Despercebidamente o dia dos Invocadores saírem da caverna e voltarem para Tokyo chega. Todos estão ocupados arrumando seus pertences e a tensão é nítida, afinal não há como não ficarem preocupados com a próxima batalha, pois mesmo que tenham treinado arduamente para isso, não há nada que garanta a vitória, ou até mesmo a vida. Porém, seus corações estão determinados, principalmente os de Kira e Alice, porque a luta se trata de um acerto de contas familiar.

   Todos estão prontos, com suas grandes mochilas nas costas, mas a ferreira se lembra de algo importante e então diz:

  -Nossa! Ainda bem que estamos aqui na entrada ainda!

  -O que foi, Aisha? Se esqueceu de algo? Questiona Aki.

  -Sim! Mas prometo que será rápido! Volto já! Diz Aisha deixando sua mochila no chão e corre em direção a uma de suas máquinas, sumindo da visão de todos.

  -Enrolada como sempre...

   Impaciente, Kira tenta aliviar sua tensão serrando seus punhos com o máximo de força que consegue. Amon não deixa de reparar nisso e então procura acalmá-lo.

  -Ei! Pare com isso e relaxe! Com toda essa energia você nem precisará de mim para estourar os inimigos.

  -Queria que isso fosse possível... Responde Kira mentalmente.

  -Guarde suas forças para depois, guarde-as para os Chevalier.

  -Hum... Vou fazer o que posso... Diz Kira após respirar fundo e inspirar sua tensão.

  -Bem melhor... Diz Amon aliviado.

  -Errr... Sei que é ridículo falar isso agora, mas... Será mesmo que vamos vencer? Diz Alice quebrando o silêncio incômodo entre eles.

  -Não há como saber, mas se algo que aprendi com o nosso instrutor Aki é que devemos moldar nossos destinos para fazer com que tudo dê certo! Diz Bernard animado.

  -Esse é o espírito, rapaz! Diz Aki também animado.

  -Queria estar animada assim... Diz Alice.

  -Pois deveria ficar, aliás teremos uma grande chance de nos vingarmos pelos nossos parentes como também, livrar deste mundo mais desses desgraçados que não valem nem o ar que respiram. Diz Kira.

  -Ei!!! Já estou chegando! Grita Aisha enquanto corre até sua mochila.

  -Mas o que é que você foi fazer? Questiona Aki quando a ferreira se aproxima.

  -Digamos que... Eu fui fazer uma ligação.

  -Ligação? Pergunta Alice.

  -Mas não importa! O importante é sairmos daqui o quanto antes, não? Aliás, só para confirmar, vocês estão com todos os seus equipamentos e elixires? Diz Aisha desviando o assunto.

  -Estamos sim, não se preocupe. Mas agora... Podemos ir? Diz Bernard.

  -Com certeza!

   Antes de levantarem os portões para superfície, a cientista usa sua magia “Visual Screen” para ter certeza de que não há ninguém do lado de fora. Ao terminar de vasculhar a superfície, a ferreira puxa as alavancas dos portões fazendo-os emergir, criando um certo tremor acompanhado dos barulhos metálicas causados pelas engrenagens de todo o sistema do portão.

   Finalmente aquelas grandes portas enferrujadas se abrem, permitindo, depois de tanto tempo, os raios solares tocarem a peles dos Invocadores, causando uma leve sensação de calor. Mas infelizmente, o tempo é escasso, eles nem podem parar para aproveitar o sol, todos colocam suas máscaras, exceto Aisha que apenas coloca seus óculos de solda redondo que estão em sua testa e começam a caminhar para fora da floresta.

   Ao saírem da mata buscam um lugar com menos movimento possível, sendo obrigados a entrarem em um beco sujo e com um odor nada agradável. Com isso, Aki usa seu celular para se comunicar com outros Invocadores de confiança explicando rapidamente a sua localização. A conversa demora uns cinco minutos, mas Aki parece satisfeito ao desligar, gerando curiosidade nos outros.

  -Então qual é a nossa situação, NinjAki? Pergunta Aisha.

  -Estamos com sorte, além desse meu contato estar nessa mesma cidade, eles localizaram os Chevalier. Eu achava que eles iriam se manter em Tokyo, porém resolveram ir para Hirosaki e lá é justamente onde fica a mansão deles, bem afastada da cidade e completamente isolada.

  -Hirosaki?! Mas isso é muito longe daqui! Diz Aisha surpresa.

