Antigas Lembranças
Um céu azul completamente límpido, é a primeira coisa que o pequeno garoto com roupas camponesas já bem surradas, vê quando finalmente havia desperta de seu sono tranquilo e relaxante, encostado ao tronco de uma árvore aproveitando sua refrescante sombra. O menino japonês se alonga bastante até tirar toda sua preguiça para levantar. Ele está num dos morros mais altos da região, e de lá pode ver quase todas as fazendas e a entrada para área mais urbana daquela vila, uma espécie de centro comercial, porém a vista não deixa de ser bonita.
Por mais jovem que seja aquele pequeno menino, ele possui uma boa noção da guerra intensa e da violência que poder chegar em sua terra natal, e mesmo que não queira ir à batalha, é obrigado da mesma forma. Um simples garoto de apenas oito anos já questiona os motivos para todo aquele derramamento de sangue, e por que o homem em si é tão ganancioso e incompreensível. E tais perguntas fazem sua mente voar deixando-o completamente desfocado de sua realidade. Mas a voz doce de sua mãe alcança seus ouvidos, trazendo-o de volta.
-Amon! O que está fazendo aí, seu preguiçoso! Venha para casa, antes que a comida esfrie!
Uma linda japonesa, com seus 26 anos, vestida com trajes simples de uma camponesa, com longos cabelos negros com sua pele branca que se destaca no sol. Ela apareceu do lado de fora da casa fazendo um gesto com suas mãos indicando para que o garoto retorne para casa.
-Já estou indo! Responde o garoto.
Ele então aproveita a descida do morro para correr mais rápido chegando perto de sua mãe em pouco tempo.
-Aposto que estava dormindo de novo, não é? Questiona sua mãe.
-Errr...
-Diga a verdade, Amon...
-Sim, mamãe...
-Não se preocupe! Não estou brava com você! Afinal você me ajudou bastante hoje na colheita. É normal que esteja cansado e sonolento. Diz a mãe do garoto soltando algumas risadas.
-Mas... Mamãe trabalhou muito mais do que eu...
-Ei! Amon... Diz sua mãe abaixando-se para ficar da mesma altura que o garoto e acariciando sua cabeça. Você sabia que eu tenho os garotos mais preciosos dessa vila?
-Ei... Não é assim...
-É verdade! Tenho muito orgulho de você e de seu irmão. Aliás, todo dia vocês me ajudam com tudo por aqui, fazem todos os favores que peço, e ainda assim se preocupam comigo!
-Hum... Diz o pequeno menino com suas bochechas coradas.
-Todas as crianças que eu conheço dessa vila são completamente diferentes de vocês, elas apenas pensam em brincar e aprontar irritando seus pais.
-Mas é que você, não tem um corpo muito forte... Você fica doente muito fácil e...
-Mas eu não estou doente! Podem ficar tranquilos, eu estou bem mesmo. Não tem porque se preocuparem...
-Mesmo?
-Mesmo! Mamãe acordou muito bem hoje! Agora vamos comer, parece que seu irmão finalmente chegou. Vá ajudá-lo com a cesta de compras enquanto coloco tudo na mesa.
-Tudo bem... Diz o garoto correndo para a porta de entrada.
Chegando lá, um outro garoto um pouco maior que Amon fecha a porta e avisa da sua chegada, porém ao terminar de falar ele larga a pesada cesta cheia de vários tipos de legumes espalhados dentro dela, deixando cair ao chão. Quando Amon dá as boas-vindas e, o garoto pede ajuda.
-Ei! Irmão! Me ajuda aqui! Não aguento mais todo esse peso! Meu braço vai cair aqui!
-Calma aí, estou indo... Diz Amon auxiliando-o.
Os dois conseguem levar a pesada cesta até a cozinha e ao terminarem o serviço, são atraídos pelo delicioso cheiro da comida que a sua mãe colocou na mesa:
-Voltou mais rápido do que a última vez, Akira! Parabéns! Está ficando cada vez mais forte! Diz a mãe dos garotos com um leve sorriso no rosto.
