Calmaria antes da Tempestade
No outro dia, os rapazes acordam bem tarde depois de uma noite relaxante de sono tranquilo e seguro, pois eles foram dormir de madrugada. Bernard é o primeiro a levantar, ao terminar de se arrumar, acorda os outros para que possam voltar as suas investigações. A preguiça pesa seus corpos, mas eles não se dão a esse luxo de desfrutar mais que o necessário de seus sonos.
O aroma doce e agradável do chá fervendo na cozinha chama a atenção do olfato de todos, eles se dirigem até a origem do cheiro. Ao chegarem se surpreendem com a pequena mesa farta que encontram, havia algumas cumbucas com arroz branco, legumes em conserva e até mesmo peixe grelhado para porções de até três pessoas. Aki está com boa parte de sua armadura vestida e também está terminando de lavar a louça restante e os cumprimenta em japonês.
-Bom dia! Dormiram bem?
-Nossa... Diz Bernard esticando os braços para cima. Você nem imagina, acredito que essa noite foi a melhor durante todo esse ano.
-Concordo plenamente. Diz Alice ainda bocejando.
-Isso é bom... Vocês estavam precisando mesmo, chegaram aqui destruídos praticamente. Sentem-se! A comida está no ponto, faz muito tempo que eu fui ao Brasil então... Eu não me lembro muito bem do que se comia de manhã... Mas espero que tudo os agrade. Diz Aki secando suas mãos com um pano de prato branco.
-Que isso... Sinceramente, estou me sentindo um pouco envergonhado por estarmos dando tanto trabalho a você. Não precisava de toda essa gentileza. Diz Kira abaixando levemente sua cabeça indicando o seu agradecimento.
-Não precisa me agradecer, Kira... É o mínimo que eu posso fazer depois de tanto tempo sem visita alguma.
-Mas ainda assim, agradeço por tudo que fez por nós mesmo sendo meros estranhos... Diz Kira ainda mantendo a sua cabeça baixa, o que induz a Alice e Bernard a abaixarem as suas também.
-Bom... Diz Aki com um leve sorriso no rosto. Se vocês realmente querem meus agradecimentos, então poderiam fazer um favor para mim?
-Claro! É o mínimo que poderíamos fazer. Diz Alice.
-Por hoje, eu gostaria que vocês ficassem aqui dentro. Para dar um tempo de despistar aqueles escravistas. Só sairei daqui para patrulhar os arredores e ter certeza de que eles não nos encontraram ou que ainda insistem em nos achar.
-Bom... Se você diz que é melhor... Acredito que não é problema ficarmos por aqui mesmo... Acaba virando mais um dia de descanso. Diz Bernard soltando alguns risos.
-De certa forma... Sim! Diz Alice dando algumas risadas também.
-Sem problema, mas eu ainda assim, poderia conversar com o espírito do Receptáculo Divino de meu pai? Você nem sequer me revelou o nome dele. Pergunta Kira.
-Claro, sinta-se à vontade para conversar com ele. A propósito, o Receptáculo está junto com as espadas de seu pai, naquele esconderijo. Só não se esqueça que para isso, é necessário que você retire seu Receptáculo atual e também tocar ou segurar o outro Receptáculo e se concentrar para que ele possa encontrá-lo.
-Entendo... Farei isso então... Mas só por curiosidade, qual é o seu espírito?
-Ah! Não lhe contei?
-Não... Mas fiquei curioso justamente por ele ser bem forte e com aquelas habilidades ninjas, eu e Amon ficamos impressionados.
-Bom... Devo admitir que aquilo é experiência de muito tempo, mas... Respondendo sua pergunta... Sim! De fato, ele era um ninja, e ainda um dos discípulos de Hanzo Hattori. Seu nome é Ken Suzuki.
-Hanzo Hattori?! Se espanta Kira.
-Quem? Pergunta Bernard.
