ㅤㅤPor sua aparência, comumente Wukong era confundido por um jovem que ainda não viveu direito, alguém que precisa aprender, em sua perspectiva sim. Mas ele já tinha mais de 20.000 anos de idade naquela época, viu inúmeros dos seus macacos morrerem, viu como os humanos podem agir.

ㅤㅤEsse seu leve preconceito sumia aos poucos, graças aos seus amigos que o mostravam uma visão positiva. Mal conhecia alguns deles e ainda assim, os considerava irmãos e levava seus conselhos fielmente, mas aquela visão. . . A família de Arzur descartada como se fosse apenas lixo, ele só sentia. . .

ㅤㅤRAIVA!
ㅤㅤㅤRAIVA!
ㅤㅤㅤㅤRAIVA!
ㅤㅤㅤㅤㅤRAIVA!

ㅤㅤEle soltava fumaça por todas as partes do corpo, sentia seu sangue percorrer tão rápido por suas veias que praticamente evaporava. Seus olhos que sempre brilhavam como uma brasa leve mas poderosa, agora era um fogaréu descontrolado! Destrutivo! Ele criava um rastro com o seu olhar, cada passo que dava, a pressão aumentava, os últimos cavaleiros que sobraram, sentiam a pressão os esmagando.

ㅤㅤ- Q-QUEM É. . .! - A cauda do macaco aumentou de tamanho e arrancou a cabeça do último lanceiro, ela não saiu rolando ou algo do tipo, o impacto fez ela simplesmente evaporar.

ㅤㅤO líder deles, aquele monstro. Percebeu, quem estava na sua frente era o tão poderoso macaco das lendas, ele era doente de muitas formas. Mesmo que seu companheiro tivesse morrido ao seu lado, ele olhava para o macaco com admiração, desejo. . .

ㅤㅤ- E-então esse é o poder do grande rei macaco, han?! - A pressão o fez se ajoelhar, ele nem resistiu. Wukong apenas esperava, alguma súplica pela sua vida, algum ato desesperado para o fazer sofrer, queria o fazer sofrer!

ㅤㅤ- Cale-se! - Deu apenas um peteleco sobre a testa dele, se contendo para não o evaporar por completo, apenas o jogou para o chão, destruindo tudo em uma cratera enorme.

ㅤㅤE logo após isso, ele ficou em silêncio. Mas ainda estava ajoelhado, se colocou na posição novamente! O que ele queria? Irritar Wukong? E mesmo que o destruísse com golpes de sua cauda, o ferindo cada vez mais, não esboçava nenhum tipo de dor, algum desconforto.

ㅤㅤPelo contrário!
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤEle sorriu. . .

ㅤㅤ- POR QUE VOCÊ NÃO IMPLORA PELA SUA VIDA?! SEU DESGRAÇADO MALUCO! NÃO VAI NEM AO MENOS GRITAR?!! - Wukong gritava frustrado, como ele não estava aterrorizado?

ㅤㅤ- Se meu rei ordenou que devo ficar quieto, devo obedecer, não é?~ - Ele fita Wukong com um sorriso enorme no rosto, ele via o macaco como seu verdadeiro mestre.

ㅤㅤ- O-o que?! - O rei estava confuso, sua cabeça girava. Ele o via como mestre?! Não! Ele jamais deixaria um doente como aquele do seu lado e muito menos, o mandaria fazer aquilo que ele fez. - EU NUNCA SEREI ALGO PARA VOCÊ, SEU MONSTRO DE MERDA!!! - O macaco se descontrolou, fez a cauda dilacerar o corpo do monstro por inteiro.

ㅤㅤE mesmo que os pedaços de seu corpo estivessem despencando aos chãos, a imagem daquele sorriso contente não saia da cabeça de Wukong. . . Não o fez sentir nem um terço do que a família de Arzur sofreu, sentiu que falhou, completamente.

ㅤㅤ- Se eu tivesse chegado mais cedo. . . - Ele caiu de joelhos, evitando olhar para trás. Sabia que se olhasse, iria ver os corpos. Queria evitar chorar ali naquele lugar. . . Ele só chorou uma vez na sua vida, e sem evitar.