-Mas é claro! O irmão mais velho sempre fica com o serviço mais pesado, porque é mais forte! Responde Akira.
-Mas da última vez que eu fiz isso, cheguei em casa bem mais rápido que você... Diz Amon.
-Nem vem! Eu me perdi no meio daquele lugar cheio de gente! Por isso eu me atrasei!
-E levou uma boa bronca do papai. Diz Amon rindo bem baixo.
-Ora seu... Diz Akira levantando suas mãos para pegar Amon.
-Parem com isso meninos! Diz A mãe dos garotos interrompendo-o. Bom... Aposto que vocês estão com muita fome, não é? Então não percam tempo e comam o quanto puderem! Diz ela animando-os.
-Sim, mamãe! Itadakimasu! Diz os dois garotos juntos. É uma expressão japonesa utilizada antes de qualquer refeição, com um significado de agradecer pela comida.
Aos poucos seus olhos vão se abrindo e lentamente Kira desperta, até tomar consciência de onde está. O rapaz se levanta tranquilamente ficando sentado sobre o piso de madeira, e assim, consegue visualizar o local. É o pequeno cômodo que Amon possui dentro do colar, e bem no fundo o samurai estica suas asas.
-Finalmente despertou... Estava ficando preocupado. Diz Amon se aproximando de Kira.
-Mas... O que aconteceu?
-Fique tranquilo, após derrotarmos aquele maníaco, a batalha finalmente cessou e alguém está cuidando de seu corpo.
-Ah... Que alívio...
-Agora... Diga-me Kira...
-O que?
-Você viu tudo aquilo?
-Está se referindo a visão?
-Exatamente...
-Sim e... Comparado a última que vi, essa é muito mais tranquila e relaxante. Diz Kira soltando alguns risos.
-Akira... Resmunga Amon bem baixo.
-O que disse? Questiona Kira se levantando para esticar as pernas.
-Akira... Ele era o meu irmão... Aquele pequeno garoto japonês vestido com aqueles trapos... Agora eu me lembro... Me lembro de muita coisa... Diz Amon ainda resmungando e mantendo seu olhar fixo ao chão.
-Errr... Amon? Olha, seria legal você falar mais alto, sabe?
-Eu consigo me lembrar de várias coisas agora Kira. Diz Amon agora em bom tom e com um sorriso no rosto. Akira era meu irmão e nós éramos muito próximos! Mesmo que de vez em quando, a gente brigasse por alguns motivos ridículos, mas... Ainda assim conseguíamos ser bem felizes... Seu sorriso desaparece deixando apenas uma expressão séria. Pelo menos naquela época...
-Fico feliz de você conseguindo lembrar de seus bons momentos, mas... Por que essa mudança repentina?
-Esse dia... Nesse exato dia que você viu... Tudo havia mudado...
-Nossa! Mas vocês estavam tão tranquilos comendo toda aquela comida que até me deu fome e...
-A nossa mãe... A nossa mãe começou a passar muito mal à noite... Tanto que ela mal se mantinha em pé... Nosso pai conseguiu segurá-la e levá-la para deitar, mas mesmo depois de tentarmos chamar por ajuda... Ela... Ela não resistiu...
-Não acredito... Meus pêsames...
-Não se preocupe... Isso já faz muito tempo...
-Mas por que disse que tudo havia mudado a partir disso?
-Com a morte da mamãe... Papai se tornou um homem muito mais rígido conosco, por mais que eu e meu irmão fizéssemos alguns treinos para nos tornamos bons samurais, ele intensificava cada vez mais. Todo dia nós treinávamos como se não houvesse um amanhã, e quando fazíamos errado ou não suportávamos, papai nos castigava... Tanto que alguns de seus castigos se tornaram cicatrizes espalhadas por nossas costas, pernas e braços.