-Ele era um ninja muito famoso nas eras antigas do Japão, como também era chefe do clã na região de Iga. Até mesmo chegou a servir fielmente um dos maiores shoguns que existiram no Japão, Ieyasu Tokugawa. Chegou a ganhar apelido de "Demônio Hanzo" por conta da sua ferocidade nas batalhas. Responde Kira com um certo brilho nos olhos, demonstrando seu enorme interesse sobre o assunto.
-Nossa... Bem, eu entendi o que quis dizer, mas... Você sabe que eu não conheço nenhum desses outros nomes que disse, não é? Diz Bernard soltando algumas risadas.
-Ah! Errr... Foi mal... É que eu acabei empolgando um pouco.
-Que isso... Nem percebemos isso. Diz Alice de forma irônica e começa a rir também.
-Hum... Fico feliz em saber que é tão interessado na história do Japão... Acredito que auxiliará durante sua conversa com o espírito. Diz Aki terminando de encaixar algumas partes de sua armadura e sua máscara, abafando um pouco sua voz.
-Espera... O que quer dizer com isso? Questiona Kira.
-Eu?! Diz Aki enquanto termina de se equipar. Olha... Não me leve a mal, mas... Nem você me pagando com "Cinco anéis" de ouro maciço, eu lhe daria a resposta. Diz fazendo duas aspas com suas mãos.
-O quê? "Cinco Anéis"? Diz Kira bem confuso.
-Basta você lembrar de algumas pessoas incríveis do passado que você entenderá. Bom... Eu preciso ir, fiquem livres para fazerem o que lhes agradar por aqui, só peço que tomem cuidado para não serem vistos por ninguém de fora.
-Ok! Sem problema. Diz Alice.
-Não sei a que horas voltarei, mas vou fazer de tudo para chegar cedo. Caso eu não volte até a meia-noite, recolham seus pertences e as coisas que estão no meu esconderijo e sumam daqui o mais rápido possível, entenderam?
-Sim, mas por que uma fuga de emergência para esse horário? Pergunta Bernard.
-Há riscos de eu ser capturado ou morto enquanto estou fora, por mais que seja baixa a probabilidade de isso ocorrer, mas temos que pensar em todas as opções.
-Compreendo... Sinceramente é até um pouco chocante essa linha de raciocínio e maneira de agir tão fria, como se tais detalhes não fossem de grande importância. Diz Alice.
-É... Não posso dizer que isso seja uma vantagem... Porém com o tempo, se você não se adapta, pode chegar a uma situação que comprometa os outros dependendo de seus sentimentos no campo de batalha. Responde Aki dirigindo-se a porta.
-Credo... Você até parece dizer isso por experiência própria... Diz Bernard.
-É... Na verdade, eu vi isso acontecer com outros aliados meus que tivemos durante o tempo em que fiquei no Brasil. Diz Aki abrindo a porta. Bom... Já estou indo... Espero que nada de ruim aconteça enquanto estiver fora.
-Também espero. Diz Alice.
Aki veste sua máscara e se despede dos outros, chama por seu espírito e avança rapidamente saltando nos telhados das casas vizinhas de forma cautelosa, sumindo aos poucos da visão de todos. Kira não perde tempo e corre em direção ao esconderijo do ninja, deixando Alice e Bernard um tanto curiosos. Ele empurra com força o pesado guarda roupa e começa a tatear a parede até que sua mão afunda no feitiço de ilusão.
-Está com tanta pressa assim? Pergunta Bernard.
-Claro! Finalmente posso saber de tudo com todos os detalhes! Responde Kira colocando quase todo o seu braço na parede falsa.
-Mas eu não entendo... Aki não lhe disse tudo? O que vai perguntar para o espírito? Questiona Alice.
-Primeiramente, quero descobrir como é que meu pai conseguiu um Receptáculo tão poderoso e quem é esse espírito. Depois tentarei descobrir mais detalhes sobre a guerra em Tokyo.
-Que detalhes?
-Talvez ele saiba quem era aquela pessoa que veio buscar os Receptáculos, ou até mesmo informações a mais sobre os Maxine e Chavelier.
-Entendo...
