⚔️ Capítulo 09: Conversas paralelas
O gélido ar da manhã não incomodou Eustáquio. O que lhe aborrecia era um desconforto no pescoço. Dormente. Oriundo de uma fraca noite de sono. Sentava-se a mesa acompanhado de uma caneca de madeira. Pela metade, o café ainda o aquecia. Gosto e odor exalavam por sua murcha boca enquanto Fred calçava suas botas para sair ao trabalho. Nem mesmo o sol estava firmemente de pé àquela altura do dia.
— Acordado muito cedo. - introduziu. — Chegou a ver Dário sair?
— Não. Ele não. - a manga comprida de seu velho pijama pressionava junto ao cotovelo contra a tábua. Havia dois pires também. — Mas está ciente do que tem de fazer.
— Acredita que ele seja capaz de conseguir alguma ajuda na Guarnição?
— Não há homem algum naquele regimento que partilhe dos ideais de Nordfeldt. - respondeu o velho. — Desde os meus tempos a Patrulha se opõe abertamente a Coroa.
— Bem, trata-se de uma jornada além da Muralha e sem remuneração. - argumentou Fred enquanto apalpava a gola da roupa. — Aliás, sem uma agenda definitiva. Não é fácil como se pensa. - salientou.
— Realmente é um outro contexto em uma outra época, mas um bom Patrulheiro não foge à luta.
Eustáquio não aparentava preocupação ou abatimento. Suas ideias eram cristalinas e sua opinião consagrada. Estava determinado a enviar seus filhos em uma busca de importância descomunal em prol de uma missão a qual acreditava ser correta e honrada.
Fred caminhou até uma das janelas. Puxou por seus dedos a cortina, observando de forma rasa a chegada do sol entre as frestas.
— Tem alguma quantidade em mente?
— Ao menos cinco. Se existir uma possibilidade maior, ainda melhor. De todo modo, treze em hipótese alguma. - concluiu tossindo levemente.
— Receio pelo número?
— Ora, não pode ser uma demanda azarada. Com treze, tenho total certeza de um retumbante fracasso.
— Espero que não esteja contando comigo. - respondeu como se guardasse esta notícia desde o início. — Não precisa me incluir.
— Está abandonando o barco antes mesmo de sua saída? - Eustáquio contraiu-se levemente na cadeira. Inquieto. — Vai deixar seu irmão sozinho e à deriva?
— Pelo contrário! Caso tenha sucesso em suas chamadas, terá bons homens ao seu lado. Eu já não posso deixá-lo aqui sozinho. Ainda mais após a troca de farpas com o Rei.
Desgostoso, Eustáquio sentiu-se golpeado pelo filho. Não soube rebater. Sentou-se novamente, jogando as costas para trás. Tamborilou seus dedos em volta da caneca, enquanto Fred abotoava seu uniforme e se despedia com um cesto de frutas em uma de suas mãos.
O vento frio cantava naquela altura, cortando cada exposto pedaço de pele no topo das Muralhas. Companheiros de Guarnição percorriam o chão rígido de um lado para o outro com suas mantas negras acobertando cada centímetro de seus corpos. A cerração se assemelhava a um sopro do inverno. Em um estado natural, os Patrulheiros enxergariam privilegiadamente mundos e mundos àquela altura, mas o clima momentâneo não lhes ajudava. Estavam há pouco mais de quinze metros do chão. Dário e muitos outros trabalhavam com suas vestes pesadas que cismavam em competir com a baixa temperatura.
— Liderman reparou aqueles buracos? - perguntou um dos tantos. O cabelo escuro sombreava sua pele clara. O capuz forçava-lhe a face formando um formato oval. — Já faz uma semana e aquele preguiçoso nada faz.
— Sigmund. - respondeu Dário mastigando uma maçã. — Este não era o seu serviço?
— Capitão Heinrich inverteu os papéis ontem a noite. - disse o outro. — Você estava ausente. E também me liberou mais cedo por meu irmão.
— Entendo. - assentiu. — Como anda o joelho de Arkmund?
— Ele já consegue pisar normalmente, mas ainda sente muitas dores.
Dário e Sigmund combinavam seus olhares as terras mais distantes. A paisagem esbranquiçada contrastava ao fraco sol que teimava em tentar vencer a disputa climática. A vista ao solo era irrisória. Aos mais novatos nas Muralhas, eram lhes designados os serviços florestais, sendo enviados a cortarem e apararem as primeiras faixas verdes à um bom raio de distância, evitando que qualquer inimigo utilizasse para se esconder entre as árvores e tantas matas.
(Imagem meramente ilustrativa / Google)
— Sig. - chamou Dário, cuspindo restos. — Peça para que Arno compareça aqui. Faça-me o favor.
Em instantes, o enviado aproximou-se. Havia um desagradável cheiro de fumo em sua volta. Arno tinha o costume de gozar de boas tragadas enquanto trabalhava nas alturas.
Dário relutou em iniciar a conversa, mantendo a paciência até que outros homens próximos abrissem lonjura e espaço. Então, puxou o amigo para dentro de uma das muitíssimas guaritas que as Muralhas cortejavam. As pequenas torres arredondadas por pedras separavam-se em um espaço de dez metros uma das outras e internamente tinham a humilde capacidade de receber dois Patrulheiros. Ainda em seu interior, uma mísera janela retangular ao centro e um pequeno balcão de madeira com um longo pergaminho na parte superior entrelaçado a uma luneta para que os responsáveis pudessem anotar e relatar o que haviam flagrado. Duas velas iluminavam o local.
— Ninguém pode nos ouvir. - deduziu em voz baixa. — O que pensa de sair das Muralhas?
— Seria ótimo! Gratificante! - respondeu fervorosamente. A barba tão escura juntava-se a seus lábios em um movimento risonho, até lembrar-se do tom elevado. — Digo, ficaria lisonjeado. Tirando a escolta que fizemos para a família no dia de colheita, são quase dois meses sem um trabalho para lá das Muralhas.
— Mas se eu lhe dissesse que não há remuneração e nem terá serventia ao Rei? Sairíamos sem data de retorno e o mais rápido possível. - a vela dançava próximo a seu ombro e seus olhos passaram levemente pela janela. Receoso.
— Ora! E quem nos daria uma jornada como tal?
— Meu pai! Ele e Fred foram ao encontro do Rei, que se negou a fazer qualquer movimento contra possíveis forças inimigas.
Dois dedos de Arno estimularam a porta. Deslocando-a suavemente. Olhou levemente para conferir se não havia nenhum bisbilhoteiro. Teve certeza.
— A grande maioria da Guarnição é contra Nordfeldt, mas arriscar-se assim requer tamanha coragem e braveza. Não sei se todos são capazes.
— Pelo menos cinco homens e desbravaremos novas terras. - A sombra pairou contra o rosto de Dário. Ele se ergueu por centímetros. — Contate os de maior confiança e vejamos quem são os mais intrépidos dos Patrulheiros. - uma batida veio a porta. — Dê o recado. Aos honrados, estarei no subsolo do septo em dois dias.
Oi, eu sou o Rogi! Estamos de volta após um período inativo devido a minha condição de saúde! Neste capítulo, vemos os primeiros movimentos de Eustáquio e seus filhos, além de conhecermos um novo personagem, conferir o pensamento de Arno e ainda ouvimos o nome de alguns outros! Se chegou até aqui, agradeço! Deixe seu voto e comente a respeito!
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