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Pacto Completo

   No outro dia, na sala de aula, Alice se aproxima timidamente da carteira de Kira e pergunta:

— Posso me sentar do seu lado?

— Errr... Claro...

— Obrigada!

   Ao se sentar, prepara seus materiais sobre a mesa e por um bom tempo os dois se mantêm em silêncio. Até que Alice resolve quebrá-lo.

— Desculpe-me pela pergunta idiota, mas... Você não gosta de mim?

— Quê?

— É porque faz um tempo que ando reparando que você sempre se afasta quando eu tento me aproximar. Então, eu pensei em duas coisas. A primeira é que você não gosta de mim por conta de tudo que lhe fiz passar. Já a segunda seria que você é bem tímido.

— Ei... Como eu poderia rejeitar alguém que salvou minha vida?

— Hum... Então significa que você é tímido né?

   Kira fica sem saber o que dizer. Ele não esperava tal dedução e acaba ficando envergonhado com isso, calando-se enquanto o rubor em suas bochechas se intesifica.

— Não precisa ficar assim, eu não quero zombar de você. Entenda que eu quero ser sua amiga, então não precisa se envergonhar tanto assim. A não ser que você não queira ser meu amigo... – Diz ela sorrindo.

— Bom eu... Não vejo problema em... Ser seu amigo...

— Verdade?

— S-sim...

— Você realmente é bem tímido para essas coisas né? – Diz ela com leves risos.

   O garoto apenas assente, tentando lutar com sua timidez, então Alice responde:

— Bom... No intervalo então a gente tenta se conhecer melhor, certo?

— Tudo bem...

   Um tempo depois, bate o sinal do intervalo e os dois finalmente começam a se conhecer melhor. Alice conta sobre algumas coisas que ela lê em seus livros de magia e Kira sem saber o que contar acaba falando de alguns feitos engraçados que seu tio fazia quando menor. Alice dá gargalhadas e Kira começa a se sentir mais livre perto dela. Ao passarem perto do muro que foi quebrado na batalha anterior, ela resolve então dizer:

— Aí Kira, até chorei de rir com as "artes" que seu tio fazia. Aposto que sua família deve ser uma peça né?

— Errr... Na verdade meu tio é a minha família...

— Nossa! Desculpe-me! Eu não sabia... Não queria... Ai ai ai... Fiquei até sem graça agora... – Diz Alice completamente envergonhada.

— Ei, calma! Tá tudo bem... Isso tudo ocorreu quando eu nasci, então... Não se preocupe...

— Perdoe-me... Não queria te chatear...

— Eu sei que você não queria, fique tranquila. Minha mãe morreu depois do parto e meu pai sumiu um dia depois.

— Isso é tão triste...

— Sim, mas eu vivo bem com meu tio. Por isso não ligo muito para isso... Eu só queria saber o motivo de meu pai ter sumido. Mas já que estamos falando sobre família, posso saber um pouco sobre a sua? Se não te incomodar, claro.

— Bom... Tenho uma situação parecida com a sua... Meus pais morreram em uma jornada quando eu tinha dois anos, porém já estou habituada a morar com minha avó, e então por proteção, ela me ensina tudo que sabe sobre os Invocadores e os receptáculos.

— Seus pais também eram Invocadores?

— Sim, e eram bem fortes... Por isso tinham que participar de jornadas mais perigosas.

— Entendo... Bom, vamos voltar pra aula né?

— Sim!

   E assim eles retornam. Durante a aula da professora Cláudia, um barulho semelhante a uma explosão é notado por todos causando certo pânico nos alunos. Logo é possível escutar a voz de alguém não tão longe.

— ONDE ESTÁ VOCÊ, SUA CADELA IMUNDA! TRAGA TEU PARCEIRO QUE LHE MATAREI JUNTO!

   Alice pega uma máscara branca com alguns detalhes em dourado de dentro de sua mochila e logo põe no rosto e veste sua blusa branca, ocultando-se.

— Kira... Saiba que se você decidir lutar, há uma outra máscara preta na minha mochila. – Diz Alice que ao terminar sai correndo para fora da sala, a professora tenta impedir, mas fracassa.

   Tal ação deixou os alunos em pânico, toda a sala começou a correr em direção a porta tumultuando a passagem. Nessa distração, Kira pega a mochila de Alice e tenta sair empurrando as pessoas que estavam entaladas na porta. Ao sair escuta a voz de Alice:

— Selenis!

   Mais explosões ocorrem depois, obrigando a todos evacuarem o prédio. Kira aproveita da situação e entra em uma sala vazia. Ele segura seu colar de Yin fortemente, fecha seus olhos e diz:

— Ei! Por favor, deixe-me falar com você, preciso de sua ajuda!