-Ei! Acho que encontrei algo!
Kira retira seu braço lentamente da parede, em sua mão encontra-se um bastão que está com sua maior parte talhada, numa tentativa de parecer ser uma bokken bem curta, porém há algumas escrituras mágicas em seu torno e em uma de suas extremidades existem marcas e rachaduras.
-O que é isso? Pergunta Alice.
-Creio que seja o Receptáculo Divino que meu pai usava...
-Parece estar bem danificado e ser bem antigo.
-Sim. Diz Kira enquanto analisa meticulosamente o objeto. Bom, o jeito será seguir o que Aki disse para descobrir se isso realmente é o Receptáculo.
O rapaz retira o colar Yin e entrega para Alice, ele se senta no chão em posição de lótus ainda segurando o bastão. Depois de algumas respirações mais fortes finalmente Kira fecha seus olhos e entra em estado de meditação profunda. Alice e Bernard retornam na sala e se sentam no sofá.
-Será que ele demorará muito? Pergunta Bernard.
-Provavelmente... Não sei exatamente o que se passa na cabeça dele, mas tenho certeza que há muitas dúvidas.
-Hum... Tem razão.
-E espero que ele obtenha pelo menos a maioria das respostas.
-Também espero, mas... E você? Diz Bernard se ajeitando no sofá ficando um pouco mais de frente com Alice.
-Eu?
-Sim, pois você e Kira andam descobrindo bastante coisa sobre a família de vocês. Porém, até o momento você não disse nada sobre o assunto. Há algo lhe incomodando?
-Bem... Na verdade eu não descobri tanta coisa assim, porém admito que me aperta o coração saber que meus pais foram mortos por conta de uma traição dos companheiros nos quais eles mais confiavam. E que são eles que causaram todo o caos que resultou na morte do pai de Kira e dos amigos de Aki.
-Então é esse ódio pelos Chavelier que lhe incomoda?
-De certa forma sim...
-Bom, não te culpo por isso, você deve querer eles mortos tanto quanto nós...
-Não é bem assim...
-Como assim?
-Sabe... Eu realmente queria que tudo pudesse ser resolvido sem a necessidade de derramar sangue. Estou um tanto desgastada por lutar para nos defendermos ou para atacar alguém que pratica o mal. Queria entender o porquê é tão necessário agir de forma tão violenta...
Um certo silêncio domina a sala e Bernard sem uma exata resposta formulada apenas apoia sua mão sobre o ombro de Alice para consolá-la.
-Ei! Bernard! Diz Robin Hood mentalmente.
-Diga.
-Deixe-me conversar com ela.
-Mas por quê?
-Apenas permita-me assumir o comando e você verá!
-Se você diz... Robin Hood.
Alice estranha a fala de Bernard e então se levanta e olha diretamente para seus olhos para ter certeza. De fato, seus olhos estavam verdes e então o rapaz se levanta lentamente e com um olhar um tanto sério diz:
-Olá, Alice. Não se assuste vamos apenas conversar sobre isso que acabou dizer.
-O quê?
-Olha... Eu entendo perfeitamente o que sente, justamente porque no passado eu também sentia isso. O fato de que não era necessário derramar sangue para se conquistar algo, de que a violência é algo retrógado. Porém, infelizmente também devo dizer a você que quanto mais cedo aceitar tal fato, menos doloroso será o futuro.
-Como assim?
-Não estou dizendo que a paz não é uma opção, mas deve-se primeiramente analisar contra o que estamos lutando.
-Continuo sem entender.
-Por mais que nossos inimigos sejam pessoas, essas pessoas possuem algo não natural que desperta e aflora intensamente os instintos, sentimentos e principalmente desejos mais primitivos do ser humano! Por mais que o Homo sapiens em sua forma mais animal, deseje apenas comer, beber e reproduzir sua prole, ele sempre deseja fazer isso da forma mais fácil possível, para que poupe esforços.
-Preguiça?
