Alguns minutos antes, Kira abre seus olhos, e para sua surpresa nada é igual ao local que estava na escola, e sim uma espécie de cômodo das antigas casas japonesas da época Sengoku do Japão, onde se encontram várias esculturas de Dragões orientais, várias shinais, bokkens (respectivamente espadas feitas de bambu e madeira) e até mesmo katanas (tipo de espada japonesa) espalhadas por todo o cômodo.

   A iluminação do lugar dependia de algumas velas em volta de Kira, porém ainda não era possível ver o outro lado do quarto. O garoto se levanta vagarosamente e tenta se lembrar dos ocorridos, enquanto anda de um lado para o outro repetidamente batendo seus pés no piso de madeira, chegando até mesmo ao ponto de resmungar:

— Mas que droga! Só pode ter sido uma daquelas "mágicas" malucas daquela garota que me trouxeram pra cá! Que raiva agora nem sei onde estou!

   Uma voz grave surge no meio de toda aquela escuridão que se aloja na outra parte do cômodo:

— Koko ni mahō wa arimasen... – Significa "Não há mágica aqui" em japonês.

   Kira não esperando que tivesse mais alguém no quarto, simplesmente fica de frente às trevas, procurando por alguém ou algo desesperadamente, evitando demonstrar seu medo.

— Quem está ai?!... – Responda-me!

   Logo o garoto nota uma estranha silhueta se aproximando aos poucos. Pelo tamanho só pode ser de um homem adulto, mas mesmo assim Kira questiona:

— Quem é você e onde eu estou?!

— Hum... Acho que agora consigo compreender melhor a sua língua...

— Como é?!

— Escute Kira... Você está dentro daquele colar...

— Como é que você sabe meu nome?! – Diz Kira completamente apavorado por dentro, interrompendo a misteriosa sombra.

— Ei, acalme-se não pretendo lhe ferir. Apenas escute o que eu vou lhe dizer... Você está dentro daquele colar negro.

— É o que?!

— Estou tentando ser educado com você, mas se você não fechar essa boca, juro que vou aí fechá-la!

   Kira fica em silêncio depois de tal intimidação.

— Bem melhor... – Diz o homem ao perceber o silêncio. – Vamos logo ao que interessa. Aparentemente sua amiga está com vários problemas, mesmo que aqui dentro o tempo não corra da mesma forma que lá fora, logo ela será atingida por um golpe fatal.

   Kira não diz nada, mas sua expressão entrega seu espanto e preocupação.

— Porém, há uma forma de evitar isso.

— E qual seria? – Pergunta Kira.

— Humpf – Mesmo um pouco irritado com fato de Kira ter dito algo, ele ignora e continua a conversa. – Vou possuir seu corpo por um certo tempo para que possa derrotá-lo.

— "Possuir"?! – Diz Kira completamente espantado. – Vo-você é um fantasma?!?!

— De forma mais exata um espírito... Mas isso pouco importa agora! E então, posso fazer isso por você e salvar sua amiga, porém preciso de algo em troca...

— VOCÊ QUER MINHA ALMA?!?!

— Disse a você que sou um espírito e não um demônio, baka! – "Idiota" em japonês.

— Então o que você quer?

— Isso vai depender de você... Para que você faça um pacto comigo e se torne um Invocador será necessário um acordo que beneficie os dois lados.

   Kira tenta entender o que ele quis dizer com "Invocador", mas a palavra "pacto" não o agradou nem um pouco. Então, logo diz:

— Olha... Sinceramente eu não tenho ideia do que te oferecer e ainda assim não quero ter um PACTO com você. Não há uma forma de pedir algo que eu possa conseguir facilmente, para que pague você por um "serviço temporário"? – Diz Kira coçando a cabeça para tentar passar uma impressão humilde e agradável.

— Isso é sério?

— Bem sério...

— Errr... Está bem, acho que há como... Você deve pegar uma espécie de pedra brilhante azulada com formato esférico, que está com a sua amiga. Pegue-a e encoste o colar nela, é o suficiente para pagar esse serviço...

— Beleza! – Diz Kira soltando um grande sorriso.

— Mas saiba que isso não acontecerá de novo... Na próxima vez em que aparecer por aqui, terá de fazer um pacto!

— Errr... Tá bem...

   Kira desmaia ao terminar a frase.

   No presente, Alice ao notar tais detalhes em Kira resolve questioná-lo:

— Você não é aquele garoto... Quem é você?

   O rapaz avança contra Alice, passando rapidamente e bem rente ao seu lado direito, obrigando Alice a esquivar-se para o outro lado.

— O que quer de mim?!

— Isto. – Diz Kira levantando seu braço esquerdo que está segurando um tipo de cilindro metálico do tamanho pouco maior que uma caneta e mais espesso.

— Mas quando foi que...

   O homem de armadura finalmente começa agir. Ele sai correndo em direção a Kira, tão irado, que ignora a presença de Alice.

— SEU DESGRAÇADO!!! AGORA VOCÊ VAI MORRER!!!

   Ao notar sua aproximação, Kira torce com as duas mãos o objeto cilíndrico que criando outro tipo de círculo mágico rente a sua ponta, que começa a subir rapidamente gerando a alma e a lâmina de uma espada de um cavaleiro. Após o equipamento aparecer completamente, ele se põe em guarda.

   O homem de armadura faz um golpe poderoso de cima para baixo com sua longa lança, porém não é rápido o suficiente para acertar seu alvo, que desvia dando apenas dois leves passos para trás. O golpe atinge o chão criando uma grande rachadura e enfurecendo-o ainda mais.

   Antes que ele pudesse fazer algo, Kira executa três rápidos golpes atingindo primeiramente o braço que segura a lança, logo a perna esquerda e por fim, realiza um corte diagonal ascendente atingindo em cheio a armadura que protege todo seu tórax.

   Quando o homem recebe tais ataques, é jogado para trás devido a força intensa dos golpes, e só consegue parar pois afundou seus pés no chão brecando seu corpo e mantendo-o de pé. Porém mesmo com tal ação, sua armadura que o protege cai ao chão em dois pedaços onde seu oponente trespassou seu último corte.

   O homem indignado e extremamente assustado com o que vê simplesmente olha para rosto de Kira, percebendo um leve sorriso, como se pudesse fazer ainda mais e que só lhe tirou a proteção por misericórdia. Rapidamente ele joga um objeto no chão criando uma luz intensa que ofusca a todos por um breve momento. Quando a luz se extingue o homem já havia desaparecido com seus restos metálicos.

   Após tal evento Kira se ajoelha e cai ao chão completamente inconsciente.