  -Não há necessidade de pânico, afinal todos os nossos aliados estão indo para lá e logo um deles vai passar aqui para nos buscar. Não sei como, mas ele conseguiu um ônibus... Ele é bom nisso...

  -Mas mesmo se fôssemos de ônibus seria uma viagem de pelo menos nove horas! Isso se não fizermos nenhuma parada, claro...

  -Nove horas de viagem?! Mas por que os Chevalier foram para um lugar tão longe assim? Questiona Bernard.

  -Provavelmente eles estão desconfiados do nosso ataque... E por segurança, eles voltaram para sua mansão onde deve ser muito mais seguro. Deduz Aki.

  -E isso é um grande problema para nós... Diz Kira.

  -Mas ainda assim estamos com sorte! Nosso total de aliados aumentou para cento e trinta Invocadores! Estamos bem superiores em questão de números.

  -Isso se eles não tiverem nenhum tipo de magia que invoque quimeras naquela mansão... Diz Alice.

  -Bem lembrado Alice. Aquelas coisas nos deram muito trabalho em outras batalhas que lutamos. Diz Kira.

  -Hum... Admito que não pensei nisso, mas acredito que nosso exército deve dar conta, isto é, se nós também conseguirmos fazer o nosso papel. Conclui Aki.

   Um ônibus branco chama atenção dos Invocadores ao dobrar a esquina da rua em que estão, ele se dirige até perto do beco e para abrindo a porta. O motorista está bem arrumado e totalmente social, parece até mesmo um executivo, mas não é possível ver todo seu rosto graças aos óculos escuros que ele usa. A porta mal se abre e o motorista pede para que eles entrem.

  -Ei! Takeda! Ande depressa! Entre logo com seus amigos!

  -É a nossa carona, pessoal! Vamos! Diz Aki para os outros Invocadores.

   Todos eles praticamente saltam os degraus do ônibus, entrando tão rapidamente que até assustam o motorista, Aki está ao lado dele e os outros olham atentamente o ônibus. O veículo é bem grande e confortável inclusive climatizado, os assentos estão quase todos ocupados por outros Invocadores que se vestem de forma bem particular, porém todos com seus rostos ocultados ou com panos, ou com máscaras, ou mesmo pinturas faciais.

   Invocadores com vestimentas semelhantes a dos seus espíritos, é como uma espécie de encontro cultural. Samurais, gueixas, monges, cavaleiros, índios, piratas, vikings e até mesmo soldados espartanos. Mas nenhum deles se incomodou com a rápida entrada dos novos passageiros. Há apenas cinco lugares vagos e bem próximos do motorista, indicando que de fato, todos os aguardavam.

  -Caramba! Mas quando foi que vocês entraram?!?! Diz o motorista bem confuso.

  -Apenas se apresse... O ônibus está cheio e nossos aliados estão bem a frente. Diz Aki enquanto apoia sua mão no ombro do motorista.

  -Errr... Está bem... Está bem... Se o nosso “Ninja da Noite” diz isso... Então vamos pegar a estrada! Diz o motorista bem animado.

  -“Ninja da Noite”? Pergunta Aisha.
  -Eles me apelidaram dessa forma e é assim que sou reconhecido por aqui.

  -Hum... Continuo preferindo NinjAki... Murmura Aisha.

  -E eu continuo preferindo o seu silêncio... Murmura Aki com o intuito de irritá-la.

  -Ei! Eu escutei seu... Diz Aisha nervosa.

  -Pessoal! Como todos nós estamos aqui, acredito que o nosso ninja pretende dizer algumas coisas bem rápidas a vocês! Diz o motorista interrompendo Aisha.

  -Bom... Diz Aki enquanto se vira para todos os passageiros. Acredito que não há ninguém aqui que não saiba para onde estamos indo e qual é o nosso propósito, certo?

  -Se houver também eu juro que vou lhe dar um soco! Diz um Invocador com a vestimenta semelhante a de um soldado espartano com uma voz um tanto alterada.

  -Por favor, guarde sua irritação para a batalha... Diz AKi e volta para seu discurso. Contudo, devo avisá-los mais uma vez que todos nós aqui estamos mergulhando de cabeça no lago da morte, todos nós... Sem exceção... E mesmo que morramos ou não, há chance de nem sermos reconhecidos pelos nossos feitos, aliás as pessoas comuns e normais deste mundo, não fazem nem ideia do que está para acontecer e muito menos sabem de nossa existência! Mesmo que sejamos nós que preservemos a paz em que essas pessoas vivem!