-Exato! E com sua evolução, o homem entendeu que para que isso seja possível, é necessário poder! Muito poder! E esse detalhe pode ser interpretado de várias formas hoje como, fama, bélico, monetário, físico e até mesmo o conhecimento. E como hoje, nós não somos apenas animais irracionais, os sentimentos despertados também não são.
-Então você quer dizer que...
-Que estamos enfrentando seres poderosos individualmente que perderam seu senso de "humanidade", porém extremamente dependentes de sua ganância particular que, consequentemente, os torna insanos e perversos!
-Mas ainda assim por que não podemos considerá-los como pessoas?!
-Porque uma pessoa normal, possui ao menos um pouco, algo humano dentro de si. Tais pessoas perderam isso ao se tornarem escravistas. Elas se viciaram nessa ideia de poder infinito, e agora só possuem de humano sua origem e anatomia...
-M-mas... Não existe uma forma de revertê-los? Uma maneira de recuperarem a humanidade?
-Queria que ela existisse, pois isso com certeza mudaria toda nossa concepção. Porém como não a temos no momento, a única forma de evitar com que os escravistas destruam a vida de mais pessoas, é aniquilando-os.
Alice fica sem mais argumento algum, então solta todo o ar de dentro de seus pulmões e se senta novamente no sofá com um olhar longínquo e perdido. Robin suspira e se senta ao lado de Alice retomando o diálogo.
-É duro engolir tudo isso, eu entendo... Também tive que fazer isso... E a prova viva disso é Bernard.
-Bernard? Diz Alice agora olhando para Robin.
-Sim... Em nossa primeira missão em São Paulo, tínhamos que exterminar um grupo de escravistas que estavam ameaçando incendiar um bairro inteiro e... Eu não queria matar ninguém, apenas deixá-los inconscientes, mas... Foi por conta dessa minha ação pacífica que acabei permitindo com que eles matassem três de nossos aliados. Eu e Bernard entramos em choque quando vimos aquilo e por conta disso fomos feridos gravemente e quase morremos. Porém graças ao Ivan e Octavius o restante do grupo de escravistas foram mortos e assim fomos resgatados.
-Ivan... Sinto saudade dele...
-Também sinto... Mas devo admitir também que ele ficou enfurecido comigo quando retornamos daquela missão. Foi ele quem abriu os meus olhos sobre essa questão de matar escravistas, entende?
-Entendo... Me desculpe por ter lhe incomodado a ponto de ter que ser invocado para conversar comigo e também por ter lhe feito se lembrar de coisas horríveis.
-Não foi nada, princesa! Sinceramente eu e Bernard já superamos a morte de nossos aliados. Afinal, se baixarmos demais a guarda, seremos os próximos a irmos pro caixão.
-Bom... Se você diz. Diz Alice com um sorriso um tanto forçado por achar a frase exagerada.
-Acredito que encerrei o papel por aqui então... Se não se importa, retornarei aos meus "aposentos divinos". Diz Robin fazendo aspas com os dedos.
Enquanto Alice solta leves risos pelo último trocadilho de Robin, Bernard recupera o controle de seu corpo e com isso respira fundo e solta o ar vagarosamente.
-Como consegue rir das piadas dele? Pergunta Bernard.
-Não sei... Apenas acho o jeito dele engraçado.
-É... Uma hora você se cansa. Diz Bernard soltando alguns risos.
-Ei! Não vem com essa não! Não é culpa minha se você não compreende meu humor! Diz Robin mentalmente.
-Humor? Você tem isso? Responde Bernard com um ar sarcástico.
-Engraçadinho...
-Mas admita, Bernard. Ele é uma pessoa boa. Tanto que ele me ajudou bastante. Diz Alice.
-É... De fato.
-Bom... Eu vou dar uma olhada no Kira pra ver se está tudo bem.
-Ok.
O dia passa rápido e a noite domina o céu, Kira ainda se mantém na mesma posição de meditação enquanto Alice e Bernard jogavam conversa fora até se cansarem e se manterem no silêncio tedioso.