ㅤㅤEssa foi a segunda.

ㅤㅤDesabava em lágrimas, agarrando o colar de flores que a filha mais nova fez, se lembrando da alegria que as crianças exalavam quando ele aparecia, como se fosse importante para elas. Ele vê o rastro de sangue em seguida, o aroma. . . Sabia de quem era, se ainda podia salvar Arzur, o faria! Ao menos ele! Ao menos um amigo!

ㅤㅤEle era rápido, obviamente! Entrou na caverna e seguiu cada rastro, e ao chegar aonde ele estava, ele estava deitado sozinho perto de algumas rochas, pareciam ter sido moldadas para parecerem móveis.

ㅤㅤ- Arzur? - Ele andou devagar até ele, queria ao menos ter certeza que estava vivo.

ㅤㅤ- W-wukong? - Ele ainda conseguia falar, mas a garganta dóia demais.

ㅤㅤ- ARZUR! - Correu e o segurou nos braços, vendo como estava ferido, sentia seus órgãos e tudo ao seu interior desfalecendo. - O que?!

ㅤㅤ- Eu quase. . . Virei um monstro, quase virei alguém como eles. . . - Ele se fazia de forte perto dos outros, mas agora, do que isso importa? Ele apenas deixa aquela cachoeira cair provinda dos olhos, agarrando o braço do macaco. - O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO, ME DIZ!

ㅤㅤ- Não é sua cul-

ㅤㅤ- É MINHA CULPA! SE EU TIVESSE APENAS SAÍDO DAQUELE LUGAR DE UMA VEZ, MAS OS DEIXEI SOZINHOS! OS DEIXEI NOS ENCURRALAREM! - Cada grito era acompanhado de uma espécie de engasgo, com sangue jorrando para fora.

ㅤㅤ- Não. . . Eu devia ter ido antes. - Wukong via sua raiva se tornar tristeza, o ambiente mesmo que fosse laranja, parecia ficar azulado.

ㅤㅤ- Você. . . Argh! A c-culpa não é sua! Eu era o pai, o marido. . . Eu quem devia os proteger. - Ainda criou forças para se sentar, tirando sua capa vermelha e colocou sobre as costas do rei, seus braços tremiam só de fazer esse mínimo esforço, estava perdendo seus movimentos. - E eu falhei completamente. . . Vi minha esposa. . . Vi ela gritar, clamar por minha ajuda. . .

ㅤㅤEle cuspia cada vez mais sangue, não estava aguentando mais.

ㅤㅤ- E o que eu fiz? Implorei para eles pararem, não consegui ser forte para impedir! EU SOU PATÉTICO! COMO MEU FILHO QUIS SE ESPELHAR EM MIM?! - Só conseguia lembrar do seu filho, tentando ajudar a mãe. As lágrimas despancam mais e mais, que visão dolorosa, maldita!

ㅤㅤUma imagem de uma mulher decapitada surge sobre as lembranças de Wukong. Também sabia como era perder alguém, uma pessoa que ama tanto. Mas no seu caso, não foi por ser fraco demais, mas sim. . . Por chegar tarde demais, novamente! Aquilo se repetia!
ㅤㅤEra algum tipo de maldição? Sempre chegava tarde demais! Mas o pior, nem ao menos pôde se despedir, Arzur abaixou a cabeça abruptamente.

ㅤㅤMorreu se lamentando, se culpando. . . Mas ao menos, morreu com um amigo por perto, achou que era solitário por toda sua vida. Com seu único conforto sendo sua família que mesmo que os visse com frequência, se sentia distante por não poder conversar sobre suas dúvidas, suas mágoas com as crianças.

ㅤㅤMorrer com alguém, o abraçando. . . O fez ir, confortável. . .

ㅤㅤWukong o deixava deitado sobre o chão, não conseguia se mexer. Estava em choque com a situação, quase vomitou só de pensar no que fizeram com a família do seu amigo, o que o obrigaram a ver! Ele pensou se era um péssimo amigo, mas parece que as coisas acontecem, para nos passar uma mensagem.