-Nossa! Mas por que ele fez isso com vocês?! Ele queria descontar a raiva por acaso?! Diz Kira um tanto indignado.
-Não... Ele não tinha raiva... Ele estava triste com tudo... Querendo ou não, ele já havia participado de algumas batalhas antes, então ele tinha visto com os próprios olhos o terror da carnificina. Tanto que ele ficou traumatizado e largou a vida de soldado após a perda de seu olho direito em uma de suas lutas e se tornou um simples camponês.
-Ainda não vejo motivo para obrigá-los a se tornarem samurais!
-Por que ele queria que saíssemos daquela região e tivéssemos uma vida melhor...
-Como assim?
-Aquela vila era muito precária, as terras não eram mais férteis e não era possível assim viver lá. Então ao alcançar idade suficiente saímos daquela pequena vila e por fim nos tornamos samurais servindo ao grande Oda Nobunaga.
-Oda Nobunaga! Sério?! Diz Kira completamente impressionado. Eu não sei muito a respeito dele, nem de seus feitos, mas lembro-me que ele foi de grande importância para o Japão.
-Sim... Porém infelizmente, um ano depois eu e meu irmão fomos informados de que a nossa terra natal, que nosso pai por teimosia decidiu ficar lá até sua morte, foi atacada e totalmente queimada, sem sobrevivente algum.
-S-sem nenhum sobrevivente! Diz Kira completamente horrorizado.
-Sim... Mas a desgraça não havia se encerrado aí... No outro ano, Nobunaga declarou um ataque a um feudo de um dáimio importante na época, Imagawa Yoshimoto.
-Ah! Lembro-me de ter lido alguns livros e sites há respeito disso a um bom tempo atrás na casa da Alice. Se não me engano, Nobunaga havia vencido, não é?
-Sim... Porém não significa que não tivemos perdas.
-Não! Não me diga que...
-A visão no qual você escutou pela primeira vez o nome de meu irmão, era o exato momento da morte dele durante o nosso ataque no feudo.
-Não... Creio... Diz Kira novamente horrorizado. Como suportou tudo isso?
-Sinceramente... Não sei... Acredito que meu coração havia se tornado uma completa rocha depois de perceber que não havia mais ninguém da minha família, vivo.
-Seu passado foi bem trágico...
-Nem tanto... Ao menos... Com a minha habilidade em campo de batalha, conheci várias pessoas. Pessoas de bom coração e... Que me deram apoio até mesmo durante as batalhas... E um dos quais eu mais confiava e gostava a ponto de literalmente considerá-lo meu maior companheiro de guerra era o Tadakatsu Yamazaki.
-Hum...
-Porém a maior dor que eu tenho agora na memória é a perda de meu irmão. Ver Akira Satomi sendo enterrado...
-Entendo...
-Mas minhas memórias param por aqui... não consigo me lembrar de mais nada.
-Acha que foi porque você podia ter morrido?
-Hum... Acredito que não...
-Bom... De toda forma acho que chega de lembranças tristes e trágicas por hoje, não concorda?
-Sim... Responde Amon finalmente sorrindo levemente.
-Bem... Você disse que alguém veio cuidar do meu corpo, não é? Então acho que posso acordar de vez agora.
-Creio que sim, mas por favor, procure uma Gema Mágica. Querendo ou não, aquele nosso golpe final fez com que queimasse quase toda minha mana.
-Ah, sim! Pode deixar. Alice deve ter várias delas, se eu a encontrar pedirei algumas para você.
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E aí gente! Finalmente o segundo livro desta saga está começando a ser postado! Aqui está um capítulo para vocês refrescarem a memória dos últimos acontecimentos na história!
Ah! E claro! Assim como fiz no primeiro livro (Despertar de um Novo Mundo), irei postar todo sábado um novo capítulo para vocês apreciarem este arco! Espero vocês no dia 23/01!
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