O Mundo dos Invocadores
O garoto finalmente abre seus olhos depois de duas horas. Sua visão ainda muito turva não permite ver o que está em seu redor, mas logo escuta uma voz familiar.
— Kira! Você está bem? Ei! Acorda!
Aos poucos ele começa a compreender melhor o que está acontecendo com a melhora da visão. A voz que o chama é a de Alice, porém ela está próxima demais de seu rosto. O tímido garoto se arrasta forçando suas pernas para frente afastando-se dela. Até porque ele nunca viu uma garota tão de perto de si e fica completamente envergonhado com tal situação.
Com isso, acaba batendo sua cabeça contra a parede atrás de si, fazendo-o levantar-se rapidamente para pôr as mãos no local que havia a dor intensa.
— Ai ai... – Resmunga Kira massageando a cabeça.
— O que foi?! Te assustei? Desculpa não era a minha intenção... Está tudo bem?
— Errr... Não, não foi nada, he he... – Diz Kira tentando passar uma boa impressão.
— Que bom! Fico aliviada com isso...
Alice dá uma certa pausa, criando um momento de silêncio entre os dois.
— Obrigado por ter salvado minha vida... Sério mesmo, muito obrigada...
— Eu o quê?! Salvei sua vida?! – Diz Kira com espanto.
— Você não se lembra do que aconteceu?!
— Não...
Kira começa a se recordar da conversa que teve com a estranha silhueta, principalmente do fato em que precisa pegar a pedra brilhante que está com Alice:
— Bem, agora que estou lembrando aqui... Eu meio que fiz um acordo com um cara estranho...
— Com o espírito não é?
— Isso! Tanto que negociei de ele me ajudar a te salvar e...
Kira faz uma estranha pausa como se tivesse paralisado:
— O que foi? – Diz Alice com estranheza.
— ENTÃO ELE REALMENTE POSSUIU O MEU CORPO!!! – Diz Kira extremamente espantado colocando suas mãos sobre as bochechas.
— Ei, acalme-se! Isso não é ruim como você pensa. Aquele espírito não é maligno para te fazer mal.
— Em?
— Escuta... O espírito que está dentro desse colar se atraiu por você provavelmente por conta de sua coragem e técnica durante a batalha, que fez com que ele viesse até você...
— Hum...
— Em resumo, ele foi até você com o intuito de forjar um pacto, e, por favor, não pense que isso seja algo demoníaco, ok?
— Errr... Certo...
— Esse pacto faz com que o Invocador e o espírito se ajudem para que um cumpra de certa forma, o objetivo do outro dependendo da negociação.
— Tudo bem, mas por que você está me contando tudo isso? – Questiona Kira com certa desconfiança.
— Bom, ao você ter usado o poder de um espírito que está armazenado em um Receptáculo Divino, mesmo que por pouco tempo, isso te torna um Invocador, e eu não quero que você se torne uma pessoa má que escraviza os espíritos como aquele homem que nos atacou.
— Espera aí, um "Recep" o quê?
— Receptáculo Divino, são aqueles objetos que armazenam um espírito como, por exemplo, esse colar de Yin que está com você.
— Tudo bem, mas o que são essas pessoas que escravizam os espíritos? Já que você não quer que eu me torne.
— São pessoas extremamente arrogantes e impiedosas que apenas sabem forçar os espíritos a oferecerem seus poderes para eles na hora em que desejam usando itens e rituais mágicos.
— E por que eles querem isso?
— Pelo simples fato de adquirir poder suficiente para poder fazer o que bem entendem. Um bando de gananciosos por poder!
— Entendo... Mas esses megalomaníacos estão em grande número?
— Aparentemente, sim.
— Hum... – Diz Kira observando os arredores. – Aliás, onde nós estamos mesmo?
— Estamos no pomar da escola, tive que te arrastar para cá, já que o lugar onde batalhamos está repleto de pessoas agora.
— Isso justifica o motivo de meu uniforme estar sujo de terra nas costas...
— Acho que isso não vai importar muito já que ele possui um grande buraco na barriga e nas costas, e ainda por cima está encharcado de sangue.
— É mesmo. – Diz Kira com alguns risos.
O rapaz observa bem o rosto de Alice, sente que há algo diferente. Seus olhos. Voltaram a ter a cor de esmeralda, gerando várias dúvidas em sua cabeça. Então, ousa questionar:
— Errr... Alice... Você pode me explicar mais uma coisa?
— Apenas se você me prometer algo.
Não era a resposta que Kira esperava, mas acabou prosseguindo a conversa.
— E o que seria?
— Prometa que você não será manipulado por aqueles asquerosos e seguir o caminho correto de um Invocador, no qual eu te guiarei inicialmente.