-Nossa! São nove da noite e o Kira ainda não terminou de conversar com aquele espírito? Diz Alice olhando o horário no celular.
-Calma, Alice. Lembre-se de que quando se está com a consciência dentro de um Receptáculo Divino, o tempo corre de maneira diferente, variando de como o espírito quer que corra. Diz Bernard enquanto mexe em seu Sigma Driver.
-Eu sei disso... Mas ainda assim não é recomendável que ele fique com o corpo durante todo esse tempo imóvel e sem se alimentar.
-Nisso você tem razão.
-Bom, vou beber água, quer alguma coisa?
-Não, obrigado.
A garota se levanta e vai até a cozinha. Enquanto ela procura em qual dos armários ficam os copos, Bernard se levanta e vai a entrada da cozinha e diz:
-Ei, Alice. Posso te fazer uma pergunta?
-Diga. Diz Alice quando finalmente encontra um copo de vidro.
-Faz muito tempo que você e o Kira convivem, não é?
-Sim. Diz Alice terminando de encher o copo de água no filtro e bebendo-o.
-Hum... Então faz muito tempo que você também gosta dele?
Alice fica tão surpresa que se segura para não cuspir toda água que bebeu, em consequência acaba se engasgando.
-Pelo visto faz um bom tempo! Diz Bernard rindo da situação dela.
-E-está maluco?! De onde tirou isso?!
-Bom... Primeiramente sua preocupação intensa...
-M-mas isso é algo normal! Melhores amigos fazem isso!
-Segundamente a intimidade entre vocês...
-É como eu disse! Melhores amigos!
-Terceiramente o desespero que você ficou ao comentar sobre isso. Tanto que você gaguejou e se engasgou com água. O que comprova completamente a minha teoria que, no caso, era quase certeza de estar correta.
-QUÊ?! Não é isso! É que... Errr... Diz Alice com o rosto inteiramente vermelho sem saber o que falar.
-Agora eu tenho mais um fato que comprova isso. Você nem sabe como justificar meu último argumento. Diz Bernard sorrindo da vergonha de Alice.
-Selenis! Me ajuda aqui! Diz Alice mentalmente num tom desesperado.
-Me perdoe, Alice... Mas o rapaz percebeu tudo.
-NÃO! Tem que haver uma forma de...
-Ei! Alice! Relaxa! Diz Bernard soltando algumas gargalhadas.
-Em?
-Entenda que é normal gostar de alguém. Não há necessidade de tanto drama e vergonha para isso. Pense que ao menos sou seu amigo e que é impossível o Kira escutar tudo que falamos aqui.
-Hum...
-Vamos lá... Prometo a você que não contarei a ninguém.
-Promete mesmo?
-Claro!
-Hum... Sim... Sussurra Alice ainda completamente corada.
-Quê? Não escutei.
-Sim... Eu gosto dele... Diz Alice agora num bom tom.
-E por que não declarou pra ele até hoje? Tenho certeza que ele vai aceitar.
-E como você sabe disso?
-Porque tenho certeza que ele também gosta de você. Se bobear, ele deve é te amar! Diz Bernard soltando alguns risos.
-Sério?!
-Claro! Uma das maiores preocupações dele em batalha é você! Bom... pelo menos aparenta ser isso.
-Hum... Não sei... É que nós temos uma amizade tão forte e boa... Tenho medo dele rejeitar e destruir assim tudo que temos, sabe?
-Sei... Também tinha muito medo de fazer isso no passado...
-Como assim?
-Devo admitir que um ano antes de você ir para São Paulo, eu descobri que gostava muito de você e queria que tivéssemos algo a mais. Porém, como você foi embora não pude expressar todos os meus sentimentos.
-Bernard... Diz Alice completamente surpresa cobrindo sua boca com suas mãos.
-Calma... Não se culpe por isso... Querendo ou não, você não sabia de nada. Bom... Com isso, em um ano, com todas as coisas que eu vi e tive de fazer, acabei perdendo interesse por esse sentimento. E hoje eu só consigo encará-la como uma irmã.
