entredentes em um autocontrole difícil de suportar sua grosseira.
— Acha que vai expor nossa filha dessa maneira? Quantos anos tem essa sua prostituta? Agora virou pegador de criancinhas?
— Está fazendo um papel ridículo. — disse com a voz alterada. Puxei o ar e moderei o tom. — Ela é minha namorada, não é nenhuma puta. E eu apresentei para nossa filha porque pretendo ficar muitos anos com ela. E não é mais da sua conta quem eu namoro ou deixo de namorar.
— Não vou permitir que fique levando nossa filha para encontrá-la.
— Conversamos sobre isso depois.
Desliguei o telefone com raiva. Sabia que Rebeca estava apenas irritada e que não teria o trabalho de recomeçar um processo por guarda exclusiva e visitas por causa disso, contudo achei melhor esperar ela acalmar-se para conversarmos melhor. Faria uma visita a ela no meio da semana para que nos acertássemos. Ela tinha um monte de defeitos como esposa, contudo era uma boa mãe e não empacaria minhas visitas a minha filha por estar com raiva de mim. Ao menos eu esperava que não. Como era difícil ter uma ex-esposa!
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