  -Sinceramente, acho que ele exagerou nesse discurso... Estou até ficando com depressão! Diz Robin mentalmente para Bernard.

  -Agora não, Robin! É um momento sério. Diz Bernard tentando manter sua face séria.

  -Mas é justamente isso que significa ser um Invocador! Uma pessoa consciente de todas essas desvantagens, mas que mesmo assim abraça com o coração aberto essa responsabilidade de ajudar a humanidade na vida e até mesmo depois da morte! E essas pessoas são a própria definição de coragem e honra! Enfim, bravos Invocadores! Talvez essa luta possa ser a última para vocês! Então lutem! Lutem porque vocês realmente não possuem um amanhã! Destruam os escravistas! Que não passam de monstros com a aparência humana! Será o sacrifício de suas almas que poderá trazer um amanhã de paz para todos!

   Todos no ônibus se levantam agitados, as palavras de Aki atingiram seus corações fazendo-os gerar uma quantidade absurda de adrenalina. É como olhar para um bando de feras que berram mostrando sua fúria. Notando que poderia surgir um certo descontrole, o ninja resolve controlá-los.

  -Tudo bem pessoal. Entendo a animação de vocês e adoro ver isso em todos. Mas devemos manter o foco e guardar energias para a guerra, certo?

  -O ninja está certo! Por mais difícil que seja, a gente tem que se sentar e pensar bem em quais magias usar e como esmagar o maior número de inimigos possíveis! Diz um rapaz vestido como um viking.

  -No final das contas todos eles na verdade são um bando de bárbaros! Diz Selenis um tanto assustada.

  -Só você para me fazer rir numa hora dessas. Diz Alice soltando leves risos.

   De uma forma incrivelmente rápida todos se sentam e ficam quietos e pensativos, provavelmente pensando exatamente naquilo em que o viking disse. Por mais que não fosse exatamente dessa forma que Aki desejava o silêncio, ele contenta-se e senta-se com os outros.

   A viagem realmente é muito longa, durando uma hora a mais que o esperado devido as paradas para todos irem aos sanitários, para abastecer o ônibus e principalmente o trânsito ruim em algumas pistas. Já é noite e todos começam a ficar mais e mais tensos. O motorista pede para que alguns Invocadores que estão no fundo do ônibus executem a magia de camuflagem, deixando todo o veículo invisível.

   Enquanto todos preparam seus equipamentos o motorista sai da pista e se dirige vagarosamente até uma mata bem afastada. Chegando lá é possível ver outros Invocadores terminando de realizar outro feitiço de camuflagem em outros veículos. Todos desembarcam e se dividem em pequenos grupos e correm em direção aos pontos estratégicos planejados pelos estrategistas de confiança de Aki.

   Os Invocadores terminam de se arrumar, os feiticeiros também terminam de ocultar o ônibus e correm aos pontos que foram designados. Mas antes de qualquer um do grupo chamar por seu espírito Aki diz:

  -Esperem, tem uma única coisa que me esqueci de avisá-los.

  -E o que é? Pergunta Kira.

  -A mansão está recheada de feitiços, tanto para armadilhas quanto para fortificar suas estruturas ou proteções. Porém o principal detalhe é que seu interior é quase um labirinto, o que dificulta para encontrarmos os malditos.

  -E as fortificações nas paredes servem para que nenhum Invocador crie novas passagens com facilidade. Deduz Bernard.

  -Exatamente... Sem falar que precisarei de um pequeno favor seu Alice...

  -Qual? Pergunta a própria.

  -É um favor mais direcionado a Selenis. A proteção mágica que envolve a mansão é muito forte, por isso todas as outras tropas vão atacar com magias de longo alcance poderosas, e você possui uma magia perfeita para isso, aquela sua esfera de luz.

  -Mas por que que tem que ser a Selenis, necessariamente, dentre nós?

  -Porque enquanto você executa a magia, eu e os rapazes corrermos com toda nossa velocidade para que não dê tempo dos escravistas com magias de longo alcance ou invocadores de quimeras revidarem. Sem falar que Kira não pode gastar muito mana senão ele não consegue realizar a Materialização, entende?

  -Hum... Tudo bem... Mas então me deem uma Gema mágica extra, pois essa magia gasta muita mana, mesmo que eu tenha treinado muito com ela para reduzir o tempo necessário para carregá-la.