ㅤㅤUm relevo.
ㅤㅤPor dentre a capa vermelha, algo chamava a atenção. Um livro! Pequeno como se fosse um diário, até mesmo um lápis estava por ali, ao abrir. Viu apenas alguns desenhos das crianças e vários de sua esposa! Ele devia amar tanto aquela mulher. . . E na última página escrita, não eram para eles. E sim, para Wukong, uma imagem que ele não poderia ver, mas ainda assim foi no momento que foi escrito, um momento de paz de Arzur, aonde ele estava sozinho em uma pedra, sentado.

ㅤㅤ"Eu não acho que deixarei você ler isso um dia, querido amigo. Ainda assim, tenho muito para agradecer. Desde que nos visitou, as crianças tem ficado mais animadas, elas não fazem amigos com frequência.

ㅤㅤMinha querida esposa, ela é forte! Mesmo que veja a infelicidade das crianças, sabe que não pode deixar elas saberem das outras crianças, o que eu realmente faço. Eu entendo, afinal. . . O que elas pensariam de mim? A visão de um pai amoroso e um cavaleiro honrado iriam sumir dos seus brilhantes olhos, não é? Meu filho mais velho, Eduard. Ele é tão corajoso na sua idade, já quer se aventurar, nessa altura do campeonato você já sabe.

ㅤㅤMinha filha Lisa, tão atenciosa e carente! Um exemplo de garotinha. Ela gostou muito de você, disse que é um macaco engraçado! Claro que eu disse para ela não o chamar assim, é esquisito. E meu filho Adrian, já deve ter notado que ele é meio que sensível demais. . . É o seu jeito, nasceu diferente para esse mundo que ainda tem muito o que mudar.

ㅤㅤEle disse que você é o único que não o acha estranho por ser mais. . . Fraco? Essa palavra não é bem o que eu quero dizer, mas é a única que conheço. Espero que o mundo seja gentil com ele quando eu não estiver mais por aqui para o proteger. E minha esposa? Ela falou de você também! A Rosa, disse que você era como o irmão mais novo dela. Um idiota que ela tinha que cuidar! Eu ri muito, acredite.

ㅤㅤEu estava à caminho de uma missão agora, mas quer saber? Dane-se, eu não vou. Você mesmo me disse alguns dias atrás, eu deveria ir procurar mudar minha vida. Eu vou fazer isso! Amanhã mesmo, irei abdicar do meu cargo e ir com minha querida família. Até irei comprar um presente, sabe aqueles amuletos mentais que os magos fazem? Eles vão amar, eu espero. . .

ㅤㅤBem, acho que é isso. . . Wukong, obrigado por tudo! Por ser um amigo, talvez meu único. Obrigado por não me ver como um monstro, como sempre fazem. Eu sinto que você também me agradece por não te ver assim, somos até parecidos. Espero que possamos nos ver de novo, até lá. . . Talvez já tenhamos aberto uma loja de bolinhos! Quem sabe? Hahaha!"

ㅤㅤAo ler isso, o rei sorriu! Ainda assim era um sorriso triste, ele não conseguia gargalhar do que foi dito dele nessa situação. O corpo do seu amigo estava logo ao lado, no chão. Não sabia que foi tão importante assim para ele, fechou o diário dando um suspiro.
ㅤㅤCom todo o cuidado possível, abriu um buraco ali mesmo onde estavam e enterrou Arzur por dentro da caverna. O deixar longe da família não era ruim? Talvez, mas sentia que ele deveria ficar ali, e logo saiu de lá e foi até a família dele. Os enterrando perto do riacho que lá havia, esperava que a correnteza acalmasse suas almas. Foi tão difícil levar as cabeças e seus corpos separados, quase chorou novamente, mas aguentou firme.

ㅤㅤDepois de pedir que encontrassem paz, foi até seus pertences no chão. E então, achou o amuleto! Ainda aberto, a imagem sorridente e alegre da família ia se apagando, era ligada aos pensamentos do dono, e o tal. . . Estava morto.

ㅤㅤEntão, o pegou do chão. O guardando em um bolso que tinha na sua capa vermelha, antes do seu grande amigo.

ㅤㅤ- Prometo entregar para alguém especial, assim como você ia fazer. - O Rei com pesar falava sozinho, abaixava a cabeça.

ㅤㅤMas. . .