   Quando abre seus olhos, está novamente naquele cômodo japonês antigo, já de frente àquela estranha silhueta negra.

— Finalmente você retornou.

— Preciso urgentemente falar com você!

— Eu sei o que está acontecendo.

— Sabe?

— Como também sei que você procurou saber mais sobre os espíritos dos Invocadores. Precisou de muita informação para retornar aqui não é mesmo?

— Sim, mas o importante agora é que você precisa me fazer mais um serviço e...

— Não – Diz a silhueta interrompendo-o.

— É o que?

— Alertei-lhe na primeira vez que esteve aqui que a próxima vez teria de forjar um pacto.

— Mas eu não sei o que procurar para ter um objetivo...

— Então não haverá ajuda alguma!

— Hum...

   Kira fica pensativo por um tempo, arranjando um meio de escapar de tal situação, então tenta questionar:

— Por que você quer tanto fazer um pacto?

— O que disse?

— Você quer saber sobre seu passado, não é?

   O espírito começa a bater palmas.

— Devo parabenizá-lo pela dedução, você me pegou em cheio... Mas agora que sabe que meu objetivo é algo complexo e complicado, diga-me, qual será seu complexo e complicado objetivo?

— Eu... Não sei...

— Kira, você não tem ideia do quanto você é interessante, e o quanto é simples para você determinar um objetivo.

— Como assim?

— Há uma dúvida que o incomoda faz muito tempo... E você sabe do que eu estou falando. – Diz o espírito soltando leves risadas.

— Hum...

— Então, deixe-me preparar...

— O quê?

   As chamas das velas que iluminam Kira estão tão altas e intensas que chegam a ofuscá-lo.

— Minha jornada será para descobrir tudo sobre meu passado! E a sua, Kira?! Pelo o que será sua jornada?! Diga-me!

   Ao se acostumar com o calor e a luz intensa, Kira abre seus olhos com a feição determinada e diz:

— Minha jornada será para descobrir o motivo de meu pai ter me abandonado!

— Sim! Diz o espírito rindo intensamente. E com esses dois motivos equivalentemente nobres, eu crio laços com você para forjar um pacto. Então, lhe questiono: você aceita forjar um pacto comigo com absoluta certeza?!

— Aceito!

— Então está feito! – Diz o espírito ainda rindo.

— Agora me ajude!

— Sim! Possuirei seu corpo novamente, mas para isso preciso de sua permissão. Basta dizer meu nome em bom tom que eu irei possuí-lo!

— Mas qual é o seu nome?

   Enquanto isso, Alice com seu espírito, Selenis, lutam bravamente contra aquele mesmo homem de armadura, porém ele está diferente, sua armadura está completa e blindada, dando lhe maior proteção dos ataques mágicos de Selenis.

— O que foi agora, sua desgraçada! Não consegue fazer nada sem seu amiguinho metido AHN?! Diz o lanceiro com gargalhadas maléficas.

— Cala boca! Fera Ignis! "Fogo selvagem" em latim. – Diz Selenis usando uma nova magia.

   É criado um círculo mágico luminoso de cor avermelhada grande o suficiente para tampar todo seu tórax em sua frente, ao Selenis tocá-lo, chamas ardentes são disparadas em linha reta, como um lança-chamas, em direção ao homem de armadura. Mas ao cessar, Selenis se espanta completamente. O homem está intacto.

— Isso era para me machucar?! – Diz ele sorrindo largamente.

   Ele avança rapidamente contra ela, e a golpeia com um poderoso soco, tirando sua máscara e, seguidamente segura a face dela com a mesma mão que golpeou e guia sua cabeça para o chão, rachando-o em uma larga área.

— EI! É BOM VOCÊ AINDA NÃO TER MORRIDO! AINDA ME DEVE MUITO SUA MALDITA! – Diz ele puxando Selenis pelos cabelos para conferir se ainda estava consciente.

   Depois de levantá-la, Selenis novamente utiliza sua magia para atingi-lo na cabeça.

— Lux Trabem!

   O raio de luz o atinge em cheio, mas apenas suja um pouco sua armadura.

— Você até que é forte. Está sangrando, está com vários hematomas, e ainda assim tenta me atingir... É POR ISSO QUE VAI MORRER! – Diz o homem apontando a lâmina de sua lança para o rosto de Selenis.

   Subitamente, um grito ecoa por todo corredor:

— AMON!!!

   Quando o homem olha para trás, seu rosto é atingido violentamente pelo chute aéreo de Kira, jogando-o para longe.

— K-kira? – Pergunta Selenis se preparando para usar suas magias.

— Não... No momento ele não está no controle.

— Então, quem é você?

— Meu nome... É Amon.

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