  -Contando que você demore aqueles seus vinte e cinco segundos, para mim está tudo perfeito. Diz Aki entregando uma Gema para Alice.

  -Considere feito então!

   E então eles chamam por seus espíritos adquirindo novas cores nos olhos e correm até o campo de batalha. De acordo com a aproximação é possível enxergar o quão vasto, luxuoso, protegido e perigoso magicamente aquela mansão é. Gramados extensos em torno de toda a construção, com alguns chafarizes espalhados acompanhado de várias flores, e todo esse local é iluminado por altos postes metálicos, porém não há lâmpada alguma ali, mas sim esferas mágicas luminosas, demonstrando que não há necessidade do poste estar ali para iluminar, é apenas uma distração para quem não é Invocador.

   São poucos os seguranças espalhados pelo campo, ao todo são apenas dez, mas eles estão protegidos por um forte campo mágico que envolve toda a mansão, então não há muito o que temer no pensamento deles. A construção no centro daquele campo é belíssima, por mais que a sua área ocupada seja perfeitamente um quadrado, mas que mesmo assim faz o barracão da Imperium ser pequeno, a estrutura de toda a mansão é muito bem construída, sem esquecer da beleza da estrutura. Porém não aparenta estar fortemente protegida, o que preocupa os Invocadores.

   Ken pede para que os outros esperem atrás de alguns arbustos, enquanto ele usa seu celular para se comunicar com os outros grupos.

  -Atenção, todos os grupos devem preparar suas magias de longo alcance. De preferência mirem para atingir diretamente a mansão. Repetindo, mirem na mansão e atirem apenas ao meu sinal. Diz Ken enquanto observa atentamente os movimentos dos seguranças.

  -Então vou começar a magia. Divina Poena! Diz Selenis ativando seu novo orbe e criando a esfera luminosa.

   Quando a sacerdotisa aperta o botão de sua caneta que contém uma espécie de pérola, a mesma se expande instantaneamente tornando-se no orbe e, consequentemente, ativando também a armadura branca com vários detalhes dourados cobrindo praticamente todo o seu corpo, exceto seu pescoço, cabeça e seus dedos, por conta dos anéis. Tal armadura é muita bem trabalhada e bonita, e deixa o corpo de Alice com uma aparência um tanto angelical, devido as ombreiras que são duas asas com penas brancas.

   Com isso, os outros também se armam para poder avançar. Amon ativa as duas espadas de Yukio Matsunaga, as Irmãs de Excalibur, que agora estão completamente novas e, automaticamente, a armadura negra é criada cobrindo o corpo de Kira da mesma forma que a de Alice, porém com detalhes novos em vermelho e num formato bem mais robusto, como se tivessem a cabeça de dois dragões de olhos vermelhos de boca aberta como ombreiras.

   Robin ativa seu arco e sua aljava, que criam uma armadura bem mais leve, permitindo maior agilidade e velocidade, numa cor cinzenta com detalhes em verde. E Ken como está praticamente todo protegido, ao sacar suas foices cria-se apenas um certo reforço metálico em seus braços e tórax. Já Aisha, está equipada apenas com um colete fino por baixo de suas roupas, mas que foi feito por ela mesma, então simplesmente ergue sua marreta e a apoia no ombro, de maneira bem tranquila.

   A magia finalmente está pronta, os outros avançam rapidamente enquanto Ken ainda com seu celular em mãos faz sua contagem regressiva.

  -Preparar para disparar em três...

   Já é possível ver outras tropas também avançando com suas armas em mãos.

  -Dois...

   Os seguranças finalmente notam os vários brilhos intensos na mata e armam seus rifles que antes estavam nas costas.

  -Um...

   O coração de todos está determinado e a adrenalina agita o corpo de Ken, que encerra sua contagem dizendo:

  -PELA VITÓRIA DOS INVOCADORES, ATIREM COM FORÇA TOTAL!!!

   Não apenas Selenis, mas muitos outros Invocadores disparam magias diversas, porém particularmente poderosas e junto a isso, os gritos de fúria de todos ao avançar numa batalha que podem morrer com facilidade. Todas as magias atingem a barreira, assustando os seguranças e consequentemente, ofuscando-os com todas aquelas luzes intensas.

   A barreira é quebrada e o caminho está livre. É o começo de uma nova guerra.