-Mas mesmo assim... Você deve ter sofrido muito por minha causa...
-Hum... Posso até ter sofrido... Mas não devemos ficar no passado! Eu já me esqueci disso e só estou lhe contando isso hoje porque eu quero que você não faça o mesmo erro que eu fiz.
-Entendo... Obrigado, Bernard.
-De nada... Ah! E só para constar, não quero que você me olhe de maneira diferente por conta disso viu? Pois mesmo que você se declarasse para mim eu não aceitaria. Diz Bernard sorrindo.
-Errr... Admito que não sei como devo reagir com isso...
-Eu lhe disse isso porque você é como uma irmã para mim! Por isso eu não aceitaria.
-Errr... Tá né...
-Relaxa! Apenas se concentre em como expressar seus sentimentos para ele. Diz Bernard sorrindo.
-Olha... Sei que você quer me ajudar, mas sério... Você não é obrigado a fingir seus sentimentos, ok?
-Como assim?
-Se você se sentir incomodado com qualquer coisa relacionado a isso, por favor... Não se force a nada.
-Aí, aí, aí... Se eu soubesse que você ficaria desse jeito, não teria lhe contado. Para o seu saber, não me sinto incomodado de forma alguma, ok? Na verdade, estou é feliz por você, por isso eu quero te ajudar!
-Sério mesmo?
-Mas você é teimosa mesmo, hein? Diz Bernard sorrindo. Você é quase a minha irmã mais nova, o que nos falta é termos o mesmo sangue. Então, dito isso, eu sempre vou lhe ajudar com qualquer...
-Bernard! Há algo de errado! Faça silêncio! Diz Robin Hood mentalmente interrompendo a fala do rapaz.
-Essa não! Diz Bernard em voz alta impressionado.
-"Essa não" o que, Bernard? Questiona Alice.
O rapaz levemente tapa a boca de Alice com sua mão e faz um sinal com a outra mão pedindo silêncio. Com isso, ele retira sua mão e sussurra:
-O radar de mana do Robin detectou alguma coisa incomum, então de preferência, vamos nos equipar antes que seja tarde!
-Mas não é possível! Como eles nos encontraram?! Responde Alice.
-Eu não sei exatamente se são eles, mas vamos nos prevenir de toda forma!
Os dois correm para o quarto em que dormiram e rapidamente se equipam, enquanto Alice foi deixar os equipamentos de Kira próximos a ele, Bernard vai para o lado de fora e invoca seu espírito.
-Robin Hood.
O arqueiro salta para o telhado da casa e de forma sorrateira procura por qualquer anormalidade. Não foi necessário tanto esforço. A alguns metros dali é possível enxergar um grupo de doze pessoas vestidas da mesma forma que os perseguidores anteriores e um apenas vestido de forma peculiar, como se ele estivesse saído de um livro de história francesa, trajando um uniforme vermelho com detalhes em branco e dourado, botas de couro marrom e dois sabres dourados cada um travado em um lado da cintura, como se fosse alguém de alta patente do antigo exército francês, com um chapéu preto com plumas brancas acompanhado de um longo cabelo preto e uma máscara branca que tampa todo o rosto. A máscara possui detalhes em preto e azul, mas o principal é um grande bigode handlebar.
Enquanto esse homem peculiar anda calmamente no meio da rua sempre acompanhado de pelo menos oito daqueles perseguidores em seu torno, os outros quatros restante invadem velozmente as casas próximas ali, como se estivessem procurando por algo. Logo é possível escutar gritos de desespero que rapidamente somem. Quando os homens saem das residências, é nítido o tom avermelhado que seus uniformes negros ganham, demonstrando assim, o destino de suas vítimas.
Finalmente Alice saí da casa invocando Selenis e, ao avistar Robin no telhado salta e pousa bem próximo a ele e questiona:
-O que ocorre?
-Ocorre que devemos acabar com esses desgraçados o mais rápido possível! Antes que mais pessoas inocentes sejam mortas! Diz Robin esticando a corda de seu arco.
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