ㅤㅤAinda não acabou. Estava na hora dele pôr um fim nisso! Ninguém mais iria passar por isso! Olhava então na direção do reino para o qual ele trabalhava. . . Buidia. Estava na hora de mostrar para aquele porco nojento que sentava no trono, como um rei de verdade age!

ㅤㅤA sua tristeza e melancolia eram ofuscadas pela raiva? Não! Todos esses sentimentos se misturavam com ainda mais intensidade, isso apenas o queria fazer se sentir completo! O que faria ele se sentir assim? Vingança, total vingança pelo que aconteceu ali com seus amigos, pessoas com quem se importava tanto.
ㅤㅤEle anda calmamente até lá, sem pressa. O pressentimento do rei de Buidia era perceptível, animais sentem a tempestade antes dela chegar, não é? Humanos também sentem quando algo ruim vai chegar, mas não sentem um estímulo de adrenalina ou algo do tipo, mas sim aquele pressentimento de que algo está vindo e que é. . . Imparável.

ㅤㅤAquilo parecia ter durado a noite toda, o sol já estava reaparecendo. Iluminando um contraste do castelo do reino, mas não ultrapassando aquela escuridão que já estava o alcançando, Wukong, anda pelas ruas da cidade. Aquele lugar era triste, fome, miséria, assassinato e tudo que uma sociedade não quer virar, está ali. . . Isso é o que acontece quando um rei infeliz governa? Sempre teve dúvidas se era um bom rei, não tinha mais alguma.

ㅤㅤ- Você não pode passar, o rei não está aceitando visitas agora. - Um de dois cavaleiros na frente do portão o param.

ㅤㅤ- É mesmo?! - Só de abrir a boca, os dois se ajoelharam. Não conseguiam se mexer de forma alguma, eram obrigados à ficarem assim. - Espero que isso os ensine algo, hoje mesmo. . . Seu rei não irá mais aceitar nenhuma visita, nunca mais!

ㅤㅤEra um portão de metal obviamente. Ele teria que o levantar ou tirar do local? Não fez nenhum dos dois, apenas atravessou o portão. Mas exatamente como? Vibrando que nem um super herói e passando? Simplesmente, não. Ele apenas ignorou o portão e um buraco nele foi aberto, com o formato de seu corpo.

ㅤㅤAquela visão deixou os guardas em choque, era possível só destruir um portão assim? Só andando? Não importa! Finalmente ele estava adentrando o castelo e quando percebeu já estava na sala do trono, vendo a escadaria onde lá por cima. Estava o rei de Buidia, comendo um monte de carne de um enorme prato que carregava, cercado de suas concubinas. Achou que o pressentimento ruim era só impressão e decidiu continuar com suas nojeiras.

ㅤㅤ- Hm? Quem deixou você entrar?!

ㅤㅤ- Um rei precisa de permissão? - Mostrou sua cauda, a balançando.

ㅤㅤ- OH! O GRANDE REI MACACO ESTÁ AQUI?! VOCÊS, SAIAM SAIAM! - Ele gritava com as mulheres que era evidente não gostarem nenhum pouco de estar ali. - E então, o que devo sua tão graciosa visita?

ㅤㅤ- Eu queria saber. . . Você acha certo um rei mandar seus cavaleiros atacarem uma família inocente? - O olhar assassino do macaco era tão direcionado que o porco sentia pavor, mas ele não sabia que Wukong era amigo de Arzur, pensou se ele sabia o que aconteceu.

ㅤㅤ- "Que pergunta específica. . . Já sei, ele deve estar me testando! Eu sou um rei como ele, já sei a resposta." - Ele tossia de forma nada discreta. - Um rei tem total direito sobre a vida de seu povo, eu acho mais do que certo, afinal eu que cuido de suas vidas imundas e pífias. Não concorda, grande Wukong? Você também é um rei como eu~

ㅤㅤ- Um rei como você. . . Um. Rei. Como. Você. . .? NÃO ME FAÇA RIR! - Ele deu um pisão tão forte no chão que o castelo inteiro tremeu, estava se controlando para não se descontrolar, mas a raiva estava o fazendo perder a cabeça.