— Errr... Então... Sabe, eu ainda não me tornei de fato um invocador...
— Como assim?
— Bom... Como eu não sabia de nada sobre essas coisas espirituais, consegui fazer com que aquele espírito me fizesse um serviço temporário.
— Mas para isso ele deve ter pedido algo em troca, não é?
— Sim...
— Posso saber o que é?
— Então, da maneira que ele me descreveu, é uma pedra brilhante azulada com um formato esférico e...
— Uma Gema Mágica? – Diz Alice interrompendo-o.
— Eu não sei, ele apenas me descreveu o que queria e disse que há uma com você...
— Sim, tanto que está aqui comigo.
— Então você poderia me...
— Calma aí, não tão rápido. – Diz Alice cortando-o novamente. – Acha que é assim tão fácil?
— Certo, então o que quer? – Responde Kira um tanto desanimado depois de um forte suspiro.
— Sei que é complicado, mas você poderia se tornar um Invocador?
— É o quê?!
— Por favor, eu preciso muito de ajuda para enfrentar aqueles malditos e para descobrir o passado de meus pais. – Suplica Alice segurando a mão do garoto com força.
Kira fica completamente envergonhado ao ver a garota segurar sua mão com tanta força e ainda por cima olhando diretamente aos seus olhos que acaba ficando sem jeito.
— B-bom talvez eu pense no caso e... Acabe me tornando um e... Ainda um Invocador que siga o caminho do bem sabe? Mas só se você me ajudar com essa pedra aí, está bem?
— Ótimo!
Alice retira a gema que está em seu outro bolso e entrega para Kira, que a coloca junto ao pingente de Yin. Depois de cinco segundos em contato, a gema simplesmente é absorvida pelo colar e desaparece.
— Está feito! – Diz Alice sorrindo.
— Sim, mas agora você pode responder a minha pergunta?
— Bom, depois que você disse que pensaria no caso... Sim! Pode falar!
— Antes de eu desmaiar naquela batalha em que você lutava com aquele homem de armadura, eu notei que as íris de seus olhos estavam brancas. O que era aquilo?
— Bom... É que eu sou uma Invocadora, e quando eu chamo o espírito que está dentro meu receptáculo divino as cores dos meus olhos mudam.
— Ahhh... Então isso explica aquelas coisas de luz que você fazia né?
— Sim, mas saiba que essas "coisas" são magia. E na verdade não sou eu quem faz as magias, e sim o espírito que possuí meu corpo.
— Mas quando o espírito possui seu corpo, ele aumenta sua resistência física?
— Sim. Mas não apenas a física, como também resistência mágica, força, velocidade e destreza são aumentadas.
— Entendo. Mas por que então o homem quer seu colar?
— Sinceramente, eu não sei... Ele apenas apareceu me atacando e me pedindo para entregar meu receptáculo.
— Hum...
— Bom... Agora sou eu quem te pergunto... Você tem horário para voltar para casa?
— Na verdade eu só preciso estar em casa antes que meu tio chegue do serviço, que seria umas sete horas da noite. Por quê?
— Então você pode vir comigo até a minha casa, lá você entenderá muito mais sobre os Invocadores. E não se preocupe, ela fica bem perto da escola, então não vai demorar muito a caminhada nem pra minha, nem para sua casa. – Diz Alice já puxando o Kira pela mesma mão que segurava.
— Ei! Mas...
— "Mas" nada, agora que você concordou pensar no assunto, eu vou te ajudar a "pensar". – Diz Alice puxando-o cada vez mais forte e sorrindo.
Kira acaba seguindo-a, pois o belo sorriso de Alice o conquistou completamente, até porque ele já a achava muito bonita mesmo com o seu rosto sério, sorrindo então, o rapaz não faz mais nada além de apreciar toda aquela beleza.
Durante o caminho, ele retorna à realidade aos poucos. Alice então resolve quebrar o silêncio.
— Kira, eu notei que durante a nossa luta você atingiu a cabeça daquele homem com um belo chute! Você pratica alguma arte marcial?
— Errr... Sim, é uma arte pouco conhecida por aqui, se chama Hapkido.
— Hap- o que?
— Hapkido. É uma arte focada para autodefesa.
— Humm... Isso explica muita coisa...
— E você? Pratica alguma coisa?
— Sinceramente, nada relacionado a exercício físico, eu apenas leio os livros antigos que minha avó tem na biblioteca, a maioria são relacionados às histórias dos antigos Invocadores e até mesmo algumas magias.
— Então sua avó também é uma Invocadora?!
— Não, mas meu avô era...
— Hum... Entendo...
— Bom... Chegamos! Não disse que era rápido?
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