ㅤㅤ- AHHH!! POR QUE FEZ ISSO?! - Aquele porco se agarrava de forma vergonhosa em seu trono para não cair, Wukong só ficava mais irritado conforme via como ele era. . .

ㅤㅤ- Você é mesmo idiota. Conhece o cavaleiro vermelho, não é?

ㅤㅤ- A-ah. . . Sim! Ele era meu melhor cavaleiro, infelizmente acabou tendo que ir embora, que desperdício. - Ainda tentava passar uma boa impressão.

ㅤㅤ- Ir embora. . . Foi isso que aconteceu? - Ele fechava o punho, seus olhos iam esbranquiçando cada vez mais, estava enlouquecendo. - Nunca vou te perdoar o que fez para ele, seu porco imundo!

ㅤㅤ- Do que está falando, rei macaco?!

ㅤㅤ- VOCÊ MATOU OS MEUS AMIGOS, PESSOAS INOCENTES! SEU DESGRAÇADO!!! - Wukong bateu com força contra a própria cabeça fazendo um pequeno alfinete sair e então. . . - Cresça, Ryui!

ㅤㅤO bastão dele cresceu, ficando no tamanho de um normal. E logo depois o apontou na direção do porco, não queria nem saber de diálogo. Já viu a índole nojenta dele por ser um covarde de merda daqueles! Segurou o bastão na ponta e gritou:

ㅤㅤ- ESMAGUE, RYUI! - Agora ele não só cresceu, a arma ficou gigantesca. Atravessando as paredes do castelo e destruindo tudo que conseguiu, ainda assim, não era suficiente!

ㅤㅤEle revivia as memórias de Arzur e sua família de forma inconsciente, não conseguia cessar as lembranças! Tão felizes. . . Ele balançava seu bastão para todos os lados, era incrível como aquilo se deforma como borracha ainda daquele tamanho, mas tudo tem suas consequências.
ㅤㅤO castelo já estava se partindo, mas tudo ao redor também! Ele não sabia, mas estava destruindo o reino inteiro junto, os cidadãos corriam apavorados vendo aquela coisa gigantesca varrendo suas casas. Óbvio que as pessoas iam todas morrendo conforme o tempo passava e ouviam uma coisa apenas, não seus próprios gritos.

ㅤㅤUm grito sim. . .
ㅤㅤㅤㅤMas provém da raiva!

ㅤㅤWukong grita de desespero e agonia sabendo que mesmo tendo matado aqueles monstros não os podia trazer de volta! O sentimento o fazia perder o controle e sem escrúpulos destruía tudo, como ele mesmo já ia ter aprendido no futuro. . . Precisava de uma âncora, alguém para o parar em momentos como esse, infelizmente, não tinha agora.

ㅤㅤForçou tanto a própria consciência que acabou desmaiando alguns momentos depois, acordando apenas após algumas horas. Longas e demoradas, horas.

ㅤㅤ- H-hm. . . - Ele abria os olhos bem devagar, olhando seu bastão já em tamanho normal ao seu lado. Se levantou sem dificuldades e o pegou na mão, mas a nuvem de poeira que crescia ao seu redor o chamou atenção.

ㅤㅤE no momento que fitou, percebeu o que fez! Vendo a destruição, diferente de outros cenários de destruição lá não tinha fogo ou explosões, tudo foi causado por uma simples força amedrontadora, a sua. Ele corria para fora, não estava sentindo mais nenhum aroma de algum ser vivo, sentia suas energias. . . Estavam todos mortos! E com isso, a frase daquele porco veio em sua mente conforme via os corpos de idosos, crianças e adultos pelo chão, ele tremia pois sabia que ele era a causa.

ㅤㅤ"Você também é um rei como eu~" - Essa frase rebatia inúmeras vezes na cabeça do macaco, ele batia contra o próprio crânio querendo esquecer aquilo.

ㅤㅤ- EU NÃO SOU ASSIM, NÃO FIZ DE PROPÓSITO! NÃO FIZ. . . - Ele se ajoelha, na frente do corpo de uma criança que mesmo morta, ainda não soltou seu pequeno coelhinho de brinquedo.

ㅤㅤ- "Acredita mesmo nisso, em?" - A voz dele mesmo ecoa, mas ela não parecia vir de dentro de sua cabeça, então olhou bem rápido para trás.

ㅤㅤ- O que diabos é você?!

ㅤㅤ- "Sou você, ao menos a parte que quer esconder!" - Aquele seria o futuro trauma do cavaleiro vermelho que Fernanda iria destruir, aqui foi onde ele surgiu.

ㅤㅤ- Seu sorriso cruel, é como o deles. . . Com certeza, você não sou eu!

ㅤㅤ- "Claro, claro. . . Agora faça o que sempre faz, ignore tudo e vá embora. Eles eram humanos afinal, qual o problema? Iria os ver morrer de todo jeito, não é?"

ㅤㅤ- Ignorar. . . Esse não sou mais eu. - O Rei andava até os corpos e segurava os corpos, olhando fixamente em seus rostos por alguns minutos e então iniciou uma contagem. - Um.

ㅤㅤ- "Ah, você quer fazer isso mesmo? Não vai aguentar a pressão de todos eles em sua cabeça, sabe disso, não é?" - O sorriso de sua versão distorcida aumentava ainda mais.

ㅤㅤ- Eu não me importo. Nunca mais vou esquecer dos meus erros, nunca mais! - Ele ia indo de um corpo para o outro, mas o que estava fazendo afinal?

ㅤㅤEle iria gravar cada pessoa morta ali, mesmo que fossem milhões. Andou e fez isso por dias, gravou cada rosto e não esqueceu da forma que deixou cada um, lembrava quem perdeu um braço, quem morreu com o rosto desfigurado e tudo que poderia guardar em sua memória, jamais esqueceria o que fez ali.
ㅤㅤAinda assim não era fácil, sempre que armazenava a informação, sabia que seria ainda mais difícil caminhar por aí sabendo que deixou eles daquele jeito, e claro. . . Não era idiota e desrespeitoso, enterrava cada corpo que encontrava, antes um reino cheio de desespero e dor, virou um grande cemitério.

ㅤㅤE então ele saiu de lá, retornando apenas até a caverna onde enterrou Arzur. Percebeu uma coisa, não era digno de ao menos caminhar usando sua capa, a colocando por cima da cruz de madeira que fez e colocou por sua cova.

ㅤㅤ- Eu não mereço esse presente, meu amigo. - E infelizmente jamais esqueceria que não o merecia, a sua alucinação distorcida iria o lembrar por anos do que fez.

ㅤㅤNovamente, seguiu sozinho até sua ilha. . . Com seus próprios traumas e problemas, seus dilemas e preocupações. Sozinho, sem uma âncora para o manter firme por enquanto.

ㅤㅤㅤㅤÉ o Fim. . .

ㅤㅤ- É. . . Foi isso que aconteceu. - Wukong terminava sua história, olhando as expressões de espanto e nojo de alguns, ainda não tiraram a imagem de Arzur e seu tormento da cabeça.

ㅤㅤElanor era muito nova para ouvir algo assim, ainda assim ouviu tudo. A garotinha sempre ouviu de seu pai que pessoas podem ser horríveis, mas ela não achou que fosse assim, o rei por outro lado, apenas abaixa a cabeça, doeu muito lembrar de tudo.
ㅤㅤMas com isso, aliviou ainda mais seu trauma por conseguir desabafar, e tudo melhorou mais com um abraço em grupo coletivo, Gabriel, Maria, Fernanda e todo o resto, amigos e até ontem, inimigos o abraçando agora, querendo lhe trazer conforto.

ㅤㅤ- Você passou por tanta coisa, né? - Fernanda diz vendo sua mão tremer, pelo jeito esse era o jeito do rei mostrar que estava desconfortável ou nervoso.

ㅤㅤ- Esse é o preço de viver demais, você vê muita coisa. - E acabou assim aquela maravilhosa noite, uma história triste e um grande abraço no final, com todos conversando logo depois, levariam aquilo como uma lição.

ㅤㅤWukong notou, a lição mais do que ninguém. Mesmo que uma flor te machuque com seus espinhos, você não deve odiar todas, e ali. . . Só tinham lindas flores, consigo sentados ali, tão alegres.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤCONTINUA. . .